2011 já leva 4 dias e a julgar pelos debates que correm na blogosfera (aqui e aqui por exemplo), muitos dos elementos mais activos já regressaram de “férias” e alguns a nós se juntarão em breve.
Um novo ano o que significa? Continuidade? Ou será um novo começo? Que esperanças/expectativas criamos para um novo ano?
Em função do balanço que fazemos das nossas realizações, dos sucessos e insucessos, da constatação de que a acção Y conduzida de certa forma poderia ser conduzida de forma diversa perspectivamos 12 meses com suas acções e suas metas.
Um dos meus desejos a todos que “pisam” estes espaços não é novo nem se quer é original: desejo que o nosso espírito crítico em relação ao rumo do nosso país não ocorra em função do amor ou ódio profundo que nutramos por quem conduz o país como um todo, ou determinada autarquia em particular; que a nossa crítica tenha uma fundamentação que não tenha isso como pressuposto, mas sim a constatação sincera de realidades mostrando sempre alternativas possíveis para os fenómenos que observamos.
Mas porquê chamar isto para aqui? pelas nossas práticas reiteradas nesse sentido. Pela cegueira que, parece, tolda as mentes de muitos de nós e o nosso sentido crítico na visualização do nosso país tal e qual como ele é. Pela cultura do caos, pelo pregar da ideia de que no país vai tudo errado e pela defesa da ideia de que quem defende a ideia da existência de coisas boas “está feito com o sistema.” Temos que mudar. Acho eu.
Que morra a “cultura da espada.” Pensar diferente não nos faz necessariamente inimigos. E não temos que nos matar por isso. Estes espaços de diversidade de ideias são úteis até para o desenvolvimento deste Moçambique que, afinal, nos une. Mal de nós seria se voltássemos a época do pensamento unânime como, implicitamente, e inconscientemente, alguns dos companheiros têm defendido, principalmente quando se tenta romancear o período anterior a 1986/1990.
Portanto, tudo o que desejo é que tenhamos novos hábitos de debate, mais abertos, menos truculentos, mais objectivos e baseados em factos reais; que morram os hábitos de torpedear tudo e todos; que morra o hábito de vermos corrupção em tudo, chega de fazermos coro a pessoas que lançam suspeitas a tudo e todos que ascendem na vida como se elas próprias vivessem na mais absoluta das misérias, a ponto de nos questionarem sobre os 4X4 que muitos usam como se eles andassem de bicicleta. Que os que fazem coro desçam a bairros como Guava, Singhatela, Nkobe, Siduava, Nwamatibjana, Mali, Bunhissa, Costa do Sol (não na Marginal) etc, e constatem a realidade dos que ai vivem e nos digam da utilidade ou nao de um 4X4.
14 comentários:
Priiiiiiiiiiiiiii... Que comece o jogo!
Heheheh Xim. Que comece o jogo. Por vezes sinto que continuamos prezos ao modelo dos primeiros anos de independencia. A forma como nos comportamos em debate demonstra a necessidade extrema que sentimos de ter toda a gente a pensar igual, razao porque surge aquele sentimento implicito de que quem nao defende o mesmo que nos esta contra nos. E nao pode ser assim.
Temos que matar a cultura da unanimidade e potenciar a diversidade de opinioes de onde surgirao ideias claras sobre o que queremos de nos como nacao.
Mutisse,
É interessante, pois o teu pensamento, a tua sugestão me parece ser de um sentido, e, isso é permanente, não muda. Porquê não estabeleces também em sentido inverso? Achas, por exemplo, que não se pode questionar à distribuicão frequente de carros para um grupinho de gente e sem nada de concreto a fazer (This is the second time that the CNE members have received vehicles from the state - the first time was in early 2009) ao invés de falarmos de contratacão e construcão de escolas. O que tem nada a ver por exemplo o carro privado com discutir sobre os bens Estado.
Eu desejo também o ano 2011 nos conduza à nacão, aos problemas da nacão, a ideias transparentes e de exigência à transparência. Desejo que seja ano de menos fintas nos debates.
Um abraco a todos
Meu caro amigo,
Juro que nao percebi o seu questionamento, principalmente no que se refere ao "nunca muda" e "ao sentido inverso" que deve ser estabelecido por mim. Nao ficou claro.
Podemos questionar tudo meu caro amigo. Tudo mesmo. E ao questionar nao podemos partir de ideias pre-concebidas. Podemos questionar nao necessariamente para negativarmos a priori mas para buscar fundamentos para uma medida que o Governo reputa necessaria. Neste exercicio podemos chegar a conclusao de que, se calhar, melhor eram mesmo as salas de aulas e nao os AZARAS ou podemos concluir da sua necessidade.
A sua tirada dos carros privados e bens publicos nao eh clara. O que digo no meu post eh essencialmente isto: temos que parar de negativar TUDO e TODOS; temos que deixar de fazer coro aqueles que, parece, querem nos ver na miseria da qual nao devemos sair porque nos apontarao o dedo como corruptos a ponto de questionarem ate os carros em que andamos sem mesmo verificarem ONDE VIVEMOS e em que condicoes estao as vias de acesso...
Em suma, temos que parar de fazer coro aqueles que nos fazem temer sair da pobreza ja que qualquer sinal pode ser questionado.
Julio,
A Mana Ximbi tem razao, arrancaste com o jogo, decidido !
Isso 'e optimo, da uma BOA prespectiva pra 2011, muito BOA mesmo.
Vamos tentar o manter o "ritmo" de Jogo, e os "resultado" vai aparecer com naturalidade.
De facto, "Pensar diferente não nos faz necessariamente inimigos. E não temos que nos matar por isso. Estes espaços de diversidade de ideias são úteis até para o desenvolvimento deste Moçambique que, afinal, nos une."
Temos que dar valor a este pais enorme e maravilhoso que nos une e ultrapassarmos determinadas manias.
Este pais e nosso e depende de nos produzir solucoes para o seu desenvolvimento. Nao e o pensamento COMUM que temos que cultivar e mesmo a diversidade de pontos de vista a partir da qual podemos chegar longe.
Bom ano e tudo de bom para Mozie.
Chamuale Mutisse,
Sinto que és o único, no seio da fauna frelimista, que tenta remedear o mal com apelos. O problema do país é só um: a Frelimo. Esta devia arrumar as botas e voltar ao seu estado primitivo, porque na civilização das ideias já provou que não serve para governar o país. Bsta.
Zicomo
Mutisse, desculpa-me se não fui claro. Por exemplo escreves:
"Pela cultura do caos, pelo pregar da ideia de que no país vai tudo errado e pela defesa da ideia de que quem defende a ideia da existência de coisas boas “está feito com o sistema.”"
Julgo não teres feito isto no sentido inverso, pois que a tendência é essa também que alguns que querem falar ou querem que SÓ se fale das rosas. Assim perdemos o tempo e o sentido de discutir o que é preocupante.
Quanto aos carros privados, pode ser que nos desentendemos. Acho que o que se questiona ou se pode questionar o carro do Estado ou que eventualmente tenha sido adquirido por fundo públicos ou por esquemas de corrupção. Tenho certeza que quem adquiriu seu bem por vias lícitas não se preocupa pelo questionamento de quem não sabe. Acho necessário questionar sobre bens de quem é gestor do bem público. É pela mesma razão que eles devem declarar os seus bens. E estamos a fazer mal por não exigirmos que essa declaração seja pública, assim reduziam-se as especulações. Pode-se dizer que há autoridade a controlar, mas se eu perguntar se foi essa a detectar Cambaza e António Munguambe, qual será a resposta?
Na minha opinião, se há muitas especulações e muito sérias ou graves, é porque há alguma coisa que falta – a transparência.
Viriato Dias,
Acho redutor achacar TODOS os males a FRELIMO e os seus sucessivos governos. Ao tomar essa perspectiva excluis todos os factores internos e externos que condicionam o pais e o continente no geral.
Nao estou com isto a dizer: "a Africa esta assim e nao eh a FRELIMO que manda em toda ela" como que a justificar tudo o que acontece aqui. Nao. Estou a tentar dizer que ha mais que se pode discortinar para alem de eventuais erros governativos/politicos que a FRELIMO tenha cometido ao longo dos 35 anos de independencia (seria presuncao demais achar que nao houve erros).
O Pais esta a fazer os seus esforcos para se desenvolver. Falta muito eh verdade e uma receita interessante que meu amigo Basilio Muhate deixou para nos livrarmos da dependencia (que me incomoda e cujo fim sera indicacao de que estamos a desenvolver) eh produzir mais e melhor, consumirmos e exportarmos mais. Um dia vamos conseguir. Ja disse Hillary Clinton que a estratégia de comércio e desenvolvimento do governo de Barack Obama salienta "o estímulo a mercados regionais dentro da África, o aumento do comércio e da eficácia da ajuda e trabalho com governos parceiros para promover reformas estruturais e uma gradual liberalização do mercado". Portanto, temos que continuar a lutar por aumentar a producao e a produtividade mas a lutar pela remocao das barreiras que continuam a existir que condicionam o nosso crescimento independentemente da FRELIMO. Isto so para dar um exemplo.
O que tento fazer nestes exercicios eh chamar a nossa atencao para o pais, para os seus problemas cujo conhecimento vai nos permitir desenhar solucoes adequadas e validas. Parece que, muitas vezes, nos desviamos desse fito.
Amigo Reflectindo,
Respondo ao seu ultimo comentario retomando o ultimo paragrafo do meu comentario anterior.
Mocambique eh feito de coisas boas e de coisas pouco boas. O investimento em infra-estruturas, o avanco da rede escolar e hospitalar, a nova abordagem no sector pesqueiro rumo a uma maior relevancia deste sector, os ganhos macroeconomicos e muitas outras coisas fazem parte deste pais e visam resolver os problemas dos mocambicanos a curto, medio e longo prazo. Alias, uma das coisas que se aponta para Africa e para Mocambique em particular eh a sua infra-estrutura desadequada e temos visto nos ultimos tempos um forte investimento nesta componente que vai ser importante para resolver os problemas de mobilidade e escoamento da producao e, inclusive, para a potenciar.
Eh claro que para alem dessas coisas boas (algumas das quais so sentiremos o seu efeito em 2/3 anos) ha coisas que podemos discutir como nao estando muito bem: do investimento publico na agricultura (tido como alavanca de desenvolvimento do pais), os linchamentos e suas causas (que vao para alem da "ausencia do Estado" constantemente aludida pelo Dr. Serra), as drogas e seus maleficios, a aparente fragilidade de algumas instituicoes etc. Tudo isto pode e deve ser discutido. A minha perspectiva nisto eh que tomemos estes DESAFIOS de forma construtiva. Alias, mesmo quando abordamos as coisas boas, podemos sempre dizer da nossa visao sobre outras alternativas viaveis de proceder em relacao as mesmas coisas que as reconhecemos como boas.
O meu problema nisto meu caro eh que nos limitamos a elencar as coisas mas e nao damos alternativas.
Sobre os carros pagos com o nosso dinheiro nao podemos dormir. Tem que estar tudo clarinho. Os eventuais sinais de enriquecimento baseado no cargo dos nossos dirigentes tem que ser investigados e clarificados. Alias isso ja esta a ser feito. Veja os exemplos que cita.
Agora os outros... Deixe me dizer te meu carro amigo que os jovens mocambicanos paulatinamente abandonam a "moda" das dependencias no centro da cidade; todos estao virados a procura de espacos nos arredores das cidades (pelo menos em Maputo e Matola) para construir a sua casa. Muitos desses espacos nao teem infra-estruturas absolutamente nenhuma; os jovens estao a desbravar a "mata" e instalar-se muitas vezes com condicoes de acesso dificeis. Fruto disso, os carros pequenos sao inviaveis para a maioria destes jovens e a alternativa sao as 4X4. Estes jovens apertam-se e compram esses carros que os permitem chegar as suas casas e nao so. Acontece que quase todos trabalham no centro urbano onde os transportes publicos sao, de longe, ineficientes e a solucao eh trazer esses carros a baixa, Sommerchield etc.
(continua)
Continuacao.
Para pessoas que vivem na Polana, Sommerchield etc, causa espanto tanto 4X4. O Professor Serra foi um deles e disse "Dei-me de repente conta de que Maputo está literalmente transformada numa cidade de carros 4x4. Esta manhã, junto a um semáforo da Julius Nyerere, o meu pequeno e velho carro estava quase cercado por dez a-todo-o-terreno. Símbolos de prestígio, ícones de poder, ocupadores enormes de espaço, viaturas de estradas difíceis transformadas em artifícios urbanos." Esqueceu da UTILIDADE PRATICA e REAL dessas viaturas para a maioria dos que as usam.
Depois vem por exemplo, Mia Couto, falar de sapatos sujos e de uma "atabalhoada preocupação em exibirmos falsos sinais de riqueza" e fala de que " uma viatura já é não um objecto funcional. É um passaporte para um estatuto de importância, uma fonte de vaidades. O carro converteu-se num motivo de idolatria, numa espécie de santuário, numa verdadeira obsessão promocional." Portanto, desconhecedor das realidades de que falei acima, Mia tambem ve em todos ou quase todos que usam determinado tipo de viatura como exibicionistas. Gostaria de leva-lo a Siduava, Guava e outros pontos que merecem atencao dos jovens de momento. Seria bom. A verdade eh que ele deve ter um 4X4. Acho prudente que todos escolham um carro compativel de acordo com um conjunto vasto de situacoes.
A citacao do Mutisse ao professor Carlos Serra vem daqui: http://oficinadesociologia.blogspot.com/2008/08/44-por-todo-o-lado.html
Bons tempos aqueles em que eramos permitidos entrar la. Foi um debate interessante e que continua actual. Os bairros de expansao surgem em todos os lados e os poderes publicos (estatais e autarquicos) nao sao pioneiros dessa expansao: sao remediadores dos problemas que se criam pelo crescimento desordenado.
Sei que a Matola do Mutisse, Amosse e outros ja tem um plano de estrutura urbana. Espero que, pelo menos ai, corrijam as anomalias e projectem de forma organizada novos bairros e acabe o caos de Tchumene e a desorganizacao de bairros como Singhatela do Muthisse.
Um abraco.
Não tenho hábito de murmurar e muito menos criar guerras na blogsfera como acontecia há anos. Espero que este ano não seja assim.
Portanto, o que quero dizer, não vejo aqui o motivo de se pôr em causa a postagem de Maputo: 4x4 por todo o lado de Carlos Serra e mesmo o texto de Mia Couto. Concordo que a partir destes textos possamos discutir com diferentes pontos de vista. Uma discussão acesa que não passa de considerar as ideias dos outros de fracas porque isso pode significar desprezo.
Aliás, a discussão na referida postagem de Carlos Serra foi salutar, cada um dando o que pensava dos 4 x 4. Mutisse foi daqueles que justificou a razão pela qual tinha tal tipo de carro e ainda aproveitou falar do problema de transportes urbanos. Matsinhe fez também as suas contribuições. A julgar, as diferenças foram bem aceites e respeitadas nos comentários daquela postagem e é o que devia acontecer. Ninguém falou de argumento fraco.
Por outro lado, UmBhalane enriqueceu o debate ao afirmar que o problema não era apenas de Maputo ou Moçambique com problemas de buracos nas ruas ou estradas. Segundo ele isso era também no Porto-Portugal.
Mas acreditemos que os motivos para ter 4 x 4 não os mesmos para todos. Portanto, este como qualquer outro caso, devíamos evitar generalizá-lo.
Acho bom quando se criam postagens que convidam para um debate com diferentes pontos de vista.
Para plagiar as palavras de Matsinhe, bons tempos eram aqueles, em que aceitávamo-nos na diferença. Aqueles tempos em que construíamos relações horizontais ao invés de verticais entre nós. São tempos perdidos, mas talvez recuperáveis.
Abraço
Eu creio que sao recuperaveis. Alias, creio que as nossas conversas aqui no IDEIAS SUBVERSIVAS e ate no seu blog recuperam ou recuperaram esses tempos.
Batemo-nos eh verdade, algumas vezes com algum vigor no palavreado mas, invariavelmente, la estamos noutro debate juntos de vez em quando ate a concordarmos total ou parcialmente uns com os outros. Acho isso bom.
Retomei esta questao aqui pela referencia recente que se fez sobre a mesma questao. Fez bem o Matsinhe ao ir buscar aquele debate no DIARIO pois mostra a diversidade de abordagens que um mesmo assunto pode ter e muito do que se disse la nao eh de se deitar fora, isso, claro, tirando a generalizacao da ostentacao em todos aqueles que escolhem fazer se circular nesses carros.
Numa coisa concordo com o PR. Nao devemos ter medo de mudar de vida; ser ricos. Nao devemos ter medo de depois de anos a andarmos de chapa, e ponderados todos os pros e contras, passarmos a andar de 4x4 ou no mais simples dos carros que existem.
Nao devemos olhar para aqueles DITOS todos como inibidores do nosso desejo de nos sentirmos confortaveis.
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