terça-feira, 11 de setembro de 2012

Cabo da Minha Esperança

Cabo da Minha Esperança

Júlio S. Mutisse

Julio.mutisse@gmail.com

Ideiassubversivas.blogspot.com

Aprendi na história que a luta de libertação nacional teve o seu início em Cabo Delgado. Deve ser por isso que continuo a tomar Cabo Delgado como o local onde iniciaram as acções concretas que culminaram com a independência de Moçambique.

Lá por aquelas bandas, na Bacia do Rovuma, anunciam-se importantes descobertas de recursos que podem se constituir numa das armas ao dispôr para o combate pela prosperidade e independência económica. O gás (quem sabe o petróleo também) do Rovuma, o carvão de Tete, as areias de Moma e Chibuto, os demais recursos do mar, da terra, o labor dos moçambicanos que o Presidente da República não se cansa de elogiar, podem constituir-se em conjunto uma plataforma para não com palavras, mas com actos de gestão racionais, dizermos basta a uma dependência externa que, pelo menos a mim incomoda e chateia.

A FRELIMO volta a Cabo Delgado, desta vez para realizar o seu 10º Congresso. Infelizmente tomamos grande parte do tempo que antecede a esta reunião magna a discutir a sucessão de Armando Guebuza quer da chefia do Partido, quer da chefia do Estado como o assunto mais importante que secundarizou todos os demais. Me pareceu que de todos os sectores, mesmo os mais críticos à actuação da FRELIMO (a julgar pelo destaque dado a matéria sucessória), há a convicção de que a FRELIMO se manterá no poder nos próximos anos.

Os congressos traçam directivas que são seguidas pelo Partido na sua actuação no periodo que medeia entre um e outro incluindo, claro está, na esfera governativa. Reconhecendo a importância da liderança (que se discutiu em demasia nos últimos tempos), acho que usou-se muito pouco tempo para tentar influenciar o outcome dessa reunião magna no que toca as nossas expectativas para o futuro, analisando o que foram os últimos cinco anos, a influência das decisões saídas do nono congresso e o rumo que se deve tomar. Ficamos pelo mais simples: a discussão do papel de Armando Guebuza no possível xadrez político que possa ser montado depois do 10º Congresso e nos recusamos a mergulhar na discussão da tática, das opções para o desenvolvimento, de influenciar como o Partido que governa e tem tudo para continuar a governar deve olhar as alternativas para o desenvolvimento etc.

Sem desmerecer a importância de quem sucede Guebuza na chefia do Estado e do Partido, há que saber que directrizes orientarão um e outro. Podiamos ter tentado influenciar um pouco mesmo reconhecendo a soberania dos membros da FRELIMO reunidos no seu congresso para tomarem as decisões que julgarem mais apropriadas para o Partido mas, também, para a nação.

A FRELIMO volta a Cabo Delgado. Não para cumprir uma formalidade que se impõe de cinco em cinco anos, mas para reflectir em torno de si e dos desafios do Partido e do País para o futuro. Espero que Cabo delgado, mais uma vez, seja o local onde se consolidarão todas as coisas boas feitas até aqui, se corrijam as que não andaram bem e se tomem decisões que, mais do que garantir a manutenção do poder, acelerem este país para decolar da pobreza e aterar na prosperidade, deixando para trás um ciclo de pobreza num país excessivamente rico.

Estou na expectativa e guardando muita esperança desse Cabo Delgado distante e próximo ao mesmo tempo.