segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Ao Elísio Macamo, nas Vésperas do Seu Aniversário

Mano, não havia outro mês para nasceres? Tinha mesmo que ser Dezembro? As plataformas digitais em que andamos conectados me anunciam o seu aniversário para breve e, mesmo para fechar o ano (e fecharei com esta carta), te escrevo esta carta para te dizer parabéns e dar te notícias de Moçambique.
Sim, de Moçambique. Este país é relevante tão relevante que não escapou à investida wikilikiana com textos do famoso Todd, o Chapman.
Mais interessante do que as revelações a roçarem a irresponsabilidade daquele diplomata, foi a revelação (para mim) de que, no nosso jornalismo ainda ha intervalos de lucidez e há ainda jornalistas que buscam a essência das coisas, mesmo entre os chamados independentes cuja vocacao, muitas vezes, parece ser partir tudo o que tenha a ver com determinadas figuras e/ou partidos. Enquanto uns faziam eco de Chissano e Guebuza como “cúmplices” do narcotráfico, o Jornal Savana por exemplo sugeria “uma leitura desapaixonada dos Wikileaks” ajuntando que “alguma informação constitui uma aberração, e deve imediatamente ser rejeitada”, que as “mensagens estão recheadas de nuances, mas nunca chegam a acusar quer o actual quer o anterior Presidente da República de envolvimento no narcotráfico, como certas correntes têm tentado fazer crer” e que “com todas as suas imperfeições e erros de facto, os conteúdos das mensagens de Todd Chapman merecem ser analisados com alguma seriedade no que diz respeito à essência do que elas pretendem transmitir; que é o perigo de Moçambique se tornar num país de economia narcótica, onde a posição da nossa moeda nacional face às outras moedas de referência internacional depende significativamente das flutuações no fluxo de cash proveniente do negócio de substâncias proibidas, pondo em causa a sanidade da nossa própria economia.” Interessante ponto de vista este expresso no editorial do Savana não é mano? Não me enganei. Vem no Savana.

Este é o Wikileaks versão moçambicana. Como alguém afirmou noutro lado, é possível que após este escândalo haja uma nova forma saudável de fazer diplomacia. A ver vamos. Ainda ouvirei a sua opinião.

Estive no Xai-Xai dos nossos sonhos. Quando cá vieres melhor me levar como guia (ai cumprimos a promessa das duas cervejas que já dura um ano ou mais). Temo que não reconheças a cidade. De uma cidade dominada por cantinas quase centenárias e cujo laivo de modernidade no que ao comercio diz respeito emergia das lojas de conveniência das bombas ali instaladas, o cenário começa a mudar. Chegaram as grandes lojas de mobiliário, uma grande cadeia de supermercados instalou-se no Xai-Xai e na Macia, uma mundial marca de Fast Food (essencialmente frango) está em vias de se instalar onde alguns chineses e gentes de outras origens (nacionais e estrangeiras) lutam por dar uma imagem airosa da nossa cidade. Fiquei maravilhado.

O cenário de poucas alternativas no que ao alojamento diz respeito parece caminhar para o fim. Uma placa informou-me que um grupo vai reabilitar e operar o Hotel Xai-Xai. Não é interessante mano?

A imagem de uma cidade com pouquíssima oferta de serviços, quase atrasada tende a sumir. O tédio das diferenças com um Maputo que dista APENAS 200KM esfuma-se perante interessante oferta de serviços, espaços etc que implicam emprego para nossos irmãos e renda para as suas famílias. Pode ser que alguém não ache, mas h’a mudanças; há desenvolvimento. Traga uma legião de colegas daqui há um tempo que eles ficarão bem.

O Amosse Macamo meu amigo e colega de trabalho e de algumas outras batalhas falou dos “Embaixadores da Desgraça” antes, havia levado emprestado algumas das perguntas que orientam esse texto num post publicado aqui. Nessa época comentaste que “o único que se devia esperar de todos nós é falar com responsabilidade dentro e fora do país. falar com responsabilidade não é dizer o que não prejudica o país (porque isso seria difícil de determinar), mas sim o que é passível de ser discutido de forma construtiva na esfera pública. Infelizmente, é justamente isto que tem feito mais falta em muitos debates. por exemplo, achei que Jorge Rebelo tem sido menos responsável na suas intervenções por fazer afirmações que não conduzem ao debate de ideias. a sua sugestão de que os íntegros estão a ser corridos do governo parece-me bastante gratuita sob este ponto de vista. pelo contrário, acho as intervenções de Castel-branco muito responsáveis porque permitem uma discussão construtiva (independentemente de ele ter razão ou não). A coisa piora quando nós os demais reduzimos tudo ao "estar contra ou a favor" e preocupamo-nos pouco com a substância do que as pessoas dizem. Há muitos que pensam que participar na discussão pública é formar clubes de apoio a este ou aquele. O patriotismo não pode ser uma medida útil. O sentido crítico é que deve ser o nosso guia.” Não tenho dúvida que na diáspora onde estas usas o teu sentido crítico e com a sua cultura de trabalho etc, como diz o PR AEG, complementas a diplomacia deste país, sem ser nenhum wikileakiano e ajudas no bom caminho rumo a prosperidade como o exmo Sr. Presidente classificou o pais no seu informe ao parlamento.

Feliz aniversario Poiombo. Que Deus te dê longa vida e que curtas as festas da melhor forma possível.

Mutisse.

PS: Bem haja um jornalismo responsável. Felicitações à negação do escangalhar da imagem das pessoas com base em informações levianas. Parabéns ao Savana e a todos os jornais que trataram responsavelmente este assunto.

PS2: O espaço que damos a divulgar banditices cria os seus heróis. É difícil de negar que hajam estes fenómenos que Mapengo aborda aqui.