terça-feira, 24 de maio de 2011

Partidos Políticos em Moçambique, do Nascimento a Insignificância Num Ápice…

Desde 1990 que o país assiste, ciclicamente, ao nascimento de novos partidos. Já perdi a conta dos partidos formalmente existentes neste país.


Infelizmente a esmagadora maioria desses partidos pouco ou nada acrescentam(ram) ao panorama político nacional, fruto de uma existência parasitária de só aparecerem nos períodos eleitorais, no jogo da lotaria de receberem os trust fund que abundam por essas alturas.


Outros, anunciados com pompa e circunstância como os messias que o país precisa quer como salvadores contra a da bipolarização FRELIMO/RENAMO quer como garantes da “democracia” vão se reduzindo, aos poucos, a insignificância sucumbindo ao abandono dos cérebros ou existência de um ideal unificador para além de um líder a volta do qual se constitui o partido, ou a guerrilhas internas travadas na praça pública.


Algo está a falhar.


Este é um país cheio de soluções como diz Elísio Macamo.


Temos um país cheio de partidos atarefados em resolver seus próprios problemas sem conseguirem constituir-se em alternativas válidas para a formulação/conhecimento dos problemas reais do país e propor soluções válidas para os mesmos.


Onde é que estamos a falhar?


Que caminhos deve seguir a nossa democracia multipartidária? Que caminhos seguir pelas dezenas de minúsculos partidos formalmente constituídos e factualmente inexistentes? Como garantir que os partidos a nascer ou existentes se constituam como intervenientes sérios nos debate democrático que este país precisa para crescer?
Será que o nosso estagio de crescimento nos destina APENAS esta realidade ou temos como modificá-la? Como?


Onde anda o PDD a sonhada terceira força levada aos ombros pela media e por alguns pseudo-intelectuais deste país sem os resultados que se poderiam esperar?
Conseguirá o MDM sair do buraco barulhento em que se encontra e conquistar prestigio que a presença na AR impõe ou, destes também, teremos mais do mesmo?
Perguntas demais, respostas a menos… por isso vos desafio a falarmos destes assuntos com sinceridade.

31 comentários:

Anônimo disse...

olá júlio,
como sempre, em cima da bola. parabéns! começo a perguntar-me se andas a consumir algumas substâncias. que eu saiba, só corria assim como tu o pessoal do matchedje... brincadeira a parte, acho que em princípio não há nada de errado na proliferação de partidos. isso significa que há espaço no país não só para se constituirem como também para se articular concepções diferentes do país. nesta mesma ordem de ideias, não acho mau que os partidos nasçam para, num primeiro momento, articularem os problemas dos seus parteiros. um dos problemas políticos deste país reside na pretensão de falar sobre o país inteiro, daí a dificuldade de inserção local e identificação.
um problema real (e que nos deve preocupar ainda mais) é o das condições de implementação da democracia nos moldes que se esperam agora. talvez esteja aí o maior desafio. se quisesse ser polémico (e quero mesmo) diria que a nossa democracia foi um nado morto. isto aconteceu em 1992 com o acordo de roma. efectivamente, aquele acordo conferiu vantagem ao partido que ganhasse as primeiras eleições multipartidárias dada a articulação que na altura se fez entre fim da guerra e continuação de auxílio ao desenvolvimento. a bola agora está nas mãos de quem detém actualmente o poder, mas o problema é bicudo: sacrificar-se pelo bem da democracia (seja lá o que for que isso significa) ou manter as vantagens conferidas no passado? essa é uma das grandes questões. nós gente de bem (sim, é verdade) devíamos reflectir seriamente sobre esta questão. no fundo, o problema não é a oposição, mas sim quem está no poder ou quem quer a saúde da democracia. por quanto tempo será a maioria absoluta uma boa notícia para o partido no poder? quando leio gente que devia estar melhor avisada (refiro-me a machado da graça num dos seus textos no correio da manhã) a defender a violência como reacção legítima ao que considera a arrogância do poder, fico preocupado com a qualidade da nossa democracia.
estás de parabéns por iniciares este debate e espero que haja uma boa discussão.
abraços
elísio macamo

Nelson disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nelson disse...

Professor Macamo, o pouco que entendi do seu comentário, quer concorde com ele ou não(ainda não o processei na totalidade), tenho pelo menos a certeza que traz um certo "equilíbrio" à forma como o amigo Mutisse vinha abordando a questão da oposição e dos partidos políticos em Moçambique, atribuindo-lhes a totalidade de culpa. Nos artigos que publicou sobre a questão, sempre me pareceu que Mutisse olhava para a saúde dos partidos e da oposição em geral de forma totalmente desassociadas de muitas outras realidades que o país viveu e vive. Vou ficar por aqui mas acho que volto. O assunto é interessante!

Anônimo disse...

Amigo Elísio, colocas questões difíceis. O que faz a SWAPO forte e quase inamovível? O que faz o ANC forte e a ganhar eleições mesmo que a sua performance tenha um rating baixíssimo no seio da população sul-africana? O que faz o Chama Cha Mapinduzi invencível? Tendo a concordar contigo que a estabilidade propiciada pela "ajuda ao desenvolvimento" possa ter algo a ver. Mas há mais. Tem de haver mais. Esses Partidos conquistaram espaços de legitimidade intrínsecos (que não têm nada a ver com doadores) derivados de, num passado próximo, terem aglutinado as aspirações de quase 100% dó povo. Refiro-me à aspiração de liberdade, independência e dignidade. Essa legitimidade cresceu mais ainda com o facto de esses Partidos terem logrado, em condições difíceis, vencer o ocupante estrangeiro (ou o Apartheid no caso da África do Sul). Penso que é isto que determina a legetimidade da ZANU mesmo perante o descalabro da economia do Zimbabwe, para dar outro exemplo. Muitos Zimbabweanos continuam a ver este Partido como aquele que encarna as mais justas e profundas aspirações do Zimbabwe. Os Partidos emergentes terão, em minha opinião, que encontrar formas diferentes de conquistar legitimidade. Para mim está provado que a simples denigrimento dos Partidos históricos não serve. Em muitos casos não seve também desafia-los, de imediato, à escala nacional. O caminho que a AD, de Hellen Zillie, está a seguir na África do Sul parece-me mais fadado para o sucesso a longo prazo. Conquistar um município importante e governa-lo bem. Às vezes cooperando com o Partido histórico. Com base no sucesso da governação anterior, ir conquistando outros municípios ou províncias. Ao fim de um certo tempo se tem a legitimidade pela competência e por saber governar. E não pelo simples facto de querer expulsar o Partido histórico.

Haverá mais, de certeza. Mas convido-vos a considerar (e a rebaterem) o que digo.

Obed L. Khan

Julio Mutisse disse...

Wena Mano Elísio, por essa brincadeira vou montar barricadas no seu trajecto até Xai-Xai e exigir guia de Marcha . Rssssss.
Obrigado por passares por aqui e por concordares comigo que é importante discutir estas coisas.
Na verdade a CRM abre espaço para o nascimento de muitos partidos e na nossa sociedade ainda existe a tal abertura e facilidade de se angariarem umas quantas assinaturas e formalizar uma qualquer organização. Assusta-me é não encontrar a conexão entre a adesão manifestada pela assinatura dos documentos relevantes a constituição do partido e a articulação (até pelas lideranças desses partidos) de ideias para o desenvolvimento do país.
O país gere problemas e, do meu ponto de vista, não seria diferente nas organizações que nascem: vão gerir problemas e estarão algum tempo a acertar a máquina mas, estamos num ciclo vicioso: nascem mais, desaparecem outros. Se nos lembrarmos do FUMO, PCN, MONAMO, Kamaty, Ripua, Campira, Neves Serrano (não me lembro dos nomes dos seus Partidos) e muitos outros que nasceram no alvor da CRM de 1990 vem me a ideia de que esses já deviam estar consolidados ou as suas experiencias e fracassos deveriam já ter inspirado outros para uma outra abordagem desde o nascimento.
Concordo consigo na ideia da “pretensão de falar sobre o país inteiro, daí a dificuldade de inserção local e identificação” dos nossos partidos. Como disse num post aqui as Autarquias constituem um vinculo próximo no processo democrático e no exercício da cidadania por aproveitar.
É evidente que o nosso processo democrático não pode dissociar-se do contexto ou contextos que influenciam o devir do país. Não podemos, igualmente, perder de vista a nossa história próxima mas, o país cresce a cada dia e cada partido tem que, dentro das condicionantes do país, encontrar mecanismos de se afirmar como alternativa através da articulação correcta, clara e objectiva da sua visão sobre este enorme país. Importa neste momento avaliar os caminhos que devemos seguir para frente: a Frelimo tem uma maioria esmagadora e “retumbante” e lutará por mantê-la; os demais partidos se estivessem devidamente organizados e articulados e com um enfoque nacional, deveriam lutar por contrariar essa tendência mas… nada; todos os dias problemas internos.
Urge um avanço e não acredito que a Frelimo democraticamente se sacrifique para que emerja a Democracia. O poder conquista-se e o poder é para ser mantido. Temo acreditar no Padre Couto quando disse certa vez que a oposição REAL nasceria da cisão da Frelimo algo que não acredito ocorra já já, a forma como esta tem gerido a diferença de pontos de vista demonstra maturidade e alguma união que não acredito se quebre tão já.

Julio Mutisse disse...

Nelson Makwero, já disse no comentário anterior que é evidente que o nosso processo democrático não pode dissociar-se do contexto ou contextos que influenciam o devir do país. Não podemos, igualmente, perder de vista a nossa história próxima mas, o país cresce a cada dia e cada partido tem que, dentro das condicionantes do país, encontrar mecanismos de se afirmar como alternativa através da articulação correcta, clara e objectiva da sua visão sobre este enorme país.
Não consigo centrar a visão sobre os partidos fora dos próprios partidos mesmo considerando as diversas condicionantes. São estes partidos que tem que saber contornar as condicionantes.
Nelson, muitos dos partidos que pululam por este país foram nados mortos; outros nasceram coxos e estão a ficar paralíticos ou já estão… muitas das razões disso já as enunciei e são as que consideras que se centram APENAS nos partidos

Julio Mutisse disse...

Obed, bons olhos te vejam. A quanto tempo hein? Concordo com o seu ponto de vista, principalmente com o reforço que fazes a minha ideia de fazer dos municípios um veículo de afirmação nacional a médio longo prazos.
Está a animar.

Nelson disse...

Mutisse, eu apenas "aplaudi" o comment do professor por levar o assunto à um "ângulo" que não tinha sido considerado por si, chamando isso de "equilíbrio". Há muito mais que se olhar além dos partidos em si e parece que é isso que precisamos fazer. Me parece que olhando honestamente para as coisas, estamos a exigir demais dos partidos. Acho por exemplo "desonesto" falar dos níveis de organização,legitimidade ou inserção dos partidos que vão se formando comparando-os(níveis)aos da Frelimo. Primeiro teriamos o factor tempo de existência, e depois podiamos muito bem falar das vantagens que a Frelimo leva por estar no poder e ter estado no poder ao longo desse tal tempo, a experiência de organização que isso pode lhe ter conferido, a tão "negada" detenção dos meios do estado, e etc, etc, e seguindo por esse caminho podemos até questionar se as "condicionantes" que repetidas vezes o Mutisse refere, e que os partidos da oposição tem de contornar, não são propositada e premiditadamente impostas, e não questiono por achar que não devessem ser impostas afinal, o poder é para ser mantido mesmo que a "performance tenha um rating baixíssimo no seio da população". Em fim oque eu procuro defender é que o estado "doentio" da oposição seja olhado à luz de muitas outras "enfermidades" que o país vive. Defendo que se honestamente queremos "ajudar" os tais partidos e "salvar" a democracia, olhemos para todas as "direcções" onde a coisa está a falhar e não simplesmente nos partidos em si, reconhecendo embora que eles jogam o papel primordial.

Nelson disse...

"por quanto tempo será a maioria absoluta uma boa notícia para o partido no poder"

Recuperei essa questão do comentário do professor Macamo e acho que depende do uso que o partido no poder fizer dessa tal maioria. Se por por exemplo usá-la mal pode vir até a perder os "espaços de legitimidade intrínsecos" que conquistou por ter algum dia "aglutinado as aspirações de quase 100% dó povo". Olhando para alguns episódios relacionados com o uso da maioria no parlamento dá mesmo para questionar,"por quanto tempo será a maioria absoluta uma boa notícia para o partido no poder"

Julio Mutisse disse...

Amigo Nelson, vamos por partes.
Eu também aplaudo do comentário do Mano Elísio quanto a necessidade de vermos o todo (industria do desenvolvimento inclusa) quando analisamos o estágio da nossa democracia e os caminhos tortuosos dos nossos partidos políticos. Não há volta a dar quanto a isto meu irmão, os problemas da nação tem seus reflexos em cada um de nós e nas organizações que existem.
Se calhar é aqui onde divergimos mas vou lhe dar um exemplo: Moçambique viveu 16 anos de guerra que desestabilizaram o país por completo em todos os sentidos. Quando falamos em quadros por exemplo, em número e qualidade juntamos 35 anos de independência para exigir que o país tivesse tudo isso, como sinal de que, apesar de tudo, o país devia ter feito um esforço de se aquilatar para ter, a seu serviço, quadros qualificados em quantidade e qualidade. Há quem recuse esta visão e ache que devíamos descontar 16 anos em que o país parou e há quem ache que não… o país devia em 35 anos, apesar de escolas queimadas, médicos, professores e outros profissionais mortos deveríamos em 35 anos ter quadros suficientes. É legítimo.
Sobre os partidos, tenho a visão de que apesar de o contexto em que a nossa democracia nasceu, as condicionantes do nosso estágio de desenvolvimento etc, os partidos devem buscar formas de se inserirem, afirmarem e articularem alternativas válidas para os problemas validamente identificados no país.
Nelson, eu também acho que seria demais comparar o PDD a FRELIMO. Mas poderíamos sempre buscar exemplos mais próximos: FUMO/MONAMO se ainda existissem PCN e qualquer outro da sua época ou mesmo PDD e MDM a verdade é que, se formos rigorosos com isso encontraremos quase sempre mais do mesmo e não necessariamente fruto de condicionantes de uma FRELIMO astuta mas da incapacidade desses partidos para se credibilizarem. Achas que a FRELI precisa fazer mais alguma coisa para desacreditar o Neves Serrano (e até se quisermos toda a oposição) quando este se esquece da escola em que se formou? A FRELI precisa de colocar condicionantes para que Dhlakama escangalhe a RENAMO com a sua actuação desnorteada num partido que funciona de acordo com a sua vontade, disposição, querer ou devaneios? Acho que não.
O país, como um todo, se erguerá e se desenvolverá partindo da identificação dos problemas e da escolha das soluções mais acertadas tendo em conta as condicionantes de cada momento. Da mesma forma, cada partido se erguerá e se afirmará partindo da identificação dos problemas próprios, dos problemas colectivos e da escolha das soluções mais acertadas tendo em conta as condicionantes de cada momento. Creio que não difere muito de defender a ideia de “"ajudar" os tais partidos e "salvar" a democracia” olhando “para todas as "direcções" onde a coisa está a falhar” só que, para mim, sem enfocar apenas nessas coisas que estão a falhar colocando aparentemente os partidos como vítimas pois, admitindo a hipótese da influencia do contexto político, económico, social etc e outras interno e externo eles são responsáveis (como o país deve ser) de encontrar formas eficazes de contornar soluções para si e para o povo.
Um país que já teve uma UD no parlamento e hoje tem o MDM tem que olhar a volta e dizer que é possível e articular esforços para seguir aqueles exemplos sem ser efémero como a UD e sem ser demasiadamente problemático como o MDM descredibilizando o conjunto.

Sou apaixonado pelas autarquias… se os partidos começassem daqui…

Anônimo disse...

amigos,
estamos na última semana de aulas e, por isso, com exames. não dá para consultar a internet regularmente. a questão que estamos a tentar discutir é complicada. no fundo, estou a tentar chamar atenção para três níveis de análise. sobre o primeiro há um certo consenso, nomeadamente que a frelimo é um partido organizado e que, duma maneira geral, está no poder por alcançar melhor o eleitorado com o seu programa. sobre o segundo não existe muito consenso, mas penso que as linhas gerais têm grande probabilidade de serem consensuais, nomeadamente que o estado da oposição é lastimoso, contribuindo para isso a actuação fraca e os motivos problemáticos dos seus donos. aqui entra em jogo, porém, outra questão que me parece também fundamental. apraz-me constatar que o nelson está de acordo comigo. a fraqueza da oposição não se explica apenas pelas razões expostas acima. ser oposição é estar numa relação estrutural, o que significa que o estado em que ela se encontra também depende do estado em que se encontra o partido no poder. isto não diminui os méritos desse partido. no próximo sábado vamos ter a final da liga dos campeões europeia. o futebol proporciona-nos uma boa metáfora para percebermos o que está em jogo. no final de cada campeonato só uma equipa pode se sagrar campeã. normalmente, as que não ganham têm a tendência de se desmontarem (não literalmente) por si próprias, sempre à procura de culpado para uma situação estrutural que define as regras do jogo: só um pode ser campeão. agora, para complicar ainda mais e dado os valores astronómicos que o futebol movimenta, pensem no dinheiro que corre para o manchester united ou para o barcelona. uma vez que os recursos financeiros não são ilimitados, há uma espécie de soma zero no futebol. ademais, tudo que é talento quer se juntar aos vencedores, os árbitros apitam a favor do vencedor, mesmo campeonatos futuros são feitos sempre conferindo vantagem aos mais fortes (como cabeças de série, por exemplo; imaginem equipes africanas como cabeças de série em copas mundiais!). tudo isto acontece na política também. jovens brilhantes como o júlio quando fazem as suas opções políticas têm, num primeiro momento, o partido vencedor na mira (não quero dizer que não haja uma opção consciente por um partido; mas também muitos de nós temos a tendência de nos apaixonar-mos por mulheres bonitas...); macacos velhos como o obed khan dão a sua inteligência ao vencedor. reparem que não estou a dizer que a frelimo devia se sacrificar pelos outros; só estou a relativizar a "fraqueza" da oposição.
o terceiro nível assusta-me. escrevi no meu comentário anterior que comentários como o do machado da graça (que basicamente glorifica a violência insensata com o pretenso argumento segundo o qual o estado ele próprio seria violento) são indicativos dum problema muito mais sério do que a fraqueza da oposição. com o sem razão (mais sem do que com) há gente que está a perder confiança na democracia. sob este pano de fundo pouco importará se a frelimo tem maioria absoluta ou não, se é um partido bem organizado ou não, se a oposição é feita de oportunistas ou não. o legítimo ideal de justiça social que a frelimo do pós-independência defendeu e quiz materializar (ainda que na base de pressupostos ideológicos problemáticos) não impediu que tivéssimos a horrível guerra da renamo parcialmente instrumentalizada, mas também sem crença no modelo de organização política que tínhamos.
é mais para este lado que estou a tentar puxar a discussão.
abraços
elísio macamo
n.b. obed, há quanto tempo!

Anônimo disse...

Caros amigos, se me permitem gostaria de insistir num aspecto. Será que é uma mera questão de "macacos velhos como o obed khan [darem] a sua inteligência ao vencedor"? Onde estaria a SIMPATIA? Onde ficaria a COMUNHÃO? Será que se a Renamo (e o Dlhakama) actual fosse a vencedora "macacos velhos como o obed khan [continuariam a dar] a sua inteligência ao vencedor"?

Quero regressar à questão da legitimidade. Eu pessoalmente sinto-me bem com a FRELIMO (e não me sinto bem com a Renamo). Ainda há pouco falava com alguém sobre algo a que designávamos por CULTURA FRELIMO, MANEIRA DE SER FRELIMO. Muitas vezes só pela maneira de falar (serena, tranquila) percebemos que quem está a falar é da FRELIMO. Esta serenidade, esta ecuanimidade, esta tranquilidade já estava presente quando este Partido (movimento) lutava contra o colonialismo. Não se sentia o RANCOR como o leitmotiv da acção. Pode se dizer o mesmo da Renamo? Pode se ter simpatia com os métodos de luta que a Renamo adoptou no passado e adopta hoje? Outros poderiam! Mas eu, não!

Portanto, eu empresto a minha inteligência a uma FRELIMO que me conquistou desde a infancia.

É possível, hoje, com paciência e sabedoria, conquistar espaços de legitimidade. E pode ser que venha a sentir alguma simpatia por um Partido com valores, com causas, e com persistência para tornar esses valores e causas aceites pela sociedade.

Posso resumir dizendo que da mesma forma que "muitos de nós temos a tendência de nos apaixonar-mos por mulheres bonitas" eu tenho a tendência de alinhar com gente não rancorosa, que não apresentam sistematicamente cara zangada... Quem já viu Dlhakama com ar afável e sereno num jornal? Não falo dos "governamentais", falo do Savana, do Zambeze, do Canal de Moçambique e outros. Quem??????

Obed L. Khan.

Nelson disse...

"o legítimo ideal de justiça social que a frelimo do pós-independência defendeu e quiz materializar (ainda que na base de pressupostos ideológicos problemáticos) não impediu que tivéssimos a horrível guerra da renamo parcialmente instrumentalizada, mas também sem crença no modelo de organização política que tínhamos."

Aqui parece "morar" oque também devia ser nossa grande preocupação, principalmente quando existem compatriotas nossos que acham que "violência insensata" como Elisio a chama deve ser a solução. Não vamos pedir nem esperar que a frelimo "sacrifique" seja lá oque for a bem da democracia mas é importante nos preocuparmos com o estado da tal democracia e as consequências para todos nós, da sua deterioração. A legitimidade que a frelimo conquistou precisa ser "bem" gerida sob risco de se desgastar. Para as gerações vindouras e bem possível que venha a ser necessário mais do que ter liberto Moçambique do jugo colonial, falar de forma "serena, tranquila". Surgiram-me algumas questões ainda não bem formuladas, geradas pelo primeiro comentário do Obed quando fala do ANC "ganhar eleições mesmo que a sua performance tenha um rating baixíssimo no seio da população".
Final de semana a vista!
Talvez volto...

Anônimo disse...

caro obed,
estou perfeitamente de acordo contigo quanto à simpatia como motivo de aderência. seria cínico demais supor que as pessoas só adiram por conveniência. se o júlio estiver disposto a arbitrar podemos fazer uma aposta. próxima vez que eu estiver em moçambique (e com muito tempo) faço um estudo sobre os militantes dos partidos políticos. o prémio é uma caixa de cerveja para ti e uma caixa de frangos nacionais para mim (o júlio banca). aposto o seguinte: a proporção de aderentes (tendo em conta o tamanho do partido, critérios ainda por estabelecer) com o perfil "obed" é mais ou menos idêntica; são por aí 10-15%, não mais do que isso. a seguir vem uma franja larga que é promíscua e composta por gente (talvez como eu) que em algum momento se apaixonou ou foi obrigada a se apaixonar por um partido e não vê motivos para deixar de dizer que é por um determinado partido. esta é uma franja que se situa por volta dos 30-45%; creio que na frelimo este grupo é mais estável do que nos outros partidos e isto essencialmente por razões históricas (não programáticas ou de conteúdo); é aqui onde a frelimo cria problemas para qualquer partido de oposição (por muito sério e organizado que seja); a última franja é ambulante, feita de gente sem compromissos e aberta a qualquer proposta; normalmente, este pessoal vai para onde a música toca mais alto (no nosso caso isto ocorre na frelimo), daí também a vantagem que ela leva sobre os outros partidos. este grupo é que tem decidido (em minha opinião) eleições em círculos mais competitivos; o mdm beneficiou do voto deste grupo. é composto por jovens ou gente com idades compreendidas entre 30 e 45 anos e que não tem tirado benefício directo do poder da frelimo (funcionários baixos na função pública, quadros do sector privado, etc.). o partido de oposição que fizer um trabalho sério de articulação das preocupações desta franja terá boas hipóteses de deixar marcas. só que não sei quando é que isso vai acontecer porque pelas razões estruturais apontadas nos meus comentários anteriores, mas também pelo facto de esses partidos serem dirigidos por pessoas com o "perfil obed" (não num sentido negativo!) não têm visão suficiente para deixarem de pensar que os seus problemas são os problemas do povo. isto, júlio, é o que está a faltar aos partidos de oposição. só para acrescentar o aspecto referente ao trabalho autárquico: não só isso, mas também (um pouco ao estilo das igrejas) organizar a vida de certos sectores da sociedade (por exemplo, criar programas para jovens que saiem da escola e da universidade; programas para pessoas desempregadas, etc.). o problema que o mdm está a ter agora não é o problema de falta de organização ou ideais; é o problema de pensar que aquilo que os seus dirigentes consideram ser os problemas do país é o que o país também vê como problema. muitos deles, conforme chamei atenção no meu defunto blogue, tinham o grande problema do regionalismo, tribalismo e anti-comunismo (por exemplo, o seu líder, deviz simango, ainda fala nos seus discursos dos "comunistas" da frelimo esquecendo que os verdadeiros comunistas da frelimo estão feitos grandes críticos da frelimo de hoje!), mas esses problemas não constituem a preocupação principal das pessoas.
mas mais uma vez o nelson captou a minha principal preocupação. as atribulações da oposição em moçambique são uma ameaça séria à estabilidade do país. isto impõe o exercício dum poder responsável. estou preocupado.
abraços e bom fim de semana!
elísio macamo

Julio Mutisse disse...

Estou a acompanhar este debate sem hipoteses reais de responder neste momento.

Nelson tens que voltar ate para discutirmos de que forma, do seu ponto de vista, deve agir a FRELIMO para gerir bem a maioria que lhe foi outorgada e ate fundamentar, se eh que de alguma forma, esta a gerir mal essa maioria.

Elisio mano, se for para bebermos juntos e comermos juntos a dissecar estes e outros assuntos assumo. Percebo o seu ponto de vista. Como articular a estrategia partidaria dos reais problemas da nacao em partidos sem expressao local mas com tendencia a ver o nacional?

Discutiamos noutro lado o aproveitamento do grupo Tofo Tofo que foi gravar um video com a Beyonce nos states e eu dizia que eles agora sao vencedores e todos tenderao a associar-se a eles. Acredito que mesmo na politica a esta tendencia. Existe uma franja grande de membros de muitos partidos prontos para bater com a porta a qualquer altura. Surge dai o desafio que os partidos teem de conquistar e manter membros atraves de estrategias claras e bem definidas. A par desses membros existem aqueles que abraccam causas e, esses nao os abandonam de qualquer maneira.

Nelson disse...

“E, lembre-se, quando se tem uma concentração de poder em poucas mãos, frequentemente homens com mentalidade de gangsters detêm o controle. A história provou isso. Todo o poder corrompe: o poder absoluto corrompe absolutamente.”

Lord Acton, em carta ao Bispo M.Creighton, 1887

Mutisse, chegou o final de semana e daqueles FDS com salário no bolso!
Volto assim que poder(provavelmente só na Segunda feira!

Gilda Chihale disse...

meus camaradas pessso ajuda neste caso: NOS JORNAIS SEMPRE QUANDO ANUCIAM VAGAS EXIGEM ANOS DE EXPERIENCIA, ora vejamos, um recem formado, dos seus 25 a 28 anos de idade, jovem este com vontade de combater a polemica pobreza absoluta e que em alguma das vezes tem uma responsabilidade social extretamente maior, mas faltam lhe alguns requisitos, porque logo aprior leva xicote de anos de experiencia? quem é do direito para ajudar esse pobre jovem? que espaco ele tem para adquirir a tal experiencia? pesso ajuda em me indicar a quem do direito pode se apelar esse jovem para lhe ajudar. No ambito politico, prefiro nao alongar tanta labia, pois para mim a politica nao passa duma filosofia da vida aristoteliana, onda apenas fala-se e pouco se executa.

Gilda Chihale disse...

indo na insencia da minha questao acima sitada, em poucas palavras gostaria de saber que orientacao e ajuda devemos prestar ao jovem perante essa situacao de anos de experiencia, pois é uma pedra no sapato recem formados e que vao a busca do mercado de trabalho, sem olhar tambem o facto de inflencias, corrupcao, asedio no posto de trabalho...etc desculpem me por possiveis erros ortograficos, é que estou a usar uma maquina que nao posibilita total visibilidade.

Nelson disse...

Cara Gilda, a minha resposta talvez não te vai agradar. Não concordo consigo que seja SEMPRE que são exigidos uns tantos anos de experiência, pois se assim fosse nenhum jovem recem formado estaria a trabalhar, mas eu tenho exemplos de jovens que sairam directo da carteira(nível médio profissional ou superior)para um emprego. Jovens que passaram a trabalhar nos locais onde estiveram a estagiar durante sua formação etc, etc...
Oque eu noto é que para certos postos a maioria deles de liderança se exige experiência e isso é para mim bem natural apesar de constrangedor quando não temos a tal expêriência.

Julio Mutisse disse...

Irmãos eis me aqui.
Elísio, este debate está interessante e os seus pontos de vista alargam o horizonte. Vamos lá assumir as premissas do teu futuro estudo (financiado pela minha cerveja e pelos frangos nacionais encaixotados) como reais: 15% perfil Obed (membros por convicção), 45% de membros apaixonados que aprenderam a amar esse partido independentemente das percepções doutrinárias e de outra natureza (franja em que te incluis) e 40% ambulantes (número exagerado na minha opinião; estes seriam a elite urbana ou urbanizada escolarizada); vamos colocar estes números na órbita de um partido como Frelimo que, pela sua história, pela ideologia conseguiu aglutinar gente nessa franja ao longo do tempo, estaríamos a dizer que a oposição, existente e ainda por nascer, precisaria de tanto tempo quanto a Freli precisou para estabilizar a sua base de apoio principalmente nos primeiros grupos? O que torna a última franja ambulante? Porque razão essa franja ambulante “feita de gente sem compromissos e aberta a qualquer proposta” presente na FRELI e “incapturável” pela oposição que vai surgindo? Será desta franja que surgem os resultados como os que o MDM teve na zona de cimento da cidade de Maputo nas últimas eleições? Será esta franja ambulante “feita de gente sem compromissos e aberta a qualquer proposta” que, por exemplo, cria problemas em partidos como MDM quando este não alcança os resultados que se poderiam esperar? Como é que a franja ambulante “feita de gente sem compromissos e aberta a qualquer proposta” actua em Partidos mais consolidados como a FRELI por exemplo?
Nelson, não hajam dúvidas de que o estado da democracia que a FRELI defende com unhas e dentes nos deve preocupar. O que propicia um bom nível de participação democrática? Partidos políticos ou uma esfera pública saudável (como não se cansa de sugerir o Elísio)? De que forma se cria essa esfera pública saudável? Qual a responsabilidade do Estado e do Governo na criação de condições de surgimento, fortalecimento e consolidação da democracia? Qual seria o papel da FRELI na consolidação da Democracia?
São muitas perguntas. Se calhar andemos demasiado tempo ocupados com partidos políticos se calhar toldados pela forma como a “nossa democracia” nasceu. É provável que, para muitos, a democracia só se materialize com os partidos mas a sociedade no geral tem um papel determinante na consolidação desta coisa que queremos a todo o custo. Se calhar se nos movermos para outro lado podemos encontrar formas activas de participação democrática mais profícuas do que o multiplicar de partidos e é provável que nos preocupemos menos com pequenas coisas e, a partir daí, ao nascer um novo partido este estará dotado de ferramentas essenciais que o tornem relevante no panorama político partidário nacional. Dont you think so? Não acabe a mola, parece que virei a sofala em breve hehehehe.

Julio Mutisse disse...

Gilda,
Os jovens tem que ser ciosos das suas capacidades e potencialidades. Tem que estar claro do que quer e lutar pelo que quer sem nunca desistir.
O sector empresarial dá oportunidades a gente recém formada sim. Posso dar o meu exemplo. Saí da faculdade directo para uma grande empresa do meu ramo de formação. Ganhei experiência fiz currículo potenciando me a cada dia; hoje continuo a crescer e a aprender. É evidente que cada empresa tem os seus critérios de selecção e uma exigência de acordo com o que pretende a cada momento e nenhuma pode ser condenada por isso. Mesmo nós como pessoas temos as nossas exigências… esteja certo do que queres e não há sítio, em minha opinião, onde te possas queixar disso. Aquilate-se e forme-se permanentemente e te encaixe nas exigências a cada momento. Mesmo que não te exijam 5 anos de experiência, outras coisas ser-te-ão exigidas e é necessário que estejas preparada para tal.
Quanto a política, já alguém disse que o homem é um animal político por excelência. Há sempre um político em nós e, de uma ou de outra forma, sempre fazemos política. Podemos até considerar a sua atitude resignada de que “politica não passa duma filosofia da vida aristoteliana, onda apenas fala-se e pouco se executa” como opção política. O importante, se consideras isso errado, era participares no sentido de que algo mude. Há muitas boas formas de participar na mudança. Eu por exemplo, adoptei este blog e, por exemplo agora, discutimos a nossa democracia e o que deve ocorrer para que ela seja efectiva incluindo entender o que está por detrás do aparecimento e sumiço de partidos no nosso panorama politico mozie.
Bem vinda aqui.

Anônimo disse...

oi júlio,
lamento bastante não pode ser assíduo no debate. por isso, ao invés duma caixa, banca apenas meia caixa. aceito baixar a percentagem de 40% dos ambulantes se aumentares meia caixa de frangos. mais seriamente, no momento do êxito, júlio, o número de simpatizantes assemelha-se à barulheira de rãs num riacho. duas únicas rãs podem dar a impressão de 1000. o êxito da frelimo é merecido, mas o elevado número de aderentes que tem não se explica pelo seu programa. como disse, muitos votam apenas por reflexo (e isto é um problema sério para a oposição, pois se calhar vai ser mesmo necessário que morra uma geração inteira). os ambulantes são típicos de qualquer sistema político. eles próprios não são políticos, por isso não são eles que criam problemas nos partidos de oposição. eles estão simplesmente abertos a qualquer proposta. eles representam também a principal esperança da oposição, mas até este momento nenhum dos partidos da oposição soube explorar este potencial. esta incapacidade tem a ver com o que já escrevi nos comentários anteriores, nomeadamente a natureza viciada do nosso sistema político, mas também com o facto de que ser oposição em moçambique é uma experiência catárquica. de repente, a pessoa já não tem a sensação de que não deve dizer certas coisas para não desagradar a frelimo. antes pelo contrário, sente-se livre e desfruta isso exibindo a sua liberdade, muitas vezes com críticas infundadas. há de certeza muitos que exageram e se perdem nisto. oposição passa a ser criticar a frelimo e não mobilizar aqueles 40% de ambulantes.
estou a apresentar ideias pouco organizadas, mas que me parecem necessárias para temperar a nossa euforia. a frelimo ainda não passou pelo principal teste de solidez como partido. precisa de perder eleições para saber realmente com quem pode contar. enquanto isso não acontecer (e como simpatizante distante espero que isso não aconteça tão já) é muito prematuro criticar a oposição pela sua alegada falta de organização. tu que gostas de futebol sabes muito bem que quem ganha fez tudo bem e quem perde fez tudo mal. mesmo que não. se o contrário fosse possível, o maxaquene seria campeão do moçambola todos os anos...
abraços
elísio macamo

Julio Mutisse disse...

Elísio, estou a envidar esforços para abrir uma Universidade em Madlakazi. Antes de qualquer outra coisa tracei o perfil do reitor e, meu irmão, o lugar é seu. Quando o assumes?

Com o seu comentário anterior creio que chegamos a um ponto de convergência quanto ao que eu acho ser responsabilidade dos partidos numa parte do cenário político nacional. Quando falas da necessidade de os partidos que vão nascendo tentarem “mobilizar aqueles 40% de ambulantes” resumes o que venho tentando dizer sobre a necessidade de os partidos se fortificarem a todos os níveis apesar das condicionantes que se colocam incluindo estes 40% ambulantes. É que, de facto, em Moçambique, mais do que qualquer trabalho digno do nome, ser de um Partido da oposição (ou mesmo não ser da FRELIMO) implica ou “passa a ser criticar a frelimo” com ou sem razão para o efeito.

É um facto que a FRELIMO ainda não passou pela oposição. Estaríamos a tentar ser Nyamussoros se tentássemos adivinhar o seu comportamento nesta situação mas, não nos esqueçamos, os anos que este partido leva, as relações que trava com outros partidos no mundo e a troca de experiencias com estes produzem lições importantes que são sempre capitalizadas de alguma forma.

Dos 5 PALOP, se não me engano, só em Moçambique e Angola é que os partidos libertadores não conhecem o outro lado e estes partidos libertadores têm, ao que se sabe, boas relações entre si e a FRELI há de ter aprendido algo daqueles. São experiencias que se procuram não só para saber como estar quando chegar a hora de estar na oposição, mas para aprender como NUNCA chegar a lá estar e a FRELI, ao que vejo, tem sabido capitalizar a sua experiencia politica para antecipar cenários e manter-se uma opção válida para os moçambicanos mesmo que o critério seja (tirando a ideologia) APENAS o que se conhece.
Um abraço.

PS: tinha me esquecido que já não está na Alemanha, queria lhe pedir noticias da visita do PM a essas bandas e a reacção da comunidade moçambicana por aí.

Bayano Valy disse...

caros,

o problema de chegar uma semana após o início do debate é fazer a constatação de que os argumentos que tinha já foram e bem esgrimidos, não me dando muita ponta em que pegar.

todavia, isso não obsta que ouse emitir a minha opinião sobre as questões qu o mutisse levanta.

pois bem, penso que talvez não esteja a fugir se acrescentar mais uma dimensão: a acção humana e individual. parece-me que os argumentos até aqui esgrimidos vão muito para a estrutura e não olham para o indivíduo tanto político como simples cidadão.

no que tange ao político, talvez pergunte que perfil de políticos temos? que são as pessoas que fazem política no país e porquê? porque filiam-se no partido a e não b, por exemplo? fazem-no por uma questão ideológica ou porque julgam que poderão ter acesso à certos recursos, ou mesmo uma questão apenas de afirmação e auto-estima? se por ideologia, como é que articulam essa ideologia dentro do seu partido?

e eu como cidadão simples, como é que me vejo? como cidadão ou como súbdito? o que falta para que eu exerça a minha cidadania? o que faço para que a política melhor? será que faz sentido estar-me nas tintas? como é que apareço na esfera pública? com responsabilidade ou como um arruaceiro?

fazem sentidos as minhas interpelações?

abraços

Anônimo disse...

bayano,
só o facto de reapareceres por aqui confere sentido a tudo quanto disseste. dá para ver que andas a ler muitos livros de sociologia (o que é bom) ou que tens uma namorada socióloga (o que é ainda melhor). as motivações individuais são sempre importantes, mas difíceis de classificar e padronizar para melhor análise. eu acho que na discussão destas coisas em moçambique temos sido injustamente severos para com os nossos políticos (da oposição e do governo). mesmo aqueles, entre nós, que não são nenhuns santinhos (desviariam fundos se tivessem a oportunidade) queremos políticos íntegros e que só pensam no nosso bem. isso foi talvez possível numa época passada em que a política se definia essencialmente por compromissos ideológicos. hoje em dia a coisa mudou, o que não quer dizer que seja ilegítimo esperarmos isso dos políticos. quer dizer apenas que temos que procurar nas condições estruturais mecanismos que possam agir sobre o político no sentido de ele se portar bem. partamos do princípio de que o político age, por norma, no seu interesse pessoal e que está se nas tintas para o resto. o que seria necessário fazer para que o seu interesse pessoal sirva os demais? aqui penso que a segunda parte da tua pergunta é extremamente relevante, nomeadamente o papel do cidadão. nós é que temos de obrigar o político a agir no nosso interesse. vais perguntar como. não sei. muitas das vezes somos nós mesmo que encorajamos os nossos políticos a portarem-se mal (quando isso nos serve). não é possível analisar o nosso sistema político sem também incluir, como sugeres com razão, o cidadão e sua responsabilidade. tenho dito por vezes em brincadeira que era preciso fazer as pessoas pagarem pelo direito de votarem para desenvolverem maior sentido de responsabilidade. na europa foi assim também que nasceu a responsabilidade!
caro júlio,
pelos vistos meia caixa de frangos é-te mais cara do que mexer naqueles 40%. sábia decisão! sobre a reitoria, tudo bem, sob uma condição: que mobilizes financiamentos para se recuperar o parque industrial de xai-xai (fábrica de refrigerantes, descasque de castanha e de arroz, empresa gráfica, lacticínios, conservas, etc.). ah, mais uma condição: que retirem a licença de ensino superior a pseudo-universidades sem biblioteca no xai-xai. depois podemos falar.
por vezes é bom tentar ser nyamussoro, júlio. e neste caso faz muito sentido. o aspecto mais interessante da comparação com os outros palops é, infelizmente, bastante chato. é nos países onde houve guerra civil que nunca houve alternância. não creio que isto se deva aos programas políticos ou fraqueza da oposição. a razão está de novo nos 40% cativos (não os ambulantes). há toda uma geração que vai votar na frelimo e no mpla por razões ligadas a estas hostilidades. lamento ter de dizer que estamos perante uma relação doentia com esses partidos. espero que a frelimo não aprenda nada do mpla (nem mesmo em matéria de como se manter no poder), pois o que o mpla está a fazer de angola brada aos céus. curiosamente, alguns angolanos acho que eles é que deviam aprender de nós. um colega sociólogo me dizia recentemente que moçambique esteve quase sempre na dianteira (fim da guerra, democratização, sucessão...). 30 anos no poder, júlio!
infelizmente existe no seio da oposição moçambicana muita gente movida pela crítica gratuita à frelimo. uma excepção salutar pareceu-me ser ismael mussá, cuja demissão da direcção do mdm é uma grande perda para o partido e para o nosso sistema político. tanto quanto consigo ver, só restou o pessoal com perfil obed (desta vez num sentido negativo) naquele partido.
continuo a viver na alemanha. houve um encontro com o primeiro ministro no domingo passado em munique. não fui porque estava a fazer bom tempo e preferi ir passear às montanhas. ainda não falei com ninguém para saber como correu. mas na região austral da alemanha (baviera e baden-wuerttemberg) há um grande interesse empresarial por moçambique.
abraços
elísio macamo

Bayano Valy disse...

caro elísio,

obrigado pelo comentário que faz das minhas interpelações. é a mais a primeira hipótese. a minha amiga é antropóloga mas não está dado muito à abstração. grande perda a minha hehehe mas isso é corrígivel, penso.

quanto à primeira parte do comentário, tem razão quando diz que é difícil classificar-se e padronizar-se a análise que versa sobre as motivações individuais. acho que foi sempre essa a crítica dirigida à sociologia. mas não é esse o argumento que pretendo levantar.

o que pretendo fazer mesmo é levantar algumas hipóteses que possam servir de more para a discussão. no brasil é obrigatório que o cidadão vote sob pena de perder certos direitos. a nossa democracia é cara! talvez essa seria uma forma de rentabilizar o processo todo.
não estou de forma alguma a advogar que se aplique o mesmo sistema no país, até porque não julgo que as pessoas tenham que ser obrigadas a fazer seja o que for, e também ciente de que a obrigatoriedade não é automaticamente traduzível em paixão pelo acto. acho que já foram suficientes os excessos do socialismo. as pessoas têm o direito de escolher se querem ou não votar, mas o que fazer quando as pessoas divorciam-se do processo?

uma das coisas que não consigo ver no nosso processo é a caracterização dos eleitores que se dirigem às urnas. gostaria de compreender quem vota de facto: se os jovens ou os mais “velhos”? dos que votam, há quem por acaso terá recibido aulas de educação política? será por isso que tem uma consciência política mais “aguçada”. escrevo entre aspas porque podia também ter sofrido uma indoctrinação. mas o que a hipótese que queria levantar era de ver se existe uma correlação ou não.

mas como é que explicamos a presença dos jovens em processos eleitorais? já não houve aulas de educação política após a introdução da constituição de 1990, ie, na segunda república. o que os motiva a votar? como é que alguns dos jovens votam e outros preferem ficar na praia? quais são as condições estruturantes que fazem com que alguns votem e outros não? será possível reproduzí-los?

podemos pensar em introduzir aulas de educação cívica nos curricula escolares? mas se o fizermos, não estaríamos a excluír os que não vão à escola? inquietações e mais inquietações.
abraços

Julio Mutisse disse...

Elísio,
Garanto te, uma vez que te garanta como reitor da universidade mandlakaziana os primeiros matriculados serão TODOS os meus filhos (inclui-se aqui, os filhos dos meus irmãos, das minhas irmãs e dos cunhados de cada um destes, sem esquecer os que já vão no terceiro casamento), LOGO haverá biblioteca pelo menos, mesmo que sejas o único professor.
Sobre a aprendizagem, estava a ligar esta ao facto de que alguns dos nossos irmãos dos PALOPS já tiveram os partidos independentistas na oposição e, de certeza, a FRELIMO terá aprendido sobre como esses partidos irmãos foram parar à oposição e terá aprendido do seu percurso NA oposição e tirará as devidas ilações para manter-se no poder. Estou a falar de uma FRELIMO organizada que se preze.
Voltarei ao assunto… já bebi 2 cervejas nacionais uma estrangeira, estou a deliciar me de uma GALINHA cafreal vinda de Mandlakazi com D. Helena minha mãe para depois deitar me no colo dela (afinal sou o bebé dela) e não consigo pensar.
Bayano, não poderia esperar outra coisa da sua entrada neste debate se não um acréscimo de qualidade na forma como analisamos muitas coisas. Voltarei a si também. Há muito por onde pegar o seu argumento.
Bom fim de semana.

Anônimo disse...

caro bayano,
eu acho que devias mudar de namorada. antropologia é concorrência e vicia. olha, em princípio penso que nunca devia haver compulsão no exercício dum direito, a saber o de votar. o problema de base de todas as democracias é que dependem do juízo duma massa que pode estar muito mal informada. esse é um risco que se tem de correr, infelizmente. levou bush à presidência dos eua, sarkozy à da frança e é capaz ainda de levar a le pen ao mesmo lugar. o único que se pode fazer para minimizar este defeito estrutural do sistema democrático é garantir pelo menos que as pessoas associem o seu voto a interesses claros que elas consideram ser ou não defendidos pela pessoa a quem conferem o voto. justamente porque falta este investimento individual, todos os nossos deputados representam os seus partidos e não os seus círculos eleitorais. ou já ouviste alguma vez um deputado da zambézia se interessar pela questão da madeira? é por isso que penso por vezes de forma elitista e considero que o direito de voto devia ser ganho e não apenas conferido assim de qualquer maneira. a educação cívica pode ser útil, mas acho que a sua importância é muitas vezes exagerada. existem instâncias dentro das quais muitos de nós são introduzidos à prática da democracia. as igrejas, mesquitas, clubes desportivos, etc. podem não funcionar a contento, mas há nelas uma espécie de iniciação à deliberação e procura de consensos.
júlio,
portanto, essa universidade vai ser na verdade uma particularidade. muito bem. insisto, contudo, no parque industrial de xai-xai.
tudo bem quanto ao que queres aprender dos palop. uma coisa que achei muito interessante em relação a são tomé, por exemplo (tenho um amigo político e que já foi governante por um partido da oposição lá) foi a tendência de falar sobre os problemas do país sempre numa perspectiva jurídica. em lisboa participei em vários convívios desse pessoal e a tónica das discussões era sempre jurídica, isto é o que é legal ou não, como mudar a lei para que, etc.
no sábado estava a escutar o noticiário da rádio moçambique e ouvi uma coisa que me deu muita indisposição (a galinha cafreal da d. helena teria parado no meio...). o comandante da polícia apresentou publicamente três indivíduos acusados de terem morto uma senhora. o pior nesta história, júlio, é que a rádio moçambique não achou isso anormal. a rádio moçambique nunca ouviu falar de presunção de inocência, acabou participando, com o seu noticiário, na violação dos direitos desses indivíduos de só serem apresentados a público como criminosos depois de o tribunal os ter sentenciado.
mas se calhar estou a sair do assunto.
abraços
elísio macamo

Julio Mutisse disse...

Este debate está interessante mesmo.
Bayano, todas as interpelações fazem sentido. Um dia, no longínquo ano de 2009, em véspera de eleições, Mapengo escreveu uma das suas cartas a moda antiga e perguntava: “Diga meu companheiro, podemos falar de esquerda direita ou partidos de centro no nosso cenário político? O que é que o PIMO ou os Ecologistas têm a ver com a FRELIMO? O que é que os que declararam apoio ao MDM têm a ver com este movimento? Fiz me, também, esta pergunta numa outra vertente como “o quê é que a União Democrática acrescentou a Renamo?”
São perguntas que poderíamos agregar as suas na tentativa de perceber o que se passa no nosso cenário político.
Acho que este assunto da Democracia multipartidária foi tomado muito por cima entre nós. Criamos partidos uns atrás dos outros e, se calhar, ainda não estamos certos das razões porque os criamos e/ou, estando certos, não conseguimos mobilizar o necessário para os tornar sustentáveis. Isso é problemático.
Tenho dito que a cidadania é um processo. Um processo de socialização baseada na educação escolar, na participação em organizações de toda índole incluindo religiosas (antes das eleições gerais de 1994 eu já havia sido eleito várias vezes para cargos directivos na minha igreja), desportivas etc., pode ser a chave para termos uma participação cidadã plena; para nos adonarmos dos processos e batermo-nos pelos nossos interesses o que, eventualmente, poderia traduzir-se no aparecimento de organizações (incluindo politicas) que consigam mobilizar tendo em conta as causas que defendam. Acho que a cidadania também se aprende e, sem uma educação focada na formação deste cidadão consciente não teremos uma militância plena e convicta…

Julio Mutisse disse...

Elísio,
Já há muitas universidades atípicas em Moçambique e o que eu mais pretendo não é acrescentar mais do mesmo à esta atipicidade. É inovar… pode ser que depois da minha inovação comecemos a pensar não só o ensino superior que queremos mas o ensino no seu todo. Gostaria de te ter ao meu lado nessa empreitada.
Numa sociedade como a nossa, como é que podemos “garantir pelo menos que as pessoas associem o seu voto a interesses claros que elas consideram ser ou não defendidos pela pessoa a quem conferem o voto?”
Garantir isso implica consciência plena de cidadania de que, infelizmente, estamos ainda longe.
Sobre o que narras do noticiário da RM só posso me associar ao seu desgosto. Pior por saber que o Comandante Geral é jurista e, mesmo que não fosse, deveria ser defensor desse princípio basilar de presunção de inocência. Triste.
Levo te a comer uma das minhas galinhas que são criadas no quintal da casa da D. Helena quando passares por aqui da próxima vez. Combinado?

Julio Mutisse disse...

Bayano, podes ver o debatinho a que me referia no blog do Mapengo seguindo este link: http://cartasamodaantiga.blogspot.com/2009/10/auxilio-incompreendido.html