quarta-feira, 10 de junho de 2009

Renovando Herois - Renovando Desafios (2)

Insisto com os heróis, insisto com a sua renovação, na convicção de que eles fazem parte da nossa história; fazem parte de nós. Fazem parte da história de que não podemos excluir a FRELIMO (a Frente) nem a Frelimo (o Partido) pelo seu papel na Luta de Libertação Nacional e na condução dos destinos da Nação respectivamente.

O debate sobre os heróis nacionais, a sua construção e os critérios por detrás da sua "heroificação" vai longo e não é de hoje. Não é minha intenção reavivá-lo aqui tendo como mote a proposta do Mapengo "Cristianização de Eduardo Mondlane" em lá no seu blog.

Proponho pois que peguemos a construção a volta dos nossos heróis e a usemos como plataforma inspiracional para os desafios do presente e do fututo. Como dizia ao Jonathan McCharty, proponho que ue renovemos o "Lutar por Moçambique" e coloquemos os ideais lá expressos ao serviço dos desafios do momento, proponho que usemos o que sabemos de figuras como Filipe Samuel Magaia herói (e outros)  em benefício das lutas que travamos pelo bem estar da nação, independentemente dos critérios que possam ter conduzido a sua heroificação.

Comentando o meu post anterior, o meu amigo Nelson Levingston veio colocar-me uma questão que motiva este novo post.

Dizia o meu inquieto (no bom sentido, aliás tão inquieto como eu) amigo que "Do breve post do amigo Mutisse chamou-me atenção o “esforço” de desassociar os heróis à FRELIMO (a frente), da Frelimo (o Partido) o que quanto a mim, nos ajuda a torná-los mais nossos(de todos os Moçambicanos) e dai ter uma visão mais “broad” deles, entretanto se tivermos em conta o papel da FRELIMO (a frente), e da Frelimo (o Partido), no processo da “heroização” dos nossos heróis fica difícil desassociá-los."

Com todos os erros que possam ter sido cometidos nos 10 anos de Luta de Libertação Nacional creio que há (ou devia haver) unanimidade quanto ao papel fulcral e libertador da FRELIMO (a frente) e das figuras que se destacaram nesse processo, inclusive, iniciado em 1962 com a fundação da própria frente. 

Mesmo que nos esforcemos, haverá como dissociar Mondlane, Magaia, Muthemba e outros da FRELIMO (a frente)? Creio ser difícil dado que o seu estatuto de herói radica no seu papel, na sua acção, nos seus actos na "frente" que culminaram com a conquista deste bem fundamental que é a independência do país.

Mas, independentemente dessas dificuldades, os heróis devem ser apropriados por todos os moçambicanos independentemente da filiação partidária. Mondlane, Samora, Magaia, Craveirinha, Chemane, Tazama e muitos outros devem ser venerados por todos independentemente das simpatias partidárias, da qualidade de membro da Frelimo (o Partido), do MDM, Renamo ou qualquer outro Partido ou organização.

Não existem, quanto a mim, heróis da Frelimo (o Partido). Existem figuras que, devido ao seu brio e aos altos serviços prestados à nação ou pela causa da Libertação Nacional, o Estado moçambicano (desde sempre liderado pela Frelimo - Partido) atribuiu-lhe a categoria de heróis, exemplos que devem ser seguidos por cada um de nós enquanto cidadãos deste país. Existem pois, figuras veneradas a nível do Estado, pelos moçambicanos e, inclusive - por que não - pela Frelimo (o Partido).

Creio que se conseguirmos unanimizar o papel da FRELIMO (a frente), olharmos o papel do Estado e assumirmos os actos praticados pelos órgãos do Estado como actos do Estado e não da pessoa (Partido) a quem está atribuído o poder de decidir/fazer, veremos os heróis, dos mais antigos aos mais recentes como NOSSOS heróis e não como heróis de um ou de outro.

Mas, devido à tentação de ao discutir os heróis, desembocarmos no questionamento da Frelimo (o Partido) e dos erros cometidos ao longos dos anos pos independência e da tendência de fugirmos deles, para discutir os erros que a FRELIMO (a frente) cometeu ao longo dos 10 anos de Luta de Libertação Nacional, proponho um exercício útil de buscarmos o que sabemos de cada um dos nossos heróis, contextualizar o contributo de cada um e aproveitá-lo nos desafios de hoje e amanhã.

O exercício que proponho (difícil é verdade, mas o que não é difícil em Moçambique?) é olharmos para essas figuras e questioná-las: quem és Magaia? Que feitos são te atribuidos que te tornam NOSSO herói? Que lições tiramos desses feitos seus, NOSSO herói, para os desafios do momento?

Penso que assim, podemos encontrar muitos pontos inspiracionais para os desafios de hoje e de amanhã. Se calhar, será desse exercício que encontraremos novos critérios para determinarmos quem, nos dias que correm, pode ser herói deste país, NOSSO herói portanto.



5 comentários:

PC Mapengo disse...

Meu irmão Mutisse
É importante esse desafio de questionamento de heróis. Mas me deixe olhar para a tua proposta de outros pontos. É claro que as figuras de Mondlane, Mutemba, Magaia e outros não podem se dissociar da Frelimo frente. Se prestares atenção verás que essas são figuras da Frente. Aliás, até os inimigos mortais da Frelimo partido se identificam com a Frente e com as figuras que a edificaram.
A Frente, se não é, está tão perto de ser uma unanimidade. A minha questão é saber até que ponto se pode, de verdade, separar-se a Frente do partido. Podemos aparecer com decretos ou com documentos a colocarem um ponto final a um movimento. Mas será que basta simplesmente mudar de nome? A Frente, quanto a mim identificou novos desafios e era preciso enfrentar. No entanto o podia fazer como frente mas sim como partido. Mas isso significa morrer ou transformar-se?
Voltando a heróis, estes são parte da Frente, se identificam com a Frente, mas não podemos negar que eles estão ligados com a construção deste país.
O meu amigo Amosse Macamo, de todas as vezes que falamos sobre heróis ele, embora aceite a sua renovação, é de opinião que estes não podem ir para além dos seus verdadeiros actos. Concordo plenamente. Mas no processo de renovação dos heróis não podemos nos deter simplesmente nas respostas que eles nos poderão “dar” sobre o que fizeram. A construção de heróis é feito com base em rituais e deve servir a propósitos. Então cabe a nós trazer Eduardo Mondlane para “lutar por Moçambique” no século XXI.
PC

Júlio Mutisse disse...

Mapengo,

Destaco 4 questões fundamentais no seu comentário acima:

- a (quase) unanimidade a volta da FRELIMO (a frente);
- a questão que me colocas se a Frente morreu para nascer o Partido;
- a pertença dos heróis à Frente; e
- « trazer Eduardo Mondlane para “lutar por Moçambique” no século XXI»

Quanto a primeira creio que não deviam haver dúvidas, o espírito que ditou o surgimento da FRELIMO (a frente) é reconhecido por todos os moçambicanos de boa fé, e há reconhecimento dos méritos da geração de 62/64. Aliás, só estarmos a alimentar este debate em fruto das conquistas que têm o epicentro em Junho de 1962. Este , creio, não é um consenso fraco nem falso. Devemos à FRELIMO (a frente) muito do que somos hoje enquanto Nação.

- FRELIMO (a frente) metamorfoseou-se; assumiu novos desafios, numa nova realidade. Assumiu uma nova postura, novos combates em uma nova realidade. Conquistada a independência, não podia permanecer a FRELIMO (a frente), tinha que se assumir como o condutor dos moçambicanos nos desafios assumidos com a independência nacional. No fundo, estamos a falar da mesma organização, da mesma realidade, em contextos diferentes: no contexto da Luta pela Independência (cujo papel é inquestionável) e no contexto da governação do país (que dá mais panos para questionamentos, críticas e dissonâncias/falta de unanimidade) com seus erros e suas roturas.

Mas, Mapengo, como historiador, convirá que podemos analisar a FRELIMO (a frente) separadamente da FRELIMO (o Partido); podemos analisar o antes de 25/06/1975 e o pos 25/06/1975. Seria nesse exercício que separaríamos a FRELIMO (a frente) da Frelimo (Partido).

Júlio Mutisse disse...

É um facto, quase todos (se não mesmo todos) os nossos heróis foram "tirados" da unanimemente aceite frente, pelo seu papel na nossa trajectória de luta até a independência. Mesmo Craveirinha, o nosso Poeta Mor, tem um passado, se não na própria Frente, na causa da Frente. Devemos pôr em causa os nossos heróis pela "fatalidade" de virem, pertencerem e/ou identificarem-se com a causa da Frente? São menos heróis por virem de uma tradição de luta ou estarem identificados com esta? Me parece que muitas vezes que os questionamos tentamos, questionar a Frelimo (o Partido) quando, muitos destes heróis conquistaram o direito de serem tal mesmo antes do advento do 25/06/75 (Mondlane, Magaia e muitos outros por exemplo).

« trazer Eduardo Mondlane para “lutar por Moçambique” no século XXI» este é o desafio que proponho. Como bem dizes citando o Amosse, dentro da dimensão dos seus verdadeiros actos. Quem diz Mondlane diz qualquer outro de entre todos os que consideramos heróis. Este é o desafio. Não basta, de facto, obter a resposta de Magaia, de quem ele é etc., interessa-nos saber em que é que aquilo tudo que ele e representa, pode ser útil nos desafios do século XXI. Renovar os nossos heróis é tornar todo o seu simbolismo útil para os desafios de hoje e amanhã. Temos que encontrar isso nesses homens. Há isso em todos eles.

Matsinhe disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Matsinhe disse...

O Nelson, no nº1 desta série ficou sem resposta em 4 questões que julgo fundamentais:

1. que um herói o é basicamente pelos seus “feitos”, sejam eles genuína e reconhecidamente seus ou por alguma razão falsa e fraudulentamente atribuídos a ele.

2. porque é que por muitos anos nos disseram e fizeram acreditar que Eduardo Mondlane tinha morrido no escritório se como viemos a saber recentemente isso não coresponde a verdade. Seria Mondlane menos herói por ter morrido fora do escritório?

3. Quantas outras “desinformações existem em torno dos nossos heróis?

4. Quais dos seus feitos são realmente seus?

Eu voltarei a elas mas lanço as aqui para que nos debrucemos sobre elas.