segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Definindo Estratégias de Comunicação: Urge Falar COM o Povo

Após as manifestações de 1 e 2 de Setembro nas cidades de Maputo e Matola, uma das críticas que se repete diz respeito a deficiente comunicação entre o Governo e o povo. Tem se dito que o Governo fala para o povo e que quando o faz, fá-lo com arrogância, e como forma de sustentacão e/ou exemplificacão chama-se a colação a intervenção do Ministro do Interior a data dos acontecimentos.


Na verdade do ponto de vista das massas, no nosso contexto, não sei que postura se esperava do Ministro do Interior naquele dia e perante aqueles acontecimentos. Porém, sou de opinião de que como político, a postura e o discurso poderiam ter sido outros, mais conciliador e pacificador, reservando-se ao chefe dos polícias, o comandante geral da polícia, ou outro oficial sénior, uma posição mais musculada, caso fosse necessário.

Mas, é sempre fácil fazer juízos a posterior. O silêncio também, se calhar, poderia ter tido consequências mais desastrosas.

Em entrevista ao Jornal o País fim de semana, o professor Elísio Macamo acha que a palavra arrogância muitas vezes usada para caracterizar a postura do Governo "é muito forte.” Diz o professor Macamo que a “acusação de arrogância pode ser uma manifestação de impotência de quem não dispõe de meios para se fazer ouvir no quadro apresentado pela distribuição de voto que temos.” Acresce ainda que “precisamos, também, duma linguagem mais moderada na caracterização do que acontece.”


Em entrevista ao Jornal Domingo, Amilcar Perreira cientista político e docente na Universidade Eduardo Mondlane, entende que da parte do Governo "não há uma estratégia clara de comunicacão e/ou diálogo que ajudaria na actualizacão do cidadão ou populacão sobre os contornos da crise e outros assuntos relevantes."

Até certo ponto concordo com eles e, fundamentalmente, com o apelo do professor Macamo no sentido de que “neste momento de crise precisamos de muito mais do que, simplesmente, uma atitude conciliatória do Governo do dia. Precisamos, primeiro, duma coligação moral de democratas que digam em voz alta que se opõem a violência como processo político.” Muitos dos opinaram durante ou após os tumultos que se pretendiam manifestacão foram sempre no sentido de justificar os actos que iam ocorrendo, secundarizando a condenacão da violência e pilhagem.


De qualquer forma, a meu ver, urge definir um mecanismo claro de comunicação entre o Governo e os governados. Comunicação no sentido de “troca de informação entre indivíduos através da fala, da escrita, de um código comum ou do próprio comportamento”para “permitir uma maior capacidade de entendimento entre as pessoas através do diálogo”conforme define o dicionário online Porto Editora.

Haverá diferença entre falar para o povo e falar com o povo? Creio que sim. Tomemos o exemplo do Presidente da República: (i) fala para o povo nas suas mensagens do fim do ano por exemplo e (ii) fala com o povo nas sessões de presidência aberta.

Quando se fala com o povo permite-se alguma interacção que, com maior facilidade, ajuda na assimilação das mensagens que se pretende passar. Quando se fala para o povo esta interacção, pelo menos directamente, não existe. Apenas enunciam-se ideias cuja assimilação depende do maior ou menor sentido apelativo de quem emite o discurso.

Os fenómenos de 1 e 2 de Setembro remetem-nos para a ideia de que os acontecimentos a nível global devem ser levados a conhecimento dos moçambicanos nos diálogos que se vão tendo com o povo, este povo que, ao contrário do que Machado da Graça pensa, entende muito mais do que de enxada de cabo curto.

Este diálogo não deve ter no PR o único interveniente. Todos os dirigentes, a todos os níveis, devem ser activos no “falar”com o povo disseminando a mensagem cujo desconhecimento pode ter precipitado os tumultos tidos por manifestação nos dias 1 e 2 de Setembro.