Celebrávamos o ano Eduardo Mondlane quando Policarpo Mapengo escreveu uma das suas Cartas a Moda Antiga ao Egídio Vaz em que, de entre outras coisas, elaborava sobre o papel que as imagens heróicas desempenham no processo da construção desta Pátria Amada, da necessidade que tivemos destas figuras no momento em que atravessávamos a guerra civil bem como no apelo a unidade nacional. Não hajam dúvidas, eles têm desempenhado cabalmente o seu papel.
Mapengo terminava essa carta apelando a ideia de que “os heróis devem ser constantemente renovados para se adaptarem aos contextos.” Referia Mapengo nessa altura que a “celebração de 2009 como ano Eduardo Mondlane pode ter essa missão mas é importante ver como é que em pleno século XXI, na era da globalização, de mercados comuns, de HIV/SIDA e pobrezas absolutas, se pode aproveitar a imagem de Eduardo Mondlane como catalisador nas várias batalhas que o Estado tem que travar rumo ao tão almejado bem estar.”
Acho este exercício importante. Ao embarcarmos nesta visão, partiremos ao encontro dos nossos heróis indagando-os criticamente, tendo como base o contributo conhecido, para aferirmos como no contexto de hoje e do amanhã que almejamos, tal contributo nos pode inspirar e ser útil.
Como se referiu nessa altura, este exercício de indagação e renovação permanente não pode ir para além do que foi a obra de cada um dos nossos heróis. Nesta perspectiva, o nosso desafio é olhar e pegar nos atributos de cada um deles e verificar que contributo inspiracional podem dar para os desafios do presente e do amanhã.
Celebramos este ano como ano Samora Machel. O desafio neste caso é o mesmo. Não podemos repetir a história e, para progredirmos, precisamos conhecer a nossa história, os nossos heróis e tomamo-los como marcos inspiracionais para os desafios do futuro, para o desafio de fazermos uma nova história que, no nosso caso, passa por sairmos deste ciclo de dependência económica e prosperarmos como povo e como nação.
Como alguém referiu, acho que é possível renovar constantemente heróis como Eduardo Mondlane, Samora Machel, Filipe Samuel Magaia, José Craveirinha e outros. É fácil até criticá-los sem matar a sua obra de vida, é fácil olhar para os mesmos de todos os ângulos e encontrar em todos o Moçambique porque lutaram. Este exercício compreende estudo e compreensão dos nossos heróis.
Mais do que a audição pura e simples dos discursos de Samora Machel neste ano a ele consagrado, é importante que contextualizados na nova realidade que vivemos, esses discursos sejam tomados como catalisadores para os desafios que temos que enfrentar hodiernamente.
Mais do que estampar a imagem de Samora Machel em todo o lado como invariavelmente fazemos nas nossas viaturas, em camisetas e bonés, é necessário compreender a dimensão desse homem que deu muito de si por esta pátria.
Neste ano dedicado a Samora Machel, mais do que nos prostrarmos e/ou embarcarmos num saudosismo exagerado do período que corresponde a sua governação, é necessário compreender a dinâmica dos tempos, os novos contextos em que vivemos e, acima de tudo, aplicar muitas das lições por ele deixadas aos novos tempos.
Pensar Samora na perspectiva do seu tempo de governação e das circunstancias históricas que a potenciaram e propiciaram é demasiado redutor para um homem cuja visão pode ser contextualizada aos tempos que correm.
A história mostra que, tanto a Frelimo como o próprio Samora não estavam imunes às dinâmicas do tempo e vinham se adaptando ao contexto global. A visão ortodoxa de 1977, que preconizava o absoluto controlo da economia foi sofrendo ajustamentos a partir dos princípios da década de 80. A privatização das pequenas empresas, as negociações com o Fundo Monetário Internacional e a abertura ao Ocidente fazem parte destes ajustamentos à realidade concreta. Foi no tempo de Samora que a FRELIMO se mostrou aberta às instituições de Bretton Woods e ao Ocidente.
Cantemos odes a Samora Machel no seu ano. Interiorizemos os seus ensinamentos procurando adequa-los aos dias que correm reiventando, desse modo, Samora Machel no contexto de hoje vendo como é que em pleno século XXI, na era da globalização, de mercados comuns, de HIV/SIDA , crise internacional, pobreza, se pode aproveitar a imagem, figura e ditos de Machel como catalisador nas várias batalhas que o Estado tem que travar rumo ao tão almejado bem estar.
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