quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Corrupção, Sabemos o que É?

O Governo do dia e, em partuclar, o Presidente da República declararam uma guerra sem tréguas contra a corrupção. Moçambique tem uma legislação que reputo aceitável sobre o assunto. Este assunto que já foi, também, tema privilegiado de inúmeros colóquios, seminários, debates etc. (por exemplo, aqui).

O Rapper Azagaia j’a gritou, numa das suas músicas, “corruptos fora” e multiplicam-se, por aí, canções, discursos, panfletos etc ora denunciando a corrupção e ou corruptos de ocasão, ora instigando Moçambique a lutar contra a corrupção e a denunciar corruptos.

Nada contra. Porém, assusta-me (só de pensar) a ideia de que, se calhar, muitos falam deste fenómeno sem o conhecer/dominar. Assusta-me a ideia de pensar que, se calhar, grande parte da população do meu país não conhece o fenómeno para o qual é chamado a combater, principalmente, quando não poucas vezes se faz confusão entre melhoria de vida e corrupção, como também pelo clássico toda a “gente sabe.”

Estarei enganado? Sabemos mesmo o que é corrupção?

Não seria esta altura de ensinarmos nas nossas escolas o essencial sobre este assunto, desde as primeiras classes, ensinando, ao mesmo tempo, boas práticas aos mais novos numa visão de fututo e de cidadania militante e consciente?

Revejo os livros das primeiras classes e fico com a ideia sobre o como perdemos oportunidade de ensinar estas coisas ao mesmo tempo que vai se mentalizando nas cabeças também da criançada a ideia deturpada de desconfiar de todo que aparente viver bem.

12 comentários:

Anônimo disse...

Excelente ideia esta a de ensinar às crianças de pequenas o que significa este cancro chamado "corrupção", pois "de pequenino é que se torce o pepino".
Assim elas irão crescer com valores de moral e ética.
Mas o outro problema que vejo na sociedade Moçambicana é que a corrupção começa no próprio aparelho de estado, tudo está corrompido, desde o Presidente até ao Secretário particular. Agora, como vamos resolver isto?
Não me venham dizer que A. Guebuza enriqueceu e tornou-se num dos homens mais ricos de Moçambique vendendo patos.
Não somos tão ignorantes que acreditamos nesta patranha.
De certeza que não somos patos para engolir esta.
Ficamos em quê?
Só com o fim da corrupção é que Moçambique vai prosperar e desenvolver-se.
Mário

Ximbitane disse...

Excelente questionamente. Saber-se-a de facto o que é a famosa corrupção? Uma pesquisa seria fundamental

Nelson disse...

Não passa um mês, contaram-me uma que enquanto muitos riam eu lamentava. O filho(5 anos de idade) dum vizinho foi ao hospital e tinha que “apanhar pica” mas como a maioria de garotos nessa idade, ele não se simpatiza com agulhas, começou a chorar e depois teve uma ideia. Tirou cinco meticais do bolso e ainda choramingando prometeu dar os cinco meticais ao enfermeiro se ele não o picasse. Garoto de cinco anos que já sabe que usando o dinheiro, pode “contornar” algumas situações. De pequeno realmente se torce o pepino. A ideia de investir na educação dos meninos na tenra idade é inquestionavelmente boa, mas eu prefiro ser realista. “Do we have what it takes?” Sera que temos o necessario? Não vamos mais uma vez deitar as culpas todas a escola, aos professores, aos curriculos, ao “coitado” do ministro da educação, etc. Os pais, os verdadeiros donos dos “pepinos” que vão se torcendo, que percentagem do seu tempo gastam para investir na “educação” deles? Continuando realista, sei que as vezes vontade não falta de gastar um tempinho com os meninos mas precisamos fazer mais alguma coisa, terminar a faculdade, fazer este ou aquele cursinho, para que haja mais dinheiro em casa e não sobra tempo para ensinar os meninos a serem honestos.
Situação complicada. Muito complicada para mim.

Júlio Mutisse disse...

Mário,

Obrigado por passares por cá. Ao afirmares o que afirmas sobre AEG parece que tens idea do que seja a corrupcão. Podes nos elucidar nos?

Sabes mesmo o que é corrupcão?

Júlio Mutisse disse...

Ximbitane Querida,

Muito gosto em tê-la aqui. Um inquérito... mais um relatório complicado etc. Se for necessário para que todos saibamos, de facto, o que é corrupcão concordo.

Ando preocupado com a visão que temos sobre o fenómeno e catalogacão fácil. Creio que para melhor combater, tinhamos que conhecer o fenómeno.

Júlio Mutisse disse...

Nelson, como vai o Chiveve?

Bom ver te aqui. Contas um episódio interessante que pode ser repitido em vários outros, que demonstra que até aos mais novinhos está já enraizada esta ideia de que um suborninho evita determinadas situacões, demonstrativo de que a família tem um grande papel na sua correccão como na sua dessiminacão.

Tal como noutros assuntos, a escola e a família tem um papel repartido e que se complementa e se todos e cada um de nós fizermos algo poderemos ter uma sociedade bem melhor.

Mas, o ponto é: combater a ideia do suborno é combater a corrupcão? Acabando com o suborno acabamos com todas as práticas corruptas?

Será que devemos unica e exclusivamente nos concentrar em combater a corrupcão definida no sentido da "utilização do poder ou autoridade para conseguir obter vantagens, e fazer uso do dinheiro público para o seu próprio interesse, de um integrante da família ou amigo"? É este o sentido que nos interessa? Ou há mais?

Como se refere em http://www.mundoeducacao.com.br/geografia/o-que-corrupcao.htm, devemos assumir que a corrupcão é um degelo de "países não democráticos e de terceiro mundo, essa prática infelizmente está presente nas três esferas do poder (legislativo, executivo e judiciário). O jogo de interesse dos corruptos atinge o todo, o uso do cargo ou da posição para obter qualquer tipo de vantagem é denominado de tráfico de influência,"e nesses termos, sendo nós democráticos apesar de sermos do terceiro mundo, seríamos considerados imunes do fenómeno?

Há muito por onde pegar... vamos daí

Nelson disse...

Caro Mutisse, voltei porque o assunto me interessa. Do Chiveve sei muito pouco últimamente. De Maio para cá, para lá só vou rapidamente para cuidar de saúde. Sofri um trágico acidente de viação em Maio e quase parei no tempo.
Bem vamos à corrupção.
Ideia de “massificar” o conhecimento sobre a corrupção é inquestionavelmente boa. Não só da corrupção mas de outros aspectos importantes para a sociedade mas será que isso nos garante em 100%, victória sobre a corrupção? É que para mim, existe uma distância considerável entre conquistar o conhecimento e pô-lo em prática. É que tal como o homem é “propenso” a estabelecer normas para uma convivência social harmoniosa, é igualmente propenso a desobedecê-las.
Uma coisa é ver e conhecer o sinal que fixa em 60 Km/h a velocidade máxima num certo troço e outra bem diferente é obedecê-lo, reduzir até 60 a velocidade que trazemos. Olhando a coisa por esse lado, o conhecimento “profundo” do fenómeno corrupção, deixa de ser assim tão relevante pelo menos para as massas.
Resta mesmo que cada um faça sua parte, independentemente do que os outros fazem e é nessa hora que volto a me perguntar mas dessa vez no singular.” Do I have what it takes?” porque fácil não é não.
Se “combater a ideia do suborno é combater a corrupcão” depende da definição que for usada, se é que existem muitas.Usando por exemplo a definição “utilização do poder ou autoridade para conseguir obter vantagens” e incluindo de forma particular o poder financeiro na definição, eu diria que sim! combater a ideia do suborno é combater a corrupcão. Mas fica claro que “acabando com o suborno não acabamos com todas as práticas corruptas que infelizmente são muitas eu penso.
Vou ficar por aqui mas talvés eu ainda volte

Julio Mutisse disse...

Espero que estejas já recomposto do acidente.

Pode ser que só a massificacão do conhecimento sobre a corrupcão não garanta sucesso na luta. Mas é um bom caminho para a vitória.

A massificacão do conhecimento do fenómeno deve incluir também a massificacão das consequências do envolvimento em actos corruptos tal e qual previstos na legislacão pertinente, ao mesmo tempo que se multiplicam medidas dissuazoras como a punicão dos que, comprovadamente, se envolvam em actos corruptos seja qual for a monta.

Anônimo disse...

olá júlio,
as questões que colocas são, como sempre, pertinentes. nenhum assunto espicaça mais a minha curiosidade que o assunto da corrupção. não há pior coisa que querer combater algo que mal conhecemos. o combate à corrupção em moçambique tem sido, ao lado do combate à pobreza, uma das maiores distracções. não é verdade que não nos desenvolvemos por causa da corrupção, ou melhor fazem falta estudos mais circunstanciados sobre as condições dentro das quais certas manifestações da corrupção atrasam o nosso desenvolvimento. se a corrupção impedisse, duma forma geral, o desenvolvimento, nenhum país que hoje é desenvolvido seria desenvolvido. o que atrasa o nosso desenvolvimento, se é que se pode falar de forma tão geral, é a ineficiência do sistema judiciário, a falta de respeito pelo cidadão, a ausência de responsabilização, etc. essas são as coisas que nos deviam ocupar, mas é difícil num contexto marcado por discursos sempre preocupados em justificar os seus próprios desaires (refiro-me à indústria do desenvolvimento).
um pouco de polémica para ocupar teu fim de semana...
elísio macamo

Nelson disse...

Vamos à guerra?! Lutemos com as armas que temos disponíveis! Não podemos inventar outras, pelo menos não do dia para a noite e nem podemos esperar tê-las para começar. Quando o presidente de República S.Excia AEG declara “guerra sem tréguas” contra a corrupção, a não ser que seja da boca para fora, certamente que tem consciência da realidade do país. Quem melhor que ele conhece ou devia conhecer os índices de analfabetismo e ignorância existentes Moçambique. O burocratismo(terreno fértil para práticas corruptas) ainda existente. O estrutura e funcionamento deficiente de muitas das instituições. Falta de honestidade generalizada. Falta de cultura de trabalho, transparência e prestação de contas. Falta de consciência crítica. A crónica “cultura da unanimidade”. A “involuntária” lentidão da justiça. Estes são para mim alguns elementos com que o PR deve ou devia ter se confrontado antes de declarar a tal guerra contra a corrupção.
Existem mecanismos para dessuadir os corruptos? Para “premiar” os honestos? Está a nossa justiça preparada para dar cobro de forma celere casos de corrupção independentemente da sua monta?

Julio Mutisse disse...

Mano Elísio,

E não é que me ocupou heheheh. Eu acredito que o Governo de Mocambique tem a licão bem estudada sobre a corrupcão razão porque nos chama a esta luta sem tréguas contra a dita cuja.

O problema é que o mobilizador deve ser o único que tem dóminio sobre o assunto, enquanto nós outros que devemos celar fileiras contra a dita cuja pouco sabemos. Evidências de que as pessoas pouco sabem são as confusões que se fazem... tudo é reportado a corrupcão.

Sobre a cultura de responsabilizacão há muito que se diga, há muito que deve ser de, verdade feito.

Julio Mutisse disse...

Nelson, tenho dado aqui a minha opinião no sentido de se dar armas a quem deve ir a luta. Uma dessas armas é o conhecimento do fenómeno que devemos combater. Assim como estamos, me parece, estamos desarmados e a lancar-mo-nos para um inimigo que desconhecemos que pode, mais tarde, revelar-se mais perigoso do que supomos ou supúnhamos.

Aponta a burrocracia como causadora da corrupcão; isso revela, para mim, algum conhecimento do fenómeno. É este conhecimento que, de facto, queremos.