terça-feira, 7 de setembro de 2010

Mais Uma Vez Machado da Graça, Mais Uma Vez Desqualificando os Moçambicanos

É interessante a forma como, algumas vezes, Machado da Graça se pronuncia e se posiciona no debate público nacional. Muitas vezes é chocante. Irritante até, quase a chocar ao mais desqualificável desrespeito e despeito por todos nós.

É chocante quando, por exemplo (mesmo que fosse sarcasticamente), nós moçambicanos somos reduzidos a pessoas que “pouco mais conhecem do que a sua enxada de cabo curto,”isto é, ignorantes com quem é impossível qualquer diálogo. É isto que Machado da Graça nos diz na sua crónica de última sexta-feira a propósito das escaramuças havidas a 1 e 2 de Setembro de 2010, uma crónica também reproduzida aqui.

Portanto, se nas presidências abertas o Presidente da República fala com quem não devia falar porque ignorantes, burros já que “pouco mais conhecem do que a sua enxada de cabo curto,” e se na confusão de 1 e 2 de Setembro, diferentemente das de 5 de Fevereiro, não havia interlocutor conhecido, deve haver uma casta especial de moçambicanos iluminados, que devem liderar esse diálogo já que, igualmente, para Machado nem os sindicatos servem já que, “os sindicatos não representam nada nem ninguém.”

Indicou nos o bom do Machado, os burros, os ignorantes as pessoas deste Moçambique “pouco mais conhecem do que a sua enxada de cabo curto”) os que não servem para nada (os sindicatos). Creio que só a modéstia compeliu o nosso conhecido colunista de indicar os que deviam capitanear os ignorantes no diálogo sugerido com o Governo.

Tal como Viriato Tembe com quem concordo, acho “estranho que este inteligente analista venha a chamar os camponeses moçambicanos, a maioria do nosso povo de burro. E exactamente por "pouco mais conhecerem do que a sua enxada de cabo curto" as conversas que estes nossos concidadãos mantêm com as autoridades não são qualificadas, segundo este eminente analista.”

E há quem, apesar de tudo, pensa que as nossas mães, avôs, primas e primos que não falam português nada percebem da vida e dos homens e suas vicissitudes. Pergunta Abdul Karim lá no Reflectindo “Percebem tudo? Está bem, então diga-me lá um camponês que não fala português, como o presidente explica PIB para ele em changana ou outro língua materna”então minha gente, mais de metade da população moçambicana é burra. Que enormidade…

Mas de verdade, apesar de não mais me surpreenderem os posicionamentos deste senhor e outros a ele acolitados, é preciso dizer que estamos sempre atentos. É preciso dizermos-lhes que apesar dos truques retóricos, estamos sempre atentos aos insultos a nossa inteligência e que temos inteligência o suficiente para os dispensarmos para o merecido descanso.

Desengane-se quem pense que estas coisas são novas. Já as denunciei quando em 2003 nos chamaram as mesmas coisas quando, pela imprensa tentaram nos vender a ideia de que os que lutaram pela independência do país o tinham feito pelos mais vis objectivos, substituir-se aos colonos.

Estas manias do Machado da Graça de olhar para os moçambicanos como faz na última crónica, aqueles que “pouco mais conhecem do que a sua enxada de cabo curto,” foi também denunciada por G. Muthisse num texto fantástico intitulado “os amuralhados raciais.”

Mais do que isso, a pregação de um apocalipse anunciado de algo “mais grave”que pode acontecer para além de prenunciar um regozijo sempre que estas coisas acontece, serve também para reforçar o posicionamento destes ilustres senhores, como que a dizer, temos dito, não nos ouvem, estamos aqui, prontos para ajudar.

Mas podemos tomar decisões sem eles. Disso deu exemplo o nosso Governo esta terça-feira.
Bem haja Moçambique cujo povo, apesar de “pouco mais conhecer do que a sua enxada de cabo curto,” ganhou o direito de decidir por si sobre o seu futuro, já lá vão 35 anos ao longo dos quais foi produzindo gente capaz de levar Moçambique para frente, gente da terra que ganhou seu espaço a despeito dos que, durante muito tempo pensaram que o país pararia sem eles. Um deles é Machado da Graça que agora se especializou em dizer mal do Governo e em insultar os moçambicanos, os tais que “pouco mais conhecem do que a sua enxada de cabo curto.”