quinta-feira, 29 de novembro de 2012

E o Chapa Subiu

E o Chapa Subiu

Julio S. Mutisse

ideiassubversivas.blogspot.com


O chapa subiu.

Acho que já não havia espaço para esticar a tarifa que vinha sendo aplicada até então por mais tempo. Como se diz, a nova tarifa pode potenciar mais investimentos no sector (isto é, aquisição de mais chapas) para aliviar a crise de transportes na cidade de Maputo e não só.

Ainda bem que os munícipes de Maputo perceberam que a manutenção do preço até então vigente poderia agravar a situação de escassez de transporte devido ao desinteresse dos operadores e consequente desinvestimento no sector. Ainda bem que as vozes que se fizeram ouvir mais alto no dia da efectivação da subida da tarifa foram contra o oportunismo dos operadores materializado nos famigerados encurtamentos de rotas. Para mim essas vozes revelam que começamos a ganhar consciência da infeliz dominação dos pequenos caciques sem escrúpulos e ganhamos igualmente a consciência de que o problema real está em nós aceitarmos a dominação, em a termos na alma como um dia disse, e bem, o Professor Carlos Serra.

Continuo a pensar que a corrida aos chapas e transportes públicos que assistimos diariamente normalmente protagonizada por estudantes, trabalhadores, doentes etc, demonstra o desequilíbrio na procura e oferta de serviços públicos essenciais que, normalmente se localizam no centro das cidades o que determina a debandada dos bairros pela manhã e a romaria que assistimos ao final do dia. Isto é, não há como resolver sem se avançar no sentido de estabelecer o equilíbrio na oferta e procura de serviços públicos.

Na verdade, os bairros periféricos são autênticos dormitórios. Os que trabalham partem de lá pela manhã e retornam ao final do dia. Os estudantes matam-se pelo transporte em cada período lectivo, pressionando ao máximo o já deficiente e insuficiente sistema de transportes existente nas nossas cidades.

Pode ser que, de facto, a nova tarifa potencie o investimento no sector por parte dos operadores privados e dê novo fólego aos transportes públicos municipalizados mas, a meu ver, o investimento que deve ocorrer neste sector, a organização dos transportadores e a assimilação das regras do transporte devem ser acompanhadas de uma gradual oferta dos serviços que determinam a grande demanda aos centros urbanos nos locais de residência das pessoas.

Ainda bem que a Província de Maputo passa a contar com um Hospital Provincial a breve trecho; ainda bem que Nkobe já conta com uma escola secundária a semelhança de Kongolote; isso falando da Provincia de Maputo e do Município da Matola em particular como exemplo. Neste caso é um passo importante para a redução da pressão no deficiente e insuficiente sistema de transportes e pode ser maior se, nesses locais, adicionarmos notários, centros e postos de saúde, centros comerciais e de lazer de referência, entre outros serviços que evitem a dependência dos serviços localizados no centro das grandes cidades.

É que, a meu ver, enquanto os notários e muitos outros serviços se localizarem todos dentro do perímetro da cidade de cimento, os que vivem na periferia terão a necessidade de vir a procura desses serviços.

Maputo e Matola ultrapassaram agora uma etapa. Há que avançar no sentido da oferta de serviços públicos sob o risco de até o projectado metro de superfície ser ineficaz como solução para os problemas de transporte nas nossas cidades.

Se quisermos ser eficazes na questão dos transportes não podemos enfocar unicamente no aumento do número de autocarros. Temos que ir mais além, fornecendo mais e melhores serviços públicos lá onde a maioria das pessoas que diariamente afluem aos centros urbanos vivem. Ainda bem que o Governo da Cidade de Maputo deu o exemplo se estabelecendo na periferia da cidade.

Só assim transformaremos os bairros periféricos de dormitórios para verdadeiros locais de residência e de permanência prazeirosa.