quinta-feira, 3 de abril de 2008

Taxa de Rádio

Em tempos publiquei aqui no blog uma inquietação da minha querida amiga e colega Maria João Hunguana, sobre a Taxa de Lixo (siga o Link). Chamo o assunto de novo pelo modo como a polícia, ao nos interpelar na via pública (num exercício por vezes massador e sem fins práticos visíveis em minha opinião), exige o comprovativo do pagamento da Taxa de Rádio em equiparação ao próprio Imposto Automóvel.

Retomo pois a pergunta da MJH: trata-se afinal de uma taxa strictu sensu ou de imposto, tendo em conta a natureza do acto gerador de cada uma destas figuras?

Voltemos ao assunto. Recordemos que tanto a taxa de lixo como a de Rádio Difusão são nos igualmente cobradas na factura de energia. Há algo que, se calhar, urge esclarecer.

3 comentários:

Jorge Saiete disse...

NAO ME PARECE K SEJA UM IMPOSTO. É UMA TAXA QUE SE DEVE PAGAR PELO USO DO SERVIÇO.QUANTO A MIM, O PREOCUPANTE É O FACTO DE ESTA TAXA SER COBRADA INDISCRIMINADAMENTE. QUEM TEM VIATURA OU USA ENERGIA ELECTRICA DEVE NECESSARIAMENTE PAGAR A TAXA DA RADIO? MAS QUEM FOI QUE DISSE TODOS OS AUTOMOBILISTAS SITONIZAM A RADIO MOÇAMBIQUE? APENAS ESPERO QUE PROXIMAMENTE NAO SE INTRODUZA A TAXA DE TV....

Júlio Mutisse disse...

Meu caro Jorge,

Obrigado por cá vires. Continuo em busca do instrumento pelo qual se decidiu a introdução da taxa de Rádio e a obrigação de a pagarmos pelo simples facto de termos energia me casa ou andarmos de carro.

Mas se a lógica da Taxa de Rádio é financiar a expansão e melhoria de qualidade do SERVIÇO PÚBLICO de radiodifusão, então, não me admiraria que começássemos a pagar outra taxa à favor da NOSSA TELEVISÃO. Os planos anunciados de criação de um canal comercial distinto do vocacionado ao Serviço Público, pode ser o prenuncio de que começa-se a pensar no serviço público (a sério) da TVM que terá que ser financiado de algum lado. Um desses lados pode ser (de novo) os nossos bolsos via taxa de TV (porque não?), que nos será exigida, provavelmente, nos mesmo moldes que esta da Rádio.

Um abraço e volte sempre.
JSM

Matsinhe disse...

Mutisse e Saiete

Estes debates sobre a legalidade, polémica da taxa de lixo etc, não são exclusivas de Moçambique. Transcrevo abaixo o que encontrei em http://ultimainstancia.uol.com.br/artigos/ler_noticia.php?idNoticia=36262

Taxa do lixo legal ou ilegal?

Adriana Scarponi Santana

A taxa se difere do imposto, que é o tributo exigido pela administração pública, não tendo em vista uma contraprestação do contribuinte por serviço prestado, mas sim em razão da necessidade primordial do Estado, de se conseguirem valores para custear os variados gastos de interesse coletivo; daí se afirmar com absoluta certeza tratar-se o imposto de um tributo não vinculado, enquanto a taxa e a contribuição de melhoria são consideradas tributos vinculados a uma atividade estatal específica.

O argumento trazido pelas Fazendas municipais, na tentativa de explicar a existência da taxa de lixo —argumento este no sentido de que o recolhimento do lixo, dá maior garantia e proteção à saúde pública, portanto, deveria gerar a contraprestação financeira do contribuinte, ao ter seu lixo retirado da sua residência—, não merece acolhida pelos nossos juízes e/ou tribunais.

Isto porque, como afirmado, constitui requisito essencial para a exigência de toda e qualquer taxa a certeza de que esta se refira a serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ou postos à disposição, ou o exercício do poder de polícia, o que, sem dúvida alguma, não é o caso da taxa de lixo, pois é humanamente impossível dividir quantitativamente o monte de lixo que cada residência ou pessoa produz.

No entanto, o que se verifica é que o serviço de limpeza pública trata-se de serviço geral e indivisível, de utilização indistinta por toda a comunidade, que circula diariamente por ruas, praças e avenidas de uma cidade, devendo ser assim, custeado inteiramente pela receita advinda dos impostos municipais exigidos por lei, e não cobrado dos proprietários de imóveis, o que constitui flagrante bitributação, instituto completamente vedado em nosso ordenamento jurídico.

Não se poder afirmar que a taxa de lixo é divisível, se não há sequer um padrão lógico e razoável para medir a quantidade de lixo que cada imóvel ou residência produz.

Uma questão não se cala. Qual seria a base do município para cobrar maior valor de uma taxa de lixo de um imóvel em relação a outro?

Ademais, a taxa de lixo é calculada tendo como base a área do imóvel, que é justamente a mesma base de cálculo do IPTU; além disso, ela possui como fato gerador a propriedade imobiliária, que também constitui a mesma hipótese de incidência do imposto municipal referido.

Assim, tem-se que a taxa de limpeza pública ou taxa de lixo é inconstitucional, pois viola frontalmente o artigo 145, parágrafo 2o da Carta Constitucional de 1988, que versa sobre a impossibilidade da existência de taxas com base de cálculo de impostos. Outrossim, a aludida taxa municipal também fere, de forma inequívoca, a legislação infraconstitucional do Código Tributário Nacional, mais especificamente o parágrafo único do artigo 77, que afirma não poder possuir a taxa, base de cálculo ou fato gerador idênticos aos que correspondam a impostos, nem ser calculada em função do capital das empresas.

A taxa de lixo é cobrada do contribuinte de forma irregular, no mesmo carnê de lançamento do IPTU, em cobrança antecipada, que se refere ao exercício financeiro que ainda virá a ocorrer, logo, não é razoável a exigência da mencionada taxa, uma vez que é totalmente impossível saber-se ao certo se determinado imóvel vai ou não produzir lixo naquele exercício, e se produzir, qual será exatamente a quantidade advinda.

Tanto se confirma a tese que a Prefeitura de São Paulo sancionou a Lei 14.125/2005, que a partir de 1º de janeiro de janeiro de 2006, os contribuintes paulistanos estão livres do tributo.

Conclui-se, portanto, que a exigência da taxa de limpeza pública é inconstitucional e ilegal, devendo ser repelida pelos nossos órgãos julgadores, devendo ser ainda, devolvida a quantia despendida, nestes últimos anos.

Segunda-feira, 26 de março de 2007