quinta-feira, 26 de março de 2009

FOI HÁ 10 ANOS (27/03/99/09)

Era um sábado, apesar de estarmos em Março, o sol brilhava impiedoso lá do céu e eu, angustiado e ansioso, segurando pelo braço a nwa Mondlane que, conforme sabiamente recomendada, insistia em "ir lá" a pé.

Era sábado sim, mas a odisseia começara na sexta-feira 26 de Março. Do serviço onde me encontrava (para onde ela não foi), fui chamado a atender ao telefone e, do outro lado da linha, uma voz tremida me anunciava que já estava a receber sinais de que o ser que carregava no ventre, estava cansado de lá estar e, insistentemente, lhe anunciava prontidão para ver a luz do sol e, enfrentar o mundo com todas as suas peripécias.

Uff, fui assaltado por um misto de alegria e preocupação. Anunciei aos quatro ventos que aquele seria o dia mais importante da minha vida e abandonei o meu posto de trabalho. Cada paragem do chapa era uma eternidade, não podia acontecer ser outro a encaminhar a nwa Mondlane para aquele local que serve de porto de chegada de seres tão especiais: tinha que ser EU.

Mas estava escrito que o meu dia especial não seria aquela sexta-feira 26 de Março. É um facto que cheguei a tempo de ser EU a desencadear o processo de levá-la; é um facto que, 10 minutos depois de eu o ter chamado, o meu amigo João Carlos cumpriu com a promessa de levar a cunhada, no seu carro, para aquele local, mas não foi naquele dia.
Deve ter sido a teimosia dos xikwembos para me castigar de qualquer coisa que eu não tivesse feito. Mas estamos em paz. Eu os perdoei (acredito que eles a mim também).

Cumpridos os formalismos, avaliados os indícios de chegada lá deixamos a nwa Mondlane Eunice. O João Carlos sugeriu: "a espera é angustiante, ir para casa é o pior que podes fazer, vamos fazer o de sempre às sextas". Quem era eu para contrariar um tipo que me levava 2 anos vantagem e de experiência na área. Lá fomos.

Eu estava com fome, afinal não havia comido nada até aquele momento e eram 19 horas. Fomos ao restaurante "o pilão". Pedidos de comida feitos, foi me igualmente destinada uma loirinha que, com o passar do tempo, foi perdendo qualidades tal o esquecimento a que foi votada. Deve ter se sentido tão despresada. Acredito até que me odiou. A comida então, foi mexida e remexida sem que desse mostras de desaparecer do prato. A alegria, misturada com preocupação e ansiedade tinha ocupado espaço até no estômago.

O meu amigo, por ser meu amigo, lá tentou me levar aos sítios onde eu mais gostava de ir, me mostrar coisas que eu, normalmente, gosto de ver: nada serviu. Resignado, o JC levou me a casa onde anunciei ao meu irmão que deixara a nwa Mondlane ali de onde recebem os ilustres visitantes que chegam para ocupar alegremente os nossos corações o resto da vida e que, para mim, a partir daquele dia as coisas iriam mudar mais ainda. Ele olhou para mim e disse: "ela acaba de ligar, está em casa, acham que ainda é cedo".

Meu Deus, odiei me por ter seguido o conselho do JC, a preocupação aumentou mas, 2 da madrugada, era tarde para eu sair e bater portas alheias, nem que o pretesto seja estar ao lado e em prontidão para quando o momento chegar.

Na manhã de sábado dia 27, 6 horas, eu batia a porta da casa da avô Chica (que Deus guarde esta grande mulher). Senhora de fibra, enfermeira/parteira reformada, que se orgulhava de, durante a luta de libertação nacional, e nos anos subsequentes à independência, ter assistido ao nascimento de muitos moçambicanos, muitas vezes em condições bem adversas. Era lá onde a Sheila, a minha Sheila, se tinha refugiado.
Não arredei o pé até que pelas 11 horas a avozinha me disse: está na hora, leve sua mulher daqui. Sai a correr anunciando que ia chamar um taxi; a avô berrou um sonoro NÃO e acrescentou: - melhor irem andando, é aqui pertinho e isso a fará bem.

Fomos, o sol impiedoso brilhava lá do céu e eu, passo a passo, caminhando e a ter que conter o desespero que me assaltava a cada demonstração de dor que aquela que eu segurava pelo braço me demonstrava.
Recebida, chamei, novamente, o meu amigo JC. Tínhamos que assistir ao casamento do nosso amigo Ozias Sitoe, nesse dia dia 27 (parabéns ao casal). Lembro-me abraçar o casal a saida da igreja e de ir ao salão, onde não fiquei mais de uma hora.

Quando eram 14, na companhia do JC, lá fomos bater à porta para saber do "desembarque", disseram-nos: ainda não.
Acto contínuo, quando eram 16 lá estávamos de novo. A mensagem foi que ela pedia um sumo. Pedido satisfeito de pronto.
Uff, começava mesmo a deseperar. Já tinha olhado para o céu muitas vezes a procura de respostas para a razão da demora e... quando eram 18.30 nem a minha cara de desespero comoveu a senhora que me abriu a porta que me enxotou dali dizendo: "vá embora daqui, não te quero ver nunca mais hoje, quando chegar te avisamos chiças, pensas que não temos mais nada a fazer se não abrir e fechar estas portas? Imagine se todos os pais, maridos fizerem isso?" Pedi desculpas e fui ao aconchego do 3º andar, meu lar.

Pouco antes das 7 horas, bati a porta por onde a tinha deixado e, a mesma senhora que berrou comigo no dia anterior, me anunciou que aquela a quem demos o nome de Uly Shanice Helena Mutisse pelas 19 horas de 27 de Março de 1999.
Preciso contar a explosão de alegria? É desnecessário.
Não me perguntem como mas, 10 minutos depois daquele anúncio, eu estava no quarto a ver, pela primeira vez, a cara linda da menina da foto acima que hoje faz 10 anos.

Preciso contar a explosão de alegria?
Eu também estou em festa. Sou pai há 10 anos.

Só o parto ter corrido bem era motivo de festa. Ter ganho a aposta à Eunice Sheila Mondlane, era motivo de outra festa. É que eu sempre insisti que aquela gravidez me daria uma menina e ela que seria rapaz. Se nascesse menina (como eu queria) ela me compraria uma TOYOTA HILUX RIDER 2.4 e, no inverso, eu lhe compraria uma 4x4 SUZUKI VITARA.

10 anos depois, a Hilux ainda não chegou.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Estou Atento - Falemos do SMO

Não me demiti dos debates que correm por aqui, nem da minha condição de cidadão militante e consciente. Não deixei de prestar atenção à blogosfera; esporadicamente passo, vejo e comento mas, aqui, não tenho postado nada.

Há muitas coisas que requerem, ao mesmo tempo, a minha atenção e, quando é assim, há algo que fica prejudicado. Neste caso está prejudicada a atenção que devia dar ao blog. Mas estou atento, só preciso de sentar e me concentrar e, lá virão as ideias subversivas. É que, também, a inspiração não se provoca, acontece como já dizia alguém.

Não estou, por exemplo, alheio à polémica sobre a revisão da Lei do SMO. Num círculo mais restrito, email, abordamos longamente este assunto. Não houve consensos.

A revisão da Lei do serviço militar obrigatório (SMO) está a gerar divergências de opinião no parlamento, na sociedade e, em particular, entre a camada visada.

Na actual conjuntura política, económica e social, que alternativas se colocam ao SMO? Existem condições para termos um serviço militar voluntário e/ou profissional como apregoa a Renamo (vide Notícias de hoje 23 de Março na voz do porta-voz interino da bancada parlamentar da Renamo)? O que é que está em causa nesta polémica: as restrições em caso de prevaricação ou o próprio SMO?

Numa outra perspectiva, não se estará a colocar em causa os direitos e liberdades fundamentais como por exemplo a liberdade de circulação e acesso ao emprego?

Existe estofo e capacidade para profissionalizar o exército?

Portanto, ao discutir esta questão, não podemos perder de vista as alternativas que o país tem para se defender e manter a sua integridade territorial.

E ao fazermos isso, temos que ser realistas. A única alternativa que me parece viável neste momento é o SMO.

Qual é a vossa opinião?

PS: O apanhado acima não foi devidamente editado, me perdoem as gralhas e eventuais erros.