sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Postura, Debate e Humildade

O Mapengo, no seu blog, escreveu mais uma carta ao nosso amigo Virgílio Sithole na qual, entre outras coisas, se insurge contra "as visões unilaterais dos nossos comentaristas e jornalistas que se despem da “imparcialidade” e escolhem alvos a abater." Para Mapengo "os nossos comentadores escolheram dois alvos a abater, CNE e Conselho Constitucional. Transformaram os partidos políticos em vítimas dessas duas instituições ilibando-os de quaisquer erros. Eles são mais limpos que a virgem Maria."

A carta em alusão foi largamente debatida aqui e por email, tendo como principal alvo o Eng. Venâncio Mondlane que, na carta em alusão, é referido como "o comentarista mais concorrido de momento" que, "no seu esforço de neutralidade apareceu na STV a fazer um recorte daquilo que ele considera o mundo. Para ele em nenhum tribunal do mundo não se tomam decisões até altas horas, ou fora do horário normal do trabalho. Deixava claro que o que ele nunca ouviu ou viu é porque não existe."

O debate, se calhar pela referência ao Eng. Venâncio (pessoa que muito respeito e de quem tenho o maior apresso) e, também, pela sua performance num telejornal recente, centrou-se neste comentador até, por email, o Noa vir pôr água na fervura secundado pelo Nero AK47 este argumentando e sugerindo que "não criemos mártires. Aproveitemos o que de bom se pode aproveitar do comentador cujo intervenção televisiva está sendo objecto deste debate. Ele não deixa de ser um bom orador. Não o ataquemos. Corrijamo-lo e ajudemo-lo a ser melhor do que já é."

A minha resposta ao email do Nero deu azo a que pensasse na nossa postura no debate de ideias. O que é que deve nos guiar? Como devemos nos apresentar? Que atenção devemos dar a quem nos ouve? Como devemos interagir com outros participantes? Que cuidado devo ter no que digo? Que atenção devo dar a forma como a minha mensagem é ou pode ser percebida/recebida?

Como um dia disse Patrício Langa, "envolver-se no espaço de debate crítico de ideias em Moçambique é como correr com um cesto de ovos a cabeça. Temos que ser bons equilibristas para não, os deixar cair, ferir susceptibilidades. As susceptibilidades são tão frágeis quanto os ovos que levamos a cabeça." Eu diria mais, temos que ser responsáveis. Tudo o que dizemos tem repercussões e, numa sociedade onde, do nada, viramos autoridade no que dizemos, há que ser mais comedido sob o risco de nos perdermos e provocarmos revoluções fundadas no nada.

Foi isso que sugeri quando comentei o email do Nero. O espaço de debate não pode e nem deve ser uma passarelle onde cada um se exibe e quer ser o maior. Tem que ser um espaço de reflexão onde exercemos a nossa cidadania e despertamos outros a fazerem o mesmo.

Como diz Patrício Langa, "a sociedade se constitui no debate. O debate crítico é, acima de tudo, o mecanismo essencial para melhoria da qualidade da nossa esfera pública." Temos que cultivar este debate.

Mas ao cultivar o debate, temos que evitar o monopólio da verdade, de modo a evitar intolerância entre nós e/ou atitudes de mera altivez como muitas vezes temos visto. Temos que matar a tendência crescente de que os nossos pontos de vista, as nossas ideias são autênticas revelações. Como diz Elísio Macamo "quem se julga detentor da verdade é que se torna intolerante e fanático nas suas posições. Quem duvida não fica envergonhado por ter abordado um assunto de uma determinada maneira e ter sido provado enganado. Ele rigozija-se."

Como comentou um dia o Bayano no blog do Patrício, " houve em tempos uma grande discussão sobre o direito à liberdade de expressão nos eua e uma questão que se colocava era de saber até que ponto qualquer ideia podia ser veiculada na esfera pública. Por outras palavras, que valor devia ela ter para ser considerada como ideia? deves estar a imaginar a salada de opiniões que isso ocasionou. O que saltou ao de cima foi que justamente por isso mesmo é que as ideias devem competir no mercado de ideias até a melhor ideia sobressair - evidentemente, que amanhã poderá não ser a melhor ideia, mas a beleza do debate reside ai."

Sou também por uma postura sã no debate de ideias.




terça-feira, 29 de setembro de 2009

Finalmente... o Acórdão do CC: Pura Ciência

A ansiedade tomou conta dos moçambicanos durante o dia de ontem. Aposto que muitos, como eu, maltrataram o controlo remoto mudando de canal no cardápio televisivo para aferir se do CC vinha "fumo branco" ou não. E veio.

Face a fundamentação dos acórdãos, gostaria de saber se as ondas protestativas (esta palavra existe? Se não acabo de a inventar) continuarão tsunamísticas ou, se pelo contrário, irão amainar.

Deixo aqui o acórdão do MDM (outro aqui), aqui o do PARENA e aqui o do PIMO.

O Direito é uma ciência linda. Quem não acredita que leia esses documentos se faz favor. A CNE e seus juristas meteram água é um facto (refiro me a esse "aguaceiro") no próximo post to LEGAL.

Vamos voltar a falar?