segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O Que Estamos a Fazer para Prescindirmos da Ajuda Externa a Médio Prazo?

Discutíamos "Errand Boys - Cooperação Sim, Chantagem não!!" e Elísio Macamo sugeriu-nos uma outra perspectiva de análise da questão da ajuda externa: o que estamos a fazer para prescindirmos Desta ajuda a médio prazo?

É uma abordagem interessante. De facto, passamos muito tempo a discutir o "descalabro" do Estado caso a ajuda seja cortada, e dispensamos pouco tempo para pensar o que cada um de nós está a fazer para pôr fim a dependência da boa vontade dos estrangeiros em ajudar-nos e/ou da possibilidade de o saco deles "encher-se" com os erros que o Governo possa cometer no processo governativo, muitas vezes empolados pelos nossos próprios compatriotas para exactamente "exigirem" o corte da ajuda externa.

De facto, "temos que mostrar que esta dependência nos incomoda com acções concretas destinadas a acabar com ela." Este é um must. Agir.

Basílio Muhate, como eu, nunca tinha olhado para esse lado da moeda que o Elísio nos sugere, ao mesmo tempo que acha que para sairmos da dependência é: "produza, consuma e exporte Moçambicano."

Qual é o nosso indicador da eficácia da ajuda externa? A Erva pergunta qual é o indicador de que a ajuda é eficaz? Para ela é justamente a redução da dependência da ajuda.

A questão do que se está ou se vai fazer colocada por muitos comentadores na discussão a que me referia parece que retornou no questionamento que Egídio Vaz faz em comentário ao texto sobre a pobreza urbana publicado no blog do Presidente da República aqui.

Egídio Vaz destaca duas ideias principais que, quanto a ele, enformam a ideia principal de AEG no referido texto:

  1. Existem oportunidades que, exploradas ou optimizadas, podem contribuir para o combate à pobreza urbana. Prova disso são as diversas iniciativas que podemos testemunhar e que contribuem para a geração de emprego.
  2. Porém, para que essas iniciativas contribuam de forma eficaz no combate a pobreza urbana, é necessário, senão fundamental que as pessoas trabalhando em diversos sectores (a) se profissionalizem, (b) agrupem-se em associações e (c) aprimorem os seus conhecimentos sobre a legislação laboral para daí tirarem melhor proveito.

No mesmo texto, ainda segundo E. Vaz "está também implícita a ideia de que para o sucesso dessa luta contra a pobreza, é preciso que TODOS e cada um de nós preste a sua contribuição."

Portanto, é preciso agir. Se todos, enquanto cidadãos temos algo a fazer para acabar com a dependência externa, com a pobreza urbana e todas as manifestações da pobreza, há acções que, a outro nível devem ser tomadas por quem governa. Em poucos dias saberemos quem, em cada sector, coadjuvará o Presidente nos esforços para a erradicação da pobreza. Em pouco tempo poderemos obter respostas aos questionamentos do Egídio lá "no AEG" nos termos dos quais "resta saber do Sr Presidente, o que fará com o seu governo? Da mesma forma que explanou sobre as oportunidades que podem ser exploradas pelo povo, esperava também ouvir as principais linhas de acção do Governo e Estado no combate a essa pobreza urbana. O Sr Presidente mencionou por exemplo a falta de infraestruturas de água, saneamento e higiene. Como pensa abordar esse facto na sua governação?"

Temos que agir. Trabalhar, contarmos mais connosco e deixar de ver o "fora" como solução para todos os nossos problemas. Temos que inovar e aceitar correr riscos para termos mais e melhor. Moçambique pode dar certo pelas acções de todos e de cada um. Não acham?




10 comentários:

Erva disse...

O primeiro passo para o alcance da riqueza eh o reconhecimento da pobreza. O segundo passo eh comportar-se como pobre. E o terceiro eh trabalhar como um pobre que quer sair da pobreza. Depois explicarei melhor estes tres requisitos.

Júlio Mutisse disse...

Erva, juro que com essa não contava:

1. reconhecer a pobreza (de facto se não nos convencermos de que somos pobres não nos esforçaremos na medida exacta para sermos ricos);

2. Comportar-se como pobre (com esta não concordo, é o comportarmo-nos como pobres que nos mantém de mão estendida. Cria hábitos maus, se muitos por causa da guerra - refugiados - e/ou das calamidades naturais - secas e cheias - se habituaram a viver com a mão estendida imagine se todos comportarmo-nos como pobres? Pobre africano vê a solução vinda de fora nos contentores de "ajuda". Comportar-se como pobre teria um efeito perverso. Espero que voltes e expliques).

3. Trabalhar como um pobre que quer sair da pobreza. (plenamente de acordo).

Júlio Mutisse disse...

Erva, juro que com essa não contava:

1. reconhecer a pobreza (de facto se não nos convencermos de que somos pobres não nos esforçaremos na medida exacta para sermos ricos);

2. Comportar-se como pobre (com esta não concordo, é o comportarmo-nos como pobres que nos mantém de mão estendida. Cria hábitos maus, se muitos por causa da guerra - refugiados - e/ou das calamidades naturais - secas e cheias - se habituaram a viver com a mão estendida imagine se todos comportarmo-nos como pobres? Pobre africano vê a solução vinda de fora nos contentores de "ajuda". Comportar-se como pobre teria um efeito perverso. Espero que voltes e expliques).

3. Trabalhar como um pobre que quer sair da pobreza. (plenamente de acordo).

Reflexões de um ateu disse...

Bom eu acho que ajudava bastante controlar os subsidios ridículos que o estado dá a simples assessores e sabe-se lá quem mais. 25 000,00 Mt só de subsídio de combustível é uma ofensa a dignidade de qualquer um que paga impostos país e derrama litros de suor e sangue a trabalhar neste país! Andam de aviões ou quê? Quantos mais têm tais regalias destas? É preciso controlar os gastos, doa a quem doer. Mas pra isso precisamos ganhar vergonha na cara.

O país não produz mas por outro lado fala-se de revolução verde , agricultura é a base de desenvolvimento, BLÁ BLÁ, mas a realidade é outra:não existe politica agrícola no país, uma política que facilite o acesso a crédito a pequenos agricultores. Uma politíca que permita/estimule a importação de material e matéria prima agrícola com certo tipo de isenção ou algo parecido. As pessoas querem trabalhar mas estão com as mãos atadas.

Unknown disse...

Erva, obrigado

Os requisitos que nos propõe são de hoje ontem e amanhã. pope esforço.

Erva disse...

Obrigada eu Chacate. Julio, comportar-se como pobre eh nao gastar mais do que devo. Eh nao consumir mais do que devo. Eh ter consciencia e comportamento de quem sabe que deve poupar amo maximo se quiser ir pra frente. Eu vivi na Europa (Noruega) durante 9 anos e digo-te uma coisa: os pobres da Noruega sao mais ricos do que os nossos ricos. Eles conseguem sair da pobreza muito mais rapido do que muitos africanos e ate' europeus. Se nao poupas, gastas muito. Se gastas muito entao te comportas como um rico. Um pobre, que se comporta como um pobre poupa muito e tem mais chances de sair da pobreza. Percebes?

Egidio Vaz disse...

Muthisse, obrigado pela referência.
Gostei do que ouvi no discurso de tomada de posse de AEG. Algumas respostas às minhas inquietações estão lá colocadas. Mas mais que isso, há uma mensagem subtil; um recado à todos nós e aos que nos ajudam. passo a citar: "Nesta cruzada, vamos intensificar as acções tendentes a desencorajar a prática de mão-estendida, essa degradante atitude de querer depender de terceiros mesmo quando podemos, nós próprios, pensar, conceber e produzir e nesses terceiros buscar o complemento ou o enriquecimento das nossas acções".
Essa mensagem encerra quanto a mim, duas ideias:
1. De que a ajuda é importante, mas tem que ser producente, de tal sorte que a pouco e pouco deixemos de precisá-la.
2. A nós, receptores, temos que trabalhar sempre de modo a paulatinamente deixarmos de precisar da ajuda o mais rapidamente possível.
E há razões para AEG pensar nisso: é que a auto-estima requer o mínimo de dependência. Se continuarmos largamente dependentes em quase tudo, a apregoada auto-estima não passará de chavão político. E nisso AEG tem razão e trabalha nesse sentido. O problema geral que constato é quanto a mim o DÉFICE na interpretação da filosofia política de AEG. Pior que isso é o problema dos que são responsáveis pela sua interpretação; que complicam mais as coisas. Ontem, AEG fez questão de aclarar a sua visão do país. Verás que depois de tomarem posse, novos governantes começaram a mal-interpretar, tornando assim mais complicada a luta contra a pobreza. Diria muita coisa. Mas deixo o resto para o debate lá, no blog dele.

Erva disse...

Para mim o discurso do Presidente Guebuza foi o melhor discurso da era pós Machel. A ajuda externa deve reduzir. A nossa dependência deve reduzir. Para reduzirmos a nossa dependência devemos reduzir a corrupção e a ambição desmedida. Devemos reduzir os gastos e poupar ao máximo. Só assim poderemos garantir a presença do mais importante indicador da eficácia da ajuda externa: a redução da dependência da ajuda. Só Samora falou assim. E agora vejo Guebuza a voltar a falar. Que confortante!

Matsinhe disse...

Eu estou ainda a consumir o discurso de AEG. É rico, claro e encera muita mensagem. Vou comentá-lo em face desta postagem porque tem as respostas que o Egídio avança mas tem mais. Preciso entendê-lo ainda mais.

PC Mapengo disse...

Os últimos discursos de Chefão, principalmente os da sua investidura e da posse dos ministros nos oferece diversos ângulos para análise. É quanto a mim, em termos literários, um belo texto. É também, como diz Erva (como vai você), neste caso o da sua investidura, um dos melhores discursos, como se resumisse todas as nossas inquietações.
Dizes e bem Egídio que o problema complica-se na interpretação. Comentamos Mutisse no princípio do mandato passado quando o AEG apareceu a dizer que temos de combater a pobreza absoluta e todos repetiam o mesmo no lugar de executar. Penso que não nos interessa ouvir dos ministros, governadores, directores nacionais, administradores distritais ou chefes de quarteirão que temos de elevar a nossa auto-estima e acabar com “a mão estendida”. Isso aceita-se ouvir do PR. Deles queremos acções práticas que nos levam a esse combate. Como o próprio Chefão disse aos ministros "O Plano não é para ser negociado. O Plano é para ser cumprido."

PC