sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Das Fugas, Exonerações & Novo Comando

Anibalzinho, Samito e Todinho não estão onde, em princípio, deveriam estar. Sobre isso já se disse muita coisa. Alías, especulou-se muita coisa, incluindo sobre cumplicidades, facilitações (O Ministro José Pacheco foi citado pelo Jornal "O País" de 08 de Dezembro como tendo afirmado que a "Fuga de Anibalzinho foi facilitada") Etc.
Nas últimas semanas assistimos à morte de polícias, assaltos à esquadras etc. Sobre isto muita tinta ainda corre nos principais jornais do País, incluindo leituras/conjecturas/especulações sobre as reais motivações dos últimos acontecimentos e vaticínios sobre o que espera ao novo CGP.
Não pretendo aqui entrar em especulações, nem repitir o que foi por demais escapelizado nos diversos jornais que se publicam internamente. Pretendo, isso sim, deixar uma espécie de TPC sobre as lições que devemos tirar destes e outros fenómenos que se repetem quotidianamente.
Muitos pontos já foram levantados. Já se falou de clivagens intra-partidárias, já se falou de guerras internas entre as chefias da PRM ou de um avanço acelerado dos bandidos em relação à polícia (com mão interna ou externa de elementos da própria corporação) etc. Até que ponto esses elementos são factuais?
Até que ponto considerar esses elementos não tolda a nossa capacidade de analisar, com profundidade as reais causas da escalada da violência no país? A começar, por exemplo, pela (eventual) fraca preparação dos nossos agentes, falta de meios, desorganização interna (não aquela organizada de que se fala), falta de uma cadeia de comando consistente (do topo à base) etc?
Até que ponto não estamos a andar em círculos, atribuindo às mesmas pessoas, todas as coisas más que acontecem na nossa sociedade fugindo, por essa razão, à procura das reais causas e das possíveis soluções? Os incêndios, que podem ocorrer em qualquer sítio, são sempre "queima de arquivo", as limitações são sempre provocadas pelas "elites" etc?
Em suma: não existirão outras motivações para os fenómenos que ocorrem na nossa sociedade? Não existirão outras formas de explicar as nossas insuficiências que não sejam intra-Freli ou pessoas a esta circundantes?
Eu acho que há.

13 comentários:

Júlio Mutisse disse...

O meu amigo Policarpo Mapengo, em privado, criticou-me pelo facto de, segundo ele "apesar de sugerir que pensemos numa outra linha de abordagem extra-freli me parece que não avanças com essa outra linha e não sei se nos restam outras abordagens senão aquelas a não ser que tragas as conjunturas e aqueles blablabla".

Em parte, não elaborar sobre essas outras possíveis formas de pensar, foi propositado. De verdade quero e pretendo que TODOS levantemos e debatemos outras formas de ver esta realidade que nos tem sido dada a consumir de uma forma bastante simplista e circular, embora levante algumas coisas que podemos tomar de referência nessa análise que sugiro que, todos nós façamos.

Sobre, por exemplo a impreparação da polícia, o Mapengo diz que "já se fala disso. aliás não é exactamente da impreparação da polícia é de a polícia simplesmente se preocupar de um assunto e não de outro. No caso anibalzinho não se pode necessariamente falar de impreparação da polícia."

Isto me sugeriu que o Mapengo deve ter outra forma de ver esta questão. Instiguei-o a compartilhar connosco. Ele já avançou, por exemplo, que acha que " temos boa polícia para um país que está numa região como esta mas é preciso olhar para todas as estruturas e interesses. olha que não estou a falar do partido estou a falar so social e não podemos olhar para uma perfeita industria de crime sem ligações com diferentes sectores ou instrumentos de poder"

Acredito que o Mapengo continuará a sua reflexão como espero que todos o façam.

Mutisse

PS: Estou a procura que levantemos outras hipóteses de explicação do que ocorre para além das "clássicas" e, se possível ways de como sair disso.

Ximbitane disse...

Alimentada pelo dito e não dito, especulação a meio, creio que opinarei da mesma forma ou trarei os mesmos argumentos já dissecados.Mas, Muthisse, nao pretendo resvalar por essa via.

O que assistimos hoje ou ultimamente, é uma larga caminhada para uma situação como a que se viveu no Brasil. Esses grupos criminais, não tardam muito e já estão enfiados na politica, afinal dinheiro é que manda.

A fuga dos individuos muito citados é uma ponta do que ainda vai acontecer. Em breve haverão motins nas cadeias, fugas em massa, um verdadeiro Deus nos acuda.

Vi ontem, na tv, num dos debates em que um dos habituais comentadores dizia que a "prisão/cela onde se encontrava Anibalzinho convidava a uma fuga" pela precaridade de condições do local que não era adequado a uma prisão. Resultado: é o que se viu.

O peru do Anibalzinho para este Natal já está a tostar!

Nelson disse...

Caro Mutisse, eu acho que podemos ate procurar outras causas mas como podemos nao olhar para alguns "factos"?
Uma grande patente da Policia, um inspector vem dizer que Anibalzinho foi "tirado", quem o tirou sabe onde esta. Para mim a hipotese de Anibalzinho ter sido "tirado" da cadeia deixa de ser expeculacao. Desviam-se 200 e tal paus do MINT e hoje alguem vem me falar de falta de meios na policia.
Fraca preparacao dos nossos agentes. Boa causa. Muito boa mesmo pois olhem so. Criva-se de balas(11 balas) um coitadinho inocentinho em plena luz do dia, sem que tenha respondido ao fogo, sem que tenha oferecido resistencia. Isso prova fraca preparacao. A nossa policia anda tao assustada que nao sabe quando atirar e quando nao atirar.
Havendo "outras causas" mbora la apresenta-las nem que seja de forma expeculativa como ja nos habituamos.

Unknown disse...

O exercício que o Júlio nos sugere seria, na mesma, especulativo. Mas começa a ser verdadeiramente cansativo apontar as mesmas causas e pessoas para tudo o que acontece, é um execício excivamete superficial. Há pó debaixo do tapete que é necessário limpar é só escolher de que lado começar.

Júlio Mutisse disse...

Obrigado por passarem por aqui.

As coisas andam de facto mal. Algumas coisas que estamos habituados a assistir nos noticiários brasileiros começam a acontecer com frequência aqui.

O exercício que proponho aqui é difícil se não nos dispirmos do que nos tem sido dado a consumir na nossa esfera pública.

Quero que reflictamos sobre coisas que temos secundarizado ou mesmo ignorado, a favor de explicações simples e várias vezes repitidas que muitos assimilaram já como verdadeiras!

Queimou o ministério da agricultura e houve a tese da "queima do arquivo" a mesma que foi viculada noutras circunstâncias. Pode ser até que alguém ateasse fogo mas, será que tais fogos atingiriam proporções desastrosas como as do Ministério da Agricultura se (i) a manutenção dos edifícios fosse boa e estivessem garantidos os mais básicos sistemas de combate aos incêndios? (ii) será que a queima de arquivo seria eficaz se os sistemas de gestão e arquivo de informação forem eficazes e sistematizados? (iii) existirá, nos diversos sectores públicos, um esquema de manutenção periódica dos edifícios e dos equipamentos nele incorporados (combate aos incendios, fornecimento de água, luz, telefone etc)?

Temos uma tendência a maximizar certas coisas minimizando ou ignorando outras que podem ocorrer para agravar ou minorar os efeitos de determinados actos. Um sistema eléctrico a funcionar mal, num edifício mal conservado, onde nem bocas de incêndio a funcionar temos pode ser fatal. Uma beata mal apagada ou um fósfero lançado sobre uma pilha de papel num sítio sem detectores de incêndios pode ser ainda pior.

Então meus caros, se conseguirmos pensar nestas pequenas coisas que podem propiciar, agravar ou minorar certas coisas, podemos chegar a conclusão de que os "queimadores de arquivo" poderiam ter a sua acção dificultada se determinadas acções fossem tempestivamente tomadas. Ou não?

Ximbi,

Tomara que não cheguemos a ter motins nas cadeias. Seria uma catástrofe com mortes e tudo. Ouvi há pouco que só há bem pouco tempo é se começou a formar gente para a carreira de guardas prisionais (não sei se corresponde totalmente à verdade)! Que capacidade existe internamente na nossa polícia para lidar com situações do género? Que recursos existem para as debelar?

As nossas cadeias estão superlotadas e o mesmo que eu dizia dos edifícios públicos aplica-se às cadeias. Que manutenção existe? A população prisional cresce desproporcionalmente ao espaço físico que deve os albergar...

Nelson,

É difícil conceber, de facto, a fuga de reclusos do comando da cidade sem cumplicidades a vários níveis. Desde sempre entraram serras e outros instrumentos na sela do Anibalzinho (foi diversas vezes anunciado). Tais ferramentas só podem ter entrado devido a cumplicidades ou negligência grave/grosseira de quem devia cuidar para que não entrassem. Mas daí a politizar ou a achacar isso às elites vai alguma distância. Mas é esta opção que mais se explora. Porquê? O nosso sistema carcerário é precário, os nossos centros de detenção e algumas situações são deficitárias... porque não conjugar estas situações na tentativa de explicar as fugas?

Mais, meu caro Nelson, polícias estão a ser mortos com alguma frequência nos últimos meses. Satisfaz-nos, aqui também, a simples ideia da queima de arquivo? Porque esses polícias e não outros que, na mesma, devem lidar com matérias sensíveis ligadas a outros bandidos? O que é que propicia que o bandido sinta a necessidade de ajustar as contas com os polícias? Como é que o sistema lida com estas situações? Que acções estão desenhadas para prevenir a morte de mais polícias? De quem é a culpa: da polícia que não encarcerra/apanha os bandidos ou de todo o sistema de administração da justiça que ainda não sabe lidar com a nova criminalidade (será que a sociedade como um todo sabe lidar com "esta" criminalidade dos últimos dias ou ainda pensa no "pilha-galinhas" de 1990"?).

Enfim.

Eunice, se como eu está cansada de explicações simplistas embarque comigo neste exercício de pensar outras causas. O que vamos fazer, como tento acima, é levantar hipóteses e não despejar verdades absolutas ou quase certezas.

Matsinhe disse...

Gustavo Mavie escreve na edição online do Notícias de hoje: "O recrudescimento da caça aos membros da Polícia tem de nos levar a repensar melhor a nossa estratégia de luta contra o crime, do mesmo modo que deve servir de alerta aos próprios agentes da lei e ordem, para que cerrem e purifiquem bem as suas fileiras, para manter os criminosos sempre com medo. O medo, como sabemos, é o melhor guarda para qualquer ceara. A nossa corporação não pode se dar ao luxo de vender a sua dignidade e imagem, até ao ponto de não mais ser temida pelos criminosos e outros fora da lei, como se assiste hoje com incredulidade de todos nós, em que até os miudinhos que conduzem os “chapa 100” já não respeitam as regras de trânsito e desafiam os nossos polícias, porque muitos deles se deixaram comprar pelo dinheiro que levou Judas a vender o Filho de Deus, que foi Jesus Cristo, que no dizer de Fídel Castro, foi o primeiro comunista do mundo que tentou pacificar este mesmo mundo, apregoando o bem entre os homens e o carácter imperioso de trabalhar pela igualdade."

Percebes o ponto de vista do Mavie? 1. há que purificar fileiras; 2. há polícias vendidos.

Elísio Macamo disse...

olá júlio, boa sugestao a tua! os problemas sao tao grandes e gritantes que o mais fácil é, realmente, procurar os culpados imediatos. as teorias de conspiraçao sao, neste sentido, um resultado lógico do conforto com o qual gostaríamos de abordar problemas. o teu convite à reflexao é bem vindo. sugiro que a reflexao comece pela formulaçao do problema. qual é o problema neste caso? para mim nao está claro. o subtítulo do teu blogue "por uma cidadania militante e consciente" é um bom ponto de partida. se calhar o problema é mesmo de cidadania. só para veres a extensao do problema: quantos de entre nós aceitam que a liga dos direitos humanos se preocupe com o tratamento que é dispensado aos detidos? a incapacidade da polícia e a ousadia dos criminosos sao capazes de serem fenómenos que espelham a nossa sociedade, nao necessariamente o poder.

Júlio Mutisse disse...

Opa... Viva Elisio. Feliz ano para ti e familia.

Comecou o ano. Todinho morreu. Dos fugitivos faltam 2. Seria esta a solucao mais esperada pelos mocambicanos ou nos contentariamos com a sua recaptura.

Pensar doi Elisio. Buscar explicacoes sobre as condicoes sem as quais certos fenomenos nao se dariam implica pensar, o que eh complicado para muitos. Contentam se muitos com as indirectas vindas de determinadas colunas jornalisticas ou das solucoes eruditas na blogosfera que tem, para fenomenos diferentes, as mesmas explicacoes.

Para mim o mais grave nisto tudo, eh que tai explicacoes simplistas sao nos dadas a consumir por pessoas que, em principio, deveriam tentar, sublinho, tentar elucidar o publico no geral sobre a dinamica das coisas e e da simplicidade (quase a rocar o senso comum) de certas explicacoes lancadas e poeticamente ritmadas a apelar a marcha.

Neste cenario, muitas vezes torna-se complicado formular o problema. Eh mais facil atacar as explicacoes que nos sao dadas aos problemas que nos afligem.

Eh um facto e temos dito e repitido isso varias vezes. Temos um deficit enorme de cidadania. Nao se pode admitir que uma sociedade com esse espirito ficasse muda e quieta perante o que aconteceu neste caso sem exigir responsabilidades e sem se posicionar, contentando-se em repitir e divulgar as cumplicidades.

O edificio da administracao da justica e, em particular, a administracao prisional sao deficitarios em todos os sentidos.

Júlio Mutisse disse...

Opa... Viva Elisio. Feliz ano para ti e familia.

Comecou o ano. Todinho morreu. Dos fugitivos faltam 2. Seria esta a solucao mais esperada pelos mocambicanos ou nos contentariamos com a sua recaptura?

Pensar doi Elisio. Buscar explicacoes sobre as condicoes sem as quais certos fenomenos nao se dariam implica pensar, o que eh complicado para muitos. Contentam se muitos com as indirectas vindas de determinadas colunas jornalisticas ou das solucoes eruditas na blogosfera que tem, para fenomenos diferentes, as mesmas explicacoes.

Para mim o mais grave nisto tudo, eh que tai explicacoes simplistas sao nos dadas a consumir por pessoas que, em principio, deveriam tentar, sublinho, tentar elucidar o publico no geral sobre a dinamica das coisas e e da simplicidade (quase a rocar o senso comum) de certas explicacoes lancadas e poeticamente ritmadas a apelar a marcha.

Neste cenario, muitas vezes torna-se complicado formular o problema. Eh mais facil atacar as explicacoes que nos sao dadas aos problemas que nos afligem.

Eh um facto e temos dito e repitido isso varias vezes. Temos um deficit enorme de cidadania. Nao se pode admitir que uma sociedade com esse espirito ficasse muda e quieta perante o que aconteceu neste caso sem exigir responsabilidades e sem se posicionar, contentando-se em repitir e divulgar as cumplicidades.

O edificio da administracao da justica e, em particular, a administracao prisional sao deficitarios em todos os sentidos.

Elísio Macamo disse...

boas entradas para ti também, júlio! a questao da cidadania é crucial. nota-se a sua fraca presença no nosso imaginário na maneira como preferimos apenas a superfície das coisas. se todinho tiver sido morto intencionalmente pela polícia, entao estamos mal mesmo. a perplexidade é mais abrangente ainda.

Júlio Mutisse disse...

Eu prefereria que o Todinho tivesse sido recapturado. Seria um recomeco, uma forma de provarmos a nos mesmos como Estado que AINDA nao falimos e temos chances de reverter os cenarios mais negativos e positiva-los. Mas enfim Todinho morreu e as informacoes sao contraditorias. O "Zambeze" diz ter recebido uma chamada do Agostinho Chauque dizendo que foi a policia que io matou levando inclusive dinheiro seu (proveniente de contrabando de cigarros, veja-se) e que ele promete vinganca.

O escorpiao tem outra versao; Todinho foi morto por bandidos e a policia assumiu para LAVAR a cara. Eh mais um daqueles mitos...

Mas porque sera que INSISTIMOS em ser habitantes e nao cidadaos? Incapacidade? Comodismo? Falta de formacao e informacao?

Elísio Macamo disse...

olha, júlio, essa questao da insistência em sermos habitantes e nao cidadaos constitui, para mim, o nosso maior desafio como estado. a democracia liberal pela qual enveredamos tem, naturalmente, os seus defeitos, mas tem também virtudes que ainda nao estamos a apreciar devidamente. uma delas é a liberdade, isto é o compromisso político com a expansao das liberdades das pessoas; a outra é o direito, isto é o compromisso com a justiça. ora, o nosso país constituiu-se historicamente na ideia de que a liberdade é um presente de alguns para a maioria e que a justiça é tudo quanto legitima os mitos fundadores do nosso estado. temos, evidentemente, que sair disso, mas para tal precisamos de uma imprensa, de uma classe política e de uma massa intelectual que demonstrativamente valoriza essas virtudes. mas como podes ver, só levantei mais problemas...

Júlio Mutisse disse...

Meu caro, são problemas "bem vindos" através deles e da insistência nessa ideia de usarmos essa "dádiva" chamada liberdade e nos expressarmos enquanto cidadãos chegaremos onde almejamos. Mesmo que isso aconteça quando já estivermos reformados, tu no Xai-Xai e eu em Manjacaze hehehehe.