quarta-feira, 27 de abril de 2011

É Esta a Oposição Que Temos…

Podemos conceber um Partido Político como um grupo organizado formal e legalmente constituída, com base em formas voluntárias de participação, numa associação orientada para influenciar ou ocupar o poder político ou como união voluntária de cidadãos com afinidades ideológicas e políticas, organizada e com disciplina, visando a disputa do poder político.


Seja qual for o conceito que usemos, o elemento organização, ideologia, disciplina e orientação para a conquista ou disputa do poder político estão sempre lá. Podemos encontrar isso nos partidos políticos da oposição em Moçambique?


Sendo mais específico: será mesmo a Renamo um partido político? A sua actuação se enquadra na actuação típica e específica dos partidos políticos que, como se sabe, são organizados, disciplinados e têm uma determinada ideologia? Partindo da sua actuação, que indícios podemos colher de que, efectivamente se “trata de um partido político” sério, que conduz as suas acções tendentes a uma possível conquista, exercício e manutenção do poder?

A sequência dos factos não me dão alento de que aquele seja, verdadeiramente, um partido político. Das ameaças de manifestações que vem desde 2009, da exigência de pseudonegociações para alterar questões já subsumidas na Constituição da República, até declarações desconectadas revelando uma falta de articulação entre os membros ou entre Nampula, Beira e Maputo.

Como referido no post anterior o MDM está em crise. Mesmo do próprio MDM ninguém procura esconder a existência da dita cuja e a ideia de expulsar ou não expulsar alguns membros confirma tal.


Espantoso é o argumento do retorno ao monopartidarismo usado por muitos destes partidos. Por vezes penso que o acusado de todos os dias deveria dar assessoria aos seus adversários para “funcionarem” como deve ser, como verdadeiros partidos políticos… de outra forma estamos mal.


Talvez cabe concordar com o Elísio Macamo quando diz que “um partido que se constitui para derrotar um outro partido (neste caso a Frelimo) não me parece bem apetrechado para a vida como partido político. Os partidos deviam nascer para trabalharem na criação de condições para que a sua visão de sociedade se realize.” Seguindo este pressuposto, a minha decepção amaina: é que de facto muitos partidos em Moçambique nasceram para derrotar a Frelimo e são poucos ou nulos os que trabalham para a criação de condições para que a sua visão de sociedade se realize. Se existem que me enunciem não só os dito cujos mas as visões respectivas.


Continuo a orar pela emergência de partidos que desafiem o que existe através da formulação de projectos claros de sociedade e por eles lutarem como sugere o Macamo Elísio. Isso faz falta ao país. enquanto isso, entretenhamo-nos com esta oposição que temos.

2 comentários:

Matsinhe disse...

Kalitche não conseguiu colocar este comentário directamente aqui no Blog. Faço o por ele:

Júlio a expectativa de vida dos partidos da oposição em Moçambique está reduzindo-se cada dia que passa e isso pode levar-nos a uma situação de ficarmos sem partidos da oposição e sermos acusados de promover o mono-partidarismo. Começo a dar razão um amigo que, em conversas de bar, disse “ estes gajos vão obrigar-nos criar um partido politico só para garantirmos a democracia”... Júlio, Como esperar sustentabilidade de partidos dirigidos, na sua maioria, por gente desempregada e sem especialidade técnica nem vocação empresarial nenhuma isto é, de barriga vazia? Eu acho que a fome está no cerne da insustentabilidade dos nossos partidos da oposição. Que coesão e discussão de ideias esperas nestas circunstâncias? Eu sinceramente estou muito zangado e desiludido com o MDM. Deles não esperava isto que está a acontecer.
Kalitche

Anônimo disse...

É a fome e a desigualdade consentida que cria partidos Sr. Kalitche. É assim em todo o mundo. O nosso país também não podia ser excepção. Foi isso que criou a FRELIMO para lutar contra a desigualdade que Salazar e o seu regime impunham. O resto do que o senhor fala (desempregados, etc) é pura diversão, sobretudo num país onde para se ser confortavel num emprego ou negocio tem que se ser do partidão. Deixem esses desempregados, produto de desempregos programados na Ponta Vermelha e na Pereira de Lagos, lutarem pelos seus direitos de igualdade. E isso nem explica o que se passa no MDM. Certamente que Kalitche não se zanga com a Frelimo porque lhe garante emprego, mesmo que sua consciencia lhe diga que esta cospe na consciencia maioria que ela desempregou. O que importa é ter emprego, mesmo que tal lhe custe a dignidade.Parece-me que alguns "desempregados" a frente de alguns partidos conseguem ser mais equilibrados que alguns "kalitches" pelo simples facto de não terem coragem de vender a mãe por um pão. É um insulto a nossa inteligencia falar de desempregados politicos num país em que a maioria é desempregada.