Oficialmente o ano lectivo 2008 abriu hoje. Para muitos a abertura do ano lectivo marca o back to School e, para muitas crianças, o início de uma carreira que, na melhor das hipóteses, se prolongará por 12 anos.
Velhos problemas persistem: falta de vagas em diversos níveis ( segundo o notícias de hoje 28/01/2008 "milhares de jovens não poderão frequentar os estabelecimentos públicos, devido à exiguidade de vagas") e um número elevado de alunos por turma, para além dos que "continuarão a estudar em salas alternativas, devido a uma combinação de factores, entre as quais os problemas provocados pelos fenómenos naturais e a degradação das infra-estruturas" ainda segundo o notícias de hoje.
De facto, há muito que se fala dos mais de "um milhão de crianças foram matriculadas este ano pela primeira vez nas escolas primárias públicas para frequentarem o ano lectivo que hoje arranca oficialmente em todo o país." Porém, ninguém nos disse, ainda, que medidas estão a ser tomadas para estancar o fenómeno que se verifica anualmente (com os números a crescerem a cada ano) da falta de vagas para os graduados da 7ª e 10ªs classes.
O Estado tem feito um grande esforço no sentido de absorver grande parte das crianças em idade escolar. Essa é a razão porque se fala (com alguma insistência) do crescimento em termos de alunos matriculados nos primeiros níveis a cada ano que passa. Porém, parece me faltar um esforço no sentido de garantir continuidade para a maioria das crianças que concluem o ensino primário uma vez que o investimento no crescimento de salas de aula para o ensino primário não encontra paralelo em termos de crescimento das salas de aulas para o ensino secundário geral e no pré-universitário.
Esta é a razão porque ano após ano o Ministério da Educação e Cultura tem que lidar com a escassez de vagas no ensino secundário geral e no pré-universitário.
Paralelamente a este factor está a demora na reforma do ensino técnico profissional conforme prometido e com financiamento garantido que, em minha opinião, devia ser a prioridade tendo em conta a necessidade de dotar a juventude de um saber fazer, que permita a esta camada assumir (com competência) os desafios do desenvolvimento que se coloca para o país.
Qual a razão do menor fulgor no crescimento do parque escolar para os níveis secundário geral e pré-universitário? Que estratégia está ou foi adoptada (para além de encaminhar "crianças" que não conseguiram vagas no diurno para o curso nocturno)? Qual a projecção a longo prazo para o sector como um todo?
Olho para os números, escuto os discursos com preocupação. Ainda não estou a falar da qualidade de ensino. Falo, ainda e apenas, do acesso a escola para milhares de crianças e milhares de jovens deste país.
6 comentários:
Olá, Júlio.
Venho solidarizar-me com o povo que está a sofrer a causa das cheias e pedir que este mau tempo passe depressa e tudo volte à normalidade.
Abraços.
David Santos
julio, boas perguntas as tuas. parece-me que a educacao ainda nao formulou melhor as suas prioridades, que passam por reforcar o sector da planificacao e gestao de politicas educacionais. o recurso ao parpa para justificar desenvolvimentos na educacao, revela esta des-preparacao para formular perguntas.
Meu caro Chapa 100,
O grande problema nisto tudo é que (tal como as cheias) as situações com que nos deparamos no início de cada ano lectivo são cíclicas. O que muda são os números dos afectados e, mesmo assim (e diferentemente da gestão das calamidades que me parece ter já uma estratégia de intervenção em consolidação) o sector da educação tarda em reforçar ou em MATERIALMENTE (e não só formalmente) estabelecer um sector de planificacao e gestao de politicas educacionais.
Durante algum tempo falou-se com insistência da reforma no ensino técnico profissional. Aliás, em algum momento me pareceu que essa reforma era a bandeira, do actual governo relativamente ao sector, tendo em conta o discurso de contarmos com as próprias forças para desenvolver o país.
Infelizmente como cidadãos não temos o hábito de interpelar o Governo sobre o andamento dos programas/promessas que nos interessam.
É um facto que anualmente não há vagas para todos os graduados da 7ª e 10ª classe mas nunca interpelamos o Governo no sentido de percebermos o nível de planificação que o sector está a afzer a curto prazo para minimizar ou estancar a situaçao.
Acho que é esta nossa forma de estar que faz com que os nossos governantes no geral se preocupem pouco em REPORTAR aos seus patrões que somos nós.
PS: Os chapas vão subir.
Caro David Santos,
Tomara que, este ano, as chuvas que fustigam a região centro do país provocano cheias páre rapidinho. O que temos que fazer em Moçambique é regular os cursos de água (uma das formas - suponho - é a construção de diques e barragens) de modo a que, o rio não transborde cada vez que chove em Moçambique e nos países vizinhos.
Repare que para além da perda de culturas muita coisa fica emperrada: o recenseamento eleitoral está problemático naquelas zonas e, já se sabe que, muitas crianças continuarão a estudar em salas alternativas, devido a uma combinação de factores, entre as quais os problemas provocados pelos fenómenos naturais.
Por este meio agradeço a sua solidariedade para com os nossos compatriotas.
Já agora, faltam professores também. o Ministro da EC já veio a público dizer que há um défice de milhares de professores pelo que, o sector terá que, mais uma vez, ir buscar gente sem nenhuma preparação psico-pedagógica.
Esse é outro problema. E ainda temos o Ministro da EC a projectar acabar com os professores "TURBO". Não vejo como na actual conjuntura.
Se se instituir a proibição de professores das escolas públicas leccionarem, também, nas privadas e no curso nocturo, prevejo o abandono do sector público rumo ao privado onde, provavelmente, serão melhor recompensados.
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