quarta-feira, 4 de julho de 2012

A Reforma Feminina

A Reforma Feminina

Júlio S. Mutisse

Julio.mutisse@gmail.com

Ideiassubversivas.blogspot.com


Um dos músicos que povoa o meu eu musical é Xidiminguana com os seus cantares e dizeres. Xidiminguana tem a capacidade de observar a sociedade e satiriza-la nas suas músicas. A primeira música que escutei hoje foi deste ícone da nossa música cantando aquela mulher preguiçosa que a reputa de rica uma vez que tem tudo sem fazer o mínimo esforço.

Há mulheres assim. Preguiçosas que só elas. Mas eu vivo no país da virtude trabalho, onde a maior parte das mulheres são trabalhadoras incansáveis. Dirão os amantes das estatísticas sobre emprego que estas me desmentem. Pode até ser verdade que nas estatísticas do emprego eu esteja longe da verdade mas, nas estatísticas do trabalho (se calhar ainda não feitas) as mulheres estarão na linha da frente. Neste segmento me refiro àquelas trabalhadoras sem sindicato, que não se importam com mínimos salariais por não ser por isso que se batem, que passam horas com os pés mergulhados na lama, sem botas ou qualquer instrumento de protecção, plantando milho, amendoim, arroz e outras culturas indispensáveis à mesa dos seus, sem nada descontar para a reforma ou protecção social, muito menos com direito a uma licença de parto que as ora empregadas querem ver acrescida dos actuais 60 dias para 90 /120 dias num país pobre onde os custos de empregar são altos (sobretudo mulheres) e que se devia mobilizar para o trabalho.

Este país faz-se de muitas dessas mulheres. Muitos reconhecerão estas mulheres e a sua importância nas suas vidas. Não as encontramos apenas no campo; estão presentes também na cidade, cruzando a cidade para garantir o sustento dos seus, vendendo carvão e/ou pasteis de feijão nhemba/badjias garantindo que os lucros da actividade dêm para sustentar a família incluindo a escolarização dos filhos.

Falei da segurança social e lembrei-me da pensão por velhice que as mulheres acedem a ela aos 55 e os homens aos 60. Lembrei-me da constituição que garante a homens e mulheres direitos e deveres iguais perante a Lei. Se somos iguais perante a lei, temos os mesmos direitos e deveres incluindo os contributivos para a segurança social, porque diferenciar a idade da reforma? Porque não adoptamos a mesma idade da reforma como tendencialmente ocorre pelo mundo fora e fazermos jus a igualdade do género tão aclamada por todos?

Isto é no contexto das mulheres empregadas e hoje não quero falar delas. Quero falar das trabalhadoras que não gozam deste benefício, não reformam e nem se queixam; trabalham. Olho para D. Helena, minha mãe, vejo a sua incapacidade de ter os netos às costas por muito tempo e sei/imagino porque: muitos hectares foram lavrados por aquelas mãos, algumas vezes (cada um a seu tempo) com seis bebés às costas.

Ode ao trabalho. Que se uniformize a idade da reforma, afinal temos direitos e deveres iguais perante a lei. Ou não?