segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Definindo Estratégias de Comunicação: Urge Falar COM o Povo

Após as manifestações de 1 e 2 de Setembro nas cidades de Maputo e Matola, uma das críticas que se repete diz respeito a deficiente comunicação entre o Governo e o povo. Tem se dito que o Governo fala para o povo e que quando o faz, fá-lo com arrogância, e como forma de sustentacão e/ou exemplificacão chama-se a colação a intervenção do Ministro do Interior a data dos acontecimentos.


Na verdade do ponto de vista das massas, no nosso contexto, não sei que postura se esperava do Ministro do Interior naquele dia e perante aqueles acontecimentos. Porém, sou de opinião de que como político, a postura e o discurso poderiam ter sido outros, mais conciliador e pacificador, reservando-se ao chefe dos polícias, o comandante geral da polícia, ou outro oficial sénior, uma posição mais musculada, caso fosse necessário.

Mas, é sempre fácil fazer juízos a posterior. O silêncio também, se calhar, poderia ter tido consequências mais desastrosas.

Em entrevista ao Jornal o País fim de semana, o professor Elísio Macamo acha que a palavra arrogância muitas vezes usada para caracterizar a postura do Governo "é muito forte.” Diz o professor Macamo que a “acusação de arrogância pode ser uma manifestação de impotência de quem não dispõe de meios para se fazer ouvir no quadro apresentado pela distribuição de voto que temos.” Acresce ainda que “precisamos, também, duma linguagem mais moderada na caracterização do que acontece.”


Em entrevista ao Jornal Domingo, Amilcar Perreira cientista político e docente na Universidade Eduardo Mondlane, entende que da parte do Governo "não há uma estratégia clara de comunicacão e/ou diálogo que ajudaria na actualizacão do cidadão ou populacão sobre os contornos da crise e outros assuntos relevantes."

Até certo ponto concordo com eles e, fundamentalmente, com o apelo do professor Macamo no sentido de que “neste momento de crise precisamos de muito mais do que, simplesmente, uma atitude conciliatória do Governo do dia. Precisamos, primeiro, duma coligação moral de democratas que digam em voz alta que se opõem a violência como processo político.” Muitos dos opinaram durante ou após os tumultos que se pretendiam manifestacão foram sempre no sentido de justificar os actos que iam ocorrendo, secundarizando a condenacão da violência e pilhagem.


De qualquer forma, a meu ver, urge definir um mecanismo claro de comunicação entre o Governo e os governados. Comunicação no sentido de “troca de informação entre indivíduos através da fala, da escrita, de um código comum ou do próprio comportamento”para “permitir uma maior capacidade de entendimento entre as pessoas através do diálogo”conforme define o dicionário online Porto Editora.

Haverá diferença entre falar para o povo e falar com o povo? Creio que sim. Tomemos o exemplo do Presidente da República: (i) fala para o povo nas suas mensagens do fim do ano por exemplo e (ii) fala com o povo nas sessões de presidência aberta.

Quando se fala com o povo permite-se alguma interacção que, com maior facilidade, ajuda na assimilação das mensagens que se pretende passar. Quando se fala para o povo esta interacção, pelo menos directamente, não existe. Apenas enunciam-se ideias cuja assimilação depende do maior ou menor sentido apelativo de quem emite o discurso.

Os fenómenos de 1 e 2 de Setembro remetem-nos para a ideia de que os acontecimentos a nível global devem ser levados a conhecimento dos moçambicanos nos diálogos que se vão tendo com o povo, este povo que, ao contrário do que Machado da Graça pensa, entende muito mais do que de enxada de cabo curto.

Este diálogo não deve ter no PR o único interveniente. Todos os dirigentes, a todos os níveis, devem ser activos no “falar”com o povo disseminando a mensagem cujo desconhecimento pode ter precipitado os tumultos tidos por manifestação nos dias 1 e 2 de Setembro.

44 comentários:

Ximbitane disse...

Concordo plenamente com o sugestivo titulo do post

Julio Mutisse disse...

Ximbi,

Bom txe ver por aqui... abrasileirando as coisas. É importante comeccar a passar mensagens a todos os níveis.

Nelson disse...

Caro Mutisse
Penso que neste post falas do que tentei dizer nos comentários deixados no post anterior. O problema é dos extremos. Enquantos uns dizem que está tudo bem como está, que existe um diálogo desejável e fluente acontecento nas P. abertas, outros dizem que está tudo mal, que o PR não dia nada e ou o povo não entende nada. Deviamos era, como o Mutisse parece dizer, estar no meio onde diremos que há algo sendo feito mas muito mais precisa ser feito.
A ideia de que tudo está bem como está nos "rouba",infelizmente, um olhar mais objectivo

Julio Mutisse disse...

Nelson,

Eu sou dos que defendo que existe diálogo entre o Presidente e as comunidades, um diálogo que pode ser aperfeiccoado a este nível.

Eu acho que o modelo precisa ser intensificado a todos os níveis, numa interaccão constante entre governantes de todos os níveis e os governados, estando claro um objectivo, um vector, uma estratégia que permita a assimilacão das diversas mensagens que se pretendem passar.

Não tenho dúvidas que as mensagens do Presidente passam. Há pouco vi-o falar num comício na Ilha Josina Machel no início da Presidencia aberta a Maputo e, apesar de usar um tradutor, entendi que as mensagens passavam e que o discurso era captado.

Agora, uma coisa é o que se diz nos encontros com o PR, profundamente mediatizados e outra é o que se diz no trabalho dos administradores e governadores pouco mediatizados.

Não sei como funciona o "esquema"nas governacões abertas dos Governadores e Administradores. Sei como funciona na Matola... precisamos de mais, muito mais. Eu próprio que escrevo devo sair e ajudar a fazer passar a mensagem.

Precisamos abrir mais estes espacos de interaccão com os governados.

V. Dias disse...

Aquele senhor 'Mwenemutapa Guebuza' não "dialoga" com o povo coisa nenhuma.

Um diálogo construtivo traz à tona resultados plausíveis que visam melhorar a vida dos moçambicanos.

Dos ares onde lhe levam os helicópteros alugados com o erário público, vê pastos secos em verde, e depois chama a isto de revolução verde.

Senhor presidente, há seca por todo o lado. Há estiagem por todos os sítios. Há FOMES pelo país inteiro. Onde é que anda esta tal revolução verde?

E os seus sipaios, ministros, etc que lhe fazem a corte, colocam no povo óculos verdes fazendo recordar a estória do burro que não queria comer capim seco.

Devo, porém, concordar com Guebuza num ponto: está é mesmo uma geração de viragem. Está tudo virado.

Zicomo

Julio Mutisse disse...

Viriato Dias,

Leste o post?

Como alguém comentou no meu post anterior, "Eu ja ouvi desmobilizados a reclamarem nos comicios do Presidente. E a fazerem-no em tom mais zangado do que o Herminio. Ja ouvi ciddaos a denunciarem roubalheira dos administradores. Algumas destas denuncias levaram a demiss~ao dos dito-cujos. Ja ouvi gente a dizer que dos 7 milhoes se aproveitam os amigos do administrador. Tambem ja ouvi gente a elogiar coisas bem feitas.

Ja ouvi o Presidente a se pronunciar sobre cada uma das intervencoes dos cidadaos, citando os nomes dos intervenientes."

V. Dias disse...

Em cada presidência aberta resolve 1 problema.

E precisaria de quantas presidências abertas para resolver todos os problemas?

Acontece, porém, que o problema está naquele que as quer resolver. Neste caso a vacina é boa, mas a cura depende muito do médico que não serve para nada. Está caduco.

Se estas presidências abertas (nunca é fachada!!!) fossem abertas, de facto, e de apreciar, o galo na capoeira já estaria a cantar de outra forma.

Que presidência que enriquece o próprio PR???

Sabe Mutisse, a Frelimo livrou-nos de um cancro mas, ao mesmo tempo, que nos deu um tumor maligno.

E como dizia Mari Bin Alkatir "tirou-nos das patas de um elefante e colocou-nos na boca de um leão esfomeado" Estamos todos linchados, pá!!!

Zicomo

Julio Mutisse disse...

Viriato Dias, o aráuto dos banho marias apegou-se a um exemplo e... zás, já está a projectar o ano em que acabaremos de resolver os problemas. Hehehehehe.

Temos dito, há diálogo nas PA's; há problemas que se levantam, cada pelouro específico tem missões a cumprir e andamentos a corrigir em cada sítio onde se vai. Essa é a experiência que tenho. Essa é a experiência que conheco, que tenho.

Olha caro Viriato, é provável que V.Excia tenha uma experiência diversa da minha. Nasci em 1975, algumas pessoas da geracão dos meus avôs com quem convivo tiveram a experiência do Xibalo (sabe o que é?), contam histórias de gente que eles não sabem para onde foram parar etc. Ouvindo um pouco disso, lendo mais da história colonial em África... se imprimisse parte do seu comentário e o desse a esses meus ilustres parentes acredito que V.Excia seria, literalmente, linchado...

V. Dias disse...

Caro Mutisse,

A título informátivo e para que o meu amigo Mutisse não fareje o meu passado como alguns sapins-sapins fizeram, e ainda o fazem; fiz a minha formatura em História na Universidade de Évora, depois de ter saido frustrado da UP (airosos tempos em que a UP era o que era).

Isto para quê? Para lhe dizer simplesmente que conheço o significado do termo "xibalo". Mal de mim se não soubesse dizer, juro que teria recebido umas tantas 'xibatadas' dos meus professores de História, sendo-me permitida uma especial alusão aos Doutores Francisco Zacarias Mataruca e Hipólito Sengulane. E mais: o Mutisse é mais velho do que eu 5 anos!

Não entendi patavina a alegoria que faz em relação aos seus avós! Talvez porque tive dificuldades em separar o Mutisse político do académico. Peço-lhe desde já condescendência pelo facto, mas se pudesse ser mais claro, conciso e preciso, era um zicomo grande que me fazia.

Já em relação as PA's deixo que o tempo seja o maior mestre, como sempre, aliás! Dirá por exemplo se Guebuza foi um bom presidente para o país, ou se não passa também de um simples "voador". Dirá!!!

Zicomo

V. Dias disse...

Perdão, queria dizer da geração dos seus avós. Peço desculpas por entrar num campo fértil da sua integridade pessoal. Assim, faça também chegar o meu pedido de perdão aos seus avós a quem, erradamente, quis contextualizar.

Zicomo

Arao Gil Mongoia disse...

Falar com o povo ou colocar-se em campanha eleitoral permanente?
Num momento em que tanto se fala em descentralização e desconcentração é simplesmente caricato que o presidente da República apregoe a imprescindibiliade de «presidencias abertas» para conhecer os problemas do povo. Não tem representantes a nível local?? ou já não confia nos relatórios desses camaradas???
Sr. presidente, o tempo é de trabalho e não de demagogias desnecessárias!
Até pra sair de Maputo vidade para Moamba é preciso uma frota de helicópteros?? E esse povo com quem vai falar perceberá mesmo a sua mensagem de que a pobreza está na mente das pessoas???

JOSÉ disse...

Reparo que o Júlio até nesta postagem menciona Machado da Graça. Não me vou alongar muito neste aspecto, pois o tema da postagem é outro, embora os temas de certo modo estejam relacionados.

O meu propósito é convidar a todos os que por aqui passam a visitarem o blog do Reflectindo, está lá a evidencia de que o Presidente Armando Guebuza chamou os camponeses de preguiçosos. Os que foram tão pressurosos na crucificação de Machado da Graça, fruto de uma leitura tendenciosa, podem elucidar-nos se concordam com o insulto de Armando Guebuza? Se ficam silenciosos com o insulto de Armando Guebuza e ficam tão ofendidos com uma frase de Machado da Graça, trata-se então de um gritante caso de indignação selectiva.

De igual modo, Salomão Moyana questionou na passada semana se a mensagem do governo está a ser entendida pelo povo. Usando da mesma bitola usada nos ataques a Machado da Graça, não questionam se Moyana está a desqualificar alguém?

Curto e grosso: anda por aqui muita incoerencia, indignação selectiva e laivos de racismo!

Um abraço fraterno!

Julio Mutisse disse...

Mongoia,

Acha que os governantes deveriam sentar permanentemente no gabinete? Como é que qualificarias isso? Não deve, em sua opinião, o PR ir ver como é que, em Mueda, Chicualacuala, Gilé etc os seus planos de governacão estão a ser implementados ou não implementados e procurar as razões?

Como qualificariasse o PR ficasse permanentemente sentado no seu gabinete? Seja qual for o nome dado, as PA's são realidades exclusivas de Mocambique?

Hehehehe, é interessante essa do representante local... mal de mim se ficasse quieto no meu gabinete e não fosse ver o que se passa nos departamentos porque lá tem os chefes que eu coloquei e de quem tenho confianca plena... não sei o que seria de mim...

Julio Mutisse disse...

José, de facto aqui discute-se comunicacão que deve existir e de mais e melhor informacão que deve haver. Machado foi aqui chamado para mais uma vez, dizer que não se deve criar tabus.... tudo deve ser dito ao povo que tem capacidade, para entender.

Sobre os pseudo insultos que nosso amigo Reflectindo menciona respondi-lhe nos termos que a seguir lhe apresentarei. Dizer-lhe apenas que não é por Fernando lima aziago dizer o que diz que todos devemos sair a repitir insulto ao povo. É opinião dele e vale o que vale.

A resposta que dei ao Reflectindo:

"Reflectindo, em que é que os zambezianos, em particular, foram insultados? O PR pelo que percebi da notícia que me mandas do Notícia falou dos mocambicanos ociosos e, até onde sei, salvo mudanca de última hora, mocambicanos são todos do Rovuma ao Maputo e não APENAS os zambezianos. Disse o PR citado pelo notícias é a “falta do hábito pelo trabalho”, que tem feito com que haja muitos moçambicanos que “passam a vida a descansar até se cansarem de descansar”.

Este discurso, em minha opinião seria válido em Gaza, Sofala, Nampula etc, onde em alguns segmentos da populacão, potenciada durante e por causa da guerra referida por Fernando Lima, se desenvolveu o hábito da mão estendida que AEG já chamou atenção para a necessidade de intensificar as acções tendentes a desencorajar a prática de mão estendida, “essa degradante atitude de querer depender de terceiros mesmo quando podemos, nós próprios, pensar, conceber e produzir e nesses terceiros buscar o complemento ou o enriquecimento das nossas acções.”

Fernando Lima devia estar com azia quando particularizou os zambezianos no uma série de declaracões feitas, segundo o notícias que me ofereces, no sentido de que não há outra explicação “à perpetua fome e pobreza” que ainda afecta mais de metade dos cerca de 20 milhões de moçambicanos, que não seja porque há muitos que ainda não assumiram que a riqueza e o bem-estar nunca cairão do céu, mas sim do trabalho árduo.

Zambézia não tem 20000000 de habitantes camarada Reflectindo.

Vai ao baú e busque outra. Desta vez erraste o alvo e não posso fazer coro consigo para condenar INSULTOS do PR ao povo.

O PR tem falado de CULTURA DE TRABALHO que precisa ser desenvolvida para vencermos a pobreza. Acha que o PR não deve dizer, na Zambézia, em Gaza ou em Sofala que há muitos que ainda não assumiram que a riqueza e o bem-estar nunca cairão do céu, mas sim do trabalho árduo? Isso é insultar essa gente?

É verdade que em muitos pontos se produz e nõ se escoa mas há muitos outros onde, apesar das potencialidades, e descontando os fenómenos naturais como secas e cheias, as pessoas continuam dependentes de outros fazendo pouco por si. Mocambique para sair deste ciclo camarada, precisa de trabalho. É isso que o chefão quer que todos nós faccamos. Trabalhar."

JOSÉ disse...

Júlio, eu não vou entrar em polémicas, penso que sobre o Machado da Graça já tudo foi dito, o Jonathan foi muito eloquente.
Lima tem uma opinião, o Júlio tem a sua, eu tenho a minha,o Reflectindo tem a dele, todas as opiniões valem o que valem, apenas estou alertando para se ter muito cuidado com análises apressadas e tendenciosas.Se fica ofendido com Machado por causa da interpretação de uma frase e não vê nada de errado nas declarações de Armando Guebuza, a minha mente é forçada a levantar questões.
Eu estou muito alerta para a indignação selectiva, seja qual for o motivo!
Um abraço, com o pedido de desculpas por me desviar ligeiramente do tema.

Julio Mutisse disse...

José, José

Não vamos comparar o incomparável. Todo o texto do Notícias que o Reflectindo me enviou é constituído de mensagens atribuidas ao PR que vão no sentido de que não faz sentido que “os moçambicanos tenham potencialmente tudo no seu país, incluindo terras férteis cruzadas por rios caudalosos, mas ao mesmo tempo sejam pessoas que não têm nada, que vivem na pior das pobrezas”.

Machado da Gracca disse, que os sindicatos não são interlocutores válidos, os camponeses nada percebem se não de enxada de cabo curto etc... quer comparar isto.

EU não encontrei nada no texto que o Reflectindo me mandou, que me empurre para a ideia de que o PR insultou os Zambezianos.

Indique me se faz favor.

JOSÉ disse...

Júlio, Armando Guebuza culpou a preguiça pela fome e pobreza, quando todos sabemos que há graves problemas nas políticas de agricultura.
Armando Guebuza chamou moçambicanos de preguiçosos. Chamar alguém de preguiçoso é um insulto sim, quando esse termo é usado na generalidade.
Isto pode ser uma questão de interpretação, mas o que me indigna mesmo é a dualidade de critérios e a indignação selectiva.

"Machado da Gracca disse, que os sindicatos não são interlocutores válidos, os camponeses nada percebem se não de enxada de cabo curto etc... quer comparar isto".
Não vou perder muito tempo com uma frase sobre a enxada de cabo curto, a interpretação é livre e eu, na minha modesta opinião pessoal, não vejo que ele tenha insultado. Quanto aos sindicatos, eu também questiono o seu papel. Mas isto acaba por ser irrelevante, eu não sou defensor de Machado e ele não é meu herói, apenas quero sugerir que prestemos atenção aos textos inteiros.

Também mencionei que Moyana questionou se a mensagem governamental é sempre compreendida pelo Povo. Será que ele desqualificou alguém? Claro que não!

Vamos concordar que é inaceitável que Moçambique, um País com enormes potencialidades, tenha graves problemas de fome e pobreza extrema. Como explicar isto? Preguiça? Falta de políticas exequíveis?

Nelson disse...

Desviando-se do assunto da postagem mas mantendo-se ligado ao último parágrafo do comentário de José, li algures que grandes quantidades de trigo produzido em Manica estão apodrecendo por falta de mercado e ou escoamento. Fiquei desolado. Escoado e vendido, esse trigo melhorava a renda dos produtores(que não me parecem nada preguiçosos) ajudava embora em bem pequenas proporções a resolver a questão da crise do trigo. Com medo de não achar, não vou tentar encontrar o culpado por esse trigo prduzido com grande sacrifício(enxada de cabo curto), estar a apodrecer. Enfim são coisas da nossa terra

Julio Mutisse disse...

José,

O PR tem dito, muitas vezes, que o povo mocambicano é laborioso/trabalhador... tem elogiado este povo que tem feito muito pelo país.

Isso implica que está tudo bem? Não. Há muita gente ociosa com todos os recursos que o país tem e o PR não pode ficar indiferente a isso... tem que dizer para corrigir? Isso é insulto? Não sei depende de quem vê.

Eu não acho que todo o povo seja preguicoso, mas há entre nós muitos preguicosos. Mentais inclusive.

Sobre Machado já disse o que tinha que dizer. Moyana não li...

É verdade que precisamos de políticas agrícolas claras e exequíveis. Políticas que orientem o sector familiar que, independentemente destas políticas, produz para si e, alicercando me nos últimos discursos, precisa produzir mais não só para o seu consumo mas também orientado para um mercado que é possível potenciar apesar da falta de processamento de produtos agrícolas no país.

Julio Mutisse disse...

José,

O PR tem dito, muitas vezes, que o povo mocambicano é laborioso/trabalhador... tem elogiado este povo que tem feito muito pelo país.

Isso implica que está tudo bem? Não. Há muita gente ociosa com todos os recursos que o país tem e o PR não pode ficar indiferente a isso... tem que dizer para corrigir? Isso é insulto? Não sei depende de quem vê.

Eu não acho que todo o povo seja preguicoso, mas há entre nós muitos preguicosos. Mentais inclusive.

Sobre Machado já disse o que tinha que dizer. Moyana não li...

É verdade que precisamos de políticas agrícolas claras e exequíveis. Políticas que orientem o sector familiar que, independentemente destas políticas, produz para si e, alicercando me nos últimos discursos, precisa produzir mais não só para o seu consumo mas também orientado para um mercado que é possível potenciar apesar da falta de processamento de produtos agrícolas no país.

Julio Mutisse disse...

Nelson, o apodrecimento do trigo ganha visibilidade maior pelo período conturbado que passamos que teve no pão (feito a base de trigo) um dos catalisadores dos tumultos.

Não nos deve preocupar APENAS o trigo. Este país tem problemas no que tange ao escoamento distribuicão e/ou uso/processamento de produtos agrícolas. Enquanto, no auge da estiagem, em Manjacaze há gente a morrer a fome, no Niassa, Zambézia e/ou Nampula "oferecem"a producão ao Malawi, ponto mais próximo de venda já que é difícil distribuir para outros pontos do país.

Podemos fazer muito neste aspecto e o enfoque na componente estradas e outras infra-estruturas parece que tem potencial para resolver esta situacão.

Nelson disse...

São esses e muitos outros problemas bem conhecidos que esse país tem, que eu gostaria de ver a serem discutidos séria e profundamente de modo a se encontrarem soluções. Infelizmente muitos de nós preferimos olhar excessivamente para aquilo que já foi feito(existe) e iludirmo-nos que está tudo bem em Moçambique em vez de buscar soluções para os problemas que desnecessariamente continuam a põr em causa o bem estar dos Moçambicanos.
Quando se "canta" luta contra pobreza, são essas questões que precisavam "tirar sono" aos governantes.

Julio Mutisse disse...

Nelson, porque é que o trigo apodreceu? Não foi escoado? Porquê? Foi armazenado e não devidamente enviado onde seria processado e usado a bem de todos nós?

Eu não acompanhei este assunto se não de ouvir um trechinho aqui e outro ali. Por isso pergunto. Pergunto não para negar o problema mas para conhecê-lo melhor, particularmente este do trigo.

Dependendo das respostas, podemos estar em face do mesmo que acontece em Niassa e outros pontos do país que urge corrigir disponibilizando mais e melhores vias de acesso que facilitem o escoamento.

O País, neste aspecto, é obsoleto... nem mesmo a EN1 nos liga a todos de norte a sul. As vias secundárias e terceárias precisam de uma grande intervencão e ou construcão de raiz para que "as veias"estejam em condicões de transportar o "sangue" (producão)que vai fazer viver este país.

Os problemas deste país são muitos e não se resumem a estradas pelo que, não será possível resolver tudo de uma vez... aí em Sofala meu caro como vamos em termos de estradas? Há ou não trabalho por aí?

Se, pelo contrário, o produto foi escoado e armazenado e não encaminhado as moageiras etc, há que encontrar o responsável e responsabilizá-lo como deve ser. Como já disse neste blog, o desenvolvimento implica a assumpcão de responsabilidade e a responsabilizacão em caso de desvios.

Não devemos perpetuar palhacadas.

Volte.

Nelson disse...

http://www.canalmoz.com/default.jsp?file=ver_artigo&nivel=1&id=6&idRec=8708
Foi nesse link que li acerca do trigo a apodrecer

Julio Mutisse disse...

Então o trigo AINDA não apodreceu... "Os cereais correm o risco de apodrecer nos celeiros da população, enquanto no resto do país há escassez de trigo."...

O problema é que todos que falaram sobre isto, correram e apegaram-se ao título "Trigo Apodrece". A partir destes dados temos que martelar quem deve planificar estas coisas. Como se fomenta uma cultura para depois queixarmo-nos de mercado? Porque não se faz o mesmo que se faz com o Caju? Onde está o instituto de cereais de Moc.? A partir daqui também temos que apelar a uma necessidade de planificacõ já que, segundo a notícia, "ainda não há garantias sobre quem poderá se responsabilizar pela compra deste trigo que se prevê que seja produzido nesta parcela do país. A fonte afirma que o sector que dirige está a intermediar no sentido de encontrar uma empresa que se possa responsabilizar por adquirir este volume de produção (8350 toneladas) da presente campanha em Manica, a qual termina no final do mês que vem."

Nelson disse...

A passagem de cerca de 1000 toneladas na campanha agricóla passada para 8350 previstos para a presente campanha, mostra que existem boas condições para a produção de trigo em Manica. Especialmente se tivermos em conta que foram produzidos com recurso à " enxada de cabo curto"
-Como martelamos a quem deve planificar as coisas? Esperamos a próxima presidência aberta a acontecer provavelmente no próximo ano?
-Vive ainda o ICM?
-Faz se sentir sua existência?
-Algo(preços) ainda é regulado pelo ICM?
"Como se fomenta uma cultura para depois queixarmo-nos de mercado?"
O trigo deve mesmo ter sido fomentado com ou sem mercado não interessava, me lembrei aqui do que aconteceu com a jatrofa. Estou desconfiado que, com base na crise mundial pensou-se em fomentar a cultura de trigo e ficou-se por ai. O povo que não é preguiçoso nem é burro ouviu a msg e pôs a trabalhar. Resultado milhares de toneladas sem destino

Julio Mutisse disse...

Nelson,

Não é preciso a próxima presidência aberta. Precisamos apenas apelar para que haja rigor e planificacão de modo que o esforco dos campesinos não seja em vão.

Precisamos planificar... planificar.

Nelson disse...

"lets go deep, push it a step forward".

Como fazemos isso na prática amigo Mutisse?
Me imagine um camponês e me fale na linguagem que um camponês entenda. Sem o "o resto você sabe como fazer isso".

Julio Mutisse disse...

Prático: É para produzirmos trigo? A quem o vendemos?

Sem essa garantia preferimos produzir milho.

Nelson disse...

Quando disse como fazemos isso, me referia à "Precisamos apenas apelar para que haja rigor e planificacão de modo que o esforco dos campesinos não seja em vão". Como fazemos esses apelo? Aquem fazemos para sermos ouvidos?
Porque se o apelo é feito à quem devia planificar, é pago para planificar, e por razões que só Deus sabe, não planificou, o apelo cai em saco roto. Nas presidências abertas vejo isso acontecendo. O assunto é apresentado ao PR às vezes porque a pessoa aquem se devia apresentar é o prevaricador.
Quem fomentou a cultura de trigo o fez provavelmente em cumprimento cego de directrizes superiores.
"Sem essa garantia preferimos produzir milho".
Os discursos usados tem sido bonitos demais que ninguém questiona as garantias. Quem ousou em questionar onde seria vendida a jatrofa? O povo acatou cega e obedientemente, trocou o milho pela jatrofa e cedo descobriu que havia alguma a ldrabice na história. Nessa há confusão na minha cabeça.Entendo que os camponeses não são de todo burros como pensamos que Machado da Graça os chamou porque entendem e obedecem as mensagens da jatrofa e do trigo mas também que há boas doses de burice quando não se fazem perguntas como a do Mutisse: "É para produzirmos trigo? A quem o vendemos?"
Termino com a questão de apelo à planificação; "como fazemos isso na prática? Não apenas para termos a consciência de que fizemos a nossa parte, mas para termos solução.

Anônimo disse...

Nelson e Julio, na vossa opiniao quem deve comercializar o trigo? O Estado? Neste caso, qual seria o papel dos privados?

Quem comercializa o gergelim do vale do Zambeze que estaa a melhorar a renda dos agricultores? Quem comercializa o tabaco?

Acho importante determinarmos com clareza o papel de cada sector na nosa economia, para nao achacar responsabilidades a quem nao a tem. Ja nao estamos no comunismo, onde o Estado fazia tudo na economia.

Para mim, o papel do Estado ee melhorar CONTINUAMENTE as infra-estruturas. Comercializacao ee assunto do sector privado.

Julio Mutisse disse...

Meu caro amigo anonimo. Estou plenamente de acordo consigo. O sector privado tem que intervir na comercializacao.

Da exemplo feliz do tabaco fomentado e comercializado de forma clara e objectiva e clara... o campones produz sabendo de antemao por quanto vai vender e quem vai comprar.

Presumo que, provavelmente faltou uma MLT do trigo para evitar a situacao que se descreve; faltou a criacao da cadeia que creio existir no caso do tabaco, na situacao do trigo.

Nelson disse...

O tabaco que eu saiba é fomentado sim pelo sector privado e faz sentido que seja esse tal sector privado envolvido na comercialização. Tenho minhas dúvidas quanto ao trigo. E se foi o o estado/governo a fomentar, como por parte por exemplo da tão propalada revolução verde, não faz muito sentido virmos agora "exigir" ao sector privado envolvimento na comercialização

Anônimo disse...

Nelson, o Estado promove muitas coisas na economia. O seu papel, na economia, ee esse, PROMOVER. A IMPLEMENTACAO cabe ao sector privado.

Se noos aplaudimos a adopcao da economia de mercado devemos adoptar as suas consequencias. Nao faz sentido querer este sistema para algumas coisas e continuar a desejar um Estado Papaa.

Mesmo na China, os privados ee que comercializam os cereais promovidos pelo Estado. Este entra, arginalmente, para manter os precsos fora da especulacao. COMPRA os cerais dos camponeses quando os precsos caminham para o insustentavelmente baixo. VENDE as reservas quando os precsos caminham para o insustentavelmente alto.

O Estado deve continuar a PROMOVER a producao de gergelim, tabaco, jatropha, algodao... Mas os operadores devem ser PRIVADOS.

Nelson disse...

Caro anónimo, temos que ser realistas!
Os interesses do estado e dos privados muitas vezes "colidem". Os privados nunca se interessarão em comercializar oque não lhes traga lucros desejados. Não quero com isso dizer que o estado não deve promover a produção de seja lá for, mas que o faça de forma planificada e realista. Se o faz contando com o sector privado, que esse sector privado seja de alguma maneira envolido na promoção.
Já agora, surgui-me uma pergunta: quem determina o preço da comercialização?

Anônimo disse...

Quem determina o precso ee o mercado. No comunismo ee a Comissao Nacional do Plano. O sistema que seguimos chama-se de MERCADO porque os precsos sao estabelecidos pela interaccao entre a OFERTA e a DEMANDA. Como eu disse antes, quando a oferta ee grande, os precsos descem escandalosamente. Nestes casos, e para alguns produtos estrategicos, o Estado entra excepcionalmente no mercado. Como grande comprador que ee, ao adquirir o produto em questao, restabelece o equilibrio entre a oferta e a demanda, estabilizando o precso. Quando a demanda ee grande os precsos sobem. Nestes casos, tambem para os produtos estrategicos, o Estado lberta as suas reservas (que as havia comprado quando os precsos eram baixos). Por esta via INUNDA o merado, restabelecendo o equilibrio entre a oferta e a demanda e estabilizando os precsos. Esta ee a mecanica da economia do mercado.

O grande problema, caro Nelson, ee que muitos de noos dizemos que nao queremos o comunismo, mas exigimos que o Estado facsa afectacao dos graduados, revitalize a APIE, invista pesadamente na economia, facsa comercializacao agricola e outras coisas tipicas das economias centralizadas.

A minha opiniao ee que noos continuamos, psicologicamente, no comunismo. As coisas que exigimos ao nosso Estado sao incongruentes. Na economia de mercado nao ha Estadoque facsa afectacoes, nao ha Estado que oferece casas aas pessoas, nao ha Estado que faz comercializacao agricola.

Nelson disse...

Caro anónimo vamos colocar "clear boundaries" entre o ideail e o real. Entre o como devia ser e como realmente é. Essa de que o mercado é que determina o preço não consegui engolir. O estado ou se quisermos o governo continua "mandando" nos preços. No ano passado, apesar das subidas do preço do baril de petróleo no mercado internacional, aqui em Moçambique o preço se manteve estável. E ai, como ficamos?
Não concordo que o estado promova seja lá oque for(muitas vezes oque não interessa aos privados) e espere que os privado venham comprar. Quando se trata de castanha de cajú por exemplo o sector privado não se importa de se "meter" pela estradas horríveis do Gilé em busca de castanha. Não se importa em "negociar" os preços com os produtores. Aqui há lições por tirar.

Anônimo disse...

Caro Nelson, o milho e o trigo sao produtos com mercado em Mozambique. Mas soo teem mercado se forem produzidos a precso concorrencial. o nosso paiis, felizmente, tem portos concorrenciais a onde as mercadorias produzidas em outros paiises chegam a um precso razoavel.

Isto quer dizer, caro Nelson, que quando o Estado PROMOVE a cultura do trigo ou do milho nao estaa a dizr aos agricultores que o devem produzir aos custos/precso que lhes er na gana. o Estado estaa a dizer-lhes para produzirem a um precso atractivo para a moageiras e para as panificadoras. Se nao o fizerem, hao-de ficar com o seu milho, com o seu trigo, com o arroz do Chokwe nos celeiros.

Porque noos, consumidores mozambicans, nao queremos que nos obiguem a consumir arroz, trigo, milho mais caros soo porque sao do Chokwe ou de Manica, quando poderiams compra-los mais barato no ercado internacional.

Noos os cidadaos, que pagamos impostos, nao queremos que o nosso dinheiro seja destinado para premiar ineficiencia. Porque, caro Nelson, concorde comigo que ee premir ineficiencia subsidiar um agricultor de Chokwe que coloca o se arroz a 30 meticais o kilo, quand o arroz do Vietname custa-nos, por exemplo, 18 meticais o kilo.

O Estado promove, masos agricultores devem produzir a bons precsos. Nestes casos nao havera fala de privados para comprar trigo,arroz ou milho. Mesmo a jatropha seraa adquirida. Nelson nunca ouviu falar de fabricas de bio-disel, aquino nosso paiis, na base da jatropha. Fabricas de privados e nao do Estado.

Nao estamos no comunismo, amigo Nelson.

Nelson disse...

Quando o caro anónimo diz que "agricultores devem produzir a bons preço", eu me pergunto se é o agricultor que determina o custo de produção.
O preço dos insumos, transporte, e outros que afectam directa ou indirectamente no custo total de produção,pelo que sei, não são determinados pelo agricultor.

Julio Mutisse disse...

Interessante este debate por aqui. Que continue, estou a acompanha-lo com muito interesse.

Anônimo disse...

O Vietnamita tambem enfrenta precsos de transporte, de combustiveis, da burocracia... Mas produz a bom precso.

pegando no caso do Chokwe e de Manica. Os agricultores destas regioes de transpotrte, energia, comunicacoes de classe mundial. Pelo menos nao sao piores que a India, Filipinas, Vietname, Thailandia. Entao porque produzem muito caro.

Os precsos sao determinados pela produtividade do produtor, caro Nelson. Enquanto outros produzem 9 toneladas por hectare, no Chokwe produzem a 4 toneladas por hectare. O segredo estaa aqui caro Nelson.

Temos que aumentar a nossa produtividade na agricultura, na industria, nos servicsos para sermos competitivos. Nada de culpar o Estado.

Anônimo disse...

os produtores destas regioes sao servidos por transporte, energia, comunicacoes d classe mundial. Ee o que queria dizer

Nelson disse...

Os produtores de Manica são servidos por transporte, energia comunicações de classe mundial? Me desculpa caro anónimo mas corro o risco de não te levar à sério da qui para frente. Vamos só falar do estado em que se encontram as estradas(comunicação). Só isso. ESTRADAS!

Anônimo disse...

Caro Nelson, este debate ja vai longo. A estrada Beira Machipanda, apesar de ter sido degradada pelas cheias em alguns trocso, ee uma excelente estrada. A estrada que sai da Macia para Chokwe nao fica a dever nada aas estradas que conhecso no mundo. Pelo menos nao sao piores que as da China, Vietname, Thailand, India e outros directos concorrentes nossos.

No entanto, eses paiises fazem o dobro da produtividade que noos.

Manica e Chokwe tem energia de classe mundial sim, tem telecomunicacoes boas. O que falta ee aumentar a sua produtividade.

Vejo, todavia, que Nelson gosta de ter o Estado por perto para culpa-lo de tudo o que nao estaa bem. Pode nao me levar a serio? Seja feita a sua vontade. Eu respeito quem me respeita, tomo a serio quem me toma a serio. Neste caso, se eu lhe levo a serio ou nao depende de si.