segunda-feira, 1 de junho de 2009

Renovando Herois - Renovando Desafios

A propósito do que apelida a "Cristianização de Eduardo Mondlane" PC Mapengo, lá no seu blog (Cartas a Moda Antiga), convida-nos à renovação dos heróis de modo a que estes se adaptem aos (novos) contextos.

Julgo ser um exercício interessante. Um exercício que permitirá um reecontro com o nosso passado como inspiração para os desafios do presente e do futuro.

Neste exercício, partiremos ao encontro dos nossos heróis indagando-os, criticamente, tendo como base o contributo a eles associado, para aferirmos como no contexto de hoje e do amanhã que almejamos, tal contributo nos pode inspirar e ser útil.

Neste exercício não indagamos os herois da FRELIMO (a frente), da Frelimo (o Partido), nem do Y ou do Z; indagamos os feitos de indivíduos cuja relevância determinou que o Estado, através dos seus órgãos apropriados, os elevasse a categoria de heróis. Esses senhores falam; dizem nos muito; é só sabermos ouví-los. Os feitos a eles associados podem ser contextualizados para os desafios que nos guiam hoje na perspectiva do amanhã.

Diz o Mapengo que a "celebração de 2009 como ano Eduardo Mondlane pode ter essa missão mas é importante ver como é que em pleno século XXI, na era da globalização, de mercados comuns, de HIV/SIDA e pobrezas absolutas, se pode aproveitar a imagem de Eduardo Mondlane como catalizador nas várias batalhas que o Estado tem que travar rumo ao tão almejado bem estar.

Neste exercício o Mapengo está convicto de no debate sobre herói, «o seu conceito assim como “quem deve ser herói"» não é novo e nem terá fim. Cada um ou cada nação, coloca seus requisitos, mas deve estar claro que os heróis têm esse papel de “inspirar”, são nossos exemplos e desejamos sempre que sejam imaculados. 

Diz o Mapengo que, "alguns historiadores, políticos e sociólogos ocidentais procuraram, principalmente no período da guerra-fria, reduzir “heróis” a países ditadores como se eles não precisassem deles."

Neste debate Amosse Macamo sugere-nos, e o Mapengo concorda, que este exercício de indagação e renovação deve ser feito "mas essa renovação, não pode ir para além do que foi a sua obra." Para Macamo "é fácil renovar constantemente Eduardo Mondlane. É fácil até criticá-lo sem matar a obra de vida que ele foi, é fácil olhar para o mesmo de todos os ângulos e encontrar em todos o Moçambique, porque ele lutou."

Será que conhecemos a dimensão da obra dos demais herois? O que podemos tirar deles?  O que significa reescrever a nossa história que tem sido propalada a cada facto novo que se agrega à nossa história? Que enfoque deve ser dado neste exercício? O que se pretende com tal exercício?

Mapengo acha que a "história, pelo menos a nossa, deve ser reescrita mas isso não significa deitar para o lixo tudo o que existe." Então aproveitemos o que existe como alavanca para os desafios de amanhã.

8 comentários:

Jonathan McCharty disse...

O texto, no link abaixo, pode permitir perceber algumas coisas sobre os "nossos" herois. E' longo, mas vale a pena ler!

http://www.adelinotorres.com/africa/Fernando%20Bessa%20Ribeiro_A%20inven%C3%A7%C3%A3o%20dos%20her%C3%B3is_Identidade%20em%20Mo%C3%A7ambique.pdf

Júlio Mutisse disse...

JM, é mesmo um texto interessante texto; infelizmente longo d+ para lê-lo de uma vez no ambiente em que me encontro. Mas o desafio mantêm-se meu caro e a esse gostaria de ter a sua opinião: de toda a construção a volta dos nossos heróis (sem aspas porque os considero nossos) que ilações podemos tirar para o futuro?

Que valor inspiracional para os desafios do futuro pode haver no que está a volta de Filipe Samuel Magaia, Josina Machel, José Craveirinha, Justino Chemane, Tazama etc? Que valor inspiracional da "heroina do Trabalho" Lurdes Mutola? Etc.

O Estado a que pertencemos enquanto moçambicanos (eu e tu e as mais 19 998 000 almas) atribuiu a uns tantos a categoria de heróis e, a volta desses, construiu o seu perfil... o que é que podemos tirar desse perfil para os desafios do presente e do futuro, abstraindo até dos critérios para a sua indicação como herói que são temas de outro debate e não cabem aqui?

Jonathan McCharty disse...

Heheh, Mutisse!!
Pelo que vejo, nao estas interessado em avaliar como os nossos herois sao produzidos! O que propoes e', a partir do primeiro, construir o segundo e terceiro andares de um edificio, sem se preocupar com a natureza das suas fundacoes e ao menos se preocupar em saber se os "calculos estruturais" foram bem efectuados!! A obra acaba pode ate ser bonita, mas pode ruir sem aviso!

O que eu acho e' que o debate deve ser integral e abrangente, se se quiser mesmo construir algo consistente!!

Ja' agora, poderias espreitar outro texto que elaborei em Outubro do ano passado, a este respeito de herois, aqui!!

Júlio Mutisse disse...

Meu amigo JM

Não se trata de "partir do primeiro, construir o segundo e terceiro andares de um edificio, sem se preocupar com a natureza das suas fundacoes e ao menos se preocupar em saber se os "calculos estruturais" foram bem efectuados."

O debate sobre os heróis nacionais já vem longo e, apesar de ser salutar, ainda não é, em alguns casos, conclusivo.

Nós temos desafios que me parecem mais prioritários neste momento. A mamana de Namaacha ainda percorre mais de 5Km para ter água, o mesmo acontece em vários pontos. A escola ainda falta a muitos moçambicanos etc.

O que lhe coloco meu amigo é que renovemos o "Lutar por Moçambique" e coloquemos os ideais lá expressos ao serviço dos desafios do momento (a não ser que não ache este exemplo feliz), o que lhe apresento e proponho, é que usemos o que sabemos de Filipe Samuel Magaia herói em benefício das lutas que travamos pelo bem estar da nação, independentemente dos critérios que possam ter conduzido a sua heroificação. Me percebe?

Irei ver o texto que recomendas.

Nelson disse...

Oi Mutisse!
Já tinha me cruzado com a carta de Mapengo à Egídio Vaz, justo depois de ter lido “os meus heróis africanos” de Manuel Mendes no O PÚBLICO e na altura que estou a ler ECOS DA TUA VOZ Vol. I de Janet Rae Mondlane.
Do breve post do amigo Mutisse chamou-me atenção o “esforço” de desassociar os heróis à FRELIMO (a frente), da Frelimo (o Partido) oque quanto a mim, nos ajuda a torná-los mais nossos(de todos os Moçambicanos) e dai ter uma visão mais “broad” deles, entretanto se tivermos em conta o papel da FRELIMO (a frente), e da Frelimo (o Partido), no processo da “heroização” dos nossos heróis fica difícil desassociá-los.

Nelson disse...

Oi Mutisse!
Já tinha me cruzado com a carta de Mapengo à Egídio Vaz, justo depois de ter lido “os meus heróis africanos” de Manuel Mendes no O PÚBLICO e na altura que estou a ler ECOS DA TUA VOZ Vol. I de Janet Rae Mondlane.
Do breve post do amigo Mutisse chamou-me atenção o “esforço” de desassociar os heróis à FRELIMO (a frente), da Frelimo (o Partido) oque quanto a mim, nos ajuda a torná-los mais nossos(de todos os Moçambicanos) e dai ter uma visão mais “broad” deles, entretanto se tivermos em conta o papel da FRELIMO (a frente), e da Frelimo (o Partido), no processo da “heroização” dos nossos heróis fica difícil desassociá-los.

Júlio Mutisse disse...

Meu ilustre amigo Nelson,

Honra me a sua lúcida visita a este espaço. De facto, tenho me batido por esta ideia de "desassociar os heróis à FRELIMO (a frente), da Frelimo (o Partido)" com o objectivo de que os vejamos e os tornemos "mais nossos(de todos os Moçambicanos)". É que me parece que toda a vez que tentamos discutir os heróis, desembocamos no questionamento da Frelimo Partido e dos erros cometidos ao longos dos anos pos independência. Também, ao discutir os heróis, fugimos deles, para discutir os erros que a FRENTE cometeu ao longo dos 10 anos de luta e perdemos o essencial.

O exercício que proponho (e concordo consigo é difícil, mas o que não é difícil em Moçambique?) é olharmos para essas figuras e questioná-las: quem és Magaia? Que feitos são te atribuidos que te tornam NOSSO herói? Que lições tiramos desses feitos seus, NOSSO herói, para os desafios do momento?

Penso que assim, podemos encontrar muitos pontos inspiracionais para os desafios de hoje e de amanhã. Se calhar, será desse exercício que encontraremos novos critérios para determinarmos quem, nos dias que correm, pode ser herói deste país, NOSSO herói portanto.

Nelson disse...

Tenho para mim caro Mutisse, que um herói o é basicamente pelos seus “feitos”, sejam eles genuína e reconhecidamente seus ou por alguma razão falsa e fraudulentamente atribuídos a ele. A dificuldade(minha) de desassociar os heróis da Frelimo reside no facto de alguns dos feitos que lhes são atribuídos serem questionáveis quanto à sua veracidade e a Frelimo(frente e partido) levam uma boa dose de culpa para o surgimento dessa “desconfiança” com que alguns(muitos) chegam aos heróis e ou seus feitos. Não entendo ainda por exemplo porque é que por muitos anos nos disseram e fizeram acreditar que Eduardo Mondlane tinha morrido no escritório se como viemos a saber recentemente isso não coresponde a verdade. Seria Mondlane menos herói por ter morrido fora do escritório? Quantas outras “desinformações existem em torno dos nossos heróis? Quais dos seus feitos são realmente seus?
Eu sei que em tudo isso estou a “fugir” dos heróis para “discutir os erros que a FRENTE cometeu ao longo dos 10 anos de luta” e corro o risco de perder o essencial, mas me parece difícil( tudo em Moçambique é realmente difícil), associado ao heróis tirarmos algumas lições de seus feitos enquanto não tivermos a certeza de serem verídicos.
Penso que é nesse ponto que concordo com os que falam da necessidade de reescrever a história recente de Moçambique.

“quem és Magaia? Que feitos são te atribuidos que te tornam NOSSO herói? Que lições tiramos desses feitos seus, NOSSO herói, para os desafios do momento?”
Peguei nessas questões que a título de exemplo colocas e olhei para a figura de Eduardo Mondlane(influenciado provavelmente pelo facto de estar a ler ECOS DE TUA VOZ) e me deixei ficar pela altruísta escolha que Mondlane fez de abandonar a sua promissora carreira profissional junto da ONU para abraçar a missão de libertar Mocambique do jugo colonial. É esse altruísmo que precisamos, penso eu, para grande parte dos desafios sócio económicos que nos rodeiam. É muito “umbiguismo” hoje. Cada um olha para seu próprio úmbigo e “dane-se” o resto. Quando deixamos de nos “envolver” em certos “barulhos” por achar que são da responsabilidades dos governantes, dos sociólogos, juízes enfim só para percebermos que estamos todos metido na mesma lama.