Confesso, a primeira vez que entrei em sua casa para o conhecer fiquei intrigado e, de certa forma, apreensivo. Que homem seria esse que, à entrada da sua casa, orgulhosamente escreve: "Bem ou mal, mas lutei"?
Sabia do seu passado militar, sabia dos feitos que lhe são atribuídos. Nesse ano os jornais, a TVM trouxeram-no à ribalta para falar do Nó daquele general português que pretendia estrangular a FRELIMO em dias, que foi desatado sob suas ordens.
Esperava encontrar um homem com uma postura tipicamente militar. Ríspido. A foto de parede tirada em trajes militares patente na sala de visitas só ajudava a cimentar essa imagem. Enganei-me.
O homem que conheci era bem diferente dessa imagem: simples, afável, ponderado e de uma lucidez intelectual de fazer inveja. Falava pausado como que a medir cada palavra que dizia, como que a querer certificar-se de que era compreendido.
Ficamos amigos. Era meu pai também. Dizia que sogro é algo distante. Falávamos muito. Tinha orgulho do seu passado. Podia ter ficado à sombra do regulado do seu pai que era respeitado e temido em Gaza, mas preferiu juntar-se ao movimento que seu tio fundara e, tal como esse, lutar por Moçambique.
E lutou.
Se calhar hoje perceba a dimensão de "Bem ou mal, mas lutei."
Nos últimos dias vinha lutando contra um cancro. Há de ser a única batalha que o derrubou. E derrubou-o do facto.
Pouco antes das 12 horas de Domingo dia 19 de Maio, na Clínica especial do HCM, o médico anunciava que Cândido Jeremias Mondlane já não pertencia ao mundo dos vivos.
O maldito cancro derrubara o Major General (na reserva) Cândido Jeremias Mondlane.
Que descanse. Ele merece.