Escrever para o aplauso
Júlio S. Mutisse
Julio.mutisse@gmail.com
Ideiassubversivas.blogspot.com
“Toda a gente sabe.”
Esta frase vai ser muito comum nos meus escritos futuros. Quero escrever para o aplauso, para os “likes” no Facebook.
Vou abdicar de tentar discutir ideias; vou procurar um lugar e estacionar no ataque aos corruptos, falar mal do mal amado do Partido de que sou membro, aprender a linguagem própria do local onde vou estacionar e abrir bem os olhos para ver os “likes” serem postos, fazer o “increase” de leitores do meu blog e aumentar os leitores do “Negócios.”
Não é só o desejo de ser aplaudido que me empurra para lá. Pensar doi. Pensar na falta que fazem infraestruturas básicas como estradas e caminhos de ferro para o desenvolvimento que desejamos, pensar nos três milhões de dólares dia que o Estado não embolsa em “carvão não exportado” segundo Casimiro Francisco doi e ocupa muito tempo. Também esses assuntos não interessam a maior parte dos que espero passem a aplaudir-me.
Toda a gente sabe por que é que o país não desenvolve. Não quero mais procurar racionalidade quando “toda a gente sabe” das coisas. Não quero mais ser visto como alguém que se recusa a perceber e/ou ver o que “toda a gente sabe.”
O país tem muitas riquezas, o gás que se descobre todos os dias está no nosso subsolo, nas nossas águas territoriais, nos pertencem; a sua existência deve significar melhor qualidade de vida para nós todos os 22 milhões desde já. Não quero mais fazer coro à ideia de que entre descobrir e explorar leva tempo; nada isso não cativa os incautos. Eu saberei mas publicamente vou dizer que devem haver benefícios já.
Tal como o CIP, vou apelar à transparência. Vou aprender a gostar de dizer certas coisas. Toda a gente sabe como se desenrolou o processo de revisão da Lei de Minas e da Lei de Petróleos; apesar de terem sido colocadas no website do MIREM e do INP, das reuniões/debates realizados, vou dizer de viva voz que a sociedade civil que tem que ser mais activa, mais actuante não foi consultada.
Vou alienar a minha consciência em prol do aplauso. Vou dizer o que toda a gente sabe de Guebuza, da FRELIMO, dos membros do Governo, dos membros do partido.
Vou me atirar com tudo contra o CNJ que cujo informativo tem uma manchete dando conta que "Juventude chinesa aposta na juventude moçambicana." Vou me atirar a eles porque não consigo compreender por que raio tem de ser a juventude chinesa, holandesa ou seja lá de onde for a "apostar na juventude moçambicana." Vou me atirar a eles para que a juventude moçambicana acorde e aposte em si; vou me atirar a eles para que sejamos donos do nosso destino e colocarmo-nos verdadeiramente na agenda de governação.
Quero likes e mais likes no meu murral no Facebook. Não há outra alternativa. Vou me bandear para o lado de lá.
Tenho dito, escrito a 1 de Abril de 2013.
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