terça-feira, 16 de abril de 2013

O Empregado

O Empregado

Júlio S. Mutisse

Julio.mutisse@gmail.com

Ideiassubversivas.blogspot.com

Hoje decidi fazer uma inconfidência. O meu amigo que me perdoe, mas vou servir-me da sua história para chamar atenção de algumas coisas.

O meu amigo tem um empregado doméstico que cuida de um conjunto de assuntos que, na sua família, são atribuídos ao empregado doméstico.

Quando me lembro da história do meu amigo me vem sempre à memória os questionamentos que são, muitas vezes, lhe colocados: porque um empregado e não uma empregada? Que critérios usou para tomar a opção por aquele e não outro? Etc.

Sempre pensei que, perante facto consumado (a contratação do empregado), pouco importava a discussão de por que um homem e não uma mulher. Aliás, quem disse que o trabalho doméstico deve ser prestado apenas por mulheres?

Na verdade, na casa do meu amigo, muitos dos membros da família residentes na sua casa (e não só) sempre reclamaram do desempenho do empregado. É verdade que o empregado lavava alguma roupa, engomava e fazia algumas outras coisas, mas, para muita gente naquela casa, o desempenho do empregado deixava muitas coisas a desejar.

Passaram alguns anos de contestação crescente ao empregado, sem que, o meu amigo em assembleia familiar marcasse posição perante as reclamações dos seus filhos, primos e, acima de tudo, esposa. É verdade que, em privado, o meu amigo puxava as orelhas ao empregado, mas, infelizmente, esse acto não chegava ao conhecimento dos filhos, esposa e demais membros da família que já iam encardidos para os seus afazeres. Com esta atitude, o empregado sempre se apresentou “protegido” perante a maioria dos membros da família; em instâncias “formais” no seio da família nunca houve uma acção perante as reclamações dos familiares do meu amigo.

A esposa do meu amigo, os filhos e demais familiares começaram a ficar saturados com o empregado e a delinear estratégias de substituí-lo. É um facto que não tinham ninguém em vista ainda; discutiam ir a agências, trazer alguém da família da esposa de Inhambane, trazer alguém da casa da sogra em Xinyanguanine etc. Perante este facto, o meu amigo decidiu mostrar à família quem era o homem da casa, ralhando com o empregado e deixando o resto da família a saber do raspanete.

Se o raspanete pode ter o efeito de mudar a conduta do empregado, o silêncio perante a assembleia familiar onde o todo poderoso patrão sempre apoiou e destacou as boas acções do empregado, sendo omisso às críticas que se faziam beliscam este meu amigo.

É que, como sempre lhe dizemos, os raspanetes em surdina nunca foram passados para a família e nem esta, ao menos, percebeu que haviam chamadas de atenção com relação às queixas que sempre se apresentaram.

Portanto, meu querido amigo, aos olhos da sua família sempre suportaste o empregado e todas as suas acções tinham a sua benção. Não espere que sua esposa, seus filhos, e demais membros do concelho da família, neste momento, te batam palmas; antes pelo contrário, eles estão cientes de que sem a sua benção, este empregado que a seus olhos (hoje) não serve, sempre teve sua benção pois, não fosse assim, a atitude tomada teria sido tomada nos fóruns próprios dentro da família há tempos e não hoje. Para piorar, como a escolha de empregados é sempre feita por si, a família espera para ver que passos tomarás e terás que fazer o melhor de si para provar que o próximo empregado será melhor e, acima de tudo, a sua atitude para com a família e para com esse empregado será diferente.

Sabes que sou seu amigo e te apoiarei sempre, mas acredite, estamos todos a espera do passo que tomarás e é possível que todos que te queremos bem, estejamos mais preocupados contigo do que com quem realmente escolherás. Para nós tens que ser sempre bom e também parecer bom.

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