sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Um Streap Tease Para Sair do Sovaco

O Lázaro Bamo publicou no seu blog www.kabamwine.blogspot.com um post com o título “O Streep Tease das Ideias e o Papel dos Intelectuais,” que foi igualmente publicado com destaque no blog do Professor Carlos Serra (http://oficinadesociologia.blogspot.com) no qual, entre outras coisas, realçava a existência de “um Streep Tease das ideias que na minha óptica, tem vindo a alimentar debates, a prova disso são as contribuições intelectuais que podemos encontrar na blogsfera, o que tem vindo a clarificar o papel do intelectual, que é de ajudar com sua análise a sociedade a esclarecer-se de vários factos” e referia que o país carece de “de mais intelectuais corajosos, que não se escondem nos sovacos de partidos políticos em detrimento dos interesses da maioria. Temos muitos intelectuais que não comungam este streep tease de ideias em benefício da maioria, por um lado são movidos pela teoria das elites, por outro temem serem isolados e descomungados de regalias, são autênticos tiranos da globalização.” Trago a conversa que seguiu, via email, entre eu e o Lázaro Bamo como uma tentativa de demonstrar como o debate de ideias supera ou pode superar o ataque pessoal. Trago-a para aqui em resposta ao Desafio que o próprio Lázaro me lançou ao afirmar estar a “gostar dos contornos da nossa reflexão, é disso que o país precisa. Vamos ampliar o debate pelos outros blogistas que certamente irão se interessar em discutir a questão dos Sovacos (uma espécie de convicção que é uma prisão). Eis nos aqui.

Nos últimos tempos a blogosfera anda, de certa forma, tensa com certos sectores a demonstrarem uma intolerância extrema perante as ideias dos outros chegando mesmo à baixar para o insulto.

Tenho, pessoalmente, defendido que o mais importante é discutir ideias e não pessoas. Sou contra a adjectivação ou o vilipêndio do oponente como estratégia de “debate” como ocorre vezes sem conta nas esferas de debate em Moçambique.

Por este e outros motivos comentei o post, tanto no blog do Professor Carlos Serra, como no próprio blog do Lázaro Bamo. No Blog do Professor Carlos Serra (como não podia deixar de ser) fui insultado por uma tal de “Sara” por causa do tal comentário que entre outras coisas me apelidou de “hossi inchado”. No meu comentário defendia a ideia de que “tudo o que Moçambique precisa é de intelectuais comprometidos com a análise e compreensão dos fenómenos que ocorrem na nossa sociedade” e que “tudo isso requer honestidade.” No meu comentário defendi ainda que “Precisamos de sair de qualquer sovaco. Incluindo este da instrumentalização e da etiquetização dos outros seja com base na raça ou no credo político” e que “Precisamos de combater a cultura da UNANIMIDADE” que “não nos leva a lado nenhum” pois “é na diversidade de pontos de vista que encontraremos soluções para os diversos problemas que nos afligem como sociedade.”

Uma troca de emails interessante entre eu e Lázaro Bamo procurou fixar entendimento dos escritos um do outro. Nestes termos, Lázaro Bamo comentou que respeita a minha ideia de que “Precisamos de sair de qualquer sovaco. Incluindo este da instrumentalização e da etiquetização dos outros seja com base na raça ou no credo político", mas que eu o colocava “numa situação não muito confortável na medida em que no meu (Lázaro Bamo) texto não pretendo descriminar ninguém, apenas convido os intelectuais a assumirem o seu real papel na sociedade, respeito, mas não sou a favor de argumentos falaciosos. Não sou muito a favor dos intelectuais que acobertam falcatruas.”

Respondi ao Lázaro que também não sou a favor de nenhum intelectual que acoberta falcatruas. Nem de intelectuais que actuam com ligeireza ou que fazem leituras simplistas. Citei o seguinte exemplo: podemos não concordar com a forma como o Elísio Macamo problematiza a questão da corrupção (que quanto a mim nos sugere uma visão diversa do problema e nos chama atenção para os problemas mais prementes da nossa sociedade que ficam secundarizados enquanto discutimos o fenómeno – ainda sem caras – que é a corrupção) será isso “esconder falcatruas”? Podemos encher blogues a discutir o “Azagaia” (que nos leva ao que o Estado não está a fazer para que haja aquela intervenção do Edson) seria isso “não esconder falcatruas”? Por fim, sobre este assunto referi que “os juízos de valor que fazemos das ideias dos outros com que não concordamos não podem vir a público como uma etiqueta do género: este ou aquele intelectual escondem falcatruas. Nem este e aquele são os campeões das denúncias de tais falcatruas. Temos que discutir só e apenas o seu mérito e demérito e apenas NAQUILO QUE FOI DITO e com honestidade.” Acrescentei que não pretendi com o meu post dizer que o Lázaro descrimina alguém. Não. Longe disso. Chamei atenção ao Lázaro da tensão que anda na blogosfera e que em certos casos, MUITOS estão presos às figuras e ao pensamento de alguns Mui Ilustres blogistas (que respeito em absoluto) o que tolda a sua capacidade de analisarem os argumentos dos outros. Usando a sua “máxima” do sovaco, convido-o a si e a qualquer um a fazermos o esforço de sair de qualquer sovaco para podermos concordar ou discordar independentemente dos posicionamentos da Frelimo ou da Renamo, do Carlos Serra ou do Elísio Macamo, do Patrício Langa ou do Lázaro Bamo.

Sobre o meu comentário ao seu post, Lázaro referiu que “Nao sou como sugere quando diz " Precisamos de combater a cultura da UNANIMIDADE. Não nos leva a lado nenhum. É na diversidade de pontos de vista que encontraremos soluções para os diversos problemas que nos afligem como sociedade" defensor da unanimidade como conformidade geral das ideias, pensamentos, opiniões, etc. a minha tónica de abordagem esta virada para o real papel dos intelectuais, não ideias comuns, portanto respeito a sua opinião mas para um bom entendedor meia palavra basta quando falamos do papel do intelectual na sociedade.”

Sobre isto retorqui que não me dirigia a ele pessoalmente quando escrevi que “Precisamos de combater a cultura da UNANIMIDADE que não nos leva a lado nenhum. É na diversidade de pontos de vista que encontraremos soluções para os diversos problemas que nos afligem como sociedade”. Expliquei que esta ideia me surge do que acompanho desta blogosfera em que ambos andamos e fundamentalmente no Blog onde inicialmente vi o seu post que comentei. Há uma ideia generalizada de transformar quem discorda das nossas ideias em INIMIGO MORTAL em que até o insulto vale. Isso conduz a que os medrosos enveredem pela tal cultura da UNANIMIDADE para não serem vistos como INIMIGOS. Isso não nos serve. Acrescentei que precisamos, meu caro, de coragem para expor os nossos pontos de vista sem nenhum problema mesmo que tais pontos de vista choquem com as ideias do “nossos” professores, amigos ou familiares. O que não podemos fazer é usar os nossos blogues para atirar pedras uns aos outros. É destes sovacos que temos que sair.

Lázaro voltou a mim pela mesma via afirmando que concorda plenamente comigo quando afirmo que “a blogosfera anda tensa e que em muitos casos, MUITOS estão presos às figuras e ao pensamento de alguns Mui Ilustres blogistas (que respeito em absoluto) o que tolda a sua capacidade de analisarem os argumentos dos outros,” uma vez que imitar modelos não é filosofar, mas no mundo que se queira cientifico, toda abordagem deve abarcar algumas referencias pois um individuo deve não apenas analisar e falar mas também mostrar que fora ele existem teóricos que trataram o assunto e se for a visitar o meu cantinho de reflexão, certamente ira notar que não digo, não escrevo sem citar ninguém, não que esteja preso aos sovacos de alguém ou algo, mas parto dessas convicções para alcançar outros horizontes.”

Respondi ao Lázaro que no blog do um amigo meu (Ilídio Macia – o quotidiano de Moçambique) discutíamos as inconstitucionalidades que estão a “chover” em Moçambique e que para além da minha convicção que vinha da interpretação da Lei constitucional, buscava fundamento na doutrina sobre a matéria que citava devidamente e que fazia isso regularmente. Esclareci que o estar no “sovaco” a que me refiro não é nos apoiarmos, para defender as nossas teses, no pensamento dos outros; que o estar no “sovaco” a que me refiro é ser incapaz de contrariar a tese da Frelimo porque sou da Frelimo; é não poder contrariar a tese do professor Serra porque sou aluno dele etc. Sublinhei que são estes sovacos que sugiro a qualquer intelectual que saia deles. Aliás, se não me falha a memória querias que os intelectuais saíssem dos sovacos dos partidos políticos e eu acrescentei de qualquer outro sovaco. Portanto, meu caro, não é mau ir buscar fundamentos algures. Já não se pode inventar a roda mas podemos alicerçar-nos nas ideias de quem inventou em primeiro lugar a roda para fazermos a nossa própria roda. Mau é estar de um lado porque os outros estão lá e não pela causa que se defende a partir dessa trincheira.

Foi nesta esteira que Lázaro Bamo me lançou o desafio, de ampliar o debate pelos outros blogistas que certamente irão se interessar em discutir a questão dos Sovacos (uma espécie de uma convicção que é uma prisão).

Eis nos aqui. Está lançado o desafio

30 comentários:

Matsinhe disse...

Mais do que um streap tease de ideias eu diria que na nossa esfera de debate, principalmente na blogosfera, há uma prostituição de ideias. Um culto a superficialidade e uma desonestidade e irresponsabilidade intelectual muito grande em muitos ilustres blogistas. Isso é visível pela recusa pura e simples de debater com profundidade determinadas matérias (preferindo lançar suspeitas não fundamentadas) e a adjectivação e insulto aos oponentes. O Mutisse levou com a Sara no Diário do Sociólogo onde as indirectas e cutucanços a outros blogósferos e ilustres sociólogos são frequentes.
É a prostituição das ideias e a perversão do ensino que faz com que muitos não consigam dar o salto para além da voz do professor e olham para ele como O SEU PORTA VOZ, desatando a disparar (digo insultar) qualquer um que diga algo diferente do mestre.

É a perversão de ideias e a alienação mental que faz com que muitos sejam incapazes de criticar erros governamentais ou do Partido por que se dizem ser (que é de facto não deve calar a sua voz perante erros ou aberrações) da FRELIMO ou da RENAMO (tratando-se só do partido...).

Nelson disse...

Vamos separar as coisas.
A "lealdade" ao "pensar" do Dr. C.S ao que ele escreve e como escreve, faz realmente com que, como o caro Matsinhe diz, "muitos não consigam dar o salto para além da voz do professor". Essa lealdade no entanto, não é imposta pelo professor, talvez seja até a "cultura" que trazemos de outros círculos onde se acredita que não se pode discordar da "tribo" que fazemos parte ou da "autoridade" que nos representa.
Ninguém corre risco algum se discorda com o Dr. C.S, excepto o de ser considerado mal educado(não só por ele) se discordar de forma insultuosa como muito fazem por falta de argumento e não por necessidade de defender C.S que para mim nem precisa ser defendido. É diferente quando pensamos em lealdade ao partido que estamos filiados. Se não "danças" ao ritmo dos outros és logo do "outro lado". Há-de ser por ai que para não comprometermos o nosso "pão" que muitas vezes não vem só da nossa intelectualidade mas também dos postos que conseguimos graças à filiação partidária, acabamos atropelando as nossas consciências académicas. Falando com sinceridade será que existe espaço para ideias diferentes lá nos nossos "cantinhos políticos"? Não será posta em causa minha a confiança que se tinha da minha pessoa se eu discordar mesmo que o faça de forma mais argumentada possível. tanto na Frelimo como na Renamo esses dois maiores partidos existem vítimas disso.As "suspeitas" por exemplo de que as nomeações são determinadas mais pela confiança politica partidária do que competências técnicas, foi confirmada pelo S.G da Frelimo na sua recente entrevista à STV.
Oque tenho notado é que quando um assunto nos é incomodo buscamos logo formas de evitá-lo e penso que a melhor forma seria simplesmente não entrar no debate. Não comentar. Mas em vez disso, atacamos o autor seja lá quem for, desprezamo-lo pondo em causa o seu saber. Procuramos "ensinar-lhe" como devia abordar esse ou aquele assunto, tudo para que o assunto não seja tratado.
No socavo de alguma coisa havemos de sempre estar. E se conseguirmos nos livrar de todos os sovacos ainda havemos de estar no sovaco do nosso ego que não é dos menos "cegador"

Júlio Mutisse disse...

Matsinhe e Nelson,

Obrigado por cá virem e deixarem as vossas ideias. É interessante este exercício a que todos nos lançamos por uma esfera de debate mais responsável e leal.

No meu post original que deu azo a este debate com o Bamo insurjo-me contra o que chamo de cultura de unanimidade creio, para significar o mesmo a que o Nelson se refere quando diz que "talvez seja até a «cultura» que trazemos de outros círculos onde se acredita que não se pode discordar da «tribo» que fazemos parte ou da «autoridade» que nos representa." Para dizer que temos que fugir da tentação de dizer apenas: CONCORDO sem, antes, avaliarmos em que medida concordamos. A nossa blogosfera é fértil nisto.

Se inevitavelmente temos que estar em algum sovaco (seja do nosso ego o de qualquer outro) temos que ter consciência desse facto e das limitações que daí possam advir.

A seguir ponho o comentário do Lázaro Bamo que me enviou por email.

Júlio Mutisse disse...

O Texto abaixo chegou-me por email enviado por Lázaro Bamo. Compartilho-o aqui pelo interesse que tem para o que se aborda neste post (comentarei em post autónomo):

"Missiva ao Júlio Mutisse

Faço esta pequena exposição para dizer que apreciei a abertura do debate através do seu mundo de ideias subversisvas. Mas estou triste com alguns dos nossos intelectuais, que deixam a emoção sobrepor-se à razão. Estou decepcionado com intelectuais invejosos, que passam a vida a desvalorizar o trabalho e fama dos outros no campo das ciências. No processo histórico, todos somos protagonistas mas alguns è que se tornam mártires e os cobardes são publicamente e moralmente linchados.

Caro Mutisse, acho que a ciência mas do que holofote devia ensinar o homem a controlar o sentimento por meio do pensamento e não o contrário, pois a assim sendo estarémos condenados à desgraça.

Eu estou triste com as elites, que deixam a maioria comer lodo no lugar de pão, não estou frustrado mas acho que, Mutisse, Lázaro, Nelson, Serra, GM, etc podem fazer muito mais, levando luz para o túnel onde habita a esperança da maioria.

Hoje a maioria está em crise, subiu preço de chapa, e as elites escoltadas vão passeando sua classe as custas dos que pagam impostos e não tem regalias; aqueles que vivem acima de 100 USD quando em Golhoza (nome de um bairro na Matola), há quem vive a baixo de 1 USD.

Acordei hoje 5 de fevereiro de 2008 com receios de despertar em Nairob ou Darfur, e para minha infelecidade acordei em Bagdad e Cabul. Acordei triste porque lá no Singhatela (nome de um bairro na Matola), meus consaguêneos passarão a viver de batata doce que jà não cresce na machamba de vovó Gelina, lá para as bandas de Dona Alice, mas como diz um provérbio chinês, jamais desesperes, mesmo perante as mais sombrias aflições de sua vida, pois das nuvens mais negras cai água límpida e fecunda, continuo a acreditar na utopia.

Caro Mutisse leve minha carta para si e para os seus, para intelectuais que a pêrola do índico não conseguiu educar como patriotas, capazes de defender interesses comuns de uma nação que já existe, esquecem que Só conseguirá compreender o que é uma propriedade quem lhe tiver sacrificado uma parte de si próprio, quem tiver lutado para a salvar e sofrido para lhe dar beleza como dizia Saint-Exupéry.

Meu caro saiam eles dos sovacos de egoísmo, e venham mergulhar na catinga deste lado de cá onde me encontro com a maioria, que não tem sabão para lavar a boca."

Matsinhe disse...

Nelson,

Não devemos ter medo de debater seja qual for o assunto. Temos que ter abertura para o debate e fugir da "cultura de UNANIMIDADE que não nos leva a lado nenhum" como diz o Mutisse.

Existem várias formas de abordar os assuntos. Cada um tem a sua. Só que como digo muitas vezes, há pessoas de quem pela sua bagagem e, fundamentalmente, pelo estatuto que ostentam se exige outra forma de abordar as questões sobre o quotidiano deste imenso país. Da nossa classe académica exige-se responsabilidade na abordagem de determinados fenómenos principalmente por serem verdadeiras autoridades e com bastantes seguidores.

Exigir responsabilidade é recusar, por exemplo a discussão do tribalismo? Em absoluto, a minha resposta é não, não é recusar o debate. Pode-se debater o tribalismo e as diversas formas de sair do seu sovaco. Agora, podemos não concordar com a forma com esse debate é lançado e discutir o seu mérito. Podemos achar que a forma como certos debates são lançados é irresponsável e argumentarmos porque. Isso não é recusar o debate. É procurar uma via alternativa de debater esse assunto.

Temos que sair dos sovacos.

Nelson disse...

Eu defendo que mesmo na hora de "irresponsabilizar" a forma como um certo assunto é colocado, podemos fazê-lo sem apelar a métodos insultuosos. podemos exigir responsabilidade sem necessidade de "desprezar" o autor da "irresponsabilidade". Precisam-se argumentos. Apenas isso. Argumentos claros. Apontamos os "flows" duma certa abordagem defendemos nossa posição e melhor quando terminamos apresentando uma alternativa de abordagem.

Elísio Macamo disse...

caro júlio, obrigado a ti e ao lázaro bamo por trazerem este assunto à discussão. como sabes, correu muita tinta nos últimos tempos a propósito da nossa cultura de debate. a necessidade de continuar a debater a questão revela, para mim, algo muito mais importante do que a forma como cada um de nós apresenta os seus argumentos. na verdade, creio que foste muito feliz com a noção de "unanimidade", pois o que parece estar em causa é como partilharmos o espaço que moçambique nos proporciona e como sermos também moçambicanos com ideias diferentes. é o problema clássico da fundamentação do liberalismo que a filosofia política tem tentado responder com recurso à noção de tolerância. penso que precisamos de regressar a esse tipo de debates e reflexões para encontrarmos formas de acomodação do que é diferente. não quero complicar mais as coisas, mas acho pertinente dizer que a acomodação da diferença não pode prescindir de uma distinção entre fazer ciência e fazer política. em todo o debate que precedeu o vosso a minha preocupação foi de preservar o espaço de reflexão intelectual/académica responsável que vi comprometido com certas formas de intervenção pública. esta preocupação tem me permitido nunca discutir pessoas, mas sim ideias e, acima de tudo, ideias que tento representar fielmente antes de as atacar. não há pior coisa para o debate de ideias do que o ataque à caricatura dos argumentos dos nossos adversários. a tolerância exige uma outra postura na medida em que só posso observar a tolerância perante ideias bem formuladas (e com honestidade) com as quais não concordo. é isto que muitos ainda não perceberam e persistem em não perceber a julgar por uma e outra postagem que vou lendo por aí. é isto que torna importante a discussão que vocês voltaram a levantar aqui num ambiente mais calmo e reflectido do que foi possível há algumas semanas. os problemas do país são enormes e as acusações mútuas que gostamos de fazer periodicamente impedem-nos de nos debruçarmos sobre eles com a atenção que eles exigem. mas havemos de chegar lá.

Júlio Mutisse disse...

Ao Lázaro,

Retiro da missiva que me escreveu as seguintes passagens:

"...intelectuais, que deixam a emoção sobrepor-se à razão"

"Estou decepcionado com intelectuais invejosos"

"...intelectuais que a pêrola do índico não conseguiu educar como patriotas"

Acredito que, em algum momento, a blogosfera esteve tensa. Muito tensa. Até insultos ocorreram. Nessa época comentei que a diferença de ideias não podia chegar a tanto.

O Lázaro, partindo da diferença de ideias ou de pontos de vista com outros pensadores, encontrou, EMOCIONADOS, INVEJOSOS e INTELECTUAIS NÃO EDUCADOS. Para mim isto é problemático.

Mais do que chamar nomes a todos esses, porque não discutir as suas ideias? Pô-las em causa nas suas fraquezas etc? É mesmo fundamental o juízo de valor que o Lázaro faz da condição emocional dos intelectuais que têm abordagens diversas da sua?

Enuncia alguns problemas na sua missiva mas não os discute. Que elites lhe deixam triste por deixarem "a maioria comer lodo no lugar de pão"? Fala de académicos, políticos, intelectuais, governantes...? Se considerarmos que o Lázaro tem (suponho) formação (e informação) superior, estando num país com indices de analfabetismo assustadores, então faz parte de uma elite e, tomando a sua máxima, tem também a obrigação de "fazer muito mais, levando luz para o túnel onde habita a esperança da maioria". O que tem feito?

Falando sobre os chapas. Acho que não basta a um indivíduo como tu Lázaro falar apenas da sua subida. É preciso reflectir sobre os fenómenos que estão a volta disso. É preciso pensar nas razões quue estão por detrás das constantes subidas de combustível, pensar nos custos de manutenção dos veículos, na situação das nossas estradas etc. É preciso dizer também que o Estado não pode se eximir de prestar o serviço público de transporte aos seus cidadãos e que os sucessivos governos sentaram sobre esta questão que há muito requeria reflexão. Um intelectual que se preze, tem que informar e ajudar os grevistas a perceberem as razões por detrás de certos fenómenos. É preciso clarificar que hoje podemos cantar vitória por o Governo ter recuado mas que amanhã não teremos CHAPA porque muitos não terão capacidade de, com a tarifa que se cobra, e sem subsídios do Governo, com os custos inerentes à operação, fazerem a manutenção dos seus carros diminuindo dessa forma a frota já exígua de chapas. Temos que reflectir seriamente sobre isto Lázaro para que a Vovó Gelina, lá do bairro Singatela onde (se Deus quiser) passarei a residir, e as gentes de Golhosa percebam e, partam para manifestações mais conscientes.

Lázaro, saia desse sovaco da vitimização e assuma o seu papel como patriota. Não espere que sejam os outros.

Cumpra o seu.

PS: A cidade está calma... o Governo e os transportadores decidiram devolver a batata (já quente) para a panela adiando o inevitável por mais algumas horas. Digo inevitável porque acredito que não há como SEGURAR a subida dos preços do chapa a não ser que o Governo faça uma ginástica para a qual acredito não estar treinado (capacitado).

Júlio Mutisse disse...

Elísio

Obrigado por cá vires. É interessante ver como mantens aberta a porta para o debate apresentando com clareza os seus pontos de vista.

Quem me dera podéssemos todos ser assim. Volte sempre

Matsinhe disse...

Não precisei esperar muito para ver "uma prostituição de ideias" de que falava no meu primeiro comentário a este post.

Não precisei esperar muito para detectar a "recusa pura e simples de debater com profundidade determinadas matérias (preferindo lançar suspeitas não fundamentadas) e a adjectivação e insulto aos oponentes" foi só ler o post do Mutisse sobre a missiva que lhe foi dirigida por Lázaro Bamo, e confirmar esse escrito no blog deste último.

Há alguma forma de comprovar isso do que saber do ilustre Bamo que há intelectuais emocionados, invejosos e mal educados patrioticamente? Já sabíamos que na óptica do Bamo alguns estão no sovaco de partidos políticos, apesar de não sabermos como é que ele chegou a tal respeitável opinião.

Longe de nos pormos em bicos dos pés como os puritanos, e nos colocarmos numa trincheira virtual de onde lançamos farpas para um inimigo não devidamente identificado, deviámos prestar um serviço público à nação usando o nosso tempo para clarificar a sociedade sobre os fenómenos penosos que estão a acontecer.

Bamo não está a fazer isso. Para além da sovaqueira da "vitimização" referida pelo Mutisse o Bamo tem que sair daquela da SOBERBA, PRESUNÇÃO e afins que o fazem pensar e ver a inveja, emoção e má educação dos outros para passar a discutir os méritos ou deméritos das opiniões desses.

Matsinhe.

PS:

Mutisse, a cidade não está nada calma. A população se revolta agora porque os chapas não estão a circular...

Matsinhe disse...

Nelson,

Estou de acordo contigo. Nunca devemos insultar ou despreprezar os nossos oponentes. Todo aquele que insulta ou despreza tem a minha reprovação.

Da mesma forma tem a minha reprovação quem etiqueta os outros em função da tal diversidade ideológica ora "mandarizando" ou encontrando "guardiões do templo" entre aqueles que pensam diferente.

Temos que ser capazes de ver isto. Os insultos e maldizer têm que nos repugnar venham de onde vierem. Seja de quem esta nos mais próximo seja de quem nos está mais distante. A nossa bandeira tem que ser o debate de ideias.

Quando formos capazes de nos mostrar a parte destes que insultam e etiquetam os outros então estaremos a demonstrar capacidade de sair dos sovacos.

Anônimo disse...

Missiva ao Júlio Mutisse



Faço esta pequena exposição para dizer que apreciei a abertura do debate através do seu mundo de ideias subversisvas. Mas estou triste com alguns dos nossos intelectuais, que deixam a emoção sobrepor-se à razão. Estou decepcionado com intelectuais invejosos, que passam a vida a desvalorizar o trabalho e fama dos outros no campo das ciências. No processo histórico, todos somos protagonistas mas alguns è que se tornam mártires e os cobardes são publicamente e moralmente linchados.



Caro Mutisse, acho que a ciência mas do que holofote devia ensinar o homem a controlar o sentimento por meio do pensamento e não o contrário, pois a assim sendo estarémos condenados à desgraça.



Eu estou triste com as elites, que deixam a maioria comer lodo no lugar de pão, não estou frustrado mas acho que, Mutisse, Lázaro, Nelson, Serra, GM, etc podem fazer muito mais, levando luz para o túnel onde habita a esperança da maioria.



Hoje a maioria está em crise, subiu preço de chapa, e as elites escoltadas vão passeando sua classe as custas dos que pagam impostos e não tem regalias; aqueles que vivem acima de 100 USD quando em Golhoza (nome de um bairro na Matola), há quem vive a baixo de 1 USD.



Acordei hoje 5 de fevereiro de 2008 com receios de despertar em Nairob ou Darfur, e para minha infelecidade acordei em Bagdad e Cabul. Acordei triste porque lá no Singhatela (nome de um bairro na Matola), meus consaguêneos passarão a viver de batata doce que jà não cresce na machamba de vovó Gelina, lá para as bandas de Dona Alice, mas como diz um provérbio chinês, jamais desesperes, mesmo perante as mais sombrias aflições de sua vida, pois das nuvens mais negras cai água límpida e fecunda, continuo a acreditar na utopia.



Caro Mutisse leve minha carta para si e para os seus, para intelectuais que a pêrola do índico não conseguiu educar como patriotas, capazes de defender interesses comuns de uma nação que já existe, esquecem que Só conseguirá compreender o que é uma propriedade quem lhe tiver sacrificado uma parte de si próprio, quem tiver lutado para a salvar e sofrido para lhe dar beleza como dizia Saint-Exupéry.



Meu caro saiam eles dos sovacos de egoísmo, e venham mergulhar na catinga deste lado de cá onde me encontro com a maioria, que não tem sabão para lavar a boca.

Lázaro M.J.D.M Bamo disse...

Caro Mutisse escreve em jeito de comentário que: Mais do que chamar nomes a todos esses, porque não discutir as suas ideias? Pô-las em causa nas suas fraquezas etc?
Caro Mutisse, as convicções são prisões, dai que respeito sua opinião mas que ideias a discutir de individuos que estão corrompidos pelos bens materias? Aliás eles são caixas de ressonância e consumidores passivos da cobardia, eis o meu ponto de diálogo.
Enuncia alguns problemas na sua missiva mas não os discute. Enuncia alguns problemas na sua missiva mas não os discute. Que elites lhe deixam triste por deixarem "a maioria comer lodo no lugar de pão"? Fala de académicos, políticos, intelectuais, governantes...? Se considerarmos que o Lázaro tem (suponho) formação (e informação) superior, estando num país com indices de analfabetismo assustadores, então faz parte de uma elite e, tomando a sua máxima, tem também a obrigação de "fazer muito mais, levando luz para o túnel onde habita a esperança da maioria". O que tem feito?
Os axiomas são indiscutíveis, caro Mutisse que o povo come lodo no lugar de pão é evidente, e as causas meu caro são as que nós todos conhecemos: corrupção; falta de responsabilidade e respeito e consideração para com o próximo, etc.
O que tenho feito? Eis a pergunta do ilustre Mutisse. Convido a partilhar meus textos no jornal Zambeze; no meu sitio de masturbação intelectual; a ouvir o programa Matolinhas na Rádio Cidade 97.90 FM sábado sim sábado sim das 7horas as 10 da manhã.
Caro Matsinhe adorei a sua apaixonante visão e passo a citar: Há alguma forma de comprovar isso do que saber do ilustre Bamo que há intelectuais emocionados, invejosos e mal educados patrioticamente? Já sabíamos que na óptica do Bamo alguns estão no sovaco de partidos políticos, apesar de não sabermos como é que ele chegou a tal respeitável opinião.
Pede-me provas? Isso é resultado do positivismo, onde o verdadeiro é o tangível e o imaginário é uma falsidade. Não lhe darei provas da minha posição pois ela é resultado de várias premissas lógicas que untam o nosso dia a dia.
Queria sugerir que me dissesse o caminho para chegar as suas conclusões sobre factos sociais, quem sabe poderá me ajudar a ter mecanismos matsinhanamente válidos, para credibilidade dos meus comentários.
Escreve ainda que: Longe de nos pormos em bicos dos pés como os puritanos, e nos colocarmos numa trincheira virtual de onde lançamos farpas para um inimigo não devidamente identificado, deviámos prestar um serviço público à nação usando o nosso tempo para clarificar a sociedade sobre os fenómenos penosos que estão a acontecer.
Caro Matsinhe não tenho inimigos, e não discuto ideias nessa perpectiva, como forma de evitar ataque pessoal, que é um argumento falacioso. Queria que eu falasse de nomes? Estamos em caminhos antagónicos.
…Para além da sovaqueira da "vitimização" referida pelo Mutisse o Bamo tem que sair daquela da SOBERBA, PRESUNÇÃO e afins que o fazem pensar e ver a inveja, emoção e má educação dos outros para passar a discutir os méritos ou deméritos das opiniões desses.
Vejo claramente com este comentário, que estou diante de um intelectual egocentrista, vitima da bonança e como tal e filiando-se a visão mutissiana, faz um ataque pessoal ao Bamo, homem do povo, vitima que se assume como tal. Matsinhe e Mutisse não fazem critica, atacam suas vitimas como verdadeiros espartanos a busca de novas terras.
Nelson da Beira, escreveu que Minha revolta à esse intelectualismo se agiganta quando se vai ao cúmulo de usar dos seus saberes para "apedrejar" os que se lhes opõe. De certeza os mutissianos e matsinhianos irão te pedir provamos disso meu amigo. Atenção.
Mesma chamada de atenção vai para Elísio Macamo, que em jeito de comentário sobre o assunto escreveu que …a necessidade de continuar a debater a questão revela, para mim, algo muito mais importante do que a forma como cada um de nós apresenta os seus argumentos.
Phambeni

Júlio Mutisse disse...

Meu caro Lázaro,

Eis nos aqui de novo. Depois de classificar alguns intelectuais de emocionados, invejosos e mal educados, agora acrescenta que eles são materialmente corrompidos... esta formula continua problemática para mim. Não conheço pessoalmente muitos dos meus interlocutores (incluindo o próprio Bamo) para chegar a tais conclusões... mas conheço as suas ideias para as discutir de alguma forma.

A fluidez do seu pensamento e da sua escrita fazem me supor que seja um indivíduo com formação (e informação) superior. Estamos num país com indices de analfabetismo assustadores e sendo poucas as pessoas de formação superior em 20 milhões de moçambicanos, então o Lázaro faz parte de uma elite e, tomando a sua máxima, tem também a obrigação de "fazer muito mais, levando luz para o túnel onde habita a esperança da maioria". É isto que considera ataque pessoal da minha parte? Me desculpe, mas reformule o seu conceito de ATAQUE neste contexto.

Considero ataque pessoal chamar mal educados e corruptos aqueles que defendem ideias diferentes das nossas. Considero uma fraqueza partir para este tipo de mansturbação para vincar o nosso desagrado relativamente aos posicionamentos dos outros.

Não preciso chamar nomes ao Zambeze (onde escreve o Lázaro) para vincar o meu desacordo perante as suas (do Zambeze) abordagens em alguns assuntos. Não preciso atirar pedras ao Lázaro, ao Patrício, ao Ilídio e a tantos outros com quem esporadicamente tenho divergência de pontos de vista.

É possível um debate de ideias sem essas coisas. Para ti é indiscutível que "o povo come lodo no lugar de pão" , e que as causas são as que "nós todos conhecemos: corrupção; falta de responsabilidade e respeito e consideração para com o próximo, etc."

Porque que é que isso é indiscutível? Conhecemos todas as causas? Se concordamos que, de facto "o povo come lodo no lugar de pão", temos que concordar nas causas que aponta para isso? De que é que parte para concluir que "todos conhecemos: corrupção; falta de responsabilidade e respeito e consideração para com o próximo, etc."?

Há pelo menos uma pessoa que, publicamente discorda da sua visão de que a corrupção seja a principal causa de "o povo come lodo no lugar de pão" (suponho que falas da pobreza), com argumentos que, quanto a mim, são válidos. Os seus pontos de vista estão expressos em diversos posts nos seu blog "Ideias Críticas". Porque não discutir esta diversidade de pontos de vista? Temos mesmo que terminar na unanimidade de que a corrupção é a causa de todos os males?

Lázaro, é da profissão que escolhi e do meu sentido de cidadão respeitador da legalidade estabelecida que primarizo as provas. As sentenças condenatórias só são exaradas quando provados os factos de que as pessoas vão acusadas... não me baseio no "toda a gente sabe"... creio que esta nunca deve ser a base de partida e chegada para quem quer publicamente expor os seus pontos de vista.

Bem haja o debate. Não combata os intelectuais combata as suas ideias. Saia desse sovaco também.

Júlio Mutisse disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Matsinhe disse...

Infelizmente Lázaro Bamo, ainda não o vi discutir ideias. Se estiver errado me diga que ideia discutiu aqui?

Fez dois comentários a este post e só chamou nomes a pessoas: emocionados, invejosos e mal-educados. Agora diz que não discute com “indivíduos que estão corrompidos pelos bens materiais.” Mente com todos os dedos com que tecla ao escrever estes comentários quando diz não ter inimigos pois não se chamam essas coisas a simples oponentes em termos de ideias.

Não discute nada do que digo nem na resposta a si, nem nos demais comentários mas (como se me conhecesse) conclui que sou “egocentrista, vitima da bonança”. Com base em quê? Vá lá alguém saber? Haja paciência.

O sangue me alia ao Mutisse. Nem sempre as ideias nos unem ou uniram. Onde estava o Lázaro Bamo quando certos blogistas por questionarem civilizadamente as ideias do professor Carlos Serra em relação a diversos assuntos foram apelidados de Mandarins ou guardiões do templo? O que disse o Lázaro bamo perante o insulto da Sara no Blog do Professor Serra no comentário ao post que deu neste debate? Onde estava o Lázaro Bamo nos insultos ao Patrício Langa no seu blog? Vem aqui hoje dar nos lições de moral sobre ATAQUES?

Talvez se tenha desviado do essencial e não tenha percebido o que julgo que era sua intenção ao desafiar o Mutisse a fazer o exercício que fez e que temos estado a comentar. Talvez lhe esteja a ser difícil sair de algum sovaco para comentar como um bom (acho que pode ser) e independente intelectual esta ideia da necessidade de uma esfera pública comprometida com o debate leal dos assuntos que nos atormentam. Não somos todos académicos mas podemos sempre fazer um esforço de procurar entender o sentido e os méritos da intervenção de cada um.

A vida não é feita só de fidelidades. E mesmo quando estas relevam é necessário acrescentar alguma coisa mais. Competência por exemplo. Ser fiel à Frelimo ou a Renamo não é só cantar vivas. É algo mais. É poder acrescentar sabedoria em cada VIVA que se canta ou que se vá cantar.

Ser fiel a uma ideologia não escamotear os feitos negativos do expoente máximo dessa ideologia elevando os feitos negativos de quem defende a ideologia contrária ou teoricamente contrária. É ter capacidade de ver até que ponto, verdadeiramente, essas ideologias são contrárias e poder criticá-las nos seus méritos e deméritos. De certeza nunca fará isso porque alguns, na sua óptica estão materialmente corrompidos, para além de que existimos nós “geocentristas e vitimas da bonança”. Mas se tem competência, como eu julgo que tem (pode estar escamoteada por estar ensovacado em alguma coisa) devia ir para além dessas etiquetas que nos coloca.

Baza debater ideias e não pessoas.

Júlio Mutisse disse...

Lázaro Bamo enviou me por email o seguinte comentário:

ai vai a minha reação










Quis a vida e o destino, que eu conhecesse dois intelectuais, preocupados em discutir ideias, nomeadamente Júlio Mutisse e Gonçalves Matsinhe. Este encontro, tem vindo a alimentar muita discussão neste meu canto de masturbação intelectual. Alguns já sabem qual é a génese. Se não sabem é o texto onde lanço uma tese uma tese segundo a qual, alguns intelectuais estão em sovacos políticos partidários. O curiosos é que na sua mais respeitada intelectualidade e capacidade de análise, Gonçalves Matsinhe afirma que: Infelizmente Lázaro Bamo, ainda não o vi discutir ideias. Se estiver errado me diga que ideia discutiu aqui?




Se me deu a honra de desprender seu tempo para ler o meu pobre texto, O streep Tease das Ideias e o Papel dos Intelectuais, certamente viu que procuro fundamentar a minha posição, digo claramente onde estão alguns dos nossos intelectuais e a fazer o quê. Não me limito a dizer aspectos negativos, mas a falar de aspectos também dignos de respeito e realce.




É triste ver nossos companheiros com afirmações pobres como: Eis nos aqui de novo. Depois de classificar alguns intelectuais de emocionados, invejosos e mal educados, agora acrescenta que eles são materialmente corrompidos... esta formula continua problemática para mim. Não conheço pessoalmente muitos dos meus interlocutores (incluindo o próprio Bamo) para chegar a tais conclusões... como sugere Mutisse, numa clara tentativa de me dizer que tenho que conhecer as pessoas para chegar a estas conclusões. Jurista de carreira, certamente já interpretou muitos teóricos, conhece-os? Certamente já emitiu juízos a partir do comportamento dos indivíduos. Conhece-os?




Temos mesmo que terminar na unanimidade de que a corrupção é a causa de todos os males? Não, se está lembrado não coloquei no meu texto apenas a corrupção e no fim vem etc.




Matsinhe, pergunta: Onde estava o Lázaro Bamo quando certos blogistas por questionarem civilizadamente as ideias do professor Carlos Serra em relação a diversos assuntos foram apelidados de Mandarins ou guardiões do templo? O que disse o Lázaro Bamo perante o insulto da Sara no Blog do Professor Serra no comentário ao post que deu neste debate? Onde estava o Lázaro Bamo nos insultos ao Patrício Langa no seu blog? Vem aqui hoje dar nos lições de moral sobre ATAQUES?




Não vim com lições pese embora minha formação académica me leve para a docência, apenas dei nome ao acto.




Talvez lhe esteja a ser difícil sair de algum sovaco para comentar como um bom (acho que pode ser) e independente intelectual esta ideia da necessidade de uma esfera pública comprometida com o debate leal dos assuntos que nos atormentam.




O mau não é estar no sovaco, o problema é que alguns estão em sovacos, cuja finalidade é usar e abusar os outros. Praticar injustiça, corromper, e tornar os méritos em deméritos, esse sim é um sovaco que não aconselho aos intelectuais que prezem como tais.




Um comentário digno de realce expresso por Matsinhe encontra na passagem onde escreve...Ser fiel a uma ideologia não escamotear os feitos negativos do expoente máximo dessa ideologia elevando os feitos negativos de quem defende a ideologia contrária ou teoricamente contrária. É ter capacidade de ver até que ponto, verdadeiramente, essas ideologias são contrárias e poder criticá-las nos seus méritos e deméritos. Este é na minha óptica, o dever de um intelectual mergulhado nos sovacos de qualquer que seja a natureza.

Phambeni

Júlio Mutisse disse...

Mais uma vez obrigado pelo seu tempo Lázaro,

Aqui vai o meu comentário no que me toca. Há coisas que eu nunca diria de ninguém. Quando diz por exemplo que o Matsinhe é egocêntrico e “vítima da bonança” são conclusões fortes que um mero comentário de dizeres blogeados não me permitiria atingir.

Profissionalmente comento muitos textos, tenho que visitar e revisitar a doutrina mas isso nunca me fez concluir que um ou outro doutrinário é egocêntrico, vítima da bonança, emocionado, invejoso ou mal-educado. Desculpe a POBREZA do meu comentário mas, please, não venha chamar nomes as pessoas a título de debate.

Gostaria que retivesse alguns pontos do meu pensamento nesta matéria, que norteiam a minha intervenção desde o início:

1. em Mozambique é possível debater sem adjectivações e convivermos BEM com a diversidade de ideias;
2. a concordência com um ou outro pensador, nacional ou estrangeiro, famoso ou menos famoso, não deve toldar a nossa independência de analisar, questionar e discutir o seu pensamento;
3. os juízos de valor que fazemos das ideias dos outros com que não concordamos não podem vir a público como uma etiqueta do género: este ou aquele intelectual escondem falcatruas, este ou aquele intelectual escondem falcatruas, este ou aquele intelectual é invejoso, este ou aquele intelectual é mal educado ou ainda, este ou aquele comentador é egocêntrico e vítima da bonança.

Isto é o essencial do que defendo. Já percebi que o Lázaro considera que há certos intelectuais que agem de acordo com agendas partidárias e que escondem falcatruas. Já percebi também que considera que alguns desses são emocionados, invejosos, mal-educados, corrompidos etc. Tudo isto conclusões. Cadê as premissas? Talvez me diga toda a gente sabe... ou que lhe estou a exigir provas. Mas para mim não basta o juízo de valor que faz desses intelectuais. Interessa também que diga de onde parte para chegar a tal conclusão. Que pensamentos desses intelectuais te apareceram que o fizeram tirar tais conclusões da mesma forma que conclui que o Matsinhe é egocêntrico e vitima da bonança.

Tenho dito. Se daqui não evoluirmos dou o assunto por encerrado.

Um abraço.

Matsinhe disse...

Bamo,

No texto que resume a vossa (sua e do Mutisse) troca de emails que temos vindo a comentar há dias V.Excia ainda NÃO discutiu nenhuma ideia. Em todos os seus posts V.Excia APENAS chamou NOMES a pessoas (não identificadas evidentemente) com quem, em algum momento não concordou em alguma coisa(pode concordar no futuro).

Se a sua forma de abordar questões que surgem num ambiente em que V.Excia diz apreciar "a abertura do debate através" do mundo de ideias subversisvas do Mutisse, então estamos mal. Pior é que, como diz, a sua formação académica pode o levar para a docência. Que estudantes do Social sairão das suas mãos incapazes de transpôr a linha do "estudo pessoal"?

Tenho aprendido muito na blogosfera. Os debates que tem corrido tem me ajudado a repensar sobre muitos fenómenos que ocorrem no nosso quotidiano. O debate sobre a corrupção que comecei a acompanhar no blog do jornalista Machado da Graça e as nuances que foi tendo nos diversos blogs faz me por exemplo pensar duas vezes antes de enunciar que o "povo come lodo no lugar de pão" por causa da CORRUPÇÃO por exemplo. Para mim a virada ocorrida em 1986 transformou o país num verdadeiro salve-se quem poder, potenciando desigualdades que até aí, no ideal do Estado que se pretendia construir, não eram MUITO visíveis. No mesmo espaço, no mesmo quarteirão, podem viver pessoas com níveis de vida completamente diferentes. O nível de vida de um individuo com formação superior pode não ser igual ao de um individuo com formação básica ou média geral ocupando categorias subalternas no seu posto de trabalho; seria justo então este último, olhando para o carrito do ilustre Dr., o seu vestir, etc considerá-lo corrupto? Estas, são em minha opinião, situações causadas pela via que escolhemos, a partir de 1986, seguir. Não podemos querer neste capitalismo selvagem em que vivemos, situações que, quanto a mim só seriam possíveis se se efectivasse, de facto, o comunismo que, em algum momento, repudiamos.

Isto não me torna insensível ao sofrimento da maioria é, apenas, a representação parcial do meu ponto de vista sobre como a tal economia de mercado que propugnamos transforma a sociedade em que vivemos. É uma luz que nos pode fazer ver que não é SÓ a corrupção (que existe de facto) que causa os desiquilíbrios no nível de vida dos Moçambicanos (mesmo entre irmãos).

Quanto ao resto ilustre Bamo... é bom que dê nomes a todos os factos. Dê os nomes às coisas iguais mesmo quando ocorrem no seu "QUINTAL". Não o aconselho a permanecer nesse sovaco em que está vilipendiando outros. Não lhe fica bem. É como se diz vamos discutir ideias e não pessoas.

O País oferece-nos premissas várias para discutir os fenómenos sociais. Podemos partir sempre de uma perspectiva histórica para perceber o que nos aconteceu. Não precisamos é estar as turras uns com os moutros.

Matsinhe

Martin de Sousa disse...

Estou a regressar à blogosfera, quero aindar encontrar o fio de tudo o que está a ser dito aqui. Se a ideia era debaterem queiram por favor debater. Lázaro e Muitsse come on

chapa100 disse...

mutisse! cheguei tarde, ando longe do blog. mas acho que iniciaram um debate animado, mas perderam-se na essencia. parece-me que o bamo procura protoger a sua crenca de que os intelectuais estao nos sovacos. o que nao entendi ate aqui tem haver se o problema esta no sovaco, ou esta no dono do sovaco? qual sera a parte do corpo que melhor caracteriza um intelectual? se estamos no sovaco, onde estao os outros "nao sovaqueiros"? parece-me que na nossa sociedade ha uma necessidade imperiosa de identificar intelectuais,o que justifica isso? qual e diferenca entre um intelectual e o Zoro ou robin dos bosques?

o desafio nosso talvez seja o de poder reflectir sobre os nossos problemas pessoais que queremos que se tornem problemas sociais de uma sociedade inteira. nao sei se a exposicao do bamo vem a proposito deste exercicio de identificar os actores sociais para os problemas sociais do pais. acho que estamos perante um debate interessante.

Júlio Mutisse disse...

Meu caro Chapa 100,

Nunca é tarde principalmente quando a intervenção alarga os horizontes de um debate que, a dado passo, começou a não fluir. Ficou circular.

Colocas algumas perguntas que são pertinentes sinto me (apenas) em condições de responder a que se refere a necessidade que existe de identificar intelectuais e as razões que justificam isso. Eu sentiria algum conforto se essa necessidade imperiosa de identificar intelectuais tivesse um fito positivo de "agrupar" os intelectuais segundo as ideias que defendem a cada momento etc. Nessa perspectiva, acho que ninguém se importaria.

Mas, pelo contrário, me parece que esse exercício é feito como se de verdadeira caça as bruchas se tratasse. Como que houvesse uma tentativa de separar os BONS dos MAUS; entre aqueles que "escondem falcatruas" e aqueles que as "denunciam"; entre aqueles que se escondem nos "sovacos de partidos políticos" e aqueles que já sairam deles. Portanto, esse exercício, quando é feito é para nos demarcarmos de certas vizões e nos apresentarmos como "limpos/livres" da "impureza" de comungarmos dos ideais deste ou aquele intelectual que está nesta ou naquela "trincheira".

e me parece um exercício perigoso pois, a única forma de evitar ser "identificado", é cultivar a "UNANIMIDADE", é não questionar. Concordar sempre. Isso me assusta de alguma forma (já alguém disse que o medo é bom; ajuda-nos a conhecer as nossas limitações).

Anônimo disse...

Meus Caros

a questao nao se prende com a defesa de uma premissa afirmativa e universal de que os intelectuais estao nos sovacos, nos meus escritos abordo a questao numa perpectival afirmativa e particular.O problema em questao nao 'e pessoal Chapa 100, pese embora o facto de quando estiver a escrever fazer referencia a nomes dos meus. Agora quanto aos sovacos, 'e importante que na nossa humilde reflexao entendamos sovaco, como uma crenca, o que nao 'e mau. negativo neste cenario 'e quando alguns ilusteres intelectuais arquitectam ou pelo menos assessoram o desenho e implementacao de estrategias de desenvolvimento maquiavelicas e pouco eficientes. tomemos o caso do valor dos Chapas, que causou tumultos, se as decisoes tivessem sido refinadas pelos intelectuais, assessores, com uma capacidade de prever os riscos da medida, nao teriamos chegado ao extremo que chegamos. quando um intelectual andica sua funcao tecnica e visao critica mergulhando em ideologias partidarias, passa a ser o consumista passivo, entramos para um cenario em que ele serve de caixa de ressonancia. e a minha pergunta 'e: onde esta a sua capacidade critica e de analise de situacoes de modo a fazer valer sua opiniao? como colocar as ideologias partidaria ao bom servico das massas? como ser imparcial perante os erros nas ideologias dos partidos? portanto arrolo aqui algumas questoes que me levam a polemica tese de que ALGUNS INTELECTUAIS ESTAO NOS SOVACOS DE PARTIDOS POLITICOS, e digo mais isto 'e ignorancia por culpa propria. Mutisse sempre falou e muito bem do combate da cultura da UNANIMIDADE, eu apoio esta posicao mas a ideia minha nao 'e criar um padrao unico de analise situacional mas uma diversidade que tem em vista a resposta dos desafios do desenvolvimento do nosso pais, que tanto precisa de intelectuais.

vamos continuar com o debate, desvendando o estatuto do intelectual em mocambique

Phambeni

Lazaro Bamo

chapa100 disse...

caros Bamo e mutisse! obrigado pela vossa resposta.

existe uma heranca historica, que inconscientemente serve de modelo para caracterizar o bom cidadao: o cidadao denunciador.

Denunciar implica na nossa sociedade tomar posicoes. e muita das vezes confunde-se o exercicio de denunciar como um exercicio critico. nao acho que estes dois exercicio sejam sinonimos. e em qual destes exercicio deve o intelectual fazer parte?

Bamo, tenho assistido um debate problematico sobre a tecnica e a politica. confundem-se o papel e a responsabilidade de ambos no desenvolvimento do pais. isto resulta da ignorancia que temos da filosofia politica e da heranca historica de mocambique. pedir aos tecnicos uma responsabilidade politica e perigoso, porque significa retirar do politico a responsabilidade aquirida constitucionalmente para exercer o seu papel. um bom parecer tecnico nao significa um bom parecer politico, os intrumentos de analise sao diferentes, e os meios que usamos para alcancar os fins sao muitas vezes opostos.

entao o nosso merito tecnico esta em oferecer a politica melhores instrumentos de analise e execucao para as suas decisoes politicas. e como deve ter se apercebido a decisao sobre o aumento do chapa100 foi politica, na base de um conhecimento tecnico que mostrou-se politicamente impopular.

caro bamo, parece que confundes ideologia, acto de governar, e producao tecnica. um partido politico faz usos destes tres pontos, mas faz-o dentro de um quadro constitucional que o permite expor em decisoes politicas. espero estar enganado.

Júlio Mutisse disse...

Ilustre Chapa 100,

Isto (re)começa a animar. É interessante a análise que fazes. Mais ainda se a cruzarmos com o debate que o Bamo pretende levantar no seu blog em http://kabamwine.blogspot.com/2008/02/directo-ao-assunto.html no qual ele lança diversas perguntas das quais destaco:

1. O que é ser intelectual? E em Moçambique?

2. Que tipo de intelectuais temos em Moçambique? Que papel desempenham?

3.Qual é em Moçambique a relação entre os intelectuais e os Partidos?

4. Que contribuição os intelectuais têm dado ao país?

Se calhar (esta é minha opinião/convicção) se conseguirmos responder a estas questões, daremos um passo para entender o papel dos assessores, técnicos e vários outros "intelectuais" umas e outras vezes integrados na máquina governativa, separando a linha da concepção/pensamento/idealização (que cabe aos técnicos) da linha da decisão/execução (que cabe aos políticos).

Mutisse. Em frente com o Debate.

Elísio Macamo disse...

jorge, foste extremamente feliz com a expressão "cidadão denunciador". tu não imaginas os estragos que esta herança está a fazer na nossa esfera pública e também na academia. parabéns! júlio, pela boca morre o peixe. vamos simplesmente definir um cidadão responsável. e minimamente: aquele que, conscientemente, não faz mal a ninguém. vamos exigir dos intelectuais que reflictam sobre as condições que são necessárias para que a nossa vida seja assim. se não conseguem, vamos pelo menos esperar que eles também não façam mal a ninguém com o hábito da denúncia...

Lázaro M.J.D.M Bamo disse...

Isto começa a animar de verdade Mutisse, a excelente exposição de ideias e pensamentos fundamenta esta posição. Caro Jorge, é sim perigoso pedir aos tecnicos uma responsabilidade politica, mas mais perigoso é os técnicos fazerem da técnica homem de campo da política. Estes dois aspectos não devem ser analisados e vistos separamente dado que existe aqui uma interdependência entre ambos. O produto político em termos práticos não é observável dai que sustentando-se na técnica os movimentos políticos procuram converter ou pelo menos desafiar os seus ideais. O técnico pode ser político e vice versa, mas o mal é o exagero das posições e actuações maquiavélicas. O técnico não deve esquecer a sua capacidade crítica e de análise, assim como deve colocá-la em prática, como forma de melhor a sua imagem e seu papel de politico. Critica e denúcia actuam lado a lado, senão vejamos. Ao fazer uma abordagem critica de um determinado cenário, por exemplo ao falar dos tumultos do dia 5 alguns formadores de opinião tentaram mostrar (denunciar) algumas vantagens e desvantagens da manifestação, as implicações, etc. Encontro dificuldades para separar estes dois aspectos, assim como encontro dificuldades de ideologia, acto de governar, e producao tecnica.

Minha posição meus caros, é de que nós devemos despertar a consciência e agir como seres pensantes, não avaliar os fenómenos isoladamente pois isso é arriscado para uma análise que se queira exaustiva.

Podemos falar das tensões socias que estão a manchar o país nos dias que correm, mas nossa visão não se limita apenas no factor transporte, vai além disso daí que entramos para aldeia global e falamos da subida do preço do combustivel; falamos da insatisfação das pessoas face as regalias que as menorias tem em detrimento da maioria. Estou ciente de que em democracia o ideial do governo do povo é uma utopia, pois temos quem traça as políticas e estratégias e orientam a nação.

Meus companheiros, não dessociemos factos sociais em análise para não cairmos na parcialidade.

chapa100 disse...

caro mutisse! acho que nao estou preparado para poder responder o que e ser intelectual em mocambique. teria que olhar para o espaco mocambique, a sua capacidade de aceitar espacos de ideias e debates, a singularidade do pensamento, a razao que oferecemos as nossas emocoes, e a necessidade de que mesmo que nao saibamos do conteudo das nossas crencas ou verdades absolutas procuramos razoes racionais para explicar nossas duvidas.

como deve ter percebido embrulhei-me porque nao tenho ainda uma resposta formulada. penso que a proposta do elisio pode ser valida, no sentido de que ser intelectual implica ser cidadao responsavel dos seus actos.
caro bamo, tenho algumas duvidas em entender a tua interpelacao. estou na duvida se temos algum entendimento claro do papel que cabe a um tecnico e a politica em muitas questoes da nossa sociedade. continuo pensando que um bom tecnico sabe diferenciar o espaco tecnico do espaco politico. ha decisoes que exigem uma responsabilidade tecnica e tambem aquelas que exigem uma responsabilidade politica.a interdependencia destas decisoes resulta da necessidade de que os dois servem a mesma sociedade no seu todo. tenho reparado que existe uma falta de abordagem dos fundamentos/principios eticos da nossa intervencao tecnica ou politica.

parece-me a mim que o pensamento critico pertence a ambos. a politica sem critica nao funciona, nao produz politica. tal acontece com a tecnica.a nossa experiencia politica em mocambique tem muitas "coisas" que estimulam a falta de um exercicio critico sobre os fundamentos politicos que sustentam as nossas opcoes politicas. mas isso resulta da cultura politica vigente no pais. a necessidade de produzir um pensamento unico nas decisoes politicas abdicou-se da exteriozicao da critica.

agora Bamo de que ha problemas serios de enquadramento institucional no aparelho do estado sobre onde se produzem decisoes politicas e onde deve produzir-se decisoes tecnicas, isso concordo.

a denuncia e a critica nao e a mesma coisa. parecem, mas eles usam fundamentos diferentes para serem legitimos. para denunciar-mos partimos do principio de que sabemos do que e bom ou mau, defendemos algo que muitas vezes nao ousamos questionar. a denuncia esta aliada a manifestacoes de controle social. denuncia num contexto como o nosso requer vigilancia, a personificacao da ideia, do acto. a critica precisa de argumentos, de instumentos analiticos, a despersonificacao de ideias, entre ideias validas e nao validas.

e parece que neste debate nao estamos a busca da parcialidade, e aprecio bastante esta nossa maneira de brincar com a critica. o desafio acho que esta no dialogo e debate.

Matsinhe disse...

Diz o Jorge (e eu concordo) que o "desafio esta no dialogo e debate". O desafio está também na capacidade que devemos ter de multiplicar esta capacidade de diálogo para outros e de fazer deste exercício não um mero STREAP TEASE de ideias mas, fundamentalmente, uma fonte de inspiração para a solução dos problemas do país.

Quem me dera que governantes espreitassem os nossos blogs e apreendessem algo dos nossos debates. Quem me dera que alguns desses tivessem espírito aberto para (mesmo sem comentar os posts feitos) de cá retirassem as ideias que considerassem válidas para a solução dos problemas da nação.

Podemos chegar a esse ponto. Precisamos livrar nos das tensões negativas (querelas pessoais) para discutirmos COM ciência não só os problemas mas as soluções que preconizamos para eles. Não precisamos ser unánimes relativamente a essas soluções caberá a aqueles que conseguirmos enquadrar a escolha daquelas que se parecem mais adequadas para o problema em específico que discutimos e a solução que se preconiza.

Este é o desafio que se coloca aos intelectuais: influenciar com o produto do seu intelecto na formulação/identificação de problemas e na busca de soluções. Isso requer que o intelectual moçambicano CONQUISTE o seu espaço. Destaco CONQUISTE porque se queremos a afirmação de uma classe intelectual não podemos esperar que alguém (normalmente espera-se isso do governo) dê/conceda tal espaço.

Bamo, temos muitos e bons técnicos no aparelho do Estado que ajudam os políticos com o seu saber, na tomada de decisões. Só por exemplo, o Ministro dos Transportes pode encomendar um estudo aos técnicos do seu Ministério sobre os efeitos da subida dos preços dos combustíveis no mercado internacional no sistema de transportes em Moçambique, a sua influência na estrutura de custos dos transportadores bem como o sistema tarifário adequado à situação. Pode vir desta hipótese um estudo competentemente feito e com larga inflência na decisão que o Ministro vá tomar, por exemplo, sobre as tarifas do serviço público. Será que essa tarifa vai necessariamente seguir o preconizado no estudo? O Ministro que é político, terá que pesar diversos factores que provavelmente não tenham sido preconizados pelos técnicos e decidir... ou seguir fielmente o conselho técnico. Será isso influenciar na implementacao de estrategias de desenvolvimento maquiavelicas e pouco eficientes em que cada um fez a parte que lhe competia?

Lázaro M.J.D.M Bamo disse...

Meus Caros


Temos que trazer o nosso debate ao publico, isso 'e verdade. qual seria a estrategia. temos muitas ideias que talvez se limitam aos que tem acesso a internet e visitam os blogs.

indo ao conteudo da nossa discussao, quero concordar com Matsinhe quando diz que o desafio dos intelectuais 'e influenciar com o produto do seu intelecto na formulação/identificação de problemas e na busca de soluções. Isso requer que o intelectual moçambicano CONQUISTE o seu espaço. dê/conceda tal espaço...... NA VERDADE O CONQUISTAR ESPACO PARA A EXPOSICAO DO PRODUTO INTELECTUAL NA MINHA OPTICA SIGNIFICA LEVAR SUAS IDEIAS A PENEIRA OU CUADOR POPULAR, A SEGUIR AJUDAR AS MASSAS A IDENTIFICAR E BUSCAR SOLUCAO DOS SEUS PROBLEMAS AI SIM ESTAREMOS PERANTE UMA SITUACAO EM QUE O BLOCO DOS INTELECTUAIS ESTEJA FIRMADO, VAMOS IGUALMENTE PASSAR PARA UMA FASE EM QUE O INTELECTUAL SEJA OUVIDO, SUA PARTICIPACAO NA TOMADA DE DECISOES, COMO GARANTE DO POVO, SE FACA SENTIR.

VOLTO A QUESTAO: COMO ALARGAR O DEBATE?

PHAMBENI