quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Eu Sou Daqui, Onde “Não Há Sistema”

Eu Sou Daqui, Onde “Não Há Sistema”
Julio S. Mutisse

ideiassubversivas.blogspot.com


Esta semana que iniciou a 2 de Dezembro revivi uma cantiga que, para mim, há muito havia caído no esquecimento: “não há sistema.” Nunca gostei desta cantiga, sempre me soou mal e sempre me irritou.

Mais do que a própria cantiga, sempre me irritou a forma como ela me chega, quase sempre seca, áspera, como que a dizer: o que queres que eu faça? Já te disse que não há sistema.

Tenho consciência que qualquer sistema que se adopte para servir o público pode e tem as suas falhas. Não guardo muito boa memória dos longos períodos de espera enquanto o empregado bancário buscava as “fichas” para te atender. Evoluimos e essa evolução tem que se fazer sentir não só nos apetrechos que se usam no atendimento, mas, também, nas relações que se estabelecem com os clientes e na comunicação que deve fluir com estes.

Eu sou daqui e, mesmo por ser daqui, mereço muito e melhores serviços do meu banco daqui. Não basta que um qualquer mal humorado me comunique que não há sistema. É que, antes que o mesmo espere que eu entenda que ele não pode fazer nada por mim porque “não há sistema” há que ele, em primeiro lugar, entender os transtornos que me causa a falta de “sistema” na instituição que eu confiei as minhas míseras economias e, no mínimo, procurar confortar-me.

Mais do que isso, persistindo a “falta de sistema” pelos dias em que esta se verificou (testemunhei e sofri pela sua falta na segunda-feira, terça-feira e quarta-feira), no mínimo, o meu banco daqui, deveria ter se dirigido aos seus clientes não só explicando o que estava a acontecer mas, essencialmente, mostrando alternativas e, acima de tudo, pedindo as tradicionais desculpas sinal de respeito que, a meu ver, o meu banco daqui deve ter por mim que sou daqui, como por todos que se sentem daqui com o banco daqui.

Convirá o meu banco daqui que nós, seus clientes que nos fizemos dali, podemos ter sofrido prejuízos graves em virtude dos problemas de “sistema” de que somos completamente alheios. Nesta altura do ano deve ser complicado para um pai de família ouvir: “não há sistema” principalmente na forma como essa informação é transmitida.

Moçambique tem desde 2009 uma Lei de Defesa do Consumidor (Lei 22/2009, de 28 de Setembro) que se aplica a produtores, fabricantes, importadores, construtores, distribuidores, comerciantes e prestadores de serviços e me confere, como consumidor desses bens e/ou serviços, o direito à qualidade de serviços SEMPRE. A qualidade dos serviços a que a Lei do Consumidor implica que os serviços que me são fornecidos, devem ser aptos a satisfazer os fins a que se destinam e produzir os efeitos que se lhes atribuem nos termos legalmente estabelecidos, ou na falta destas, segundo as legítimas expectativas do consumidor, neste caso eu, que sou daqui.

O prestador do serviços é responsável pelos vícios de qualidade. E a qualidade dos serviços deveria ser correspondente ao preço que pagamos por esse serviço e, mais do que isso, cada cliente dali lesado pelo “não há sistema” no nosso banco daqui deveria procurar que o nosso banco daqui lhe restitua na medida dos prejuízos causados pela “falta de sistema” no período em que esta ocorreu.

Tudo isto para dizer que aos nossos prestadores de serviços não bastam publicidades bonitas relativamente a serviços que até podem ser bons há, do outro lado, que criar uma plataforma de comunicação com os usuários desses serviços que mitiguem os efeitos negativos de uma eventual falha como no caso da “falta de sistema.”

Se os gestores do meu banco daqui lêm os livros de reclamações ou, ao menos, visionam os videos do circuito interno de TV, verão (neste último caso pelos gestos) a insatisfação dos seus clientes pelos serviços prestados, salvo se só se preocuparem com o que Balança no Geral ou é publicitado com laivos espetaculares num determinado canal de TV.

Não precisamos disso, temos leis e contratos que devemos sempre cumprir. Haja sempre sistema.