A selecção nacional de futebol de Moçambique jogou ontem e empatou a zero com a poderosa selecção da Nigéria. Sobre o jogo em si muitos, sempre melhor do que eu, se pronunciaram e se pronunciarão.
Pretendo falar aqui do que designo "efeito selecção", da euforia colectiva que se abateu sobre nós ao longo das últimas semanas cujo ponto alto foi o dia de ontem, da capacidade mobilizadora neste e noutros jogos, da força aglutinadora e, quiçá, unificadora que um jogo da selecção, nesta altura, provoca.
Pelo menos a Cidade e Província de Maputo vestiram-se de gala ontem. Bandeiras por todo o lado, nos chapas, nas motorizadas, nos carros, nos ombros, em T-Shirts enfim, de todas as formas possíveis e imaginárias. Parecia que todos queriam exprimir o seu orgulho pela pátria embalados pelo "efeito selecção".
Foi bonito de ver. A solidariedade e camaradagem mesmo entre gente que nunca se vira antes. Embuidos pelo "efeito selecção" muitos não hesitavam em parar e "recolher" aqueles que, a pé, mas vestidos a rigor, demonstravam estar a caminho de ser o 12º jogador lá nas bandas do Infulene.
Interessante também ver os acenos em todo o lado mesmo em situações em que aquele para quem se acena é nos completamente estranho. Hehehe, e a sessão das bozinadelas em que me vi envolvido, apesar de ensurdecedora foi linda. Naquele momento ficamos, colectivamente, tomados pelo "xikwembo" moçambicano espevitados pelo "efeito selecção" que perspectivando uma alegria com uma possível vitória, já nos criava a alegria só por termos essa esperança.
Aprendi que: a selecção nacional tem uma capacidade de mobilização muito grande. Aprendi também que quando há esperança, quando há crença, espontaneamente (como eu na sessão das bozinas) as pessoas aderem à causa que se apresenta. As pessoas se mobilizam.
Mas ao mesmo tempo que ficava satisfeito com o movimento de ontem, sentia um aperto no coração. É que, até ao próximo grande jogo, dobraremos as bandeiras, as T-shirts e/ou os bonés com os símbolos da República e as demonstrações de patriotismo e voltaremos a mais do mesmo que é exactamente o contrário do que descrevo acima. Só me pergunto porquê...
Também me pergunto se o "efeito selecção" não pode ser replicado em outras situações que nos mobilizem e aglutinem em torno de algo comum onde a euforia (em doses razoáveis), a solidariedade, o companheirismo, a simpatia, a camaradagem etc., estejam sempre presentes.
Bem haja "efeito selecção".
6 comentários:
O Notícias de hoje, em vários sítios, confirma a sua "reportagem" aqui. Na primeira página diz: "DOMINGO super colorido e um ambiente inigualável no Vale do Infulene, assim foi a tarde de ontem, no Estádio da Machava, onde mais de 40 mil espectadores foram testemunhar ao vivo uma das deslumbrantes partidas da jornada inaugural da derradeira fase de qualificação para o CAN e Mundial de 2010. Hora e meia de um jogo alucinante, com os “Mambas”, autenticamente audazes, a ofuscarem por completo todo o brilho e galanteio das estrelas nigerianas, que saíram de Maputo lisonjeadas com o empate sem abertura de contagem."
Na página desportiva diz: "GRANDE público, magníficos “Mambas”! Num domingo verdadeiramente deslumbrante e em que a cidade de Maputo, e não só, acordou cedo e imediatamente iniciou a romaria em direcção ao multicolorido Vale do Infulene, a Selecção Nacional de Futebol ofereceu aos moçambicanos motivos mais que suficientes para a sua auto-estima."
Repare a referência a auto-estima. A selecção é um ponto onde buscamos e/ou exercitamos a nossa auto-estima. É o único? Não. Por ser um desporto de massas e de muitas paixões, o futebol espevita essa tal auto-estima. Acaba também sendo um escape às frustrações do dia a dia e a chance que os mozies tem de irem a folia e demonstrar o amor que sentem pela pátria. É que apesar dos pesares, moçambicano ama a sua pátria, luta por ela e trabalha para ela. Faltam são motivos para demonstrações exuberantes como aquelas. Também com as carências e catástrofe (Mogincual incluida) é difícil...
Para as centrais da última edição do ESCORPIÃO procurei compreender a importância social do desporto, em particular o futebol. O que trazes aqui vem mesmo ao encontro dessa importância que supera a simples ideia de vencer para nos remeter ao que sublinhas como “solidariedade e camaradagem mesmo entre gente que nunca se vira antes”. O desporto, neste caso o futebol tem o poder de criar essa nova irmandade.
Nas últimas prestações os Mambas nos deram motivos para acreditar que podemos vencer. Mas antes, mesmo no período das nossas desgraças, quando todos esfregavam as mãos de contentes quando lhes surgia Moçambique pelo caminho, há muitos que se faziam ao campo: existia sempre uma vaga esperança. É exactamente isso que molda o futebol: Esperança. É isso que nos alimentou nos últimos dias: esperança de dar cabo a uma equipa composta por super-estrelas.
No final do jogo ficou aquele sabor amargo que podíamos ter ganho. Nós que esperávamos não perder o empate, pelo que a turma nacional fez, até ficou com o sabor a derrota.
O que pretendo dizer é que uma nação é feita pelas suas grandezas. É por essa razão que na história das grandes nações interessam as vitórias, interessam os homens que venceram as batalhas.
Mapengo,
Vou buscar essa matéria! Mas a minha questão permanece: existirá algo para além do futebol que possa, potencialmente, criar em nós uma outra "irmandade"? De outro modo: de que outras vitórias (morais e reais), que outros homens vencedores de batalha precisamos para que aquele movimento de domingo seja permanente, duradouro?
Mutisse
Líderes com a dimensão de Samora apesar de um certo ódio de estimação que existe um pouco por aí.
Agry, será que só a liderança, carisma são suficientes? As ideias, a visão onde ficam?
Sem ideias, sem visão estratégica, os líderes reduzem-se a ídolos de pés de barro.
No comentário "telegráfico", estava implicito tudo isso, suponho
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