quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Crítica da Crítica

Crítica da Crítica

Júlio S. Mutisse


Julio.mutisse@gmail.com


Ideiassubversivas.blogspot.com

Não é que tenha preguiça de escrever, nem é minha intenção fugir aos temas a que me propus e prometi semana passada.


Não.


Estive num debate. Aliás, estive na negação de um debate. Enquanto tentava elaborar sobre esta negação ocorreu me um texto do Patrício Langa (publicado na íntegra aqui) que adapto nas linhas abaixo, concordando com ele na íntegra: de facto a nossa a maior pobreza absoluta – a mais insidiosa e perniciosa que se abate sobre Moçambique – é aquela da sua "massa" crítica.


O pior é que essa pobreza é a mais difícil de combater, pela sua própria natureza. É reflexiva (cognitiva) e não material! Não há uma linha que a relativiza ou a absolutiza através da contagem de dólares ou calorias consumidas diariamente.


Não há PARPA para erradicar os efeitos de uma forma perniciosa de pensar e de fazer crítica. A solução que se aventava apropriada, por alguns de nós, "os críticos dos críticos", portanto, a do debate de ideias que inclui o debate dos critérios do debate é, perversamente, rejeitada pelos críticos. A única crítica considerada, pelos críticos, de válida é aquela que têm no Governo seu maior e principal alvo. E, nisso, não reside apenas concepção reducionista da realidade, mas uma pobreza analítica de assustar.


É que nessa crítica ao Governo, e já agora, aos "críticos dos críticos", repetem-se, incansavelmente, os mesmos erros de procedimento e de raciocínio no debate de ideias. Um desses erros de procedimento, por exemplo, e que não me canso de apontar é o julgamento das intenções. De certeza, que os críticos, ao lerem este texto a primeira coisa que lhes vai ocorrer é julgarem a minha intenção ou não de defender o Governo. Vão querer saber de que lado estou. Vão dizer, como já o fizeram, que quero aparecer, contrariamente a eles, os críticos, que já são consagrados.


Como já fui, várias vezes, acusado de estar a querer fazer gracinhas ao Governo, e não tenho nada a perder, insisto na seguinte observação. Se não existisse Governo, no nosso país, não teríamos críticos, pelo menos, da qualidade que temos. Criticar o Governo é a razão de existir de alguns que se intitulam de críticos.


E mais, os tais críticos se consagraram e se legitimam, justamente, pela razão que os produz: criticar o Governo! Não é a plausibilidade de seus argumentos que serve de critério. É a sua declarada “ boa intenção” a favor dos deserdados que conta. Nem se lembram ao criticar que as mesmas exigências que fazem aos outros possam ser usadas para si próprios. Se os críticos bem intencionados criticam aos críticos dos críticos; o que dizer dos críticos dos críticos dos críticos? Os críticos, já agora, fazem a Consagrada Família que abunda na nossa esfera pública e a empobrece pelos seus métodos.


Os críticos, mais comuns entre nós tem aversão aos que acham que o que Moçambique mais precisa, neste momento, não é de críticos que fazem o mais fácil dentro da sua prerrogativa de críticos: criticar o governo. Isso qualquer um pode fazer! Agora, uma crítica analiticamente prudente e politicamente responsável não se faz com ataques fáceis ao Governo e, já agora, aos críticos dos críticos! O fraco desempenho do Governo podia até ser atribuído a fraca qualidade da crítica que lhe é feita pelos seus críticos.