sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Um Streap Tease Para Sair do Sovaco

O Lázaro Bamo publicou no seu blog www.kabamwine.blogspot.com um post com o título “O Streep Tease das Ideias e o Papel dos Intelectuais,” que foi igualmente publicado com destaque no blog do Professor Carlos Serra (http://oficinadesociologia.blogspot.com) no qual, entre outras coisas, realçava a existência de “um Streep Tease das ideias que na minha óptica, tem vindo a alimentar debates, a prova disso são as contribuições intelectuais que podemos encontrar na blogsfera, o que tem vindo a clarificar o papel do intelectual, que é de ajudar com sua análise a sociedade a esclarecer-se de vários factos” e referia que o país carece de “de mais intelectuais corajosos, que não se escondem nos sovacos de partidos políticos em detrimento dos interesses da maioria. Temos muitos intelectuais que não comungam este streep tease de ideias em benefício da maioria, por um lado são movidos pela teoria das elites, por outro temem serem isolados e descomungados de regalias, são autênticos tiranos da globalização.” Trago a conversa que seguiu, via email, entre eu e o Lázaro Bamo como uma tentativa de demonstrar como o debate de ideias supera ou pode superar o ataque pessoal. Trago-a para aqui em resposta ao Desafio que o próprio Lázaro me lançou ao afirmar estar a “gostar dos contornos da nossa reflexão, é disso que o país precisa. Vamos ampliar o debate pelos outros blogistas que certamente irão se interessar em discutir a questão dos Sovacos (uma espécie de convicção que é uma prisão). Eis nos aqui.

Nos últimos tempos a blogosfera anda, de certa forma, tensa com certos sectores a demonstrarem uma intolerância extrema perante as ideias dos outros chegando mesmo à baixar para o insulto.

Tenho, pessoalmente, defendido que o mais importante é discutir ideias e não pessoas. Sou contra a adjectivação ou o vilipêndio do oponente como estratégia de “debate” como ocorre vezes sem conta nas esferas de debate em Moçambique.

Por este e outros motivos comentei o post, tanto no blog do Professor Carlos Serra, como no próprio blog do Lázaro Bamo. No Blog do Professor Carlos Serra (como não podia deixar de ser) fui insultado por uma tal de “Sara” por causa do tal comentário que entre outras coisas me apelidou de “hossi inchado”. No meu comentário defendia a ideia de que “tudo o que Moçambique precisa é de intelectuais comprometidos com a análise e compreensão dos fenómenos que ocorrem na nossa sociedade” e que “tudo isso requer honestidade.” No meu comentário defendi ainda que “Precisamos de sair de qualquer sovaco. Incluindo este da instrumentalização e da etiquetização dos outros seja com base na raça ou no credo político” e que “Precisamos de combater a cultura da UNANIMIDADE” que “não nos leva a lado nenhum” pois “é na diversidade de pontos de vista que encontraremos soluções para os diversos problemas que nos afligem como sociedade.”

Uma troca de emails interessante entre eu e Lázaro Bamo procurou fixar entendimento dos escritos um do outro. Nestes termos, Lázaro Bamo comentou que respeita a minha ideia de que “Precisamos de sair de qualquer sovaco. Incluindo este da instrumentalização e da etiquetização dos outros seja com base na raça ou no credo político", mas que eu o colocava “numa situação não muito confortável na medida em que no meu (Lázaro Bamo) texto não pretendo descriminar ninguém, apenas convido os intelectuais a assumirem o seu real papel na sociedade, respeito, mas não sou a favor de argumentos falaciosos. Não sou muito a favor dos intelectuais que acobertam falcatruas.”

Respondi ao Lázaro que também não sou a favor de nenhum intelectual que acoberta falcatruas. Nem de intelectuais que actuam com ligeireza ou que fazem leituras simplistas. Citei o seguinte exemplo: podemos não concordar com a forma como o Elísio Macamo problematiza a questão da corrupção (que quanto a mim nos sugere uma visão diversa do problema e nos chama atenção para os problemas mais prementes da nossa sociedade que ficam secundarizados enquanto discutimos o fenómeno – ainda sem caras – que é a corrupção) será isso “esconder falcatruas”? Podemos encher blogues a discutir o “Azagaia” (que nos leva ao que o Estado não está a fazer para que haja aquela intervenção do Edson) seria isso “não esconder falcatruas”? Por fim, sobre este assunto referi que “os juízos de valor que fazemos das ideias dos outros com que não concordamos não podem vir a público como uma etiqueta do género: este ou aquele intelectual escondem falcatruas. Nem este e aquele são os campeões das denúncias de tais falcatruas. Temos que discutir só e apenas o seu mérito e demérito e apenas NAQUILO QUE FOI DITO e com honestidade.” Acrescentei que não pretendi com o meu post dizer que o Lázaro descrimina alguém. Não. Longe disso. Chamei atenção ao Lázaro da tensão que anda na blogosfera e que em certos casos, MUITOS estão presos às figuras e ao pensamento de alguns Mui Ilustres blogistas (que respeito em absoluto) o que tolda a sua capacidade de analisarem os argumentos dos outros. Usando a sua “máxima” do sovaco, convido-o a si e a qualquer um a fazermos o esforço de sair de qualquer sovaco para podermos concordar ou discordar independentemente dos posicionamentos da Frelimo ou da Renamo, do Carlos Serra ou do Elísio Macamo, do Patrício Langa ou do Lázaro Bamo.

Sobre o meu comentário ao seu post, Lázaro referiu que “Nao sou como sugere quando diz " Precisamos de combater a cultura da UNANIMIDADE. Não nos leva a lado nenhum. É na diversidade de pontos de vista que encontraremos soluções para os diversos problemas que nos afligem como sociedade" defensor da unanimidade como conformidade geral das ideias, pensamentos, opiniões, etc. a minha tónica de abordagem esta virada para o real papel dos intelectuais, não ideias comuns, portanto respeito a sua opinião mas para um bom entendedor meia palavra basta quando falamos do papel do intelectual na sociedade.”

Sobre isto retorqui que não me dirigia a ele pessoalmente quando escrevi que “Precisamos de combater a cultura da UNANIMIDADE que não nos leva a lado nenhum. É na diversidade de pontos de vista que encontraremos soluções para os diversos problemas que nos afligem como sociedade”. Expliquei que esta ideia me surge do que acompanho desta blogosfera em que ambos andamos e fundamentalmente no Blog onde inicialmente vi o seu post que comentei. Há uma ideia generalizada de transformar quem discorda das nossas ideias em INIMIGO MORTAL em que até o insulto vale. Isso conduz a que os medrosos enveredem pela tal cultura da UNANIMIDADE para não serem vistos como INIMIGOS. Isso não nos serve. Acrescentei que precisamos, meu caro, de coragem para expor os nossos pontos de vista sem nenhum problema mesmo que tais pontos de vista choquem com as ideias do “nossos” professores, amigos ou familiares. O que não podemos fazer é usar os nossos blogues para atirar pedras uns aos outros. É destes sovacos que temos que sair.

Lázaro voltou a mim pela mesma via afirmando que concorda plenamente comigo quando afirmo que “a blogosfera anda tensa e que em muitos casos, MUITOS estão presos às figuras e ao pensamento de alguns Mui Ilustres blogistas (que respeito em absoluto) o que tolda a sua capacidade de analisarem os argumentos dos outros,” uma vez que imitar modelos não é filosofar, mas no mundo que se queira cientifico, toda abordagem deve abarcar algumas referencias pois um individuo deve não apenas analisar e falar mas também mostrar que fora ele existem teóricos que trataram o assunto e se for a visitar o meu cantinho de reflexão, certamente ira notar que não digo, não escrevo sem citar ninguém, não que esteja preso aos sovacos de alguém ou algo, mas parto dessas convicções para alcançar outros horizontes.”

Respondi ao Lázaro que no blog do um amigo meu (Ilídio Macia – o quotidiano de Moçambique) discutíamos as inconstitucionalidades que estão a “chover” em Moçambique e que para além da minha convicção que vinha da interpretação da Lei constitucional, buscava fundamento na doutrina sobre a matéria que citava devidamente e que fazia isso regularmente. Esclareci que o estar no “sovaco” a que me refiro não é nos apoiarmos, para defender as nossas teses, no pensamento dos outros; que o estar no “sovaco” a que me refiro é ser incapaz de contrariar a tese da Frelimo porque sou da Frelimo; é não poder contrariar a tese do professor Serra porque sou aluno dele etc. Sublinhei que são estes sovacos que sugiro a qualquer intelectual que saia deles. Aliás, se não me falha a memória querias que os intelectuais saíssem dos sovacos dos partidos políticos e eu acrescentei de qualquer outro sovaco. Portanto, meu caro, não é mau ir buscar fundamentos algures. Já não se pode inventar a roda mas podemos alicerçar-nos nas ideias de quem inventou em primeiro lugar a roda para fazermos a nossa própria roda. Mau é estar de um lado porque os outros estão lá e não pela causa que se defende a partir dessa trincheira.

Foi nesta esteira que Lázaro Bamo me lançou o desafio, de ampliar o debate pelos outros blogistas que certamente irão se interessar em discutir a questão dos Sovacos (uma espécie de uma convicção que é uma prisão).

Eis nos aqui. Está lançado o desafio

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

O Ensino em Moçambique

Oficialmente o ano lectivo 2008 abriu hoje. Para muitos a abertura do ano lectivo marca o back to School e, para muitas crianças, o início de uma carreira que, na melhor das hipóteses, se prolongará por 12 anos.

Velhos problemas persistem: falta de vagas em diversos níveis ( segundo o notícias de hoje 28/01/2008 "milhares de jovens não poderão frequentar os estabelecimentos públicos, devido à exiguidade de vagas") e um número elevado de alunos por turma, para além dos que "continuarão a estudar em salas alternativas, devido a uma combinação de factores, entre as quais os problemas provocados pelos fenómenos naturais e a degradação das infra-estruturas" ainda segundo o notícias de hoje.

De facto, há muito que se fala dos mais de "um milhão de crianças foram matriculadas este ano pela primeira vez nas escolas primárias públicas para frequentarem o ano lectivo que hoje arranca oficialmente em todo o país." Porém, ninguém nos disse, ainda, que medidas estão a ser tomadas para estancar o fenómeno que se verifica anualmente (com os números a crescerem a cada ano) da falta de vagas para os graduados da 7ª e 10ªs classes.

O Estado tem feito um grande esforço no sentido de absorver grande parte das crianças em idade escolar. Essa é a razão porque se fala (com alguma insistência) do crescimento em termos de alunos matriculados nos primeiros níveis a cada ano que passa. Porém, parece me faltar um esforço no sentido de garantir continuidade para a maioria das crianças que concluem o ensino primário uma vez que o investimento no crescimento de salas de aula para o ensino primário não encontra paralelo em termos de crescimento das salas de aulas para o ensino secundário geral e no pré-universitário.

Esta é a razão porque ano após ano o Ministério da Educação e Cultura tem que lidar com a escassez de vagas no ensino secundário geral e no pré-universitário.

Paralelamente a este factor está a demora na reforma do ensino técnico profissional conforme prometido e com financiamento garantido que, em minha opinião, devia ser a prioridade tendo em conta a necessidade de dotar a juventude de um saber fazer, que permita a esta camada assumir (com competência) os desafios do desenvolvimento que se coloca para o país.

Qual a razão do menor fulgor no crescimento do parque escolar para os níveis secundário geral e pré-universitário? Que estratégia está ou foi adoptada (para além de encaminhar "crianças" que não conseguiram vagas no diurno para o curso nocturno)? Qual a projecção a longo prazo para o sector como um todo?

Olho para os números, escuto os discursos com preocupação. Ainda não estou a falar da qualidade de ensino. Falo, ainda e apenas, do acesso a escola para milhares de crianças e milhares de jovens deste país.