quarta-feira, 7 de março de 2012

O Novo Johny

O Novo Johny

Júlio Mutisse

Julio.mutisse@gmail.com


Será que faz ainda sentido sonhar com as minas da África do Sul como plataforma para a realização dos sonhos como foi durante séculos para muitos moçambicanos? O que é que a corrida mineira (falo da organizada e formalizada) em curso deveria representar para milhares de moçambicanos?

Se calhar já não faz sentido folhar (termo changane usado para qualificar o acto de imigrar ilegalmente) hoje mais do que ontem e amanhã mais do que hoje. Os projectos mineiros em curso e outros anunciados parecem augurar oportunidades de emprego para milhares de moçambicanos, bem como de desenvolvimento de iniciativas empresariais com potencial de renda para milhares de famílias.

Se ao longo de séculos as minas sul-africanas foram sendo o ponto de convergência para a solução dos problemas e realização do sonho da prosperidade de milhares de moçambicanos, podemos começar a sonhar Tete e Moçambique no geral como o novo Johny, o novo local de convergência dos moçambicanos ávidos de realizar o sonho de prosperidade, construir casa, casar e ter muitos filhos que orientou a debandada para a África do Sul de muitas gerações de moçambicanos.

A consolidação de Tete e outras regiões do país como o nosso el dorado e locais de realização dos nossos sonhos em solo pátrio, depende não só do interesse e vontade dos investidores mas da acção do Estado na infra-estruturação que permita não só o acesso às áreas de mineração, como o escoamento da produção desses locais. A Política geológica mineira aprovada pela Resolução número 4/98, de 24 de Fevereiro, reconhece que a “actividade mineira desenvolve-se em zonas remotas e, em geral, sem infra-estruturas como estradas, pontes, vias-férreas e energia eléctrica entre outros” situações que concorrem para o agravamento do custo relativo do capital investido.

Ainda bem que o Estado tem consciência deste facto. É necessário pois acelerar a edificação dessas infra-estruturas que, para além de beneficiarem as empresas mineiras, beneficiarão (e de que maneira) as populações residentes nas áreas por elas atravessadas. Basta para isso ver o “efeito comboio” na linha de Sena e as potencialidades que a sua circulação cria ao longo de todo o seu traçado. Na política geológica e mineira referida, o Governo assume que promoverá a edificação dessas infra-estruturas, envolvendo, quando necessário, os investidores do sector mineiro, assegurando lhes para o efeito, um justo retorno dos seus investimentos, através de incentivos fiscais apropriados.

São públicas as queixas da necessidade de vias alternativas para o escoamento de carvão de Tete. Uma das empresas envolvidas sugeriu inclusive a via fluvial, segundo notícias, chumbada pelo Governo. Nestes termos, urge materializar a visão deixada na política geológica mineira e promover, seja com a participação dos mineradores, seja por iniciativa do próprio Estado, a edificação dessas infra-estruturas vitais para o desenvolvimento do país.

Pode ser que ao falar das infra-estruturas nossos olhos se virem para Tete. Tete está na moda. Mas a necessidade de vias de acesso e de escoamento não se resume aí. Imagine-se a mesma necessidade para o operador mineiro em Cóbue, em Lupeliche no Niassa ou em qualquer outro ponto localizado numa zona remota sem qualquer infra-estrutura indispensável para o cabal desenvolvimento de operações mineiras com potencial desenvolvimentista para o país.

Em suma, adicionado aos avultados investimentos que as mineradoras (carvoeiras e outras) anunciam, há uma necessidade premente de erguer as infra-estruturas viárias, férreas, eléctricas e outras que potenciem Moçambique como o novo Johny. Afinal, se ontem sonhávamos com a realização nas minas da África do Sul, temos potencialidade para começarmos a pensar na realização na nossa casa. Com o carvão de Tete, ouro de Manica e Niassa, as areias de Chibuto e Moma, gás em descoberta por esta nação fora podemos, a breve trecho, nos transformar no novo Johny onde convergirão não só moçambicanos, como, igualmente, nacionais dos países da região e do resto do mundo havidos de emprego, como de oportunidades de negócios que se abrem em torno desses enormíssimos empreendimentos.

Desafiar o “Negócios” a descobrir este nosso Johny, não só na perspectiva de compreender as relações que se abrem nesses novos focos empresariais e sociais como na perspectiva de explorar as necessidades e possibilidades de instalação de pequenas e médias empresas que sirvam esses empreendimentos assessorando, à preço de um jornal, a corrida ao empreendidorimo. Que tal, na mesma leva, incluir o colectivo das pescas a explicar as populações e aos empresários da região como podem aproveitar a água para fazer peixe e vender às mineradoras etc.?

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