quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Os Jovens e a política (2)

Prossigo. Repito que a ideia é olharmos para este estudo e procurarmos fazer paralelismos com a nossa realidade.

Até que ponto as constatações da participação politica dos jovens de angola se assemelha a Moçambique? Até que ponto são diferentes? Onde reside a diferença (se é que esta existe)? Que lições podemos tirar do estudo para que, como jovens, possamos contribuir para o progresso da pátria amada? Por último, a OJM, Liga Juvenil da Renamo e outras similares não deveriam ter agendas próprias tendo em conta a sua própria natureza? O que é necessário para que esta agenda surja? Lideranças fortes? Visão política? afirmação intra-partidária?

Notem que não estou a instigar rebeliões, apenas a chamar atenção para uma necessidade de a juventude no geral ter uma agenda. Me parece que ainda não a temos.

Voltemos ao estudo (Prestem atenção ao primeiro tópico deste post).

1.2 O poder das juventudes dentro dos partidos

O descrédito de que a "jotas" angolanas gozam junto de alguns sectores da sociedade é também justificado pela dicotomia entre o poder que elas dizem ter e o que realmente têm quando em relação às direcções dos partidos.

Quando questionados sobre esta questão, os líderes juvenis-partidários garantem que têm uma ampla capacidade de influenciar as decisões das direcções. E apresentam números: "Entre 40 e 50% dos militantes do MPLA são jovens, e a nível do Comité Central, entre 10 e 15% dos membros provêm da juventude do partido", diz Paulo Pombolo38; "24% dos membros da Comissão Política da UNITA saída do último congresso são membros da JURA. Estes, em conjunto com a LIMA39, concertam posições, juntando desta forma mais de 50% da CP", afirma Liberty Chiyaka40; "cerca de 50% da comissão política e do secretariado que gere as políticas administrativas do partido são jovens, para além de também coordenarem quase todos os órgãos de importância da FNLA", remata José Fula41.

Números que não impressionam os que pensam que, apesar das conquistas de lugares, ainda "não se pode falar de qualquer independência entre as juventudes e as direcções dos partidos"42. Este factor acaba por "diminuir o espaço de crítica interna"43 e, consequentemente, o poder das juventudes. Esta percepcionada "falta de mensagem de inovação [...] e subordinação à disciplina partidária"44 acaba por "direccionar as acções das juventudes partidárias unicamente para os projectos propagandísticos do próprio partido [...], ficando sem capacidade de apresentar projectos sustentáveis e de compromisso, antes de mais, com o país."45

É no diálogo com as direcções que se denotam as fragilidades e as limitações na acção das juventudes partidárias, com os próprios líderes a assumirem dificuldades na convergência e na aceitação dos seus pressupostos pelos "mais-velhos". A razão, garantem, é o que dizem ser o choque entre o "imediatismo" 46 dos jovens, que querem "transformar tudo de um momento para o outro"47 e a "a ponderação com que os 'mais-velhos', pela experiência e trajectória da sua vida política, encaram os assuntos e as decisões"48. O "choque contido" entre diferentes gerações políticas centra-se num ponto focal chamado "pressão", que as juventudes, principalmente da oposição, acreditam ser necessário exercer sobre o governo em determinadas matérias, nomeadamente a "instalação de um sistema verdadeiramente democrático e [...] os apoios aos antigos militares das FAPLA49 e da FALA50, que estão na indigência"51. Esta última questão é um cavalo de batalha comum à JURA e à JNFLA. Nos dois casos, as juventudes exigem dos seus partidos uma postura mais agressiva junto do governo, inclusivamente com o recurso a "instâncias internacionais que pressionem o desenvolvimento de um sistema democrático"52, no caso da juventude da UNITA. Esbarram, no entanto, com uma postura um tanto ou quanto rígida dos dirigentes dos seus partidos, que acabam por levar adiante os seus pontos de vista. A conformação com esta situação acaba também por reflectir a necessidade dos líderes juvenis de se manterem o mais próximo possível da cúpula dirigente. Geralmente, a escolha das lideranças das "jotas" recai sobre os que mais intimamente se relacionam com os "pesos pesados", o que origina "lutas internas de posicionamento" entre os jovens mais ambiciosos53, que mais não visam do que garantir o seu poder e a ascensão política interna.

Para Edson Lopes, militante do MPLA, a pouca influência que os jovens acabam por ter dentro das estruturas partidárias, causa alguma frustração:
Dentro do partido nós não temos acesso às grande decisões. Podemos ter as nossas reuniões, mas quando levantamos o braço para falar, outras mil pessoas pedem também a vez, e só a alguns é dada a palavra. As questões que levantamos não são transmitidas directamente, passam antes por outras estruturas. Muitos dos membros que estão lá dentro estão só a fazer número. Alguns persistem porque acreditam na ideologia, e que talvez um dia aquilo vá mudar. Alguns 'mais-velhos' têm medo da juventude, porque sabem que estamos descontentes em relação à política interna [...] Se nos dessem oportunidade de apontar as falhas, muita coisa ia mudar. Faltam vozes críticas dentro do partido, porque há muitos que têm medo de perder o seu estatuto e o lugar. Agora, não sei se esse medo é justificado ou não.54

Mas há quem veja hipóteses de reverter a situação. Para José Fula, o advento da política moderna, em que questões como "os direitos humanos, democracia e novas tecnologias da informação" marca a agenda, está a gerar um confronto entre a nova e a velha guarda. Mais à-vontade com os novos valores, os jovens poderão obrigar as direcções dos partidos a abrirem-se às suas propostas. "Vai ser interessante assistir ao combate nos partidos, com a juventude a tentar assegurar lugares no parlamento angolano e ultrapassar os 'mais-velhos', principalmente nas questões técnicas e de desenvolvimento"55.

1.3 – A relação entre as juventudes partidárias

O discurso dos líderes das três juventudes partidárias assenta na tónica das relações cordiais entre todas as forças políticas e dos valores da democracia, unidade e reconciliação nacional. Palavras politicamente correctas, mas que, no caso da JMPLA e da JURA, não reflectem o verdadeiro estado das relações. As crispações existentes entre os partidos-mãe repercutem-se também ao nível dos braços juvenis. Desde 2003 que as duas juventudes não se encontram formalmente. O episódio que catalisou o virar de costas deu-se quando, durante a presidência de Paulo Pombolo do Conselho Nacional da Juventude (CNJ), a JURA não conseguiu imprimir algumas alterações aos estatutos, como desejava. Como forma de protesto, a juventude da UNITA suspendeu a sua participação no CNJ. Esta cisão gerou uma teia de argumentos que as duas organizações ainda hoje esgrimem. Se para Liberty Chiyaca esse abandono configurou uma forma de protesto por "a JMPLA estar a colocar os interesses partidários acima dos nacionais"56, para Paulo Pombolo essa atitude não foi mais do que um bate-pé por "os delegados terem rejeitado uma determinada posição que a JURA, então presidente da assembleia da CNJ, queria fazer passar." "Para eles, tudo o que não lhes sair como querem, e que seja favorável à JMPLA, é sempre fruto de alguma manobra", acrescenta57. Passados quase três anos, em Junho de 2006, a JURA acabou por voltar ao CNJ, mas as relações com a JMPLA continuam formalmente interrompidas, pelo menos numa perspectiva bilateral.

Mas os incidentes entre as duas principais juventudes partidárias angolanas estão a passar de guerra de palavras para actos de violência, configurando um clima de intolerância política que se faz sentir sobretudo no interior do país. Na hora de encontrar os culpados, a JURA e a JMPLA descartam as responsabilidades, atirando-as uma à outra como arma de arremesso. Na linha da frente das críticas, Liberty Chiyaca não hesita em apontar a JMPLA como responsável pela morte e actos de agressão contra militantes da JURA. Acusações que a JMPLA contrapõe com "actos que a JURA também perpetua" contra elementos da juventude do partido no poder, mas que não nega categoricamente:

(…) não posso dizer que isso acontece, mas vamos supor que alguém da JMPLA faça isso de forma isolada. Isso não é uma acção premeditada. O que eu posso garantir é que nunca saiu uma directiva da minha secretária para promover a intolerância [...] isso não pode ser uma forma de actuação de uma organização idónea como a nossa que pertence a um partido idóneo e que nos orienta nos objectivos da reconciliação e reconstrução58.

O clima de desconfiança entre os dois movimentos, com acusações mútuas de falta de boa vontade e de consciência democrática, faz com que os dois líderes se refugiem nas "boas relações pessoais" para tentar encontrar algum ponto de equilíbrio. No entanto, avança Paulo Pombolo, é preciso "transferir essas relações humanas para o patamar político"59.

De fora do jogo conflituoso entre a JMPLA e a JURA, que domina o emaranhado de relações entre as várias organizações juvenis partidárias (o relacionamento com as demais "jotas" é "excelente", afirmam Paulo Pombolo e Liberty Chiyaca), o líder da JFNLA assume:

O principal obstáculo da juventude política em Angola é a própria juventude política, que ainda não tem capacidade para aceitar as diferenças, aceitar que um jovem de uma juventude partidária apresentou uma boa proposta, por exemplo, e por isso é preciso apoiá-la. Olhamos os que têm boas iniciativas como inimigos; quem tem uma boa ideia para a sociedade, deve ser obstaculizado60.

Conscientes desta necessidade as juventudes dos partidos emitem mensagens teóricas, pelo menos, apelando a uma actuação ética de todos que "visem a unidade e a reconciliação dos angolanos"61, ao "compromisso com a democracia"62 e à "despolitização das matérias que não devem ser politizadas"63.

2 comentários:

Bayano Valy disse...

caro muthise,
espero pela vez de moçambique.
abraços

Anônimo disse...

O MPLA COMO MARCA


O MPLA como Marca representa um poder permanente em função de mais do que a sua história e multiplicidade de histórias e perpetuações das suas tradições.
Um dos factores qualitativos de recriação da sua força consiste na lealdade da corrente regeneradora dos seus aliados.
Os seus atributos, qualidade e expectativas criadas e uma amálgama de resultados e sua funcionalidade reforçam uma narrativa que impulsiona a sua existência.
Não há dúvida de que as crenças sagradas, criações, metas e seu prestígio, sua visão e missão, capacidade de inovação reforçam o seu posicionamento.
A sua suposta notoriedade e fidelização em constante construção criando boas ligações emocionais melhorarão consideravelmente essa marca.
Sendo assim será que a marca MPLA é um sistema propulsor e fonte de criação de valor?
Será que a notoriedade do MPLA continua a ser evocada de forma espontânea?
Para que a marca MPLA se perpetue será necessário que as atitudes das pessoas correspondam a avaliações globais favoráveis.
Não há dúvida que a força da marca MPLA quase se confundirá a um culto descentralizado e de interacções e laços fortes e experiências partilhadas que criam várias identidades verbais e simbólicas.
Para falar da antiguidade da Marca MPLA teremos que falar forçosamente do seu núcleo fundador de Conacry dos anos 60.
A marca MPLA se perpetua pelo seu prestígio devido as associações intangíveis, pelo seu simbolismo popularizado incontornável e grandes compromissos com o passado.
O MPLA como marca, alem de possuir narrativas de sobrevivência, inclui testemunhos que dão a história, significados mais profundos e grande carácter de emocionalidade.
A história do nacionalismo e luta de libertação pelos actores de renome a partir da fundação do MPLA em Conacry pelos seis fundadores bem personalizados, como Viriato da Cruz, Mário Pinto de Andrade, Hugo José Azancot de Menezes, Lúcio Lara, Eduardo Macedo dos Santos e Matias Migueis perpetuarão essa marca de forma reflectida.
Poderemos então afirmar que os fundadores de Conacry foram os agentes prioritários e fundamentais da verdadeira autenticidade da marca MPLA.
A dinâmica da história e a construção de identidades pressupõem estados liminares, pelo afastamento constante de identidades anteriores.
Desenvolver a cultura da marca MPLA exigirá um constante planeamento e estratégias que permitirão reunir e sentir esta marca global.
Para terminar apelaria que nas verdadeiras reflexões que a lenda da marca não obscurecesse a lenda dos fundadores verdadeiros artífices.
Escrito Por:
AYRES GUERRA AZANCOT DE MENEZES