O Mapengo, no seu blog, escreveu mais uma carta ao nosso amigo Virgílio Sithole na qual, entre outras coisas, se insurge contra "as visões unilaterais dos nossos comentaristas e jornalistas que se despem da “imparcialidade” e escolhem alvos a abater." Para Mapengo "os nossos comentadores escolheram dois alvos a abater, CNE e Conselho Constitucional. Transformaram os partidos políticos em vítimas dessas duas instituições ilibando-os de quaisquer erros. Eles são mais limpos que a virgem Maria."
A carta em alusão foi largamente debatida aqui e por email, tendo como principal alvo o Eng. Venâncio Mondlane que, na carta em alusão, é referido como "o comentarista mais concorrido de momento" que, "no seu esforço de neutralidade apareceu na STV a fazer um recorte daquilo que ele considera o mundo. Para ele em nenhum tribunal do mundo não se tomam decisões até altas horas, ou fora do horário normal do trabalho. Deixava claro que o que ele nunca ouviu ou viu é porque não existe."
O debate, se calhar pela referência ao Eng. Venâncio (pessoa que muito respeito e de quem tenho o maior apresso) e, também, pela sua performance num telejornal recente, centrou-se neste comentador até, por email, o Noa vir pôr água na fervura secundado pelo Nero AK47 este argumentando e sugerindo que "não criemos mártires. Aproveitemos o que de bom se pode aproveitar do comentador cujo intervenção televisiva está sendo objecto deste debate. Ele não deixa de ser um bom orador. Não o ataquemos. Corrijamo-lo e ajudemo-lo a ser melhor do que já é."
A minha resposta ao email do Nero deu azo a que pensasse na nossa postura no debate de ideias. O que é que deve nos guiar? Como devemos nos apresentar? Que atenção devemos dar a quem nos ouve? Como devemos interagir com outros participantes? Que cuidado devo ter no que digo? Que atenção devo dar a forma como a minha mensagem é ou pode ser percebida/recebida?
Como um dia disse Patrício Langa, "envolver-se no espaço de debate crítico de ideias em Moçambique é como correr com um cesto de ovos a cabeça. Temos que ser bons equilibristas para não, os deixar cair, ferir susceptibilidades. As susceptibilidades são tão frágeis quanto os ovos que levamos a cabeça." Eu diria mais, temos que ser responsáveis. Tudo o que dizemos tem repercussões e, numa sociedade onde, do nada, viramos autoridade no que dizemos, há que ser mais comedido sob o risco de nos perdermos e provocarmos revoluções fundadas no nada.
Foi isso que sugeri quando comentei o email do Nero. O espaço de debate não pode e nem deve ser uma passarelle onde cada um se exibe e quer ser o maior. Tem que ser um espaço de reflexão onde exercemos a nossa cidadania e despertamos outros a fazerem o mesmo.
Como diz Patrício Langa, "a sociedade se constitui no debate. O debate crítico é, acima de tudo, o mecanismo essencial para melhoria da qualidade da nossa esfera pública." Temos que cultivar este debate.
Mas ao cultivar o debate, temos que evitar o monopólio da verdade, de modo a evitar intolerância entre nós e/ou atitudes de mera altivez como muitas vezes temos visto. Temos que matar a tendência crescente de que os nossos pontos de vista, as nossas ideias são autênticas revelações. Como diz Elísio Macamo "quem se julga detentor da verdade é que se torna intolerante e fanático nas suas posições. Quem duvida não fica envergonhado por ter abordado um assunto de uma determinada maneira e ter sido provado enganado. Ele rigozija-se."
Como comentou um dia o Bayano no blog do Patrício, " houve em tempos uma grande discussão sobre o direito à liberdade de expressão nos eua e uma questão que se colocava era de saber até que ponto qualquer ideia podia ser veiculada na esfera pública. Por outras palavras, que valor devia ela ter para ser considerada como ideia? deves estar a imaginar a salada de opiniões que isso ocasionou. O que saltou ao de cima foi que justamente por isso mesmo é que as ideias devem competir no mercado de ideias até a melhor ideia sobressair - evidentemente, que amanhã poderá não ser a melhor ideia, mas a beleza do debate reside ai."
Sou também por uma postura sã no debate de ideias.
6 comentários:
Caro Julio,
Qual eh a tua opiniao sobre o nivel de debates no nosso pais. Falo dos jornais, televisoes, radios, blogs e e-mails? Temos ou nao muitos intelectuais no nosso pais? O tipo de abordagem no debate de ideias eh superficial ou profundo do ponto de vista cientifico?
Um abraco
Julio
O debate intelectual é duro, custa e implica ler, pensar, resumir, produzir informação e conhecimento.
Que ninguem tem o saber absoluto não tenho dúvidas, por isso nunca concluo nada em matéria de assuntos que requerem instrumentos teóricos e formação específica. Prefiro recorrer a especialistas para buscar alguma autoridade cientifica.
Eu vou mais além da questão do Nero...quem é que enfraquece o nível de debate nas televisões, rádios, blogues, jornais ?
Há dias em conversa com um amigo, blogger, sobre a qualidade do debate intelectual, principalmente nas televisões, concluímos que os principais paineis de debate estão "vendidos" a certos indivíduos com compromissos alheios à academia, a intelectualidade e ao debate construtivo.
Existem vários intelectuais e académicos Moçambicanos. É preciso que os produtores televisivos e os agentes que lideram o debate "destranquem" as portas.
Viva a PAZ !
concordo contigo basilio, o que falta e destrancarem as portas. Quanto o nivel de debates me parece ha uma prudencia politica nos debates,isto e, uma reserva de se fazer uma analise que nao vai de acordo com a governacao politica do dia o que em certo caso diminui o nivel de debate e discussao, sao os tais vendidos, principalmente quando o assunto e de ambito socio-economico e politico. nas TVs privadas ainda se tem tentado alguma coisa mas a publica o nivel de debate sob meu ponto de vista chega a nada, e dificil se verificar ideias subversivas, estao sempre todos a pensar da mesma maneira a utilizar os mesmos termos
Nos jornais ha um comportamento identico com o que se passa nas tvs e nos blogs penso que as analises estao a todos os niveis desde os que carem de de suporte cientifico ate ao mais alto nivel se os debates nos orgaos informacao fossem como nos blogs de certeza que chegariamos ao c pelo menos
Tenho mais Perguntas do que respostas em relacao ao Venancio como analista...Sem tirar o merito do esforco que o empregado bancario (BIM)em fazer aparicoes publicas feito de analista de todas as materias (ate assuntos juridicos!)vejam so o cumulo da ignorancia que a que chegamos.
Alguns sectores distraidos o chamam de Engo, alias ele tem se auto titulado de ANALISTA/ACADEMICO o que para alem de uma vergonha e ferir os academicos por que este MDMNISTA DESFARCADO nao passa de uma Caixa de RESSONANCIA. Devemos lembrar que este Sr,. que a STV tenta a todo o custo promove-lo apenas tem a LICENCIATURA EM AGRONOMIA por isso nao tem nemhum credito para vir aqui hoje a enganar tudo e todos.
Em segundo lugar, convem lembrar a historia deste nnosso pseudo academico ou melhor, empregado BANCARIO (engenheiro florestal no BIM?estranho nao e?)como comentador, que comeca na TVMirar no antigo espaco "VOZ do POVO" que acabou sendop corrido, depois disto tentou estar na TIM que tambem nao saiu por bem e finalmente hoje na STV so que nesta como tudo e recrutado(analistas sem perfil) esta ai o empregado bancario do bim, feito analista o que e uma vergonha.
Em terceiro lugar, acgho que a MULEIDE devia procurar saber como e que o pseudo academico da STV vive sem a sua esposa consta-nos que o tipo e campeao em violentar a(s) mulher(es) ou sseja, enquanto vivia com a esposa o comentador era o homem -espancador la em casa do casal. Nao e por acaso que vive sozinho ate hoje.
Em ultiomo lugar seria de aconselhar o "analista" a aumentar o seu nivel academico enquanto a inetgracao reghional ainda naop se abateu entre nos, ate por que os mestrado aqui na Patria amada continuam acessiveis para qualquer um, agora resta saber se a nota de licentura e suficiente para poder ser aceite ao nivel de Mestrado. Vai estudar senhor empregado bancario do BIM.
O último anónimo é exemplo do que considero catastrófico na forma como debatemos. Muitas vezes perdemos PONTA do essencial para embarcarmos neste tipo de ideias e de discussões.
A mulher do Mondlane não entra nesta história; aliás, nem ele próprio. O propósito deste post era que todos nós revisitássemos a nossa forma de estar no debate público de ideias. Personalizar no.
Nero, heheh, meu amigo, o debate público de ideias está cheio de exemplos como o do último anónimo. Este domingo foi o Deputado Muchanga que, para comentar o acórdão do CC se atirou com tudo contra o Ismael Mussá... isso faz do nosso nível de debate pobre, quando deixamos o essencial (as ideias) para nos concentrarmos no supérfluo (quem as emite).
É claro que há intervalos de lucidez nos quais discutimos verdadeiramente ideias. Os nossos blogs, as TV's etc, registam esses momentos mas, no geral, na maior parte das vezes as pessoas andam agarradas às golas dos outros ao invés de se agarrarem às ideias.
Basílio, há muito que se diz que pensar custa e doi. Noutro espaço discute-se que a TV é um espectáculo e, de facto, a favor disso, não me admira que os principais paineis de debate estejam " "vendidos" a certos indivíduos com compromissos alheios à academia, a intelectualidade e ao debate construtivo.
Anónimo 1, a prudÊncia política está a dar lugar a uma subversidade violenta e sem escrúpulos por parte de gente cujo principal interesse coincide com o da TV em causa: espectáculo e ganhar audiências; não sei se te admirarias sem alguém chamasse burro ao Rogério Uthui num debate sobre física nuclear (sua área de formação, por alguém formado em medicina dentária; em Moçambique e nas nossas TV's é possível...
Júlio, concordo contigo sobre o último anónimo. O seu comentário é tudo o que não se recomenda num debate de ideias.
Sobre o engenheiro Venáncio, também acho um exagero chamarem-no académico. Pior quando outros dos seus oponentes como Niquice, Nkutumula e outros não são distinguidos por esse título pomposo.
Convêm lembrar que "académico" não é sinónimo de licenciado. Aliás, mesmo um docente universitário que se limita a ditar apontamentos aos seus discentes não merece este título.
Académico, no mínimo, tem que escrever ensaios académicos, publicar em revistas de especialidade e benificiar-se de uma revisão de pares quanto ao seu labor investigativo.
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