Por alturas das eleições para SG da OJM, escrevi aqui e aqui sobre as minhas expectativas em relação à dinâmica da OJM pós eleições. Escrevi nessa altura que “Impõe-se, de facto, a necessidade de imprimir uma nova dinâmica no seio da organização; o assumir de uma postura mais irreverente (própria da juventude) quer no discurso, quer nas acções a empreender, que galvanizem a juventude quer no seio do Partido Frelimo quer fora deste.” Acrescentei que, no meu entendimento, não existem problemas e/ou soluções exclusivas à juventude da Frelimo. Existem desafios comuns de uma juventude sedenta de soluções para os desafios vários do momento.
Continuo a acreditar que a OJM, ao juntar no diálogo anunciado “toda a camada juvenil” para a compreensão dos desafios do momento, chave mestra para a concepção de soluções eficazes, poderá constituir-se e/ou tornar-se num espelho no qual a juventude se reveja na busca de soluções para os seus problemas, e como interlocutor válido a todos os níveis, incluindo dentro da estrutura que actualmente define e concebe as principais políticas do país.
Continua sendo um desafio.
O discurso de Basílio Muhate na abertura da 3ª sessão do Comité Central da OJM trouxe de volta, para mim, a sensação de que ainda existe irreverência no seio da nossa juventude isto não só porque a OJM através do seu líder aproveitou para dizer claro e em bom tom “que não vamos tolerar aos jovens e também adultos intriguistas, malandros, escovinhas e criadores de mau ambiente, nem a ingerência de aqueles cujas costas já se encontram gastas de tantas escovas e dizemos, deixem-nos trabalhar” mas, essencialmente, porque sem subterfúgios, aplaudiu o que vai bem e criticou o que vai mal, inclusive na estrutura governamental, do partido e nas autarquias.
Longe de qualquer polémica que as palavras de Muhate podem, aos olhos de alguns, levantar, foi bom ouvir o posicionamento da OJM sobre assuntos de interesse de uma juventude inteira que não só a juventude da FRELIMO. Destaco 3 pontos:
O emprego: “O desemprego é outro dos problemas que nos aflige, apesar de vermos com bons olhos os ventos de empreendedorismo crescerem e soprarem. Porém, assistimos a uma estranha tendência de exclusão dos nossos jovens quadros, nacionais, em áreas do seu domínio por cidadãos estrangeiros, algumas vezes arrogantes e outras vezes racistas a imporem-se no nosso seio. Começa a ficar grave o cenário camarada presidente, vemos cozinheiros, caixas e canalizadores importados do estrangeiro, será que não os temos cá?
Não somos xenófobos ou racistas porque acreditamos que na vivência dos seres se trocam experiências, mas também acreditamos que não devemos ser preteridos no que sabemos e podemos fazer.”
É verdade que há que potenciar soluções tendentes a conferir emprego a cada vez mais moçambicanos e o SG de uma organização cujos membros sofrem pela falta de emprego não pode ficar alheio a esse aspecto.
É altura de a OJM e todas as organizações juvenis se posicionarem no debate sobre o modelo de formação mais adequado para a produção dos quadros necessários e que respondam às necessidades actuais do mercado e no acelerar do investimento na educação técnico-profissional, bons caminhos para o acesso ao emprego por cada vez maior número de jovens e para o público apelo ao empreendidorismo.
Recursos energéticos: “Assistimos nos últimos tempos a um crescimento de entusiasmo por força do boom energético e mineiro que o país conhece, o que traz uma natural alegria para todos nós, porque cremos que poderá ser um tónico para o nosso desenvolvimento e um estímulo para o aumento da produção, particularmente para a nossa agricultura. Contudo, sabemos que esse advento cria expectativas justas e nalguns casos injustas e desmedidas de pessoas que vêm no petróleo, gás e minérios um garante de uma vida exorbitante e que preterem o trabalho.
Pedimos para que se invista numa maior contenção dos vários actores, ficando nós de o fazer em relação aos jovens e exortamos para que a informação sobre esse boom seja difundida de modo massivo para acabar com as desmedidas expectativas e para que a legislação e as negociações atinentes a sua exploração sejam bem pensadas e ponderadas de modo a ganharmos uma exploração sustentável e que propicie reais ganhos para o laborioso povo moçambicano.”
Fundamental este apelo. De facto se os recursos energéticos em descoberta e outros já em exploração podem ajudar a livrar nos do sufoco, se formos invadidos por um sentimento de comodismo corremos o risco de negligenciarmos outras formas de sairmos do subdesenvolvimento, para além da possibilidade de nos virarmos uns contra os outros.
Oportunidades: “Somos contra o nepotismo e as suas variáveis formas de manifestação, exortamos assim para que as oportunidades sejam distribuídas sempre na busca do equilíbrio e da justiça social no seio do povo de modo a que não minemos e periguemos aquela que é uma das nossas riquezas, a unidade nacional.”
Reitero aqui, com as necessárias adaptações, o comentário feito anteriormente.
Papel e preponderância da Juventude: “Apesar de defendermos o respeito pela quota a que temos direito, não deixamos também de constatar que essa quota nos dias de hoje esta aquém do peso e preponderância da nossa juventude, por isso gostávamos de ver desde hoje repensada positivamente a quota da juventude nos órgãos do nosso país.
Queremos que o compromisso para com a juventude seja claro, tangível e visível no X congresso, não pretendemos de modo nenhum ser bandeira de promoção de alguns nem sequer instrumentos de discussão, queremos ser preponderantes e presentes, mas mais do que isso, queremos ser parte da solução e a solução.”
O meu posicionamento sobre a OJM ao longo dos anos é claro: requer um discurso forte e irreverente que, sem quebrar com as normas internas da organização maior a que pertence, mostre que se trata de uma organização com princípios, normas e causas por defender. Um discurso que não soe a repetição do discurso do Partido, mas um discurso que possa, inclusive, influenciar ele mesmo o discurso da organização maior que é este último. Com uma postura firme e mesmo irreverente, creio eu, a OJM pode conseguir colocar na agenda do partido politicas da juventude e outras coisas que interessam a juventude.
Este discurso marca um princípio. Espero que as mensagens deixadas tenham passado e os seus destinatários as tenham encaixado.
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