terça-feira, 3 de novembro de 2009

Malas, Resultados, Debates: A Resenha Possível Por uma Nova ERA

Durante aproximadamente 60 dias o assunto mais recorrente em vários canais foi o relativo ao momento eleitoral que atravessámos.

Não faltaram as habituais adjectivações.

Não faltaram as manifestações de patriotismo.

Não faltaram manifestações de amor e fidelidade partidária.

Não faltaram projecções de revoluções.

Não faltaram prognósticos e até “sondagens e ou inquéritos” (sobre quem é o candidato ou partido favorito) proibidos pelo artigo 24 da Lei n.º 7/2007, de 26 de Fevereiro, no período que medeia o início da campanha eleitoral e a proclamação do resultado das eleições, como bem referiu o Nero.

Até as representações diplomáticas tiveram o seu “tempo de antena” pelas razões, quanto a mim, mais indecorosas e descabidas: imiscuir-se nos assuntos internos de um Estado, quais professores se contradizendo já que o motivo de tal “imiscuicência” (se esta palavra não existia acabo de a inventar e patentear) era o cumprimento da legalidade que deve fundar um Estado de Direito que todos nós, com ajuda deles, queremos que Moçambique seja e se fortaleça. Neste caso queriam o contrário.

Não faltaram notícias de observadores tendenciosos.

Mas, o mais importante, é que as eleições realizaram-se e todos são unânimes em afirmar que foram livres e justas; o povo expressou a sua vontade sem constrangimentos de nenhuma ordem. A FRELIMO e Guebas cilindram os adversários sinal de que o povo pensa diferente do que muitos compatriotas andaram aqui a perspectivar: o divórcio do povo (em nome de quem diziam falar) com o seu partido e o seu presidente.

Este processo fez me rever os debates sobre a corrupção muitas vezes baseados no: toda a gente sabe. Confesso, fiquei preocupado. Muito preocupado diga-se. Não que tenha constatado um acto corrupto em si mas por ter nascido em mim a dúvida sobre a base a partir da qual muitos compatriotas discutem o fenómeno (preocupante sublinhe-se) que é a corrupção no nosso país.

Acredito que há aqui muita ignorância sobre o assunto.

Fiquei preocupado por pensar que, se calhar, muitos tomam a gestão de fundos públicos a imagem da mala de Afonso Dhlakama. Não seria de estranhar afinal, algumas vozes mais audíveis um dia carregaram aquela mala (ou ajudaram a que quem a carregasse não a perdesse).

A mala está ali, recheadinha, disponível e, a qualquer momento podemos lançar mão dos fundos, comprar carros para nós e nossos filhos, viajar para as praias paradisíacas desta pérola do Índico, escondermo-nos algures (escondidinhos não faltam), etc.

Mas não é assim. Os fundos públicos têm normas e sistemas próprios de gestão. Seria interessante desmistificar a plataforma a partir da qual muitos olham este fenómeno. E vi com preocupação o exemplo da mala reportado pelo Savana. Espero que desta vez, também, não estivesse enganado.

PS:

Uma das formas de criar “monstros” é deixar que coisas erradas sejam tomadas por certas. As palmadinhas nas costas do tipo “és bom” têm, muitas vezes, o condão de criar estes “monstros” que, do ponto de vista intelectual, é extremamente perigoso. Não poucas vezes deparamos aqui com “teses” cuja base de sustentação é tão frágil ou inexistente que brada aos céus e, não poucas vezes também, quando se procura essa tal base quem o faz é acusado de estar a escamotear a verdade e a não querer “ver o óbvio” que ainda ninguém mostrou. Criamos assim o ceguinho e o oftalmologista que tem que o fazer ver… comecemos a sustentar o que dizemos.