segunda-feira, 23 de julho de 2012

Oportunidades em Época de Grandes Investimentos

Oportunidades em Época de Grandes Investimentos

Júlio S. Mutisse

Julio.mutisse@gmail.com

Ideiassubversivas.blogspot.com

Dá me graça a forma como iniciam muitas reuniões aqui no país. Depois dos cumprimentos de praxe, segue sempre um pedido de desculpas normalmente motivado pelo atraso por qualquer razão. Confesso que não gosto, mas tive que reciclar esse não gostar e encontrar algo de engraçado nessa nossa forma de iniciar as reuniões.

Outra coisa interessante está nos emails, telefonemas e/ou sms’s em vésperas de vencimento de um prazo. É interessante ver o esmero na desculpabilização por um fornecimento que não pode ser feito na data prevista, quer por que houve “atraso” no embarque, quer por o fornecedor de botões se ter atrasado, ou ainda porque se está a espera do fornecedor da África do Sul e/ou da China para completar a encomenda. É o pedreiro que te conta um filme tão longo como os filmes indianos (sem qualquer desprimor a estes, refira-se), é o carpinteiro que na hora de receber o “adiantamento” dava todas as certezas mas na hora da entrega do produto final (quando é encontrado) perde toda e qualquer certeza.

Quem nunca passou pelas situações acima que levante o braço.

Os grandes investimentos que vão ocorrendo um pouco por todo o país podem constituir uma importante alavanca para o desenvolvimento de empresas e/ou iniciativas nacionais nas mais diversas áreas. Aliás, sempre que se fala nos grandes projectos, uma das questões que se coloca é a de saber até que ponto esses grandes investimentos absorvem empresas nacionais na prestação de serviços, fornecimento de bens e outros de que esses investimentos precisam.

O Presidente da República não tem estado alheio a esta problemática e tem insistido que esses investidores devem dar primazia à contratação de empresas nacionais. É justo, é legítimo. De verdade não esperaria outra coisa do PR afinal, há que contar com os recursos locais para ganharmos mais pontos neste combate gigantesco que se faz contra a pobreza e, quanto mais potenciarmos as empresas e os empresários nacionais mais rapidamente daremos passos significativos para sairmos do vermelho.

Reitero que acho correcto que o PR advogue a favor de uma maior participação das empresas e de nacionais com capacidade no fornecimento de bens, prestação de serviços e outros. Mas, mais do que o apelo do PR aos investidores, há toda uma necessidade de as empresas nacionais se aprimorarem e se adaptarem às exigências dos grandes projectos que requerem: qualidade, rigor, profissionalismo, respeito pelos compromissos etc. O nível das grandes empresas que se estabelecem(ram) em Moçambique, a sua natureza, o grau organizacional e modelos de funcionamento requerem que os prestadores de serviços e fornecedores de bens sejam verdadeiramente profissionais, pontuais nas entregas e, acima de tudo, são extremamente exigentes na qualidade do produto que se lhes deve fornecer.

Não tenho dúvidas da existência de muitas empresas capazes de fidelizar contratos com as multinacionais que se estabelecem em Moçambique; não tenho dúvidas da existência de muitos profissionais com capacidade para prestarem serviços de qualidade a essas empresas e nem se quer duvido dos benefícios que podem advir dessa qualidade referida. Porém, reconhecer isso não nos deve deixar esquecer do desafio de nos aprimorarmos todos os dias e nos fazermos melhores a todo o tempo. Não podemos esquecer nem tirarmos de vista a ideia de que, mais do que responder ao apelo do PR sobre a contratação de empresas nacionais, as multinacionais buscam qualidade dentro de critérios que mesmo que os consideremos apertados, temos que aprender a viver com eles se queremos tirar algum proveito.

Dantsotsu é uma palavra japonesa que significa lutar para tornar-se o melhor do melhor com base num processo de compromisso com a excelência que consiste em procurar encontrar e superar os pontos fortes do concorrente. O empresariado nacional não pode fugir ao seu dantsotsu de se afirmar local, regional e globalmente nem do dantsotsu de deixarem de ser empresas simplesmente nacionais, para se transformarem em empresas de confiança que se capacitam não só para o mercado local mas, também para o regional de duzentos e cinquenta milhões de consumidores potenciais e o global de biliões.

Nós somos moçambicanos, sabemos superar desafios e, acima de tudo, temos capacidade: sempre podemos. Sempre podemos ser contratados não por sermos simplesmente moçambicanos, mas por sermos bons. Se duvidarmos de nós e/ou não formos ao encontro do nossao dantsotsu continuaremos a lamentar da nossa sorte, vendo o comboio passar, e sendo ultrapassados pelo primeiro estrangeiro que ofereça o que não formos capazes de oferecer: qualidade e profissionalismo.

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