segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Os Embaixadores da Desgraça

As perguntas emprestadas do Amosse Macamo que coloquei no último post sobre os críticos, levantaram aqui e noutras plataformas um debate interessante a partir do qual o meu amigo desenvolveu e concluiu o raciocínio que apresento abaixo.

Os Embaixadores da Desgraça
Amosse Macamo



Enquanto cidadãos, sempre que colocados fora dos limites geográficos do nosso pais, tornamo-nos voluntária ou involuntariamente embaixadores do nosso país. Aliás, ser embaixador do nosso país quando no estrangeiro deveria ser um acto consciente de cidadãos responsáveis e comprometidos com o seu país.

A ideia da aldeia global rompeu com as fronteiras e aquilo que ontem era exclusivo das elites políticas e/ou de uma minoria com posses, está quase que ao alcance de todos, refiro-me por exemplo as viagens para o exterior. Hoje há um crescente número de pessoas que viajam para os diferentes cantos do mundo, ora estudando, ora trabalhando, ora em passeios e sem descurar as viagens virtuais, onde sentados num pequeno ecrã mágico podemos estar e em tempo real em conexão com pessoas de diferentes partes do mundo. Ora, ao entrarmos nestas viagens, nestes contactos, acabamos transportando voluntária ou involuntariamente, a imagem do nosso pais, ao que, uma pergunta urge fazer:


Como um moçambicano deve tratar assuntos sensíveis do seu país fora deste? E mais, como transmitir alguns factos (negativos) que internamente sabemos que são reais a quem é determinante para nós? (refiro-me a título de exemplo à informação que um moçambicano possa dar a um ente que contribui para o orçamento do nosso Estado).


Hoje, e a mercê das aberturas que acima anunciava, emerge uma nova classe intelectual moçambicana que viaja para fora e, se não viaja, consegue ter contactos com o exterior, com pessoas que querem saber mais sobre o nosso país. Alguns integrantes desta nova classe tem sido seleccionada dentre aqueles que não simpatizam com o governo de dia, sendo que são os mesmos que servem de fonte primária àqueles que de uma ou doutra forma, pretendem saber de nós.


São os que confirmam os dados contidos em estudos de campo feitos entre quatro paredes, são estes que quando razões internas de algumas nações obrigam que se achem culpados sobre qualquer assunto ajudam a encontrar, são estes que usando seus próprios e limitados critérios analíticos indicam os corruptos, os barões de drogas, os maus governantes, são, na verdade o olho pouco vigilante e o ouvido do outro, são, o que chamo de Embaixadores da Desgraça; pessoas a quem interessa somente mostrar a imagem negra do nosso pais lá fora.

Não me oponho que a informação saia para fora, aliás, com as tecnologias de informação pensarmos que podemos esconder alguma informação ou impedir algumas pessoas de reportar seja lá o que for não passa de um exercício inútil, contudo, ao sairmos lá fora, devemos informar e como bem dizia um amigo de ideias, com responsabilidade. Mas talvez seja importante recuperar a resposta deste meu amigo, quando coloquei a mesma pergunta de partida deste texto no meu mural do facebook.


Dizia o meu amigo e passo a transcrever: “Isso depende da consciência cidadã de cada um. O recomendável seria colocar os desafios alcançáveis em vez de expor os problemas, muitas vezes ideológicos.” E acrescenta este meu amigo, mesmo para explicar o porquê de informar com responsabilidade e o risco que incorremos ao relatar somente os problemas: “Porque, podemos pensar que ao falarmos tudo de mal aos brancos estamos a nos distanciar do comportamento dos nossos líderes. Porém, o reverso da moeda é que você passa a não ter palavra em tudo que acaba de dizer”- fim da citação.


O meu amigo tinha resumido o espírito da pergunta de retórica que fizera, é que, é incrível como as pessoas pensam que ficam mais confiáveis lá fora quando apontam somente os erros. Se ainda vivêssemos no tempo em que a liberdade de expressão era coarctada, diria que tal procedimento serve de protesto, mas muitas vezes, trata-se de pessoas que internamente conhecem e dominam os mecanismos pelos quais podem expor os seus problemas e não o fazem, a espera de uma oportunidade para serem chamados por uma ONG e/ou organizações político económicas, para falarem das suas frustrações como se de verdades se tratassem. E, mesmo que considerando que falam verdade, quando falta o elemento responsabilidade na sua locução, acabam fazendo o papel inverso do que se pretende.


Olhando para esta questão do ponto de vista da nossa sociedade, diríamos que não há famílias que não tem problemas, contudo, é preciso saber lidar com os problemas de forma responsável, porque, ao membro da família que for questionado fora como vai a sua família e desatar a falar mal da sua própria família, não sabemos se este merece ou não consideração como membro da família. Aliás, no âmbito da responsabilidade aludida, mais do que conhecer e enumerar todos os problemas do país, torna-se essencial avançar propostas de soluções ou, não as tendo, ao menos, enunciar as soluções que outros experimentam para os problemas identificados.


Ao acaso, alguma vez esses Embaixadores da Desgraça já ouviram as pessoas a quem eles dão relatórios de mal dizer, a falar mal das suas próprias nações? Certamente que não, aliás, o norte-americano combate internamente de forma obstinada a pena de morte, e nem por isso, o autoriza a falar dela com a mesma liberdade com que fala internamente no seu país. Aliás, sempre que é questionado fora, corre logo para os aspectos que considera humanitários na pena, como a questão conceder uma última missa e refeição a quem será executado, fala do aspecto “humanizante” da injecção letal, dando a ideia de que aquela torna a morte menos dolorosa, como se quem morre pudesse acordar para confirmar a informação.


São os Embaixadores da Desgraça que não hesitam em convidar aos países que nos apoiam a cortarem a ajuda porque segundo eles em Moçambique há corruptos. São estes, que não medem (e nem sentem necessidade de o fazer) esforços ao pedir ao outro cortes que se sabe castigam o moçambicano comum só para serem vistos como diferentes, pensantes, iluminados, os únicos que detectam e denunciam erros de governação, a quem se deve ouvir porque tradutores da verdade.


O que sucede muitas vezes, é que quem nos ajuda já tem referências destes males como a corrupção em relatórios e ou estudos encomendados e não poucas vezes conduzidos com ligeireza, ao que, quando a aqueles se acresce uma voz de um nacional desse mesmo pais, e sendo alguém que se presume diligente, os rumores passam a constituir verdades e pior quando a tonalidade da pele de quem diz se aproxima mais e/ou se iguala ao do ocidental.


O que não desconfiam é que a informação que aquele traz muitas vezes é suportada por uma carga ideológica, que pode reflectir frustrações e até ignorância sobre o assunto que se pensa conhecer, mas, porque é nacional, e até formado na área em causa, não há outra presunção senão a de que fala a verdade mesmo quando em prejuízo de todos nós como costuma ser.


São estes Embaixadores da Desgraça que correm para as redes sociais e outros espaços divulgando excertos mesmo antes da divulgação formal os dados de um certo relatório, como se tivessem acesso as fontes, quando no fundo as fontes são eles mesmos porque impacientes em verem retornar os relatórios que eles mesmo enviaram e divulgam.


O meu apelo aos Embaixadores da Desgraça, se é que vale a pena apelar, é o de que podem sim mandar a informação, mas que olhem para esta com alguma responsabilidade porque atitudes como esta enfraquecem os Estados e consequentemente a sua própria liberdade no lugar de os fortificar, que saibam que na resposta as ambições particulares, pode-se comprometer o projecto de um povo, sim, uma nação vale antes pelo seu povo e não pelos governantes e devia ser sob prisma do povo que se deveria repensar as sugestões ao ocidente de cortar e/ou diminuir a ajuda por exemplo, ou outras formas de intromissão degradantes e humilhantes para o nosso Estado. A continuarem no caminho em que seguem saibam que um dia nem um, nem outro, vos vai querer ouvir, porque, acreditem, que quem vos pede informações sensíveis sobre o vosso país e vocês dão sem contemplações, sabe de antemão que vocês não são confiáveis, pelo que vos usarão até o dia em que não forem mais úteis.


Mas seria injusto terminar este artigo sem congratular-me, por todos aqueles moçambicanos que mesmo reconhecendo os problemas que enfrentamos no dia-a-dia, projectam o nosso pais com uma mensagem de esperança, de confiança, responsabilidade, estabilidade social, e que olham para os problemas como desafios. Para este, um abraço de quem sabe que temos problemas, mas que podem ser solucionados e ainda o meu abraço, a quem se bate e discute todos os dias os problemas reais deste pais com frontalidade, sem apelo a emoções, pessoas que lhes interessa somente um Moçambique próspero.


Amosse Macamo



PS1: Deixem me acrescentar aqui um comentário de outro Macamo em relação as questões que este Macamo, o Amosse, coloca aqui:

Caro Júlio e demais comentadores, concordo com as intervenções do Nelson e do Reflectindo. O único que se devia esperar de todos nós é falar com responsabilidade dentro e fora do país. Falar com responsabilidade não é dizer o que não prejudica o país (porque isso seria difícil de determinar), mas sim o que é passível de ser discutido de forma construtiva na esfera pública. Infelizmente, é justamente isto que tem feito mais falta em muitos debates. Por exemplo, achei que Jorge Rebelo tem sido menos responsável na suas intervenções por fazer afirmações que não conduzem ao debate de ideias. A sua sugestão de que os íntegros estão a ser corridos do governo parece-me bastante gratuita sob este ponto de vista. Pelo contrário, acho as intervenções de Castel-Branco muito responsáveis porque permitem uma discussão construtiva (independentemente de ele ter razão ou não). A coisa piora quando nós os demais reduzimos tudo ao "estar contra ou a favor" e preocupamo-nos pouco com a substância do que as pessoas dizem. Há muitos que pensam que participar na discussão pública é formar clubes de apoio a este ou aquele. O patriotismo não pode ser uma medida útil. O sentido crítico é que deve ser o nosso guia, algo que tu Júlio tens praticado bastante neste blogue. abraços.

Elísio Macamo

PS2 Chamo atencao aos textos publicados aqui, aqui e aqui por Abdul Karim que mos remeteu tambem por email. Agradeco eh uma visao interessante que tem a ver com o que discutimos aqui.

Há “Bifes” no Futebol em Moçambique

O meu clube do coração é Vice Campeão nacional de Futebol; Vencedor da Taça de Moçambique em Futebol; Campeão Nacional de Basquetebol Sénior Masculino; Também é campeão da Cidade de Maputo nas camadas de formação (juvenis e juniores) em futebol. Grande obra do meu Maxaquene.

Se por um lado faço um balanço positivo da época, como adepto ferrenho não posso deixar de mostrar a minha indignação com as notícias de viciação de resultados no Moçambola, que encheram as páginas dos nossos jornais quase todas as semanas no decurso da prova.

Mais estupefacto fico quando leio estas notícias saídas no Jornal o País de hoje dia 15 de Novembro de 2010, em que Arnaldo Salvado, treinador do meu clube, denuncia actos de corrupção praticados por alguns dirigentes, chamando os bois pelos nomes.

O que vem a ser isto? Que medidas está a Liga moçambicana de Futebol e a própria federação a tomar para clarificar estas questões pouco abonatórias do nosso desporto e do nosso futebol em particular? Que rumos devemos tomar? Qual é o papel dos intervenientes no processo desportivo na credibilização do nosso desporto?