segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Vida em Comunidade

Fui a Mandlakazi.
Aliás, eu estou sempre em Mandlakazi mesmo quando estou em Maputo ou em qualquer lugar do país ou do mundo. Eu sou dali.

Dizia que fui a Mandlakazi mas não a minha localidade natal. Fui a casa de um amigo (na companhia deste) em Cjidenguele. Chegamos cedo e apesar de termos “madrugado” não encontramos o velho. Sua esposa, mãe do tal amigo, tratou de explicar num chope interessante: “vosso pai não está. Foi a casa de … resolver um problema. É que viram a pegada de… a sair da casa da … esta manhã.” Acrescentar aqui que a fulana da casa de quem a pegada madrugadora foi detectada a sair é casada com um madjonidjoni.

Rimo-nos a valer.

Para quem tem raízes e vivência campesina facilmente perceberá que uma pegada deixada ao amanhecer é diferente de outra deixada com o sol já alto e havendo apenas indicação de pegada de saída pela manhã significa que o individuo tinha passado lá a noite.

Imaginem o modelo de resolução desse imbróglio. Contaram me que os Madodas reunidos não seriam factor de desmantelamento do lar do Madjonidjoni, antes pelo contrário; preservariam o lar garantindo a harmonia e a retratacção do “pecador” O Madlaya Nhoca cantado por Alexandre Langa evitando a ocorrência do referido por Policarpo Mapengo em Auxílio Incompreendido.

Percebi o que é vida em comunidade no contexto das nossas aldeias natais. Os madodas resolveriam o problema do madjonidjoni sem o consultar, beberiam sumo de Cajú e no retorno do “chifrudo” do John, no Ndzava habitual, falariam que nada de mal ou perigoso havia acontecido e que só houvera um susto provocado por um fulano que crusou a casa de madrugada sem consequencias. A harmonia do lar preservada e garantida, sem intrigas muito menos violencia gratuita.

O que torna esta sensatez impossível no contexto urbano? Já imaginaram o que seria do visado no contexto de uma cidade como Maputo? De certeza o Madjonidjoni chegaria “faiscando de ódio" pelos versos mentirosos e maliciosos ouvidos pelos becos da vizinhança” e se atiraria sobre o prevaricador e sua fragilidade “com a raiva de fera.”

Não sugiro as mesmas soluções aplicadas lá aqui. Não. Reivendico uma vivência comunitária que parece desaparecer até em bairros de expansão como os que existem em Maputo e Matola, onde a cuscuviquice cede lugar a responsabilidade para um ambiente harmonioso e são a todos os níveis. Seremos culturalmente tão diferentes?