Ilustres,
Daviz Simango é um dos políticos do momento. É difícil falar das autárquicas de Novembro sem mencionar a situação gerada pela sua exclusão à corrida pela sua própria sucessão. A exclusão já foi chamada de "suicídio político" da Renamo e do seu líder "carismático" Afonso Dlhakama.
O texto abaixo não é da minha autoria. Achei-o interessante por trazer uma abordagem diferente do fenómeno que é Deviz Simango de momento. Achei útil trazê-lo para aqui para que o possamos analisar e debater em conjunto.
(O TEXTO É ASSINADO POR ROGÉRIO SITOE E VEM PUBICADO EM http://www.jornalnoticias.co.mz/pls/notimz2/getxml/pt/contentx/239467 )
"CONJECTURAS - Daviz e o preço da ambiguidade
ACHO bastante interessantes, quanto curiosas, determinadas abordagens em torno do problema que divide o actual presidente do Conselho Municipal da Cidade da Beira e a liderança da Renamo quando fazem o papel de ideólogos ao serviço de Daviz Simango. Teorizam tudo. Dá-lhes gozo puxar pelo léxico sobre o seu desempenho e reunir a retórica em socorro da sua recandidatura, em nome da Renamo. Curioso porque exclui, certamente, um dos eixos fundamentais em torno desta problemática, nomeadamente a real integração e inserção publicamente assumida de Daviz Simango na Renamo, como partido.
Maputo, Sexta-Feira, 19 de Setembro de 2008:: Notícias
Não passam muitos meses que em entrevista a um jornal da praça, Daviz Simango, estranhamente, se contorceu para responder ao que na altura parecia uma simplicíssima pergunta, em que lhe era solicitado para afirmar que sim ou negar que fosse membro da Renamo. No final, não saiu nem um sim nem um não categórico. Ficou-se por um “nim”.
Para os mais atentos, nessa altura pairou a pergunta no ar: Porquê?
Não era uma dúvida sem propósito e se o fosse, hoje, maior é a sua pertinência. Sobretudo causada pela contradição das declarações na cúpula da Renamo, por um lado Afonso Dhlakama a afirmar que Daviz é membro, sim, e por outro lado o porta-voz, sem titubear a afirmar que não.
As alegações emanadas a partir da Beira sobre existência de bases do PCN directa ou indirectamente ligadas ao Daviz Simango e a necessidade, para os aproveitadores da ocasião, de a Renamo ter um renamista de verdade para candidato ao município, apenas penetram nos espaços abertos por Daviz quando optou muitas vezes pelo silêncio, assumindo uma posição incaracterística de não ser “nem peixe, nem carne”.
Neste contexto, falta acrescentar o seguinte: na gíria jornalística, hoje, é notícia ver e ouvir Daviz Simango em estado frenético perante “as suas bases!” a falar do “nosso querido presidente Dhlakama” e a dar largas vivas à Renamo. Mais do que isso a falar da unidade na Renamo e a esfarrapar os intriguistas ambiciosos que enganaram o “el querido”. É notícia porque é, na verdade, um facto novo e de interesse geral.
Mas é na análise suscitada pelo interesse e compreensão política e menos na aferição que se faz, se Daviz Simango geriu bem ou não o município da Beira onde reside a crise que o divide da cúpula e de membros influentes da Renamo, de permeio com a animação corista dos aproveitadores da ocasião.
Já sei que esta abordagem me vai valer os habituais dissabores a alguém que tenta contrariar ao que aos olhos de muitos é óbvio, um dado adquirido. Mas não resisto em oferecer carne para canhão para os que insistem no simplismo de quem olha para este fenómeno através do funil que somente vê Daviz vítima de ser bom gestor, de alegações de “comer sozinho, quer dizer, com seus familiares, de ser arrogante, mesmo que o seja, e de ser da etnia Ndau. Aliás, até tenho um amigo, grande, e dono grande num semanário esverdeado, mas por vezes pouco ecológico, que quando discorda da minha opinião, o que acontece muitas vezes, insiste que não pensamos, não temos ideias próprias.
O que insisto é que é preciso alargar muito mais o âmbito da análise. A crise que se instalou na Renamo, tendo Daviz no epicentro é de fórum estritamente político. Logo, sendo racional, é insuficiente a argumentação de bom desempenho. Tanto o é que foi a partir do substrato político que ele ficou presidente do município da Beira.
Interessante verificar, retrospectivamente, que com frequência quando se falava dos presumíveis sucessos de gestão de Daviz, no espaço político foi sempre e quase exclusivamente a cúpula da Renamo e seus jovens intelectuais orgânicos que apresentaram este município como o “exemplo da boa gestão da Renamo”. Mesmo num esforço mental titânico, pouco ou nada vem à memória do momento em que Daviz Simango associou de forma convincente e publicamente a sua gestão à Renamo, como politicamente seria de esperar, ou como agora no rubro da crise, entusiasticamente o faz em comícios na Munhava. Estranho, não é?
O que se segue?
A Renamo reúne-se hoje em Quelimane em Conselho Nacional para traçar suas estratégias políticas. Factor Daviz, seguramente será um ponto crítico do encontro, ou pelo menos deveria ser em condições normais de qualquer partido.
Primeira hipótese provável: Daviz vai ser expulso da Renamo.
E não é uma questão de suicídio político, porque a sê-lo, esse, já foi cometido quando se tomou a decisão pública de inscrever Manuel Pereira na Comissão Nacional de Eleições, como candidato ao cargo de presidente do município da Beira. É uma questão de coerência política. Ou seja, a Renamo não se pode dar ao luxo de, ela própria, permitir que dois candidatos opostos usem, em simultâneo, o nome deste partido em campanha eleitoral.
Incongruência política, parece ser Daviz Simango excluído pela Renamo da recandidatura à chefia do município, e aqui não importam as múltiplas causas que ditaram tal situação, como independente, aparecer em público com discursos que reivindicam falar, sobretudo em nome da Renamo e do “querido líder Afonso Dhlakama”.
Uma vez mais, se evidencia a ambiguidade do jovem engenheiro, colhido no emaranhado político.
Segunda hipótese provável: Daviz, magoado, vai levar a crise até às últimas consequências, acreditando nas multidões mediáticas de Munhava, e, na simpatia de facto que granjeia no seio de muitos sectores beirenses, em parte pelo trabalho que fez na Beira arrastando consigo a ambiguidade para outras esferas e pessoas.
O que se seguirá?
Vale a pena esperar pelos resultados do Conselho Nacional da Renamo que sairão de Quelimane para vermos o desfecho deste caso insólito no cenário da política moçambicana, em vésperas de eleições autárquicas.
Rogério Sitoe - sitoeroger@yahoo.com "
3 comentários:
O que se seguirá? o DS afinal "abandonou" a Renamo e esta "ratificou" esse abandono já que só se expulsa quem lá está. E lá se foi mais uma voz7figura com capacidade na Renamo. Ficam os Mbararanos e os Mazangas, incapazes de ser mais do que caixas de ressonância da fonte do poder renamista.
Meu irmão, o farol pelo qual "observamos" o Simango, o da Beira, é o da transformação ocorrida na cidade da Beira ocorrida graças ao trabalho deste ilustre senhor.
Observá-mo-lo pelo farol dos prémios internacionais graças ao trabalho feito. Observámo-lo pelo farol da mesma competência que se reconhece ao Dr. Comiche.
Política é um jogo. As regras desse jogo nem sempre são as mais "limpas". Sendo assim, porque é que o DS não podia jogar com tal ambiguidade se esta o podesse aproximar MAIS dos potenciais eleitores renamistas?
O Mazanga, o tal miúdo, afinal continua a falar em nome da Renamo apesar de destratado pelo "ditador" democrata.´São deles as seguintes palavras tiradas do "notícias" de hoje: “Não se trata de expulsão. Trata-se sim de aceitar a vontade manifestada por ele (Daviz Simango) de sair do partido e concorrer contra o próprio partido, aliando-se a outras organizações com fins políticos que perseguem o mesmo objectivo que o da Renamo, que é o de concorrer e ganhar eleições. Não se expulsa quem já não está dentro. A Renamo limita-se a conformar-se com a decisão do seu ex-membro”, clarificou ontem ao “Notícias” Fernando Mazanga, porta-voz do partido.
Isto promete.
A minha filiação e simpatia por maçarocas e a defesa que devo fazer destas para que não sejam "mamadas" por perdizes ou qualquer outro animal não devem, de forma alguma, toldar a minha forma de ver o bom trabalho que foi feito na Beira.
Eu acho que parte tudo desse trabalho! Não é o renamismo em maior ou menor escala que está por detrás da queda do DS na Beira.
É, também, pela projecção que esse trabalho tem dentro da própria Renamo: a de que existem pessoas capazes que, sem falarem muito, apresentam-se com uma capacidade que, se calhar, o próprio líder reconhece não ter daí que elimine todos os que têm ou parecem ter.
É, também, pela projecção desse trabalho que DS tem, para muitos beirenses (e não só) legitimidade política para continuar onde está. Há muita boa gente empenhada em mantê-lo ali.
É que, sem o trabalho, dificilmente se geraria o movimento mobilizador que se formou à volta do DS. Se ele tivesse sido um dirigente medíocre de certeza que o povo da Beira o esqueceria na esperança de que aquele que o AD indicasse fosse melhor que o interior.
Mano Mutisse e Rogério, juro que não me espantaria que este assunto da queda do DS na Beira tivesse como ponto de partida querelas pessoais entre membros da renamo que têm o presidente preso por aquelas partes sensíveis e que originaram a queda do DS como consequência, para acomodar certos interesses.
Até o bom trabalho feito pelo Eng. Daviz Simango é de fórum estritamente político. Politicamente a Renamo saía valorizada pela demonstração de capacidade de um quadro seu.
A propósito Rogério e Mutisse, o que não é de fórum estritamente político? A absolvição do Zuma na RSA? Ou a detenção do Manhenje em Mozie?
Que linha há que separa o político do técnico em Moçambique?
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