Há dias o Advogado e Deputado da Assembleia da República pela bancada parlamentar da Renamo, o ilustre Dr. Máximo Dias, assumiu a sua condição de fundador do movimento guerrilheiro envolvido na guerra dos 16 anos, que mais tarde deu lugar ao que hoje conhecemos por RENAMO.
As declarações de Máximo Dias tem suscitado um debate interessante através do Moçambique para Todos e outros blogs onde se põe em causa a veracidade das suas afirmações acusando-o de querer "deturpar a história". Máximo Dias reafirma que não pode mentir e que ele foi "um dos fundadores da Renamo, juntamente com André Matsangaissa e outros companheiros”.
Confesso que a priori me questionei sobre a utilidade e actualidade do debate visto que muito já foi dito tanto a nível oficial (oficialmente se tem dito que a RENAMO é criação dos governos racistas da RSA e da Rodésia para sabotar os nossos esforços de desenvolvimento a nível interno e apoio às independências dos nossos irmãos zimbabweanos e o fim do apartheid na RSA) como a nível da própria RENAMO (descontentamento de moçambicanos perante o regime marxista instalado no pós independência), mas agora reconheço a utilidade de tal debate.
Foram 16 anos de guerra (eu prefiro dizer matanças - diz se que um milhão de pessoas foram mortas nesse período - e distruições) que em grande medida justificam o nosso atraso actual e, compreender a origem da RENAMO vai nos permitir dismistificar estes 16 anos e entender a estratégia usada durante a guerra.
Sem atribui todas as mortes e distruições à RENAMO é necessário perceber porque razão (pegando a versão de descontentamento de moçambicanos como estando na origem do levantamento armado) o saldo dos 16 anos de guerra é nos tão penalizante por exemplo na saúde e educação se a causa da GUERRA era JUSTA.
Perceber a origem da RENAMO vai nos permitir perceber a verdadeira razão dos 16 anos de guerra. É um debate interessante.
A nossa geração (a do pós 25 de Junho de 1975) atravessou a meninice e a adolescência envolta num ambiente de muita propaganda. Talvez seja esta uma oportunidade para questionar as versões conhecidas e perceber porque crescemos com tantas dificuldades, porque até hoje continuamos a "lutar contra a pobreza" num país que o destino, se calhar, tinha condenado à prosperidade.
Vamos indagar e perceber.
PS: A propósito de entender e reescrever a história A revista "POSITIVA" de Abril de 2007 (cito a data de memória e esta pode me trair) trás uma entrevista com o Coronel José Moiane, na qual este contraria a versão oficial da história segundo a qual o primeiro tiro foi dado por Alberto Chipande.
Moiane diz que Chipande dirigiu a luta mas não deu o primeiro tiro. Chipande, no telejornal da TVM de 04/07/07 desafia todos os que dizem o contrário da versão oficial a provarem o contrário de modo a estabelecermos a verdade na nossa história.
Que mais terá que ser reescrito em Moçambique? Estes debates não estarão a dar razão ao Azagaia quando diz em "As verdades da mentira" que a nossa história tem mentiras (eu diria imprecisões)?
Vamos lá falar.
2 comentários:
Será que o debate só é útil para percebermos porque razão ficamos se gado, casas, escolas, hospitais, familiaraes e mutilados ao longo de 16 anos de barbárie a que alguns insistem em chamar guerra civil?
Acredito que se calhar se levante o véu sobre o que se tem dito quanto "às cumplicidades internas" em torno do movimento.
Indo ao Máximo Dias porque só agora? Não será uma forma de buscar o protagonismo que perdeu desde que fez as más escolhas (boa escolha, em minha opinião, teria sido fortalecer o seu partido e ir conquistando lugares no parlamento ao em vez de matá-lo pelo seu lugar na AR)?
Uma coisa que o Máximo não explicou nem no mínimo é: que ideais seguiam? o que pretendiam? como pretendiam alcançar os seus objectivos? Previam uma guerra tão longa com as consequencias conhecidas hoje?
De qualquer forma é importante que se questione para que confirmemos se os nossos cérebros foram lavados ou não.
Tenho para comigo que por mais justa que tenha sido a razão que levou Matsangas, Dlhakamas ou até Dias a formarem a RENAMO e a enveredarem pela guerra, nada justifica a pilhagem da minha casa em Manjacaze, a distruição de escolas ou a sabotagem da linha férrea, o rapto da minha irmã (que por sorte conseguiu escapulir-se 20 dias depois do rapto), a morte dos mabanianas cantineiros (o casal Bibi que tinha cantinas em Mazucane e Macupulane) e de muitos outros.
Falo aqui dos episódios que vivi e há mais que me foram contados e que estão registados na nossa história.
A luta contra o comunismo não justificava tudo isso. Perceber a origem pode ser que nos ajude a perceber o porque. Eu não consigo perdoar o facto de ter perdido parte dos meus sonhos.
Matsinhe, estás de parabéns pelo maravilhoso comentário.
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