segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O Fim dos Tabus?

Contava que o post anterior fosse o último de 2010. Não será. Eis me aqui a fazer o meu exorcismo neste espaço.

Exorcismo? Sim. Tive uma semana atribulada. Perdi uma sobrinha muito querida. Tatiana Margarida Filipe Mutisse (30/03/2004 – 08/12/2010) deixou de fazer parte do mundo dos vivos vítima de um cancro pulmonar com que vinha lutando desde Novembro de 2009. A menina foi para um lado de onde não mais será actriz presencial do teatro e das atribulações da vida. Lá de onde vivem os anjos (que é o que ela se deve ter transformado) observará tudo de forma muito privilegiada. Em paz que é o que ela merece.

Exorcismo? Sim. Exorciso as dúvidas. Mando as embora e me entretenho a “sugar” a informação que vou consumindo. É vantajoso ser “mais clarinho” em Moçambique? Essa “vantagem comparativa” localiza-se em determinados segmentos de actividade ou em todos? Quem cria essas vantagens? Quem se beneficia delas?

Todo este exorcismo surge em consequência de uma resposta feliz de Sol de Carvalho em entrevista ao Jornal “o País” edição de Fim de Semana 11 de Dezembro 2010. Feliz porque Sol de Carvalho poderia ter sido MAIS politicamente correcto e fugir da tentação de falar de “brancos e pretos” nas respostas que deu a Policarpo Mapengo. Podia ter fugido e não dizer (em resposta a uma pergunta sobre a existência ou não de racismo no cinema) por exemplo que “não acho. O que acontece é que, simplesmente, por razões históricas as pessoas que ficaram, os cineastas e os profissionais do cinema, a maior parte delas são mais claras. São as pessoas mais claras que se impuseram.” Esta resposta segue uma outra em que Sol fala do mercado para novos profissionais, da experiência e refere que “depois seguem-se esses problemas de brancos e pretos… isso é outra conversa”.

Disse que o Sol foi FELIZ na resposta que deu. Foi sincero. A visão do Sol é generalizável? De que forma podemos pegar nestas coisas que muitos têm medo de abordar e discutir a nossa moçambicanidade, na nossa diversidade? De que forma podemos, todos nós, brancos e negros, falar de nós e nos sentirmos autenticamente moçambicanos sem determinados estigmas que nos apoquentam? Será possível abandonar as “razões históricas” que ditaram a criação de determinadas elites profissionais (no jornalismo – principalmente nos primeiros anos de independência de onde despontaram os Mias, Cardosos, Machado da Graça e outros – no Cinema, na literatura) e não reivendicar os “privilégios” inerentes num mundo competitivo como o de hoje?

Creio que sim.