O Emprego
Júlio S. Mutisse
“Não espere o melhor emprego para começar a
trabalhar.”
By: Wellyngthon Marques
Não existe discurso de uma organização juvenil que não enfoque na
“problemática do emprego”. Deve ser para responder a esta preocupação que o
Governo, no Plano Quinquenal, se comprometeu a criar 1 500 000 novos postos de
trabalho, numa proporção de 300 000 ano.
Ao falar de emprego nestas linhas, me refiro à relação que se estabelece
entre empregador (que dirige o trabalho) e o empregado (que realiza o
trabalho).
Mas como se acede ao emprego? O que é que as empresas buscam nos candidatos?
O que é que condiciona o acesso ao emprego? Que qualidades devem ter os
candidatos ao emprego? Que relevância é dada às competências do candidato ao
emprego?
Creio que as empresas, atendendo à sua natureza e ao foco no lucro, procuram
profissionais com determinadas competências, com determinado perfil, com
determinados valores éticos e comportamentais etc.
Portanto, não basta ser formado e/ou ter alguma experiência profissional; é
preciso cultivar outros aspectos e qualidades que, hoje, são determinantes para
o acesso ao emprego. Mesmo dando relevância à formação, é importante avaliar se
as diversas escolas estão a formar para o saber fazer. Mas esse é outro debate.
Escritos de especialidade em recursos humanos coincidem na ideia de que,
mais do que formação e experiência, o candidato ao emprego deve possuir
qualidades como compromisso, responsabilidade, envolvimento, atitude,
proactividade entre outras. Isto é, para além do canudo numa mão, o candidato
ao emprego deve poder oferecer a quem contrata um conjunto de qualidades
pessoais que o tornem distinto dos demais candidatos, sem descurar os aspectos
de ordem moral, importantes em qualquer relação, seja ela profissional ou
pessoal.
Parece-me claro que, neste exercício, vai contar em muito a atitude do
candidato a emprego. Uma atitude correcta para responder à exigência acima
descrita vai ser determinante para a avaliação do candidato ao emprego.
Na época da comunicação em que vivemos, mesmo a nossa postura e atitude nas
redes sociais e outras plataformas pode ser determinante na avaliação da pessoa
e do profissional que somos ou podemos ser. É que, conforme referem
especialistas, as redes sociais são “fonte de divulgação de interesses,
preferências, experiências, contactos, crenças, valores etc.” através delas
criamos redes, expomo-nos publicamente e demonstramos como somos, como
pensamos, como agimos, o que gostamos e o que queremos. Assim, nos dias de hoje,
“as redes sociais abriram a possibilidade de avaliar, antes de uma entrevista,
aspectos mais pessoais do candidato, objectivos de vida e carreira, rede de
contactos estabelecida, aspirações, entre outros relevantes aspectos” conforme
escreve Ludmilla Fernandes no RH Portal, num artigo com o título “Redes Sociais
e o Processo de Recrutamento & Selecção.”
Portanto, o acesso ao emprego é algo bem mais complexo que a simples
vontade política ou qualquer acção que se possa pretender do Governo.
Qualquer candidato ao emprego deverá, antes avaliar condicionantes que
dependam de terceiros, investir em adquirir as competências e as qualidades que
as organizações necessitam na época moderna. Como referiu um dia Dino Foi,
“Governo não cria emprego, impulsiona via sector privado e este quer pessoas
sérias.” Esse impulso, numa realidade de crescente “Estado mínimo” deveria ser
feito através de políticas públicas com potencial de geração de empregos. Com as
metas de emprego definidas no PQG, e a meio da crise que o país vive, haverá
necessidade de compreender se as políticas que serão adoptadas irão, ou não, concorrer
para a geração de renda.
Isto equivale a dizer que, não basta aos jovens (filiados em organizações
ou não) repetirem para os governantes a necessidade que tem de emprego; é
necessário que invistam cada vez mais neles mesmos, nas suas competências, nas
qualidades pessoais, humanas e morais. Este conjunto é, na verdade, o
determinante e/ou condicionante para o acesso ao emprego. Por melhor que possa
vir a ser a política de emprego a definir pelo Governo (no processo já
iniciado) cabe a cada candidato ao emprego aquilatar-se para fazer face ao que
as empresas procuram num candidato a emprego.
Ao mesmo tempo será importante rever o nosso compromisso para com esse
emprego. A responsabilidade de que, muitas vezes, se fala quando se fala em
emprego deve ser demonstrada, por exemplo, a partir da assiduidade, zelo até ao
cumprimento dos prazos para a execução dos projectos.
Importante notar que será a partir dos rendimentos que se obtém deste
emprego (que se quer estável) que poder-se-ão realizar outros desejos e
“direitos” como seja o caso da habitação (tema que se segue).
PS: Um dia o Professor Lourenço do Rosário disse numa entrevista ao Jornal
o “Universitário”, creio que em 2003, disse que as universidades estão a formar
empregados. Treze anos depois, ano após ano, ouvindo os recém-graduados de
todas as universidades, se alcança que a preocupação de muitos é “ter um
emprego” mesmo quando logo a seguir, pelo Facebook ou outras plataformas, se
apresentam com todos defeitos desde a escrita, coerência argumentativa até os
comportamentais.
Pessoalmente julgo que devemos começar a dar uma ênfase maior ao trabalho; as
escolas devem transmitir competências que permitam aos graduados a
possibilidade de empreenderem e serem eles mesmos criadores de emprego.
Infelizmente vivemos numa sociedade em que as pessoas preferem trabalhar por
conta de outrem, onde muitas são capazes de abandonar uma actividade lucrativa
para se verem “empregados” pela “segurança” de um emprego e o salário mensal
“garantido” mesmo que mais baixo que o que se conseguia fazer trabalhando por
conta própria.
Isto pode ser reflexo de uma cultura ou de como, ao longo destes anos, foi
orientado o processo de ensino e aprendizagem no país e o tipo de formados que
saíram desse processo. Pode ser reflexo do discurso político, que induz as
pessoas a assumirem que haverá alguém a prover emprego. Aliás, 300 000 empregos
ano dá para empregar todos os graduados do ensino superior, das escolas
técnicas e até do ensino secundário geral. Pode ser essa a mensagem que o PQG
passa para as pessoas e, não se concretizando, criará um exército de
descontentes e contestatários de quem assim prometeu.
Desta forma cria-se o desafio de o MITESS demonstrar de que é que fala
quando se refere à criação desses postos de emprego, em que áreas e estatísticas
sérias de emprego e formação no país.