quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

2012 Já Espreita, Lá se Vai 2011

Lá se vai 2011.


 
Este é o mês da retrospectiva. É o mês de nascimento do mano Elísio Macamo que, de tanto frio onde está, deve nos estar a invejar nós que somos daqui e estamos aqui onde o sol brilha 365 dias por ano raramente abaixo dos 15º C (salvo em Niassa e zonas como Angónia e pouco mais). Parabéns mano. Que o inverno não te congele em 2012.

 
2011 já se despede e eu posso dizer que consegui:

 
  • Estar perto da família, ver minhas filhas crescerem, estudarem, passarem de ano e sorrirem apesar das dificuldades (todos as temos);
  • Viver desafios profissionais diferentes e estimulantes (é verdade que mudei);
  • Chamar a cegonha para trazer um novo Mutisse (estou nas nuvens);
  • Fortalecer amizades (algumas iniciadas virtualmente mas hoje são bem reais);
  • Voltar a aprender que meu Partido também perde (parabéns Quelimane, parabéns Araújo);
  • Tomar decisões difíceis (todos temos que as tomar em algum momento);
  • Juntar meus irmãos e todos os nossos filhos sem faltas (não são poucos e ainda há barrigas a crescerem);
  • Reconhecer erros e aprender deles (quem não os comete?).
Venha daí 2012. Reconhecendo a minha imperfeição, nos erros que cometi muitos se podem ter ofendido, que atravessemos para 2012 sem mágoas aceitando todos o meu pedido de desculpas por eventuais erros. Eu já perdoei aos que me fizeram mal. Que os mal entendidos sejam esclarecidos até as 12.30 do dia 31 para a seguir iniciarmos (juntos) a festa.

 
Deus vos guarde e vos dê tudo de bom em 2012.

 

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Parabéns Quelimane, Parabéns Araújo, Viva a Democracia

A confirmarem-se as projecções, sirvo-me do presente para dar os meus parabéns ao Manuel de Araújo e demais vencedores nestas intercalares. Maior vencedor é o povo de cada um desses municípios que, conscientemente, fez escolhas e, através delas, passou mensagens que devem ser ouvidas e assumidas por todos incluindo os vencedores.

É a Democracia em Pleno e as mensagens de felicitação que surgem de todo o lado mostram a maturidade que, paulatinamente, se apossa de nós.

Aos não vencedores em termos de resultados, mas ganhadores na implementação da Democracia, este é o momento de virarmos para nós e encontrar em nós as causas dos resultados e, acima de tudo, fazermos dos resultados da reflexão uma plataforma que nos permita reverter os resultados a breve trecho.

Um abraço a Democracia e aos verdadeiros democratas.

Júlio Mutisse

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Doar Conhecimento: Doar Cultura

Pelo presente faço um apelo no sentido de doarmos conhecimento, cultura, saber, lazer, ou seja como for que enquadremos a questão. Podemos fazer isso doando um livro à biblioteca Municipal da Matola para o seu reforço.

Uma sociedade informada e com conhecimento tem cidadãos conscientes e a democracia, que todos defendemos, sai reforçada.

Podemos fazer isso individualmente junto a Biblioteca que funciona na Rua de Nacala na Liberdade ou contactando o seu responsável cujos contactos poderei facultar quando solicitados. Mas também podemos juntar o material e entregá-lo de uma vez.

Vamos a isso companheiros.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011


Cidadania

Júlio S. Mutisse



Mia Couto, esse celebrado e premiado escritor moçambicano deu uma interessante entrevista enquanto esteve fora para receber mais um prémio do qual lhe dei os meus parabéns há semanas neste espaço.

A dita entrevista está a dar espaço a muitos debates nas redes sociais e fez me lembrar um texto da autoria de Amosse Macamo largamente discutido no Blog Ideias Subversivas, com o título os “Embaixadores da Desgraça.” Nesse texto, Amosse defendia a tese de que quando estamos lá fora, devemos informar com responsabilidade coisa que “depende da consciência cidadã de cada um”, sendo que, o “recomendável seria colocar os desafios alcançáveis em vez de expor os problemas, muitas vezes ideológicos.”  Alguns dos problemas que o Mia colocou nessa entrevista são ideológicos; afinal, segundo ele, houve mudanças e há coisas com que já não concorda na actual orientação da FRELIMO a que ele se engajou desde a luta de libertação nacional (?).

O mundo está em crise e as notícias não falam noutra coisa. Portugal, de onde foi dada a entrevista, está nas cordas, Espanha idem e a Grécia está no tapete. Mas não são os únicos, o mundo todo está em crise. Enquanto muitos avançam soluções economicistas e outras no sentido de garantirmos maior produção, Mia refere que “é preciso sair à rua; é preciso revoltarmo-nos; é precisa esta insubordinação.” É por esta tirada que o Mia é acusado de incitar a violência. As pessoas que vivenciaram e foram vítimas, estão “presas” aos fenómenos de Fevereiro e Setembro de há uns anos e a imagem que se tem de sair a rua é a que nos foi dada a assistir nesses eventos.

Concordo com o Elísio Macamo quando, na discussão do texto do Macamo Amosse a que me refiro acima, referiu que "O único que se devia esperar de todos nós é falar com responsabilidade dentro e fora do país. Falar com responsabilidade não é dizer o que não prejudica o país (porque isso seria difícil de determinar), mas sim o que é passível de ser discutido de forma construtiva na esfera pública"

Temos conseguido? Me parece que não. Creio que, no caso em alusão o Mia, conhecendo a nossa realidade que, de longe, não se compara com a realidade europeia onde o tal movimento dos “indignados”ocorre e num contexto especifico, deveria ter sido mais comedido até em função da repercussão das suas palavras. Já dizia o Amosse num comentário ao texto a que tenho feito referência “não se logra equilíbrio sem a consciência de cidadania” e, para mim, este conceito de cidadania aliado a tal ideia de responsabilidade de que fala o Elísio Macamo é essencial.

É pois necessário despertarmos para o exercício de uma “Cidadania consciente” que, quanto a mim, passa fundamentalmente pelo conhecimento dos nossos direitos que servirão de guias no seu exercício e na participação política que devemos ter. A cidadania é aqui tomada como expressão de “um conjunto de direitos que dão à pessoa a possibilidade de participar activamente da vida e do governo de seu povo” segundo a definição de DALLARI (Direitos Humanos e Cidadania. São Paulo: Moderna, 1998. p.14.) que acrescenta que “quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social.”

Um dos direitos que a Constituição da República de Moçambique nos confere é o da manifestação nos termos da lei. A violência, o luto e a destruição tem feito parte do cardápio das “manifestações” que temos assistido nos últimos tempos, coisas de má memoria que ninguém quer ver repetidas. É, se calhar, por isso que muitos não vêem nos ditos do Mia outra coisa que não seja incitamento a violência pela experiencia de “manifestação” que tivemos nos últimos tempos.  Parece consensual a condenação da violência cometida pelos manifestantes de Fevereiro e Setembro. Tirando a violência encontraríamos certamente o exercício da tal cidadania através das manifestações contra as decisões públicas, fenómenos e políticas que ditam a subida do chapa, do pão e outros produtos básicos, num exercício similar ao que é feito em várias partes do mundo.

Mas, para chegarmos lá precisamos interiorizar este conceito de cidadania; este conceito de pertença e de que somos todos parte do problema e todos parte da solução. Quando chegarmos ai, a ideia de uma manifestação não nos assustará porque significará pura cidadania e não violência como tem sido até agora. É preciso que assumamos que a cidadania de que falamos aqui é construída e conquistada a partir da nossa capacidade de nos mobilizarmos, participarmos e intervirmos responsavelmente na nossa sociedade. Esta ideia de cidadania não cai do céu, a sua consagração constitucional não deve ser tomada como a realização dos direitos a ela inerentes, é fundamental que cidadão participe, seja activo, faça valer os seus direitos, construindo novas relações, consciências e vivências na vida social e pública.

A educação é fundamental para a construção do ideal de cidadania e para o despertar de consciências sobre a coisa pública. É imperioso despertar a cidadania divulgando-a através de instituições de ensino e meios de comunicação para o bem-estar e desenvolvimento da nação.
Será exercitar a nossa cidadania assumir que somos parte do problema e que algumas soluções que esperamos sempre dos outros (normalmente o Governo, os Municípios ou outros entes públicos) podem brotar de nós. Assumirmos isso far-nos-á compreender que o desejo de vivermos, por exemplo, numa cidade limpa passa por não jogarmos papeis, cascas de banana, latas ou garrafas de cerveja no chão e em qualquer sítio, despertará a necessidade de gerirmos o lixo produzimos, inibir-nos-á de vandalizar infra-estruturas públicas como telefones, bocas-de-incêndio nos nossos prédios etc. Será igualmente exercitar a nossa cidadania quando, fazendo as coisas correctamente, conscientemente interpelarmos o Estado no sentido deste cumprir com a sua parte fornecendo mais e melhores serviços públicos, definindo políticas que produzam benefícios reais nas nossas vidas.

Quando compreendermos isso, seremos conscientes e agiremos em conformidade perante qualquer apelo a insubordinação; saberemos se necessária ou não em função da nossa acção e atitude para que o resultado que esperamos aconteça. Mas, desenganem-se, Mia Couto não deseja violência em Moçambique. Isso lhe prejudicaria sobremaneira; não que ele pudesse estar na linha da frente, gritando palavras de ordem ou empunhando cartazes… isso fariam outros de certeza. Os empresários não gostam de perder dinheiro com greves, manifestações ou arruaças.




sexta-feira, 21 de outubro de 2011


E se Samora Fosse Vivo?

Júlio S. Mutisse


Quando a 19 de Outubro de 1986 o avião que transportava Samora Machel e sua comitiva despenhou em Mbuzini, Moçambique prostrou-se e chorou o desaparecimento físico de um líder, um símbolo, um guia. Foi há 25 anos. São 25 anos de espera pela verdade sobre o quem e porque foi morto esse grande filho desta nação. Continuamos na esperança que justiça seja feita, tal como têm prometido os sucessivos Governos de Moçambique.

Passam 25 anos com muitos ses. 25 anos de mistificação da figura de Machel. Os ventos de mudança no rumo que o país tomaria já se anunciavam mesmo antes de 1986. A viagem de Samora aos EUA, os contactos com as instituições financeiras internacionais etc. já prenunciavam uma viragem de rumo e de orientação estratégica do Estado.

A derrocada da URSS e, com ela, do bloco socialista e do próprio socialismo que já vinha em crise antes da morte de Machel é outro dado que podemos chamar a análise. Dos países comunistas da época restam hoje a China que experimentou mudanças profundas, a Coreia do Norte que se arrasta como país e Cuba que parece iniciar um processo de reformas apesar do fardo constituído pelas sanções impostas pelos EUA.

Neste contexto, passados 25 anos não podemos pensar que as coisas teriam permanecido na mesma. As coisas boas de que nos lembramos da governação de Samora Machel tiveram o seu contexto e, nem o país, nem a região muito menos Samora Machel se poderiam constituir como uma ilha completamente alheia das dinâmicas internas e externas.

E se Samora fosse vivo? De certeza que teríamos a mesma clarividência adaptada aos desafios e as transformações que vão ocorrendo não só na sociedade moçambicana mas, também, a nível global. Teríamos Samora Machel no contexto de hoje século XXI, assumindo os desafios desta era marcada pela globalização, mercados comuns, HIV/SIDA, crise internacional, pobreza, emprestando seu carisma, saber e determinação como catalisador nas várias batalhas que o Estado tem que travar rumo ao tão almejado bem estar.

Se considerarmos que com a abertura ao Ocidente e suas instituições iniciada antes de 19 de Outubro de 1986 a pretensão era buscar parcerias para o fortalecimento/financiamento do Estado face a crise do bloco socialista, então teremos que concluir que Samora Machel teria se adaptado aos programas de reabilitação económica implementados em Moçambique e, inclusive, a abertura económica que instituições do género preconizam, com consequente adopção para mais ou menos das medidas adoptadas com a CRM de 1990, abrindo espaço para o aumento da competição entre os indivíduos que traria, necessariamente, novos desafios em matérias governativas. Considerando este factor, não é de estranhar que Samora tivesse que enfrentar, nos dias de hoje, maior criminalidade e corrupção, fenómenos que, a meu ver, independem da sua personalidade e perfil tendo, isso sim, a ver com o relaxamento da pressão colectivista da sociedade e mais incentivos à iniciativa e promoção do individuo. Tem a ver com a eliminação dos controles que um dia tivemos com os chefes das 10 casas, chefes de quarteirão, milicianos e outros agentes omnipresentes no modelo de ontem. A abertura/viragem que se experimentou desde uma determinada altura (mesmo antes da morte de Machel conforme referido acima) teve muitas vantagens económicas e sociais. Desde logo, a circulação mais livre de pessoas, maior oferta de bens e serviços no mercado, maior crescimento económico, maior abertura no debate de ideias, etc., com as consequências que advém daí. A conjuntura impunha mudanças.

Podem ter sido gloriosos os tempos de governação samoriana, mas o país, a região, o mundo, tudo mudou. Até os blocos de então se esfumaram. Sem embargo das crenças igualitaristas de alguns, o país avançou por um processo de liberalização económica que, sendo contrário ao modelo anterior, libertou a iniciativa empreendedora das pessoas. E nisto, o país não está a inventar nenhuma roda. Foi deste mesmo modo que foram construídas as economias de sucesso que hoje admiramos como Suécia, Canadá, Dinamarca, Noruega, Estados Unidos da América, Espanha, França em cujos fundamentos pôs-se claramente de lado qualquer veleidade igualitarista. Pelo contrário, os sistemas colectivistas, sucumbiram e esfarelaram-se todos. Resta a Coreia do Norte para exemplo!

Samora vive! As manifestações que assistimos por estes dias mostram o quão querido era este filho da Nação moçambicana cuja vida foi interrompida quando ainda tinha muito a dar por este país. A romaria a Mbuzini no dia 19, o movimento popular em Maputo dia 19, o memorial construído em Mbuzini, a presença de líderes da região e do mundo parecem-me indicativas de uma dimensão de Samora que ultrapassa as fronteiras de Moçambique.

Mais do que admirar as estátuas que vêm o imortalizar, o país precisa conhecer Samora Machel apropriar-se do seu legado para servir de alicerce na construção da cidadania e como catalisador na busca constante do bem estar de todos nós. Vamos imortalizar Samora Machel “operacionalizando o seu pensamento e transforma-lo em instrumento de acção quotidiana para a mudança radical da vida do povo moçambicano para o almejado bem estar material, social e cultural” como escreve Salomão Moyana no Magazine de 19 de Outubro de 2011, mas adaptando esse pensamento ao contexto de hoje.


quarta-feira, 5 de outubro de 2011


Resíduos Sólidos Urbanos

Júlio S. Mutisse



Não poucas vezes, a imprensa e diversos sectores da sociedade lançam duras críticas às principais cidades do país, principalmente no que tange à recolha de resíduos sólidos urbanos (RSU). Os munícipes fazem coro a estas críticas acrescentando o dado relativo à taxa de lixo que se paga. Em parte, têm razão os munícipes quando mencionam a taxa paga; é que ao nosso dever de pagá-la corresponde o dever dos municípios em manter as cidades limpas apesar da insuficiência de meios conhecida.

Na verdade, em grande parte das nossas cidades em Moçambique, quando se fala em RSU aborda-se apenas a perspectiva da sua recolha e deposição em lixeiras. São exemplos dessa situação os cenários que actualmente assistimos nas lixeiras de Hulene, Infulene A ou mesmo Malhampsene falando das realidades de Maputo e Matola respectivamente, duas grandes cidades que ainda trabalham para ter um verdadeiro aterro sanitário que representaria uma evolução no sentido de maior controlo em relação à actual situação da deposição descontrolada de resíduos sólidos como vem acontecendo actualmente em muitos municípios nacionais e não só.

Esta evolução para verdadeiros aterros permitiria a vedação e a imposição de restrições ao acesso a esses locais, o controlo dos resíduos à entrada, o conhecimento pormenorizado do tipo de resíduos depositados, a existência de controlo de pragas, a valorização e queima controlada do biogas produzido pelos resíduos e a prevenção da contaminação das  águas superficiais ou  subterrâneas numa realidade em que uma boa parte da população residindo nos nossos municípios é abastecida com água proveniente de furos.

Para esta acção, os municípios teriam que contar com uma grande colaboração dos munícipes no que tange ao tratamento primário dos resíduos sólidos, sua gestão, separação, bem como nas condições e periodicidade de depósito para posterior recolha para as lixeiras e, numa fase avançada, para os aterros a criar.

O país tem exemplos felizes que podem ser replicados. O Centro Terra Viva noticiava no seu site em Dezembro de 2010 que a praia do Tofo em Inhambane apresentava-se limpa, mercê do empenho da Associação de Limpeza e Meio Ambiente (ALMA), uma organização não governamental que, desde 2007, em parceria com os moradores daquela zona balnear, implementa um programa de recolha selectiva dos resíduos sólidos para a reciclagem e/ou reutilização.

Citando o coordenador do projecto a Terra Viva refere que, antes da implementação daquela iniciativa, “em quase todas as ruas da Praia do Tofo se via lixo amontoado nas bermas e, nas ocasiões de maior frequência de banhistas, como no verão ou por altura da Páscoa, os resíduos sólidos obstruíam a principal via que liga aquela praia à cidade de Inhambane.” De certeza que este cenário será comum a muitas cidades por este país fora. Porém, a situação mudou “não somente na aparência agradável e acolhedora do vilarejo do Tofo, como também a mentalidade das pessoas que ali vivem e/ou trabalham, em relação ao lixo.” (destaque e sublinhados nossos). Segundo a mesma fonte, “desde que a ALMA criou um Centro de Tratamento Primário de Resíduos Sólidos no Tofo, o lixo virou fonte de rendimento e passou a ser depositado separadamente em locais apropriados e recolhido semanalmente por uma equipa composta por quinze elementos.” Os resíduos inorgânicos depositados, depois de lavados, uns são reutilizados localmente e outros, vendidos às empresas que se dedicam à reciclagem sendo que o dinheiro obtido no negócio é canalizado aos catadores como factor de motivação garantindo a sua continuidade na limpeza da Praia do Tofo.

Portanto, para além da evidente necessidade de os municípios se aquilatarem para o cumprimento da missão de manter as cidades limpas emerge uma necessidade urgente de todos nós mudarmos a nossa visão em relação aos RSU. A tarefa de vivermos num ambiente são começa connosco sendo por isso necessário  nos apropriarmos dos esquemas montados pelas cidades em que vivemos para a recolha de RSU. Tomando o exemplo do Tofo, o RSU é recolhido semanalmente. Conhecedor desta realidade cabe a cada morador do local gerir os resíduos domesticamente produzidos de modo a que sejam depositados nos locais indicados na data e hora (eventualmente) prevista para a sua recolha. De outro modo, corremos o risco de ter, por longos períodos, RSU acumulados como resultado do não acatamento deste género de instruções que, muitas vezes, resultam da incapacidade conhecida dos municípios em recolherem diariamente os RSU em toda extensão urbana, razão porque muitos adoptam um calendário de recolha semanal por bairros.

Para além de tirar na data e hora indicada para cada local, urge separar o RSU até tendo em vista a sua transformação em produtos novos para consumo. Estamos a falar da reciclagem que, para além da vantagem decorrente da preservação ambiental é também geradora de riqueza, contribuindo para a redução significativa da poluição tanto dos solos, do ar como da água para além, claro, da vantagem que resulta do emprego de muita gente. Se no exemplo referido da praia do Tofo têm emprego quinze pessoas, imagine-se o efeito multiplicador em grandes centros urbanos como Maputo, Matola, Beira, Nampula ou mesmo Quelimane.

O encerramento de lixeiras e a adopção de formas mais modernas de tratamento e gestão de RSU é um desafio grande para as nossas cidades que deverão, dentro dos seus planos estratégicos, espreitar igualmente as oportunidades de negócios que podem ser gerados a partir dos aterros sanitários donde destaco a produção de energia a partir do biogas emergente dos RSU. Sim, os aterros não devem ser vistos apenas na perspectiva do depósito controlado do lixo; devem ser vistos igualmente na perspectiva de uma potencial área de investimento e um instrumento sempre a mão no bilionário negócio dos créditos de carbono. Diz-se que o metano, principal componente do gás de aterro, é 21 vezes mais danoso ao efeito estufa do que o CO2 de onde resulta um grande potencial na famosa contabilização dos créditos de carbono.

 O sucesso destas iniciativas requererá uma colaboração franca não só dos munícipes mas de outros entes que, também, intervém ou podem intervir na gestão de RSU. O controlo dos resíduos à entrada que leva ao conhecimento pormenorizado do tipo de resíduos depositados só é possível se existir de todos nós uma colaboração efectiva que facilite o cumprimento deste desiderato de evolução. Tanto os contentores como as próprias lixeiras registam um movimento desusado de pessoas que trabalham na recolha de resíduos que depois são vendidos a diversas entidades. Há, afinal, valor no lixo. Então, mesmo antes do advento do aterro no sentido a que nos referimos acima, podemos desde já começar a ensaiar formas de gestão de RSU que começam de cada produtor de resíduos até a sua deposição nos locais indicados para o efeito. Fazendo isso desde já, chegaremos ao tão almejado aterro já “maduros” no tratamento adequado que devemos ter dos resíduos que produzimos, meio caminho andado para que o aterro a chegar cumpra eficazmente o seu papel. Através das estruturas que existem nas nossas cidades, urge iniciar um processo de informação e formação das pessoas no sentido de todos se envolverem na gestão dos RSU adoptando práticas adequadas para o efeito como a já referida separação do lixo, a deposição em locais adequados em datas próprias etc. Só temos a ganhar com esta postura.

Poderíamos igualmente recuperar bons exemplos do passado em que, por exemplo, uma conhecida empresa de papel tinha em Maputo diversos pontos de recolha de papel para a reciclagem. Poderíamos replicar isso para o plástico e outros materiais recicláveis. Pode ser que, no fim do dia, só restasse uma parte pequena de RSU a serem recolhidos pelos municípios para as lixeiras e, mais tarde, para os aterros.

Somos todos parte do problema da gestão de RSU e podemos todos fazer parte da solução. Bastarão estratégias claras, formação e informação e, acima de tudo, mente aberta para mudar mentalidades e aceitar novas formas de estar em ambientes urbanos produtores de grandes quantidades de RSU que requerem tratamento e gestão.

Vamos a isso. Somos capazes.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011


Azias

Júlio S. Mutisse



Nos meus últimos textos de opinião tenho me referido com insistência à necessidade de deixarmos de lado a forma acrítica como abordamos determinadas matérias isto, claro, se nas nossas opiniões tivermos em vista produzir ideias tendentes ao melhor para este país.

O Professor Lourenço do Rosário referiu numa entrevista recente ao jornal o País edição fim de semana há alguns meses que  “somos muito horizontais na abordagem das coisas, não somos capazes de ver as várias nuances de um mesmo problema.” Acrescentou ainda que as pessoas “ouvem um determinado discurso; lêem uma determinada matéria; ou vêem um determinado acontecimento e apreendem como um todo. Não são capazes de partir isto e tentar analisar o quê compõe este todo e interpretar cada uma das partes, que é uma atitude normal para uma postura daqueles que querem ser analistas.” Não podia estar mais certo o Professor do Rosário nessa entrevista.  Colocamo-nos sempre em extremos e, não poucas vezes, as nossas teses são baseadas num senso comum de tal forma superficial que chega a bradar aos céus.

Sobre a nossa postura no debate público de ideias o Professor Elísio Macamo já havia sugerido a necessidade de “identificar uma plataforma comum de discussão que não elimine as naturais diferenças de opinião que existem, nem as legítimas sensibilidades políticas que enformam essas diferenças.” Entendo que quando identificarmos essa plataforma, as ideias do outro não terão validade apenas porque enunciadas por quem leu os mesmos livros, viu os mesmos filmes e/ou porque senta na mesma sala em reuniões políticas; serão válidas por aquilo que encerram. Quando identificarmos essa plataforma, valorizaremos, de facto, a diversidade sem procurarmos entricheirarmo-nos em pros e contras qualquer coisa. Quando identificarmos esse espaço saberemos reconhecer éxitos e criticar o que vai mal independentemente de pertencermos ao mesmo clube ou partido político.

Reza a história que a Constituição da República de 1990 foi dos marcos mais importantes da viragem até ao estágio em que no encontramos de profunda abertura politico democrática, económica e social. Foi a partir daí que ficaram consagradas, por exemplo, as liberdades de opinião, expressão de imprensa etc que, inclusive, propiciaram o conglomerado de jornais, revistas e outros meios que hoje veiculam informação. São coisas aplaudidas, que todos gostamos de gozar e usufruir. Não tenho dúvidas que o país, quando comparado com muitos, e mesmo com o período anterior ao advento da constituição de 1990, é um exemplo no que tange às liberdades de imprensa, expressão e/ou opinião. Mesmo aqueles que negam estes princípios, de alguma forma, se beneficiam deles. Usam-nos. Interpelam, difundem e exprimem as suas ideias sem “algemas nas palavras” usando emprestadas as palavras de alguém.

Recentemente, por exemplo, o filósofo moçambicano Severino Ngoenya, homem de respeitável e reconhecida ossatura intelectual, foi citado pelo Jornal o País como tendo dito que o país está “muito longe de atingir a verdadeira independência nacional, por ainda não se exercerem efectivamente as liberdades de expressão, pensamento, informação, entre outras, que estão previstas na legislação nacional.” Infelizmente alegou e não demonstrou por factos (pelo menos o artigo publicado é omisso quanto ao assunto) o que, para mim, soou como o filosofar sobre o material sem dar exemplos. A emissão da sua opinião no sentido acima referido, reportada por um jornal pertença de em empresa privada, contraria essa mesma opinião; está em contradição consigo mesmo, algo logicamente inaceitável. Ironicamente é esta abertura política propiciada pela nossa independência e pelas leis que adoptamos que permitiu o surgimento de jornais privados e de todos os espaços onde conscientemente muitos de nós emitimos opinião sobre os mais diversos assuntos nacionais e internacionais.

Mas não são só estas negações contraditórias deste género que me preocupam. Me preocupa uma certa azia que se abate sobre muitos que assumem que ter sentido crítico é dizer tudo contra o Governo do dia ou que, ser politicamente correcto, é dizer tudo pro esse mesmo Governo. Gente que faz de uma ou outra situação uma fonte de credibilidade. Estranha forma de estar num país que precisa de todas as mentes a pensar o país que queremos ser, dentro da tal plataforma comum de discussão que não elimine as naturais diferenças de opinião que existem, nem as legítimas sensibilidades políticas que enformam essas diferenças.

Cabe aqui uma referência à sobreba de alguns opinion makers nacionais, alguns dos quais travestidos de jornalistas e outros de “académicos” que  dizem  quase toda a barbaridade para um povo que não pode reagir senão bater palmas não pelo coerência do discurso, mas pelo grau de redundância e aparência da lógica. É nesta saga de busca de aplausos que muitos dos comentadores e/ou “académicos” que temos encontram um jornalista(?) apático e meramente perguntador acrítico, incapaz de aprofundar qualquer assunto porque igual ao entrevistado ou completamente a leste de qualquer preparo, de qualquer ciência que lhe permita, mais do que perguntar, entrevistar e produzir saber, conhecimento, ciência e informação.

Disse Egídio Vaz num comentário algures: “ há uma coisa que o PR diz sempre: auto estima. Só que só autoestima-se quem sabe. Portanto, sabe quem tem conhecimento. O conhecimento é uma relação entre o objecto e a ideia sobre ele. Muitos lêem ou consomem informação externa ou mesmo interna. Mas poucos são os que dela produzem conhecimento. Para comentar ou acreditar em algo é preciso algum conhecimento sobre o objecto. E esse não é acessível a todos. Perdoa-os."

Infelizmente é difícil assobiar para o ar e fingir que nada está a acontecer.

É que, muitas vezes, na tal horizontalidade ou no extremismo referidos pelo professor do Rosário, muitos estacionam no simplismo analítico e se recusam o aprofundamento de qualquer ideia que defendam em público. Alguns deixam se ultrapassar pela realidade que insiste em demonstrar que, às teorias, é necessária uma dose adequada de adaptação à realidade. Assumir esta realidade poderia ajudar alguns a relativizarem as críticas e as verdades absolutas que debitam nos comentários que fazem. Ajudaria, por exemplo, o comentador Regendra a reconhecer que, por mais bom gestor que se possa ser, e das melhores decisões que se possam tomar, há factores que fogem, de alguma forma, do nosso controlo com influência directa nas nossas actividades. Poderia ver isso a partir de uma empresa e projectar de certa forma para um nível mais global como a gestão de um país.

Esta forma de estar no debate público de ideias é eminentemente perigosa à sociedade, à esfera pública e ao país real que é "onde se forma a opinião pública" como disse alguém pois, muitos, incapazes de olhar o país, a região, o continente e o mundo com profundidade, recorrem a argumentos  fáceis e sugestivos com aparência de análise profunda. A sua incapacidade e limitação impede-os de olhar para além do superficial ou do que um qualquer “guro” “credível” alguma vez disse; o palavreado difícil e a referência constante a relatórios e ao mesmo autor de que, em muitos casos, não se leu mais nada para além da capa leva os incautos a acreditarem na douta sabedoria do nosso opinion maker improvisado a quem falta alguma humildade em reconhecer a sua ignorância sobre determinadas matérias. Falta também o sentido de responsabilidade de que as suas palavras, com aparência de argumento válido, podem se tornar mais letais que um médico despreparado, porque o grosso do povo não pode e não tem como fazer interpretações correctivas do discurso destes. O povo, não poucas vezes, acredita na autoridade e na verdade evangelizada pelos insuspeitos “doutores” e não se predispõe a  ver que os argumentos que aqueles usam, só são realizáveis apenas no plano das ideias muitas vezes descontextualizadas de toda a realidade circundante.

O país tem muitos desafios a que todos devemos estar focados. Não podemos ficar atados a teorias desencontradas da realidade nem a diabolização do outro com argumentos descontextualizados e perdidos do país real de onde se deve formar a opinião.

Para frente é o caminho.


AzIa

Nos meus últimos textos de opinião tenho me referido com insistência à necessidade de deixarmos de lado a forma acrítica como abordamos determinadas matérias isto, claro, se nas nossas opiniões tivermos em vista produzir ideias tendentes ao melhor para este país.

O Professor Lourenço do Rosário referiu numa entrevista recente ao jornal o País edição fim de semana há alguns meses que “somos muito horizontais na abordagem das coisas, não somos capazes de ver as várias nuances de um mesmo problema.” Acrescentou ainda que as pessoas “ouvem um determinado discurso; lêem uma determinada matéria; ou vêem um determinado acontecimento e apreendem como um todo. Não são capazes de partir isto e tentar analisar o quê compõe este todo e interpretar cada uma das partes, que é uma atitude normal para uma postura daqueles que querem ser analistas.” Não podia estar mais certo o Professor do Rosário nessa entrevista. Colocamo-nos sempre em extremos e, não poucas vezes, as nossas teses são baseadas num senso comum de tal forma superficial que chega a bradar aos céus.

Sobre a nossa postura no debate público de ideias o Professor Elísio Macamo já havia sugerido a necessidade de “identificar uma plataforma comum de discussão que não elimine as naturais diferenças de opinião que existem, nem as legítimas sensibilidades políticas que enformam essas diferenças.” Entendo que quando identificarmos essa plataforma, as ideias do outro não terão validade apenas porque enunciadas por quem leu os mesmos livros, viu os mesmos filmes e/ou porque senta na mesma sala em reuniões políticas; serão válidas por aquilo que encerram. Quando identificarmos essa plataforma, valorizaremos, de facto, a diversidade sem procurarmos entricheirarmo-nos em pros e contras qualquer coisa. Quando identificarmos esse espaço saberemos reconhecer éxitos e criticar o que vai mal independentemente de pertencermos ao mesmo clube ou partido político.

Reza a história que a Constituição da República de 1990 foi dos marcos mais importantes da viragem até ao estágio em que no encontramos de profunda abertura politico democrática, económica e social. Foi a partir daí que ficaram consagradas, por exemplo, as liberdades de opinião, expressão de imprensa etc que, inclusive, propiciaram o conglomerado de jornais, revistas e outros meios que hoje veiculam informação. São coisas aplaudidas, que todos gostamos de gozar e usufruir. Não tenho dúvidas que o país, quando comparado com muitos, e mesmo com o período anterior ao advento da constituição de 1990, é um exemplo no que tange às liberdades de imprensa, expressão e/ou opinião. Mesmo aqueles que negam estes princípios, de alguma forma, se beneficiam deles. Usam-nos. Interpelam, difundem e exprimem as suas ideias sem “algemas nas palavras” usando emprestadas as palavras de alguém.

Recentemente, por exemplo, o filósofo moçambicano Severino Ngoenya, homem de respeitável e reconhecida ossatura intelectual, foi citado pelo Jornal o País como tendo dito que o país está “muito longe de atingir a verdadeira independência nacional, por ainda não se exercerem efectivamente as liberdades de expressão, pensamento, informação, entre outras, que estão previstas na legislação nacional.” Infelizmente alegou e não demonstrou por factos (pelo menos o artigo publicado é omisso quanto ao assunto) o que, para mim, soou como o filosofar sobre o material sem dar exemplos. A emissão da sua opinião no sentido acima referido, reportada por um jornal pertença de em empresa privada, contraria essa mesma opinião; está em contradição consigo mesmo, algo logicamente inaceitável. Ironicamente é esta abertura política propiciada pela nossa independência e pelas leis que adoptamos que permitiu o surgimento de jornais privados e de todos os espaços onde conscientemente muitos de nós emitimos opinião sobre os mais diversos assuntos nacionais e internacionais.

Mas não são só estas negações contraditórias deste género que me preocupam. Me preocupa uma certa azia que se abate sobre muitos que assumem que ter sentido crítico é dizer tudo contra o Governo do dia ou que, ser politicamente correcto, é dizer tudo pro esse mesmo Governo. Gente que faz de uma ou outra situação uma fonte de credibilidade. Estranha forma de estar num país que precisa de todas as mentes a pensar o país que queremos ser, dentro da tal plataforma comum de discussão que não elimine as naturais diferenças de opinião que existem, nem as legítimas sensibilidades políticas que enformam essas diferenças.

Cabe aqui uma referência à sobreba de alguns opinion makers nacionais, alguns dos quais travestidos de jornalistas e outros de “académicos” que dizem quase toda a barbaridade para um povo que não pode reagir senão bater palmas não pelo coerência do discurso, mas pelo grau de redundância e aparência da lógica. É nesta saga de busca de aplausos que muitos dos comentadores e/ou “académicos” que temos encontram um jornalista(?) apático e meramente perguntador acrítico, incapaz de aprofundar qualquer assunto porque igual ao entrevistado ou completamente a leste de qualquer preparo, de qualquer ciência que lhe permita, mais do que perguntar, entrevistar e produzir saber, conhecimento, ciência e informação.

Disse Egídio Vaz num comentário algures: “ há uma coisa que o PR diz sempre: auto estima. Só que só autoestima-se quem sabe. Portanto, sabe quem tem conhecimento. O conhecimento é uma relação entre o objecto e a ideia sobre ele. Muitos lêem ou consomem informação externa ou mesmo interna. Mas poucos são os que dela produzem conhecimento. Para comentar ou acreditar em algo é preciso algum conhecimento sobre o objecto. E esse não é acessível a todos. Perdoa-os."

Infelizmente é difícil assobiar para o ar e fingir que nada está a acontecer.

É que, muitas vezes, na tal horizontalidade ou no extremismo referidos pelo professor do Rosário, muitos estacionam no simplismo analítico e se recusam o aprofundamento de qualquer ideia que defendam em público. Alguns deixam se ultrapassar pela realidade que insiste em demonstrar que, às teorias, é necessária uma dose adequada de adaptação à realidade. Assumir esta realidade poderia ajudar alguns a relativizarem as críticas e as verdades absolutas que debitam nos comentários que fazem. Ajudaria, por exemplo, o comentador Regendra a reconhecer que, por mais bom gestor que se possa ser, e das melhores decisões que se possam tomar, há factores que fogem, de alguma forma, do nosso controlo com influência directa nas nossas actividades. Poderia ver isso a partir de uma empresa e projectar de certa forma para um nível mais global como a gestão de um país.

Esta forma de estar no debate público de ideias é eminentemente perigosa à sociedade, à esfera pública e ao país real que é "onde se forma a opinião pública" como disse alguém pois, muitos, incapazes de olhar o país, a região, o continente e o mundo com profundidade, recorrem a argumentos fáceis e sugestivos com aparência de análise profunda. A sua incapacidade e limitação impede-os de olhar para além do superficial ou do que um qualquer “guro” “credível” alguma vez disse; o palavreado difícil e a referência constante a relatórios e ao mesmo autor de que, em muitos casos, não se leu mais nada para além da capa leva os incautos a acreditarem na douta sabedoria do nosso opinion maker improvisado a quem falta alguma humildade em reconhecer a sua ignorância sobre determinadas matérias. Falta também o sentido de responsabilidade de que as suas palavras, com aparência de argumento válido, podem se tornar mais letais que um médico despreparado, porque o grosso do povo não pode e não tem como fazer interpretações correctivas do discurso destes. O povo, não poucas vezes, acredita na autoridade e na verdade evangelizada pelos insuspeitos “doutores” e não se predispõe a ver que os argumentos que aqueles usam, só são realizáveis apenas no plano das ideias muitas vezes descontextualizadas de toda a realidade circundante.

O país tem muitos desafios a que todos devemos estar focados. Não podemos ficar atados a teorias desencontradas da realidade nem a diabolização do outro com argumentos descontextualizados e perdidos do país real de onde se deve formar a opinião.

Para frente é o caminho.

domingo, 11 de setembro de 2011

Coincidências

A Líbia tem estado no centro das atenções nos últimos dias. Não há noticiário que passe sem uma referência à Líbia, incluindo a brincadeira de mau gosto dos atletas líbios que quiseram fazer da cerimónia de abertura dos X Jogos Africanos um momento de manifestação política.
Mas ando cansado do assunto Líbia, como já me tinha cansado a caça a Bin Laden e, no geral, das peripécias da guerra “contra o terrorismo.” Ando cansado da hipocrisia que gira a volta disto tudo, das historietas que nos contam e nas quais, muitas vezes, acriticamente caímos e tratamos de não só de disseminar, mas de aderir e darmos o corpo ao manifesto pela odisseia libertadora trazida pela NATO.
Eram anjos Saddam, Kadafi e/ou Bin Laden? Não, não eram como nunca foram os “democratas” Bush, Clinton ou, agora, Obama, Cameron, Sarcozy e seus sequazes. Não nos esqueçamos que no Iraque se agitou a bandeira da liberdade, do fim de uma ditadura que assentou e se fixou com o apoio dos mesmos que, quando Saddam já não lhes servia, o derrubaram escangalhando o país morrendo provavelmente mais iraquianos do que todos os que Saddam possa, em algum momento, ter patrocinado a morte. E continuam a morrer.
Mas o que tem Saddam Hussein, Bin Laden e mesmo Khadaffi de comum? Para além do epíteto de ditadores e das ligações ao terrorismo que se vende e se compra deles ou mesmo da caçada que lhes foi imposta, há semelhanças outras que se acham destes senhores.
Comecemos por Saddam Hussein. A Revolução Islâmica de 1979 trouxe muitos desafios/problemas a Saddam e aos EUA. A estes últimos estava em causa a sua posição geopolítica na região. A Saddam preocupava a força e o poder que os Xiitas representavam tanto que não hesitou na repressão com o apoio americano.
Como se pode ler num texto intitulado “A Ingratidão Norte-Americana a Saddam Hussein” (pode ser lido em http://www.charlespennaforte.pro.br/saddamhussein.html), apesar dos assassinatos contra os xiitas iraquianos, o governo Reagan nos anos 80, não viu nenhum "motivo" para condenar o regime de Saddam Hussein por suas barbáries contra os seres humanos. Afinal, ele era uma "boa pessoa" e um "grande líder", enfim: um DEMOCRATA. Reagan e Saddam tornaram-se grandes parceiros. Parceria regada a muito dinheiro e armas, principalmente químicas que foram utilizadas contra curdos e os iranianos. Aliás, um jornalista do Financial Times chamado Alan Friedman já havia divulgado a história de que George Bush pai e o secretário de defesa de então haviam concedido milhões de dólares para capacitar militarmente o Iraque incluindo com as armas que fundamentaram a invasão àquele país.
Foi assim de Reagan a Bush filho, num ciclo que ainda tem a guerra do golfo de 1990 que terminou com Saddam se mantendo no poder, de certeza, servindo os interesses americanos. Saddam acabou morto pendurado numa corda patrocinada pelos seus ex aliados. Bush filho acabava com o “terrorista” potenciado pelo pai e seus antecessores.
Bin Laden morreu. Os americanos festejaram. Uff devem ter suspirado. Era o fim de um problema criado por eles mesmos. Como escreve Antonio Martins em outraspalavras.net de 2 de Junho de 2011, a CIA que coordenou a liquidação de Laden está estreitamente associada ao seu surgimento. É que, segundo a mesma fonte, “tanto o homem de barbas longas e olhar calmo quanto a própria Al Qaeda foram conscientemente criados pelos Estados Unidos, no contexto da disputa contra a União Soviética, na guerra fria.” Bin Laden expirou o prazo, tornou-se num monstro que devia ser caçado e morto como veio a sê-lo há bem pouco tempo, com os detalhes conhecidos.
As agências de informação internacional agora noticiam que serviços de inteligência dos Estados Unidos e da Inglaterra cooperaram com o regime de Muammar Kadafi na Líbia, cooperação atestada por documentos encontrados pela organização de direitos humanos Human Rights Watch (HRW) em edifícios dos serviços secretos líbios em Tripoli. Portanto, este “ditador” sanguinário que não hesita em matar o seu próprio povo e agarrado ao poder já foi tão útil aos que hoje capitaneiam a caça ao homem para o liquidar a tal ponto de Abdulhakim Belhaj, comandante das forças militares da rebelião líbia, ter exigido um pedido de desculpas formal a Washington e Londres por ter sido transferido para a Líbia “numa operação ilegal” em 2004, em que afirma ter acabado por ter sido torturado numa prisão de Tripoli segundo afirmam diversas agências de notícias.
Não sou optimista. Kadafi acabará como os referidos acima ou como outros líderes mundiais que caíram às mãos de grupelhos patrocinados pelos mesmos em África, América Latina e noutros lugares que, quando deixaram de servir também viraram diabos.
É isso que tem em comum estes senhores. Em algum momento foram meninos bonitos úteis aos que os caçam patrocinando liberdade em contraposição à ditadura que se atribui a alguns ou a bem de um mundo mais seguro pela eliminação de terrorista que formaram e potenciaram. E o pior é a tendência de nos fazerem crer num bom samaritanismo sem limites.
Pior ainda são os vivas que ouvimos internamente de gente que devia ter como missão formar e informar com responsabilidade até com recurso a exemplos do Iraque arrasado em busca de armas nunca encontradas e que está numa anarquia que só não é a pior porque existe o Afeganistão e a Somália outras paragens dos que patrocinam a queda de Kadafi. Será a Líbia diferente do Iraque, Afeganistão, Somália depois da queda do ditador? O que é que define um ditador? Serão as várias tribos capazes de se unir em torno de um objectivo comum de tornar a líbia tão próspera como era nos últimos 40 anos? Esperemos para ver, ao mesmo tempo que deveríamos rever os nossos conceitos de ditador etc.
Disto tudo deveríamos tirar ilações. Os americanos são HOJE nossos parceiros de desenvolvimento. Temos usufruído de largas somas dos contribuintes americanos para fazer face aos desafios do nosso desenvolvimento. Veja-se o apoio no âmbito do Milennium Challange Account. Para além disso, anunciam-se largos investimentos na área petrolífera através de empresas americanas no sector petrolífero. Portanto, apesar da actuação como “comissário político” por parte de um diplomata americano recentemente retirado de cena, não há nada que prenuncie que, de momento, não sejamos brothers dos americanos. O que não sei é até quando. O que não sei é que pretexto poderá ser usado para, de merecedores de ajuda para o desenvolvimento, de merecedores de elogios até da parte do presidente americano, passarmos à situação dos que descrevi atrás.
Já diz a sabedoria popular: confiar é bom, desconfiar é melhor. Para além do país como um todo, os partidos políticos e alguns políticos em particular cuja acção parece escudada e salvaguardada pelos americanos deveriam pôr-se a pau e desconfiar. Fala-se que Savimbi, um ex-aliado americano, foi caçado com auxílio americano. Se o fizeram em todos esses lados, porque não o fariam com um qualquer líder político nacional com quem se aliaram ontem ou hoje?

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Desromantizar Samora e o Seu Tempo

Quando saí de casa a meio da tarde de sábado passado tinha a pretensão de resolver alguns assuntos e encontrar alguns companheiros para me actualizar uma vez que não me juntei a eles nas peripécias da sexta-feira por motivos que não cabem aqui e, em algum momento, acabei envolvido num debate interessante motivado pelo meu último texto publicado aqui sobre a necessidade de renovar constantemente os heróis para aproveitarmos os seus ensinamentos para os desafios actuais.
Confesso que fiquei inicialmente espantado pela abordagem mas satisfeito pelo modo como o debate correu provocado pela minha visão de que pensar Samora apenas na perspectiva do seu tempo de governação e das circunstancias históricas que a potenciaram e propiciaram é demasiado redutor para um homem cuja visão pode ser contextualizada aos tempos que correm.
Apimentou mais ainda o debate o meu apelo ao desapego a um saudosismo exagerado procurando compreender a dinâmica dos tempos, os novos contextos em que vivemos e, acima de tudo, procurando aplicar muitas das lições deixadas por Samora e muitos outros aos novos tempos.
Não pretendo negar as boas coisas que aconteceram no período de Samora. Longe de mim.
Nego sim a ideia recorrente de que “se Samora fosse vivo” isto e aquilo não ocorreria, como se aquele grande homem fosse uma ilha completamente alheia das dinâmicas internas e externas. Recuso a ideia também recorrente de olharmos aquele tempo como melhor que o actual sem a necessária contextualização do que propiciou esses tempos melhores a que apelamos.
Há um contexto em que a governação de Samora Machel ocorreu, como há um novo contexto em que a governação actual ocorre que devem ser compreendidos por todos, de modo a olharmos a construção do país como um processo, com as suas etapas, aproveitando o que de melhor existe em cada etapa.
Tudo isto me fez recuar aos debates que ocorreram no Ideias Subversivas, alguns dos quais da lavra de Tadeu Phiri em resposta a Machado da Graça.
Algumas das bandeiras que mais se agitam para apelar a ideia de “se Samora fosse vivo” são a criminalidade e a corrupção. Quem as agita esquece muitas coisas a volta desse tempo. Era de facto bom viver naquele tempo com criminalidade quase zero. Mas o que propiciava isso? Ninguém quer recordar que no tempo de Samora a sociedade era fechada, com a actuação omnipresente dos Chefes de Quarteirão, dos milicianos e de todo o género de autoridade. A atmosfera de vigilância e denúncias mútuas, submergia qualquer iniciativa, quer positiva, quer negativa.
A abertura económica e o consequente aumento da competição entre os indivíduos têm, necessariamente, que trazer novos desafios nestas matérias. Ouso dizer que, mesmo Samora, se fosse vivo nos dias de hoje, teria que enfrentar maior criminalidade e corrupção, fenómenos que, a meu ver, independem da sua personalidade e perfil tendo, isso sim, a ver com o relaxamento da pressão colectivista da sociedade e mais incentivos à iniciativa e promoção do individuo.
Tem a ver com a eliminação dos controles que um dia tivemos com os chefes das 10 casas, chefes de quarteirão, milicianos e outros agentes omnipresentes no modelo de ontem. Já diz meu amigo PC Mapengo num texto lindo intitulado "Manifesto Político" “Saudades sim mas ninguém quer voltar porque não podemos esquecer o tempo que passou... eram bons tempos aqueles que ninguém quer mais voltar.”
A abertura que se experimentou desde uma determinada altura teve muitas vantagens económicas e sociais. Desde logo, a circulação mais livre de pessoas, maior oferta de bens e serviços no mercado, maior crescimento económico, maior abertura no debate de ideias, etc., com as consequências que advém daí, sendo por isso completamente despropositada a comparação dos níveis de criminalidade e de corrupção entre tempos do socialismo e os tempos actuais.
Este é ano de celebrarmos Samora. De compreendermos os seus feitos e usarmos muito do seu legado para o desafio que temos em mãos nos dias que correm que é trabalhar para vencer a pobreza e fecharmos este ciclo. Se embarcarmos nos juízos de valor sobre um tempo e outro perderemos Samora, os que lhe antecederam e os que o sucederam com muitos prejuízos para uma nação que precisa de referências daquele calibre.
É preciso cantar odes a Samora Machel no seu ano interiorizando os seus ensinamentos procurando adequa-los aos dias que correm reiventando, desse modo, Samora Machel no contexto de hoje vendo como é que em pleno século XXI, na era da globalização, de mercados comuns, de HIV/SIDA , crise internacional, pobreza, se pode aproveitar a imagem, figura e ditos de Machel como catalisador nas várias batalhas que o Estado tem que travar rumo ao tão almejado bem estar.
Samora Machel pode ser reiventado, estudado de diversas formas. Adianto aqui que Egídio Vaz já o vê como quem “de facto arquitectou a Unidade Nacional. Porque foi ele, o Primeiro Presidente da República, pessoa que proclamou a independência nacional e pregou de lés a lés a ideia da Unidade na prática”. É um ponto de vista e, de certeza, existirão muitos outros que podemos trazer a debate neste ano Samora Machel.
Eu cá por mim vou praticando a ideia de fazer da escola a base para o povo tomar o poder aumentando meus conhecimentos e incentivando a descendência a estudar mais e mais. Só dessa forma podemos fechar determinados ciclos.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Renovando Heróis – Renovando Desafios

Celebrávamos o ano Eduardo Mondlane quando Policarpo Mapengo escreveu uma das suas Cartas a Moda Antiga ao Egídio Vaz em que, de entre outras coisas, elaborava sobre o papel que as imagens heróicas desempenham no processo da construção desta Pátria Amada, da necessidade que tivemos destas figuras no momento em que atravessávamos a guerra civil bem como no apelo a unidade nacional. Não hajam dúvidas, eles têm desempenhado cabalmente o seu papel.


Mapengo terminava essa carta apelando a ideia de que “os heróis devem ser constantemente renovados para se adaptarem aos contextos.” Referia Mapengo nessa altura que a “celebração de 2009 como ano Eduardo Mondlane pode ter essa missão mas é importante ver como é que em pleno século XXI, na era da globalização, de mercados comuns, de HIV/SIDA e pobrezas absolutas, se pode aproveitar a imagem de Eduardo Mondlane como catalisador nas várias batalhas que o Estado tem que travar rumo ao tão almejado bem estar.”


Acho este exercício importante. Ao embarcarmos nesta visão, partiremos ao encontro dos nossos heróis indagando-os criticamente, tendo como base o contributo conhecido, para aferirmos como no contexto de hoje e do amanhã que almejamos, tal contributo nos pode inspirar e ser útil.


Como se referiu nessa altura, este exercício de indagação e renovação permanente não pode ir para além do que foi a obra de cada um dos nossos heróis. Nesta perspectiva, o nosso desafio é olhar e pegar nos atributos de cada um deles e verificar que contributo inspiracional podem dar para os desafios do presente e do amanhã.


Celebramos este ano como ano Samora Machel. O desafio neste caso é o mesmo. Não podemos repetir a história e, para progredirmos, precisamos conhecer a nossa história, os nossos heróis e tomamo-los como marcos inspiracionais para os desafios do futuro, para o desafio de fazermos uma nova história que, no nosso caso, passa por sairmos deste ciclo de dependência económica e prosperarmos como povo e como nação.


Como alguém referiu, acho que é possível renovar constantemente heróis como Eduardo Mondlane, Samora Machel, Filipe Samuel Magaia, José Craveirinha e outros. É fácil até criticá-los sem matar a sua obra de vida, é fácil olhar para os mesmos de todos os ângulos e encontrar em todos o Moçambique porque lutaram. Este exercício compreende estudo e compreensão dos nossos heróis.


Mais do que a audição pura e simples dos discursos de Samora Machel neste ano a ele consagrado, é importante que contextualizados na nova realidade que vivemos, esses discursos sejam tomados como catalisadores para os desafios que temos que enfrentar hodiernamente.

Mais do que estampar a imagem de Samora Machel em todo o lado como invariavelmente fazemos nas nossas viaturas, em camisetas e bonés, é necessário compreender a dimensão desse homem que deu muito de si por esta pátria.


Neste ano dedicado a Samora Machel, mais do que nos prostrarmos e/ou embarcarmos num saudosismo exagerado do período que corresponde a sua governação, é necessário compreender a dinâmica dos tempos, os novos contextos em que vivemos e, acima de tudo, aplicar muitas das lições por ele deixadas aos novos tempos.


Pensar Samora na perspectiva do seu tempo de governação e das circunstancias históricas que a potenciaram e propiciaram é demasiado redutor para um homem cuja visão pode ser contextualizada aos tempos que correm.

A história mostra que, tanto a Frelimo como o próprio Samora não estavam imunes às dinâmicas do tempo e vinham se adaptando ao contexto global. A visão ortodoxa de 1977, que preconizava o absoluto controlo da economia foi sofrendo ajustamentos a partir dos princípios da década de 80. A privatização das pequenas empresas, as negociações com o Fundo Monetário Internacional e a abertura ao Ocidente fazem parte destes ajustamentos à realidade concreta. Foi no tempo de Samora que a FRELIMO se mostrou aberta às instituições de Bretton Woods e ao Ocidente.


Cantemos odes a Samora Machel no seu ano. Interiorizemos os seus ensinamentos procurando adequa-los aos dias que correm reiventando, desse modo, Samora Machel no contexto de hoje vendo como é que em pleno século XXI, na era da globalização, de mercados comuns, de HIV/SIDA , crise internacional, pobreza, se pode aproveitar a imagem, figura e ditos de Machel como catalisador nas várias batalhas que o Estado tem que travar rumo ao tão almejado bem estar.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

O Desabafo de Custódio Duma

Num texto que pode ser lido aqui (igualmente debatido no seu mural no Facebook) Custódio Duma debruça-se sobre as más práticas de funcionários públicos que, no exercício das suas actividades, vivem prejudicando o cidadão. Diz, e bem, o Custódio Duma que “um funcionário público é um servente. É verdade sim! Um funcionário público é servente do cidadão, ele é contratado pelo Estado para servir aos cidadãos. Os cidadãos, através dos impostos que pagam ao Estado, contribuem para o ordenado que mantêm os funcionários no activo.”
Infelizmente, e vale aqui reconhecer, há funcionários públicos que desvirtuam esta grande máxima. Duma descreve algumas práticas de polícias, enfermeiros, funcionários do atendimento ao público em guichets, etc. etc. Poderíamos acrescer à lista do Duma aqueles que desviam fundos públicos e que vão sendo, exemplarmente, condenados um pouco por todo o lado neste nosso Moçambique amado. O texto em referência termina com uma provocação segundo a qual “precisamos encontrar outro conceito para os fins do Estado, já que estes agentes não prosseguem o fim para que foram contratados, garantir a justiça, a segurança e o bem-estar dos cidadãos. Já que caminhamos para uma possível revisão Constitucional, porque não propormos acrescentarem nos fins do Estado o seguinte: “O Estado também visa extorquir o cidadão, prejudicar o cidadão e realizar os objectivos dos seus representantes?””
Forte.
Este debate lançado pelo Custódio Duma fez me recordar tantos outros que correram no passado. Foram debates acesos envolvendo figuras ilustres como Gabriel Muthisse, Elísio Macamo, Machado da Graça e muitos outros. Tal como nessa altura, no debate lançado por Custódio Duma, o funcionário está no centro do furacão, relegando-se para plano secundário o que propicia os fenómenos descritos no texto do Duma que, para mim, resumem-se ao deficit na procura e oferta de serviços públicos.
Para além da secundarização do que julgo ser o cerne da questão, notei uma excessiva generalização no texto. De certeza que existem funcionários públicos que encaixam ou podem encaixar na descrição que faz. Mas, por outro lado, existem tantos zelosos e bons que põem a máquina administrativa pública a funcionar.
Aliás, como bem disse o Duma no seu espaço no Facebook, o texto constitui um desabafo de um pacato cidadão (daí o título do texto) e a ideia foi colocada, segundo ele, na convicção de que uma boa parte dos funcionários são realmente prejudiciais ao Estado e ao Cidadão. Esses, segundo ainda Duma, “encontro todos os dias, nas estradas e nos guichés, mancham os bons que menciona!! Mancham os bons que fazem de tudo para manter a nossa função publica a funcionar.” Pergunta o Duma “porque esses bons não expurgam os maus?”
É pois esta ideia que me assusta. Parece que bastaria “expurgar os maus” para que tudo ficasse bem. Nesta visão, esquecemos quase sempre, de indagar o porque do aparecimentos destes “maus” que temos que “expurgar”.
Este debate, como já se sugeria nos debates passados a que fiz alusão acima, não pode ser visto unicamente do ponto de vista MORAL como se o moçambicano, subitamente, tivesse perdido o senso e todos os valores.
Muito do que o Custódio Duma refere no texto em alusão, de facto, acontece na função pública. Mas na minha perspectiva acontece devido ao enorme desequilíbrio entre a procura e a oferta de serviços públicos. Assim, se nos concentrarmos unicamente nas pessoas (do ponto de vista de os bons eliminarem os maus) corremos o risco de perder grande parte do foco da coisa.
Entendo que mesmo que pagássemos principescamente aos funcionários públicos se o foço entre a procura e a oferta de serviços públicos continuar tão elevado como acontece actualmente este fenómeno continuará real. Uma maior oferta em quantidade e qualidade de serviços públicos poderá contribuir para a eliminação destas práticas. Entendo que se a nível do investimento em serviços públicos (e isto envolve tudo: meios, pessoas, infra-estruturas etc) continuarmos na mesma, os problemas continuarão. Enquanto os serviços públicos forem escassos e todos nos apinharmos nos poucos que existem o funcionário público sem sentido de missão que se lhe espera verá nessa demanda uma grande fonte de renda e não hesitará na prática de actos corruptos.
Portanto, a escassez de serviços públicos em quantidade e qualidade desejada torna os sítios onde esses serviços existem em autênticos viveiros onde algumas pessoas fazem florescer a corrupção. É um facto que os funcionários públicos ganham mal, mas como disse, mesmo que TODOS fossem pagos a medida do que consideraríamos justo, com serviços públicos escassos e deficitários, os viveiros continuarão a florescer.
É evidente que esta minha visão pode não encerrar tudo o que está por detrás do fenómeno corrupção mas, as oportunidades que tornam este fenómeno possível são enormes num cenário de carência como o que vivemos.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Só a FRELIMO Pode Ser Metodologicamente Analisada…

Acho que vale a pena reflectir sobre isto.


Trago a este espaço, com a devida vénia, um desabafo do meu amigo Egídio Vaz Raposo numa das redes sociais que vem na esteira do que já referi aqui e até mesmo aqui.


Diz o Egídio: “A FRELIMO é o único "objecto de análise política" passível de se lhe administrar modelos de análise rigorosos. O resto, só com a Antropologia e a Psicologia Clínica. Eu já não aguento mais com eles! Atenção, não ponho em causa as ciências sociais mencionadas. O objecto de análise aqui são partidos políticos.”


Respondendo a comentários lá o Egídio constatou o seguinte e lançou o próximo objecto do seu bulldozer: "Caros amigos, quem nunca se lançou ao empreendimento igual, dificilmente pode imaginar "o trabalho" que esses partidos políticos dão ao estuda-los. Aos que estudam ou prestam atenção ao que se escreve sobre os partidos políticos em Moçambique, facilmente chegarão a conclusão similar à minha. Não que isso signifique a capitulação, muito menos o departamentalismo ou hierarquização, como Rildo Rafael mencionou. E sim apenas realçar o duro trabalho, difícil e quase dantesco que isso dá. Quem sabe o que é e como se constrói um modelo de analise; quem já andou ou anda nas lides investigativas; quem já fez um trabalho obedecendo critérios metodológicos sérios e coerentes, sabe muito bem da frustração à que se chega quando os modelos não se aplicam e dai precisar-se de os reformular. E é da reformulação em reformulação que se chega à uma fórmula da não-formula; ao não-método. O desafio das ciências sociais em Moçambique passaria necessariamente pelo debate intenso sobre que tipo de partidos políticos temos nós, para além da Frelimo Frelimo Moçambique? Que lógicas internas os guiam ou guia cada um deles? E porque estamos no período da dita transição paradigmática, em que temos mais perguntas fortes e respostas fracas, seria interessante agora lançarmos o nosso empreendimento para a busca de respostas fortes sobre como analisar o político em Moçambique, que campos e quais são e, à guisa do tema que fascina o Muendane Elisio, se existe ou não a competição política. Em caso afirmativo, como ela se realiza? Ou de contrário, quais os grilhões que a dificulta? O holismo não deve ser um passaporte à irresponsabilidade metodologica. O rigor científico não prejudica a interdisciplinaridade e esta não dispensa o rigor do método científico. Por fim, uma palavra de novo ao Noa Inacio: você compadre precisa ser calmo. Não irei repetir o que disse, mas um debate que se quer intelectual exige um pouco mais de esforço do mesmo intelecto e menos "punhos". Abraços. O meu proximo texto será: a frelimidade como obstáculo axiológico ao progresso dos partidos políticos de em Moçambique. Nele,direi o que entendo por "frelimidade", "socialização da frelimo" ou frelimização do social;" "colonialidade do saber", "obstáculo axiológico" e, mais do que isso, justificarei porquê o debate político, as análises políticas e o desenvolvimento do processo democrático e respectivo discurso é tão raquítico. Mais do que isso, tentarei esboçar pistas capazes (na minha opinião) de melhorar o debate, alavancar o debate democratico, etc...Até logo"

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Para Onde Caminha o Nosso Desporto?

Estamos certos do que queremos e de onde vamos com o nosso desporto no geral e com o futebol em particular?


Que condições estamos a criar para a emergência de mutolas e outros campeões no basquete e outras modalidades?


Continuará o acaso a imperar?


O que deveríamos esperar das lideranças desportivas neste país?


A Espanha campeã do mundo de futebol é constituída por uma geração que se foi moldando ao longo dos anos, alguns dos quais desde os escalões de formação.


As irmãs Williams no ténis atingiram o estrelato depois de anos de investimento sério, treinamento. L. Hamilton começou nos Karts e subiu a pulso para se transformar na estrela que é hoje; Messi e Ronaldo são resultado de uma forte aposta na formação; mais próximos da nossa realidade, a Etiópia, o Quénia, a África do Sul etc., produzem campeões em muitas modalidades. Como o fazem?


E nós, o que estamos a fazer?


Continuaremos contentes por, tempos em tempos, surgir uma equipa como o Desportivo que ganhe campeonatos africanos de basquete? O que estamos a fazer para manter e tornar possíveis vitórias frequentes nessa e noutras modalidades?


No futebol nacional os treinadores estão numa autêntica roda viva. Até Chiquinho Conde perdeu a cadeira. O seleccionador nacional ontem anunciado como Messias também está na berlinda. Mas antes de despedir um treinador devíamos nos perguntar o que fizemos para que esse tivesse sucesso, e que condições estamos a criar para que o próximo tenha sucesso a curto, médio e longo prazo. Infelizmente me parece que despedimos e contratamos… nada de concreto se planifica.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Vem Aí Um Novo Partido?

Estive atento à grande entrevista com Ismael Mussá que passou ontem Domingo dia 12 de Junho no Canal televisivo STV e publicada no Jornal o Pais de Hoje.
Nela, Mussá confirma a ideia muitas vezes repetida aqui de que o MDM foi criado a volta da pessoa de Daviz Simango que, por força das circunstâncias envolventes no período da sua fundação, acabou se adonando do partido e geri-lo como algo seu.
Parece que o “Moçambique para todos” inclusivo não se concretizou no MDM. Parece que pensar diferente é um pecado gravíssimo naquele partido. É que, ao que percebi, o “caldo entornou-se” por causa de pontos de vista diferentes não só sobre a gestão do Partido mas, também, sobre estratégias de afirmação do mesmo.
A roupa já está há muito a ser lavada em público (vide alguns comentarios aqui). Há dados que tanto Ismael Mussá como o Dionísio Quelhas esgrimem sobre promiscuidades várias que vão desde a pertença de certos membros seniores ao PCN ou mesmo sobre o modo (e quem) como é gerido o dinheiro do Partido e o atropelo às mais elementares regras legalmente estatuídas que urge pensar sobre elas.
Como disse Mussá, parece que já não o querem no MDM. Aconselhado por muitos ele não deixará de fazer política activa e já está em cogitação o “como” essa participação política poderá ser feita caso se confirme a intenção de empurrar para fora os que pensam diferente no seio do MDM.
O cenário vai repetir-se: Mussá não vai abandonar o lugar no Parlamento e lá estará até ao fim como fez na legislatura passada e pode ser que, em vésperas de 2014, surja um novo partido para concorrer às eleições.
Será o fim do MDM? Conseguirá Boavida dar um safanão à crise e, a partir dela, fortificar e concretizar o partido e concretizar o slogan de abertura que preconiza um “Moçambique para todos”?
Tenho as minhas dúvidas.
PS: Ismael Mussá continua a dizer que continua a acreditar nos ideais do MDM apenas diverge do modo como o mesmo é gerido pelo seu líder e das estratégias deste. Mas me parece que a coisa tem laivos um tantinho ou quanto pessoais… a investida contra Lutero Simango e algumas tiradas parece confirmar esta tese… ou estarei enganado?

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Mais Uma Vez: O Que Estamos a Fazer para Prescindirmos da Ajuda Externa a Médio Prazo?

Um dos destaques noticiosos dos últimos dias foi o anúncio/entrega do pacote financeiro de apoio ao Orçamento de Estado e a alguns projectos sectoriais ao governo moçambicano pelo G19.

A pompa deste anúncio e o destaque dado aos cortes na ajuda por alguns países me fizeram recuperar o questionamento do Elísio Macamo lançado num debate aqui há algum tempo sobre o que estamos a fazer para prescindirmos da ajuda externa a médio prazo.

Parece que nos incomoda pouco.

A primeira página de um semanário SAVANA de 3 de Junho Corrobora um pouco a ideia de que somos nós que fazemos alarido com o corte da ajuda muitas vezes acriticamente. Para aquele semanário o corte é um cartão amarelo ao Governo não é nem se quer visto no prisma da crise que assola muitos dos países que nos apoiam.

Se a ajuda internacional fosse mesmo boa, os europeus a aceitariam de bom grado. Vejam o que se passa Em Portugal que, como noticia o País de 06 de Junho último, o PS e José Sócrates foram castigados por terem permitido a chegada do FMI a Tuga. Só esse exemplo devia nos fazer perceber o quanto nos devemos empenhar para nos livrar deste fardo o quanto antes.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Partidos Políticos em Moçambique, do Nascimento a Insignificância Num Ápice…

Desde 1990 que o país assiste, ciclicamente, ao nascimento de novos partidos. Já perdi a conta dos partidos formalmente existentes neste país.


Infelizmente a esmagadora maioria desses partidos pouco ou nada acrescentam(ram) ao panorama político nacional, fruto de uma existência parasitária de só aparecerem nos períodos eleitorais, no jogo da lotaria de receberem os trust fund que abundam por essas alturas.


Outros, anunciados com pompa e circunstância como os messias que o país precisa quer como salvadores contra a da bipolarização FRELIMO/RENAMO quer como garantes da “democracia” vão se reduzindo, aos poucos, a insignificância sucumbindo ao abandono dos cérebros ou existência de um ideal unificador para além de um líder a volta do qual se constitui o partido, ou a guerrilhas internas travadas na praça pública.


Algo está a falhar.


Este é um país cheio de soluções como diz Elísio Macamo.


Temos um país cheio de partidos atarefados em resolver seus próprios problemas sem conseguirem constituir-se em alternativas válidas para a formulação/conhecimento dos problemas reais do país e propor soluções válidas para os mesmos.


Onde é que estamos a falhar?


Que caminhos deve seguir a nossa democracia multipartidária? Que caminhos seguir pelas dezenas de minúsculos partidos formalmente constituídos e factualmente inexistentes? Como garantir que os partidos a nascer ou existentes se constituam como intervenientes sérios nos debate democrático que este país precisa para crescer?
Será que o nosso estagio de crescimento nos destina APENAS esta realidade ou temos como modificá-la? Como?


Onde anda o PDD a sonhada terceira força levada aos ombros pela media e por alguns pseudo-intelectuais deste país sem os resultados que se poderiam esperar?
Conseguirá o MDM sair do buraco barulhento em que se encontra e conquistar prestigio que a presença na AR impõe ou, destes também, teremos mais do mesmo?
Perguntas demais, respostas a menos… por isso vos desafio a falarmos destes assuntos com sinceridade.

sábado, 21 de maio de 2011

Contratação de Mão de Obra Estrangeira Para a Função Pública: Algo Que Devemos Temer?

Apesar de já ser independente há mais de 35 anos, Moçambique continua a enfrentar desafios vários no que tange a pessoal qualificado em quantidade e qualidade que o país precisa para fazer face aos desafios do seu desenvolvimento, sem desprimor do muito esforço e investimentos feitos no sector da educação desde 1975 (atrapalhados pela guerra dos 16 anos) que tiveram como resultado a formação de muitos quadros, porém, apesar de milhares de quadros que as universidades públicas colocam no mercado anualmente, continuamos carentes em diversas áreas.


Só para citar alguns exemplos, o país continua com um índice baixo no que toca ao número de médicos por habitante e só há muito pouco tempo o sector conseguiu colocar um médico em cada sede de distrito do país; continuamos com falta de especialistas ao mais diverso nível e mesmo de professores catedráticos para a tão almejada qualidade de ensino que ajude na formação dos quadros que este país precisa. Poderíamos multiplicar estes exemplos numa lista sem fim.


Na verdade o país tem, na função pública, diversos estrangeiros a seu serviço. A escassez de profissionais qualificados na administração pública moçambicana, sobretudo nas áreas da Saúde e educação, levou a que o Governo de Moçambique, após a independência nacional, recorresse à profissionais estrangeiros, muitos dos quais vindos de países essencialmente do bloco socialista, principais parceiros de cooperação nesse período.


As transformações políticas económicas e sociais que o país e o mundo experimentou nos últimos tempos colocaram ao país uma mudança de paradigma no recrutamento de pessoal estrangeiro de que necessita para a função pública. Assim, urge em face das carências conhecidas, definir o regime quadro do trabalho do cidadão estrangeiro na função pública.


A discussão deste tema nunca foi pacífica. No quadro da lei do trabalho por exemplo, os empregadores queriam mais flexibilidade na contratação de mão de obra estrangeira. O Estado sempre vincou a necessidade de só se abrir espaço aos estrangeiros com as qualificações de que o país não dispõe ou que sejam escassos. Aliás, diga-se, são as carências do ponto de vista de recursos humanos que têm determinado a definição dos regimes de trabalho de pessoal estrangeiro em Moçambique. Foi esse o princípio que foi usado na definição do quadro legal do trabalho do cidadão estrangeiro em Moçambique previsto na Lei do Trabalho. Ao referir no número 1 do artigo 33 da Lei do Trabalho que o trabalhador estrangeiro deve possuir as qualificações académicas ou profissionais necessárias e a sua admissão só pode efectuar-se desde que não haja nacionais que possuam tais qualificações ou o seu número seja insuficiente, o legislador quis salvaguardar a ideia de que só se recorre a contratação de estrangeiros nos casos de falta ou insuficiência de profissionais.


Portanto, creio não haver o que temer neste processo; para ser coerente e manter a coerência do sistema o Governo deverá manter os princípios acima referidos inalterados no caso da contratação de trabalhadores estrangeiros para a função pública vincando, uma vez mais, a ideia de que a mão de obra estrangeira visa suprir as insuficiências do país e nunca uma forma de escancarar as portas aos estrangeiros em detrimento dos nacionais aqui formados que devem ser valorizados e constituírem-se como destinatários das políticas e oportunidades de emprego que se abram no país, vincando ainda mais a ideia de sermos nós, moçambicanos, os donos do nosso destino e gestores da coisa pública.


Acrescentar que, mesmo nas situações de carência referidas para fazer face às necessidades de contratação para o sector privado, o contrato é sempre por tempo determinado até 2 anos findos os quais se requer nova autorização não sendo aplicável ao estrangeiro o previsto no número 2 do artigo 42 da Lei do Trabalho sobre a transformação do contrato a prazo em contrato por tempo indeterminado.


Estamos pois perante o desafio de o Governo determinar normas claras e práticas para esse desiderato, ao mesmo tempo que aquilata mecanismos de controlo de modo a garantir que, na função pública e até mesmo no sector privado, o país só tenha a seu serviço os estrangeiros com a formação de que o país ainda não dispõe. O Diploma legal a ser aprovado deve reflectir a visão do estrangeiro como alternativa de reforço do perfil técnico profissional dos recursos humanos do Estado, através de transferência de conhecimentos aos técnicos nacionais.


Mas, mais do que reconhecer insuficiências e regular a contratação de estrangeiros, como sugere Lázaro Mabunda na sua coluna no jornal O País, e a par do investimento no ensino a todos os níveis, o nosso Governo deve intensificar o rubricar de acordos para a formação de seus quadros em áreas pré-definidas como fundamentais para o desenvolvimento socioeconómico. Cresce mais ainda o desafio de conhecer as insuficiências e planificar coerentemente a forma do seu suprimento. Não podemos estar na mesma daqui há 10 anos. O país precisa ter uma visão de como descalçar esta bota da insuficiência de quadros de modo a que o nosso evoluir faça cair em desuso o instrumento a aprovar nos próximos tempos.


Espero que os critérios salariais a observar para o pagamento dos estrangeiros na função pública não sejam mais um factor de frustração para os muitos e bons quadros de que o Estado dispõe, que dão o seu melhor apesar dos salários reconhecidamente baixos que auferem. Que os estrangeiros, igualmente, não venham impostos pelos nossos vários financiadores como garantia de que o dinheiro investido/emprestado a Moçambique retorne aos seus países via esses “especialistas” de que não dispomos de momento.


Que o país tenha capacidade fará inspeccionar e sancionar fugas aos princípios que determinar. A contratação de estrangeiros por si só não nos deve assustar; deve nos assustar, isso sim, se essa for a única solução a vista para resolver o problema da escassez de quadros no país. Não me parece que seja o caso também.