Sucedem-se as entrevistas dos protagonistas da nossa história recente. Sucedem-se as revelações sobre factos históricos que, até há bem pouco tempo, praticamente não eram falados em público.
Começa a crescer, em muitos, a esperança de que, a breve trecho, a nossa história será oficialmente recontada e novos protagonistas poderão ser exaltados.
Perguntava-me uma amiga, se diante de certos factos ( por exemplo os fuzilamentos finalmente assumidos) não seria altura de abrir o dossier completo revelando, por exemplo, onde estão enterradas essas pessoas quanto mais não seja em nome da reconciliação nacional? It was just a thought mas, porque não?
Mas o que não me sai da cabeça é a tirada do ilustre Sr. Hama Tai. Continuo estupefacto! Nunca imaginei que houvesse quem pensasse que a juventude moçambicana não vale nada, tanto que pode vender o país. Meu Deus.
Infelizmente não ouvi, nem sei se houve, reacção das estruturas representativas da juventude quer a nível partidário (OJM ou Liga Juvenil da Renamo por exemplo), quer a nível supra partidário como é o caso do CNJ (ainda existe?). O silêncio, muitas vezes, pode ser tomado por consentimento. Será que todas essas estruturas consentem que nós os jovens podemos vender o país?
De onde virá a ideia do ilustre Hama Tai de que podemos vender o país? Por estarmos a servir mal a pátria no exército e na polícia? Por aceitarmos ir aos distritos como magistrados, agrónomos, médicos etc, passando todas as dificuldades em nome desta pátria que ora diz que podemos vender?
Ou será porque estamos em quase todo o lado produzindo o pouco que cá de dentro financia o orçamento do Estado? Estará o ilustre Hama Tai a tomar todos os jovens moçambicanos por aqueles que habituados a mordomias andam ociosos, em bebedeiras de segunda à segunda, gastando por dia o que muitos só ganham por mês? Ou ainda: será que o ilustre Hama Tai acha que os milhares de jovens sem emprego, sem possibilidade de ingressar no ensino superior, gostam da vida que levam e pretendem continuar "pendurados" no muro da esquina o resto da vida?
A geração de 1962 sacrificou a sua juventude para libertar a pátria. Muitos de nós nascemos com o país já independente e aprendemos a idolatrar Mondlane, Samora e muitos dos que se destacaram na luta pela independência.
A libertação do país trouxe oportunidades outrora negadas. Oportunidades que foram negadas há muitos dessa geração de 1962.
De 75 para cá, muitos jovens formaram-se e continuam a formar-se quyer a nível interno como lá fora. Se calhar o general tem medo deste desafio que é ver a massa pensante do país crescer em quantidade e qualidade. Talvez esse crescimento seja uma ameaça razão porque, como no futebol, seja necessário recorrer aos mind games, mesmo que isso signifique desqualificar todos jovens que afinal, têm o país nas mãos. É em nós que está confiada a defesa da pátria, é na nossa capacidade produtiva que se encontra a esperança do desenvolvimento do país.
É uma pena que haja quem não valorize tudo isso e ache que podemos VENDER O PAÍS.
Acredito que esta juventude adormecida não espera que a geração Nachingueya lhe dê oportunidade. Uma juventude consciente se afirmará, conquistará o seu espaço e provará aos que pensam como o Sr. Hama Tai que ela também pode fazer coisas boas e bonitas tanto ou mais do que a geração de 1962 fez desde 1975.
Jovens, é tempo de trabalho. Valorizemo-nos.
Um comentário:
Em entrevista ao País Jacinto Veloso disse pensar que Hama Thai não estava a referir-se a todos os jovens. Acho que localizou um e outro como sendo jovens sem responsabilidade. Acredito que ele não quis dizer concretamente vender o país. Penso que o que ele quis dizer e que os jovens podem comprometer o país.
Me parece uma tentativa furada de explicar a irresponsabilidade do General Hama Thai nas suas declarações.
Como o próprio JV diz, acredito também que o General Hama Thai pensa e sabe que é na juventude onde está o futuro do país.
Numa coisa concordo com o Mutisse e com o Jorge Rebelo que afirmou em entrevista ao Savana: "A meu ver, não há outra alternativa, senão os jovens assumirem o seu papel. O problema é que os jovens ficam à espera de ordens. Eles têm que conquistar o seu espaço, como fizeram os “jovens do 25 de Setembro”. Ela ainda não assumiu essa necessidade. Os jovens têm que envolver-se, têm que reclamar o direito que têm de participar da governação do país. Agora temos, por exemplo, a luta contra a pobreza, na qual os jovens têm que se envolver como fizeram os do “25 de Setembro”, visando a libertação do país."
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