sexta-feira, 8 de junho de 2007

Responsabilização

O Elísio Macamo escreveu, no seu blog "ideias críticas" um texto interessante "Fenómeno da Bicha V" que tinha como mote o incendio do Ministério da Agricultura.

Uma das passagens marcants desse texto é aquela em que o Dr. Macamo refere que o que o leva a fazer a reflexão no contexto do que chama de “fenómeno da bicha” "é justamente este problema de atribuição de responsabilidades."

Sobre o problema de atribuição de responsabilidades, sou de opinião de que quando todos nós situados do país real que, segundo Elísio Macamo é "onde se forma a opinião pública" emitirmos conscientemente "OPINIÃO" e a fazermos valer, as coisas vão, verdadeiramente, mudar em Moçambique.

Quando a dita "sociedade civil" a que, supostamente, todos pertencemos (digo"supostamente" porque muitos se demitiram ou não conhecem o seu papel numa democracia como a que pretendemos construir) deixar a cómoda apatia perante o fenómeno político nacional, acredito que as coisas mudem.

Quando todos nós deixarmos de ver os governantes como "chefes" e os olharmos nos olhos como nossos empregados, principescamente pagos a custa do nosso suor, da nossa contribuição para a sociedade Estado em que nos inserimos, acredito que a cultura de responsabilização se enraizará em Moçambique.

Enquanto isso não acontecer os paióis vão explodir, ministérios queimar, veremos bombeiros apagar fogo com baldes etc, e as pessoas continuarão (cara sem vergonha) a aparecer na TV sorridentes a anunciar progressos apenas visíveis nos papeis. Sabes porquê meu caro?

Porque apesar de todo o moçambicano que acompanha os fenómenos desta terra saber e sofrer com as consequências do rebentamento do paiol (quantos de nós não albergamos tios, sobrinhos, avos etc?) por exemplo, poucos são os que levantam a voz e clamam por responsabilização e, num país que reina a catalogação, as poucas vozes que se levantam e clamam por responsabilização são, inclusive, ridicularizadas por aqueles que deviam ser os primeiros a apoiar.

Isto é assim porque muitos dos que estão situados "onde se forma a opinião pública" têm medo de criticar os erros políticos ou de governação porque almejam lá estar; porque pensar para muitos desses é um exercício perigoso que os pode afastar do seu objectivo. Porque pensar e expor pensamento próprio, para muitos, caiu em desuso.

Porque para muitos o que interessa é dizer o que interessa ao poder, repetir chavões como se isso fosse certificado de competência. Quando formarmos uma verdadeira sociedade civil e consciencializarmo-nos do nosso papel, os cargos políticos queimarão à mesma proporção dos ministérios e paióis. As pessoas terão a dignidade de dizer basta, não consigo fazer este trabalho por isso vou embora.