terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Errand Boys - Cooperação Sim, Chantagem Não!!

Mesmo a fechar o ano, brindo vos com esta reflexão do meu amigo Phiri (obrigado por me enviar por email). Espero que 2010 seja melhor que todos os anos que passaram, que a esfera pública progrida no debate de ideias. Que, aqui neste espaço cibernético que cresce todos os dias, aquilatemos as nossas capacidades influenciando o que deve ser a agenda nacional a partir daqui de Moçambique sem andarmos a reboque do que os nossos "parceiros" dizem que deve ser a nossa agenda (sem insultos).

Errand Boys

Por: Tadeu Phiri

Têm sido veiculadas, por uma certa imprensa, notícias que referem que os doadores (G-19), também designados parceiros, estão a chantagear ao Governo, condicionando a sua “ajuda” à satisfação das suas exigências. A notícia é veiculada com o maior dos regozijos e a maior das satisfações dos seus autores! Isto é, está explícita a felicidade dos nossos compatriotas que veicularam tais informações, como quem diz: “que bom que o Governo está a ser chantageado pelo G-19”. Estamos muito atentos a estes moçoilos, mocinhos e moços de recados dos “doadores”.

É tanta a felicidade dos Errand Boys que até descrevem com minúcia os termos em que a chantagem será feita! “Se não se fizer isto deste modo e aquilo daqueloutro modo, a ajuda será cortada”! Mete pena ver moçambicanos a regozijarem-se pelo facto de os seus patrões estarem a chantagear o Governo do país que também é deles. Há não muito tempo recusaram-se terminantemente que estavam ao serviço de interesses estrangeiros. O que é que estão a fazer quando aceitam ser usados como moços de recados? A que interesses servem quando nos brindam e se regozijam com notícias que dão conta de que os seus patrões vão chantagear o governo?

Há nestes recados uma questão ética que pode ser levantada. Se é de diálogo que estamos a falar, e se esse diálogo está a ser feito com o Governo de um Estado soberano, porque esse diálogo tem que vir através dos Errand Boys? Os nossos amigos, os tais parceiros, esqueceram-se do endereço do Ministério dos Negócios Estrangeiros ou do Ministério de Planificação e Desenvolvimento? Como se espera que o Governo de um país deva reagir perante condições humilhantes a si colocadas através da imprensa?

Esta gafe ética pode não ser de todo inocente. Ela pretende transmitir aos moçambicanos de que os tais parceiros têm mais desvelo pelo bem estar do país do que o Governo do país. Pretendem transmitir a ideia de que os parceiros ocidentais amam mais Moçambique do que os moçambicanos. O que é obviamente falso, sendo esta realidade conhecida pelos tais parceiros e os seus moços de recado. Por este andar, não falta muito que os nossos moços de recados nos venham dizer que quando os seus patrões colonizaram África fizeram-no porque amavam África mais do que os próprios africanos. Façam-nos um favor amigos: poupem-nos desses vossos ataques histéricos de anti-patriotismo.

Podemos imaginar o resto da chantagem que os tais parceiros trazem. Dir-nos-ão que o nosso desempenho na luta contra a pobreza é fraco. E que se não melhorarmos até Março nos cortam a ajuda. Este absurdo ultimato parte do pressuposto de que estes nossos amigos estão mais preocupados com a nossa pobreza do que nós. Que tudo o que nós estamos a fazer para melhorar a nossa vida, tanto no campo como na cidade, fazemo-lo porque os doadores exigem. Que monstruosa presunção!

Virão dizer-nos que a nossa lei eleitoral não é satisfatória e que se ela não melhorar até Março nos cortam a ajuda. Esta grosseira condição ignora o esforço que as forças políticas deste país vêm fazendo desde o alcance da paz. A Conferência Multipartidária dos princípios da década 90 tinha como um dos seus objectives encontrar procedimentos eleitorais consensuais. Estes consensos continuaram a ser construídos na primeira, segunda e terceira legislaturas multipartidárias quando as forças políticas no parlamento procuraram incessantemente, aperfeiçoar a sua lei eleitoral, tomando também em conta as recomendações do Tribunal Supremo, do Conselho Constitucional, dos órgãos eleitorais, dos observadores nacionais, da academia e dos observadores externos. Essa busca incessante do consenso não foi determinada por chantagens de doadores nem por recados dos seus Errand Boys acoitados em alguns sectores do jornalismo moçambicano. Este país continuará a aperfeiçoar a sua lei eleitoral independentemente de chantagens e de recadinhos.

Não precisamos que “doadores” nos venham dizer o que carece de melhorias. Somos lúcidos o suficiente para percebermos o que está mal e carece de melhorias.

A “ajuda” não os dá o direito de nos chantagearem. Já podemos imaginar a pressão que será feita ao Governo que será formado no ano de 2010. Vão querer impô-lo agendas e, caso tais agendas sejam recusadas, a chantagem será a de que a “ajuda” será cortada. Vão se esquecer estes nossos amigos que houve um manifesto eleitoral que foi votado por mais de 70% dos votantes. Para eles o que interessa são as suas agendas e não a agenda dos moçambicanos.

Mas que fiquem claros sobre uma coisa: se não querem cooperar connosco, que não cooperem! Os moçambicanos não são servos dos doadores. Parem de nos ameaçar. E digam aos vossos moços de recados para pararem de nos transmitirem os vossos recados. Se querem cooperação, que seja por bem. Que fique bem claro que tudo que for melhorado no próximo quinquénio sê-lo-á por mérito dos moçambicanos. Não precisamos que venham pessoas de fora para nos lembrar que temos que resolver os nossos problemas. Nem precisamos que nos mendem recados através dos seus Errand Boys.

Cooperação sim, chantagem não.

18 comentários:

Anônimo disse...

Os nossos "parceiros" fazem às vezes um papel tão patético! Como se pode chantagear um governo que ainda não existe?! Nenhuma das suas exigências será satisfeita até Março. Mesmo que coincida com os nossos próprios desejos. As razões são óbvias. Guebuza vai renovar o seu governo, mesmo que mantenha a maioria dos actuais titulares. Vai provavelmente passar ministros duma pasta para outra. Nessas circunstâncias, como seria possível cumprir exigências despropositadas?

Nkutumula disse...

Esse tal de Tadeu e' um nervoso!

Concordo com a maioria das coisas que ele diz.

Voltarei com mais tempo para esmiucar o texto.

Um abraco

Julio Mutisse disse...

Comentando uma outra carta que repugnava estas práticas dos nossos amigos que, na nossa dificuldade, nos ajudam, escrevi perguntando: se é evidente que o Estado depende da ajuda externa (sublinho ajuda) DEVE ser consensual que os que nos "ajudam" nos façam chantajem e nos imponham as suas ideias?

Deverá a a "ajuda" ser o critério para, em cada momento, empowerem este ou aquele líder político e diabolizarem outro? Deverá a ajuda funcionar como arma de aremeço quando as suas projecções falham?

Posso não concordar em tudo com o nervoso do Tadeu mas que devemos ter "tom...." lá isso é verdade.

Caro anónimo, mesmo que o timing fosse realístico, a relação não deve ser baseada em ultimatos. Como diz o Basílio Muhate, "obviamente que quem apoia o orçamento do estado merece uma prestação de contas e exige transparencia e profissionalismo na gestão dos fundos disponibilizados" aliás, isso nós moçambicanos enquanto financiadores do OGE na medida em que o fazemos e enquanto beneficiários dessa ajuda devíamos fazer permanentemente enquanto cidadãos.

Como disse o Mapatse (Rui) "Cooperação internacional é assim mesmo, cada actor entra à busca de algo. Outros são mais polites, outros nem tanto. Cabe aos Moçambicanos saberem gerir o assunto." Por alguma razão estes doadores nos apoiam e não é SÓ pela nossa "pobreza" mas também de "muitas outras coisas" que beneficiam de Moçambique. Cabe aos Moçambicanos saberem gerir o assunto. Concordo.

AK47, espero por ti.

Nelson disse...

Eu sou da opnião(muito minha) que esse assunto tem sido tratado com uma dose muita exagerada de emoção tanto por uns(os que ficam do lado dos doadores) como por outros( que ficam do lado do governo). É nesse estado excessivamente emotico em que o assunto é abordado que ninguém conseguem ver o lado do outro. Uns não conseguem ver que na sua soberania à Moçambique não se pode impôr seja lá oque for. Os outros não conseguem ver que os governos que apoiam o nosso orçamento estão no direito de “exigir” que os dinheiros que os seus povos dolorosamente doam sejam usados exactamente para aquilo que o governo disse que eram as suas necessidades e não para despesas superflúas. Uns não conseguem ver que o facto de nos “ajudarem” em seja lá oque for esses governos não tem o direito de mandar em nós, outros não conseguem ver que as ajudas que recebemos são indispensáveis para os nossos programas de desenvolvimento e uma das condições para continuarmos a recebê-los é gerí-los com o mínimos de transparência.
Bem, enquanto se estiver nessa “embriaguez” das emoçõesv não fico nem dum nem doutro lado.
Moçambique é soberano! Aqui mandamos nós! Moçambique precisa de Mola que não tem! A mola manda quem tem!
Solução: vamos lá falar!

Júlio Mutisse disse...

Hehehehe, Nelson, prefere ficar em cima do muro. É legítimo. Eu acho que não deve ser só aos doadores que a transparência deve interessar como disse no meu comentário anterior.

Todos nós enquanto cidadãos militantes e conscientes devemos ter a preocupação sobre o destino que é dado aos impostos que pagamos. Ninguém quer ou deve aceitar que o seu dinheiro seja desviado por gente corrupta. O dinheiro que pagamos a título de impostos, tal como o dinheiro doado e/ou emprestados pelos nossos amigos ricos e suas instituições deve servir para melhorar as condições de vida dos moçambicanos.

Nisso há consenso. Este desiderato consegue-se quando todos e cada um abrirmos os olhos e controlarmos os nossos empregados que gerem o nosso dinheiro incluindo o que vem dos que nos ajudam; consegue-se com diálogo permanente. Nós enquanto moçambicanos temos que descobrir a fórmula pela qual esse diálogo com esses empregados pode, de certa forma, fluir e encontrar formas de pressão eficazes quando o diálogo não flui. Isso ainda não está eficazmente conseguido mas chegaremos lá e "muitos dos problemas que temos resultam das deficiências do sistema de representação" como um dia anotou Elísio Macamo

O que nós temos que tentar fazer é perceber que haverá sempre uma tentativa dos "nossos amigos" de se mostrarem relevantes. Por vezes tenho medo de concordar com o Severino Ngoenha citado por Elísio Macamo que diz que "o nosso sistema político não opõe partido no poder a partidos na oposição, mas sim classe política nacional e indústria do desenvolvimento." Mete me medo quando penso nesta coisa de "relevância" dos nossos amigos e me lembro da tese que o mesmo Elísio um dia tentou formular numa série de postagens segundo a qual "se a corrupção não existisse ela teria de ser inventada pela indústria do desenvolvimento, pois a ameaça que ela representa é funcional à reprodução da própria indústria do desenvolvimento." Portanto, se lhe entendi, e olhando para o caso concreto de Moçambique na sua "relação" com os nossos "amigos" do G19, a corrupção e os eventuais problemas eleitorais que possam se verificar, são essenciais para manterem uma posição ou para se reforçarem caso aparentemente estejam a perder alguma hegemonia. Mesmo quando não existam ou não sejam graves, há que chamá-los a colação para alguma coisa.

Há de convir comigo amigo. Me parece que é assim.

Martin de Sousa disse...

Para mim me parece evidente que estes senhores do G19 estão mesmo a procura de uma forma de se manterem visíveis.
De facto os nossos partidos oposicionistas já há muito que demonstraram a sua incapacidade de se revelarem como alternativa ao partido hegemónico e governante há 35 anos e, os G19 e outros, não sendo interlocutores legítimos a nível da discussão de certas matérias, apresentam-se usando o poder e influência que os muitos dólares que doam a Moçambique para nos achincalhar, isso tudo perante o reforço da capacidade interna de nos auto-gerirmos.
Ainda há um longo caminho para percorrer mas o anúncio de que até 2012 vamos diminuir o nível de dependência deles é assustador; há que ameaçar estrangular essa possibilidade, há que demonstrar que estão aí, vivos. Por isso concordo com a tese do Macamo, na nossa realidade mesmo que (como em nenhum outro lugar do mundo) a corrupção seja reduzida a zero, e as eleições sejam transparentes terão eles que inventar problemas para continuarem a dizer PRESENTE ainda estamos aqui e condicionarem nos.

Anônimo disse...

Individuos como Machado da Graca, que muitos de nohs crescemos admirando o seu patriotismo, aparecem-nos hoje a acobertar tentativas de nos humilhar protagonizadas pelo G-19. Seria bom voltar a ouvir a voz vibrante de Machado da Graca, todas as Sextas Feira na RM a conclamar o povo em grandes tirads patrioticas. Aquilo sim era patriotismo. Muitos de nohs a quem chama patrioteiros somos meros aprendizes do grau de patriotismo que Machado da Grac protagonizou.

Ainda vou escrever um artigo a tentar explicar o que fez mudar este individuo e muitos como ele. Deve estar uma grnde decepcao para o meu pai que, todos os dias as 13 horas, depois do noticiario da RM, ordenava-nos silencio total para ouvir este oportunista e outros da sua estirpe.

Tadeu Phiri

Júlio Mutisse disse...

Tadeu, estás com tudo. Espero por si.

Júlio Mutisse disse...

Martin, A questão da transparência na gestão dos fundos que os nossos brothers do G19 nos dão é importante para eles. Os governos desses países não podem aparecer aos olhos do seu povo como estando a financiar governos corruptos e não me repugna que eles instem o Governo a pautar por transparência, desde que isso não seja na base de atitudes típicas de capatazes e/ou, devido a nossa pobreza, a fazerem nos de moleques obrigando-nos, inclusive, a mostrar as partes íntimas.

Precisamos de ajuda para nos afirmarmos como Estado. Mas por vezes dou comigo a pensar: será só a questão da transparência que faz correr os nossos amigos?

Que lições podemos tirar dos fenómenos MDC (Zimbabwe), COPE (RSA), MDM (Moçambique), Marcolino Moco (em Angola) e outros casos do género por este mundo fora? Haverá completo "desligamento" dessas movimentos todos com a insistência em apresentar as lideranças desses países como corruptas, sanguinárias, intolerantes como temos ouvido um pouco por este mundo? Não será esta movimentação uma forma de forçar o colapso dos movimentos libertadores que governam esses países?

São muitas perguntas e o meu desejo é que em nenhuma hajam razões fundadas para as formular. Espero e deixo isso com todos vós.

Unknown disse...

O que é ser patriota? do mesmo jeito que a entrada de fundos externos impõe condicionalismos ao nivel do nosso país e do governos, não vejo mal nenhum em o G19 também condicionar suas doações! quem não concorda deixa! só

Mutisse, veja por exemplo alguém diz " para eu poder te ajudar você deve garrantir 1º tranquilidade, justiça, equidade e participação de todos os membros da sua famílias" para o Patriota esta pessoa estará a chantagear-lhe?

Ora, se o Patriota acha que isso é contra os seus valores cívicos e patrióticos, não adira a essa ajuda. só

Pelo menos Eu nunca ouvi falar de uma cooperação sem regras e sempre o não cumprimento das mesmas implica automaticamente o romprimento da cooperação mesmo dentro das nossas famílias.

O nosso maior problema está na definição de o que é que constitui segredo e porque?

hoje há tanta coisa que não pode ser revelado ao povo porque é segredo do Estado! criando à mesma medida condições para muitos escândalos financeiros.

Brother, o ACTIVO DEVE SER = AO PASSIVO. Nada de inventar patriotismo para escurecimento dos nossos processos financeiros.

O que é íntimo no processo financeiro do Estado? Porquê?

Júlio Mutisse disse...

Chacate meu irmão, bom ver te aqui antes da "guinada" para 2010. Há de ter percebido que não preconizo uma "cooperação sem regras." Acho legítimo que esses nossos amigos exijam de nós enquanto receptores da ajuda: transparência e probidade na gestão e aplicação desses fundos. Aliás dei conta disso nos comentários anteriores.

Mas convenhamos caro Chacate, uma coisa é pedir nos que sejamos transparentes e íntegros na gestão dos fundos que recebemos outra é dizer: ATÉ QUARTA-FEIRA QUERO QUE FAÇAS ISTO, ISTO e AQUILO. ATÉ MARÇO temos que melhorar lei eleitoral, etc etc. Convenhamos, são estas as regras que temos que seguir na "cooperação"? Imposição?

Para mim patriotismo é AMOR a pátria. Só amamos o que estimamos, coisas de que temos ORGULHO. O nosso orgulho não pode nos deixar cair em certos males Chacate e temos que acordar para a ideia de que não há NENHUMA ajuda desinteressada há ganhos repartidos nas relações que estabelecemos com outros Estados.

Anônimo disse...

Chacate, a ideia de que os que estão contra as humilhações do G-19 o fazem por estar a favor da falta de transparência é uma falácia. Não ouvi nem li nenhum deles dizer que o dinheiro da ajuda deveria ir parar nos bolsos de umas poucas pessoas. As pessoas que inferem isso o fazem para matar o debate.

É claro que deve haver auditorias periódicas para certificar que o dinheiro foi usado de acordo com as regras financeiras e de procurement, para certificar que os objectivos acordados PREVIAMENTE foram cumpridos, etc. O conteúdo dessas auditorias é definida em conjunto pelo Governo e pelos doadores.

O que estamos a dizer é que nenhum doador deve aparecer com exigências fora do quadro acordado nas auditorias. Ninguém deve sonhar com um GUN e, amanhã, aparecer a condicionar a continuidade da cooperação à implementação do sonhado GUN.

Ninguém deve ir estabelecer a sua própria definição da corrupção, as suas próprias percepções de corrupção e pretender que o país receptor de ajuda adira a essas definições e percepções. Ninguém faz uma definição unilateral da boa governação e a impõe em forma de chantagem ao outro parceiro. As definições, os indicadores e os objectivos a atingir na luta contra a corrupção são estabelecidos por ambas as partes.

No âmbito da cooperação definimos os princípios gerais de um Estado de direito ao qual todos nos devemos ater. Não é um Todd Chapman qualquer sonhar com um princípio confuso de inclusão e achar que o deve impor aos seus parceiros.

É disso que estamos a falar, caro Chacate.

Tadeu Phiri

Anônimo disse...

caro julio e demais comentadores, acho a vossa discussão interessante e espero que continue por muito tempo. gostaria de sugerir mais alguns elementos. o primeiro diz respeito a nos proprios, nomeadamente o que estamos a fazer para prescindirmos desta ajuda a medio prazo. vejo pouco e isso parece-me mau. temos que mostrar que esta dependência nos incomoda com acções concretas destinadas a acabar com ela. o segundo elemento eh um apelo a diferenciação. o discurso de diplomatas eh diferente do discurso dos tecnicos da cooperação, e isso eh importante. o diplomata ocidental entre nos parte, em regra, do principio de que a sua missão eh civilizacional e não de representar os interesses do seu pais entre nos (eh claro que pode haver tambem correlação aqui, mas espero que entendam o que quero dizer). pensa que nos deve dar licções. alguns levam isto tão a peito que acabam ferindo as regras elementares da diplomacia, sobretudo as regras de não ingerência em assuntos internos. isso vem do facto de muitos deles não serem capazes de definir os interesses dos seus paises no nosso pais para alem da questão da ajuda. ja perguntei a diplomatas ocidentais em maputo se eram capazes de identificar interesses para alem do auxilio. olharam-me com perplexidade. os tecnicos da cooperação têm uma outra agenda. a estes interessa que o pais que eles ajudam não dê nas vistas nos meios de comunicação dos seus paises. isso pode pôr em perigo os niveis de ajuda o que, em primeiro lugar, afecta as agências onde eles trabalham. não conheço nenhum exemplo de corte de ajuda a um pais so porque os contribuintes acharam que se tratasse duma ditadura ou dum regime que violasse os direitos humanos. mesmo no caso da africa do sul do apartheid foram necessarias acções concertadas de protesto por parte dos movimentos anti-apartheid para que os paises ocidentais deixassem de apoiar o regime minoritario de forma directa. isto não põe em causa o direito que os doadores têm de garantir que a sua ajuda seja bem empregue, mas os argumentos assentam sobre pes de barro e são desonestos. so ha dois meses, por exemplo, eh que a alemanha decidiu acabar com o auxilio ao desenvolvimento que concedia a china apesar de ter andado a reclamar a violação dos direitos humanos naquele pais. curiosamente, a razão dada para parar com a ajuda a china não foram os direitos humanos, mas sim o facto de que a china ja não precisa disso. para perceber isto nem precisamos de ir muito longe: o nivel de tolerância da ma governação, por exemplo, eh mais elevado para angola do que para nos e isso por razões obvias. nada contra os nossos irmãos angolanos que não têm culpa de terem sido abençoados com tantos recursos naturais. o terceiro elemento eh muito serio: ha um deficit muito serio de democracia nesta coisa do auxilio e esse eh para mim o principal argumento contra este negocio. a politica ocidental de auxilio ao desenvolvimento eh o resultado dum processo politico nesses paises, mas esse resultado chega a nos em forma de solução tecnica que não deve ser objecto dum processo politico nosso. o resultado eh que ficamos refens de burocratas internacionais com um entendimento deficiente da democracaia e que se tornam em verdadeiros elefantes na nossa sala de estar. enquanto a industria do desenvolvimento não perceber que a sua ajuda sera sempre objecto de processos politicos internos - que incluem o uso indevido de fundos e tudo isso - ela vai estar metida num verdadeiro trabalho de marracuene. mas a questão principal eh: que estamos nos a fazer para prescindirmos de vez deste pessoal? abraços.
e. macamo

Basilio Muhate disse...

Caro Macamo

Boa abordagem. Nunca tinha olhado para esse lado da moeda que apresentas. O que eu acabo compreendendo é que o cerne desta questão dos doadores e dos ultimatos que impõem ao Governo de Maputo começa e termina em Maputo. As contradições entre o discurso da diplomacia ocidental e dos seus representantes em Maputo são demonstrativos do tal "entendimento
deficiente da democracaia e que se tornam em verdadeiros elefantes na nossa sala de estar" por parte de alguns burocratas.

Como sair da dependência: produza, consuma e exporte Moçambicano.

Anônimo disse...

caro basilio, isso mesmo. o assunto eh local, isto eh maputo. tenho tido o privilegio de conversar com politicos bem situados por ca e a sua sensibilidade eh outra. ainda recentemente participei num encontro que incluia os responsaveis da cooperação dos principais partidos alemães. a tonica do encontro foi completamente diferente do que ouvimos a partir de maputo. não eh que eles aceitem a corrupção, mas por serem politicos sabem como a vida politica eh. eles têm uma sensibilidade diferente da de burocratas. e o nosso principal problema em maputo são os burocratas. infelizmente, eles têm meios para envenenar o ambiente. abraços. e. macamo

Erva disse...

Creio que devemos ficar focados num ponto: o indicador da eficacia da ajuda externa. E qual eh o indicador de que a ajuda eh eficaz? Eh justamente a reducao da dependencia da ajuda. Se a ajuda externa nos tornar cada vez menos dependentes dela, entao a ajuda serah eficaz. Se pelo contrario, nos tornamos cada vez mais dependentes da ajuda, entao a ajuda nao eh ajuda, eh opressao economica.

Agora vos pergunto meus queridos: A ajuda externa eh ou nao eficaz para Mocambique? A nossa dependencia aumentou ou diminuiu?

Anônimo disse...

cara erva, penso que devemos prestar atenção a varios pontos. o que refere eh um dos mais importantes, razão pela qual sugeri que procurassemos saber o que estamos a fazer para prescindir dessa ajuda. neste sentido, creio que ficava melhor ainda perguntar qual devia ser o nosso indicador de eficacia porque eh evidente que ha mais indicadores. a economia politica das agências de desenvolvimento eh tal que faz da ajuda permamente a sua razão de ser. assim, ajudar para ajudar mais ainda pode ser um indicador de eficacia. não pode ser o nosso indicador, obviamente, mas não o podemos ignorar porque ele estrutura o tipo de ajuda e o tipo de conselhos que recebemos. a sua pergunta sobre se a nossa dependência aumentou ou diminuiu como forma de ajuizar sobre a eficacia da ajuda eh bastante sugestiva e pertinente, mas a sua simplicidade pode nos impedir de ver outros factores igualmente importantes. por exemplo, como determinar a propria dependência. como escrevi ha dois comentarios atras, os chineses ate ha pouco recebiam ajuda financeira da alemanha. eram dependentes? não obstante, penso que eh no sentido da sua pergunta que a nossa reflexão deve caminhar. cumprimentos. e. macamo

Erva disse...

caro e. Macamo, não tenho duvidas d q we have to be focused in more points. pra mim ha muitos indicadores d eficácia d ajuda externa aos países q dela se beneficiam. eu preferia, ao invés d dizer economia politica das agencias, dizer q a politica económica das agencias d desenvolvimento é a d fazer com q os países beneficiários continuem a precisar d sua “ajuda”. é q s nenhum país precisar d sua “ajuda ao desenvolvimento” tais agencias deixarão d existir, com muitas consequências pra os cidadãos dos países financiadores. sobre os conselhos q recebemos dessas agencias, um deles foi o d entregar a industria do caju ao mercado aberto onde ganha quem paga melhor. qual foi o resultado? o descalabro total d uma das nossas maiores fontes d importacao d divisas. será esta ajuda eficaz? para alem d eficácia d ajuda na redução d dependência, entendo q devemos deixar d depositar ou investir as nossas fortunas no exterior e passar a confiar nos nossos bancos e na nossa economia. veja q com tanta gente a morrer de fome ha pessoas com dinheiro enterrado q podia gerar emprego e produzir riqueza. em nome de um pseudo-capitalismo deserdamo-nos dos nossos deveres morais e sociais para com um povo que mesmo comfome sabe sair de casa e ir para as urnas antecedidas de longas filas pra legitimar a riqueza exportada q lhe retira a possibilidade d um dia dizer que terá valido a pena o seu voto. ha outros indicadores mas não me vou alongar pq ja estou a entrar na politica. cumprimentos. P. Pinto