quinta-feira, 14 de junho de 2007

UTOPIA (1) - o Poema que não te escrevi

Abaixo apresento um texto da autoria do meu amigo Policarpo Mapengo ("PC Mapengo", um escritor em busca do seu espaço). O objectivo é o de sempre: que reflictamos sobre ele. Será apenas ficção?

Acredito que o amor é eterno!

Terei todo o tempo do mundo para te escrever um poema de amor.

Este é o poema que não te escrevi. Não tenho tempo para te falar das flores e da água do mar. O mundo está em chamas e nós marchamos nas avenidas universais apelando pela paz.

Formamos movimentos anti-globalização ou pela globalização cooperativa em que não só consumimos macdonald como também oferecemos xigubo. E de bandeiras em punho seguimos na frente de combate apelando para o fim da guerra e para redistribuição da riqueza por partes iguais. Somos guerreiros modernos que ainda acreditam que o movimento cívico é das armas mais letais.

Não tenho tempo para te escrever um poema meu amor!

Acreditava que a nossa causa era justa, que iríamos vencer para oferecermos um mundo melhor aos nossos filhos. Aí, todas as noites antes de dormirmos faríamos amor e te recitaria poemas ao amanhecer sem medo e sem ver nas televisões noticiários de guerra, sem me envergonhar pelas tristes imagens de Darfur. Dizias-me que essa era utopia de homens modernos que não aceitam ser comunistas mas continuam a perseguir o sonho vermelho em shows de Bono Vox e Bob Geldof. Pode ser meu amor, mas a minha ideologia é um comunismo capitalista!

O show vai acabar meu amor, aí iremos a beira-mar ver o pôr-do-sol e te escrever um poema de amor.

Agora não tenho tempo para te escrever esse poema!

Agora tenho de escrever meu manifesto para a Nina. Ela não entende poemas de amor, ela não entende linguagem de paz e amor enquanto vê uma imagem chocante de G-8 em volta a uma mesa farta em que os líderes não comem por não saberem o que comerem enquanto de outro lado, no vale de Níger onde se sente o rico cheiro de petróleo há muita gente que não come por não ter o que comer.

Agora não posso te escrever um poema de amor!

Tenho de falar dos homens sem tecto que sonharam com um país melhor e o máximo que conseguiram foi uma bala no seu corpo e um despachado caixão de seus companheiros de luta enterrado debaixo da terra como tecto.

Achas que me resta tempo para te escrever um poema de amor?

Quando o mundo for melhor, te escreverei um poema de amor. Falarei do seu corpo a escaldar enquanto te contorces de prazer, qual sol sobre África em tempo de aquecimento global.

Vês meu amor, agora só sei falar de aquecimento global, só sei falar do protocolo de Quioto, só sei falar de questões ambientais que vão dando cabo deste continente, da água que será a principal causa da guerra.

O poema que não te escrevi, fala das crianças a correrem no meu país sem medo de bombas sem temerem a diplomacia de guerra. O poema que não te escrevi fala dos teus olhos a brilharem por não teres a preocupação do que comer amanhã.

Poema que não te escrevi é um poema de paz e amor!

3 comentários:

Bayano Valy disse...

benvindo a este mundo. entraste sorrateiramente e não avisaste, não fosse o Prof Macamo a avisar, levaria muito tempo a chegar.

Júlio Mutisse disse...

Thanks. Por acaso andava longe dos blogs no geral. Recebi um texto do Prof. Macamo por email e segui o link e... já cá estou a tentar contribuir (a minha maneira) na criação da tal consicência colectiva.

Matsinhe disse...

Espero tanto que todos nós aqui acreditemos que o movimento cívico pode sr uma "das armas mais letais".
Quando usarmos essa arma vamos arrumar a casa e ter tempo para não só escrever como declamar poemas de amor.