quarta-feira, 25 de abril de 2012

Exemplos de Trabalho que se Deveriam Multiplicar

Exemplos de Trabalho que se Deveriam Multiplicar.

Júlio S. Mutisse

Ideiassubversivas.blogspot.com

Julio.mutisse@gmail.com






A agenda da juventude do meu país inclui a “problemática do emprego”. Não há fórum da nossa juventude onde não se aborde este tema. Não acho mau que se aborde; nem um pouco. Apenas acho que devemos começar a dar uma enfase maior ao trabalho.

É verdade que se fala de empreendidorismo mas será que o discurso a volta desse termo é devidamente assimilado por todos? Será que o carpinteiro que só continua a fazer janelas para vender a quem aparecer até aparecer quem lhe dê emprego percebe a mensagem? Será que o serralheiro da esquina capta, de todo, a mensagem?

Não sei mas, seja como for, entendo que se deve encontrar uma plataforma que faça passar a mensagem para o recém graduado de qualquer universidade do país no sentido de empreender, da mesma forma que se faz passar a mensagem àquele artesão formado na escola da vida que, com a sua arte, pode se transformar num empregador, disseminar a mensagem, inclusive, para os músicos, artistas plásticos, escritores etc., no sentido de que há alternativas para além de esperar os promotores de espetáculos, da boa vontade das editoras etc.

Por falar em músicos, num país em que muitos artistas passam uma imagem de prosperidade, onde até comprar roupas no Xipamanine é motivo de chacota e ridicularização, encontrar um artista que, sem complexos, vende seus discos por si em pontos de venda estrategicamente montados, merece a minha admiração.

O Mahel poderia prestar-se a ser igual a todos os músicos da sua geração. Produzir seus discos e esperar que a editora (havendo) distribua e lhe pague o convencionado. Nesta toada poderia se prestar a ser igual a muitos, passando a imagem de ser “o tal” pavonear-se de um estrelato aparente e contentar-se por a sua música ser ouvida em cada vez mais discos piratas já que, por si, não teria controlo do que a editora produz e coloca no mercado. Noutra perspectiva, perante a “opressão” das editoras e a crescente pirataria, poderia, simplesmente, deixar de produzir música com receio que a pirataria (uma batalha que o Estado e os artistas estão a perder) ganhasse mais do que ele como já vieram a público referir artistas com mais anos de estrada que ele. É uma opção.

Mahel tomou outra opção. Não é uma opção totalmente nova afinal, José Mucavele já faz isso com os seus “Compassos”, Salimo Mohamed fizera com Sambroera (se não falho) lançado no defunto Khuwana e Dingane Sete Kruzes Mondlane está a fazer com seu album. A diferença está na estratégia adoptada que permite, pelo menos, saber onde comprar o CD do Mahel, na persistência e na continuidade desta opção. A diferença está igualmente no facto de o próprio, coisa rara em gente da sua geração e do seu meio, dar a cara nas suas bancas improvisadas fazendo marketing pelo seu disco/produto.

Sou adepto desta atitude. Mahel deve ter tomado consciência de que pode viver da sua arte e que, para tal, longe de ficar acomodado na esquina da fama e de um pretenso estatuto, o melhor era dar a cara e, no nosso contexto, com a cultura de luxo na miséria e onde a pirataria impera, dar o melhor de si para triunfar obtendo rendimento do seu trabalho. Louvável.

Há uns meses, era ainda agente público, encontrei o meu vizinho serralheiro procurando se informar sobre as vagas abertas na instituição pública que eu servia. Ele queria um “emprego” que lhe garantisse salário. Nem se quer tinha ideia do quanto seria esse salário. Discutimos aquela opção durante dias pois, para mim, ele tinha o essencial: o trabalho. Mais do que procurar um “emprego”, deveria procurar dar o melhor de si no que sabia fazer e ser o melhor dos melhores no que faz e, no nosso bairro, no nosso Município e na província em geral com uma cada vez crescente onda de construção, procurar posicionar-se para ganhar e obter mais e mais trabalho. Ao invés de empregado ele poderia ser empregador. Confesso que, inicialmente, senti um mal estar da parte dele afinal, na cabeça dele, eu estava em posição de o ajudar mas, ao invés disso, estava a fechar-lhe a porta. É que ajudar-lhe significava dar-lhe o dito emprego. Acho que hoje já me percebeu e está a dar muito de si, vendendo serviços a quase toda a vizinhança.

O exemplo do meu vizinho pode ser multiplicado em muitos outros mas, infelizmente, com final diferente: pessoas que abandonam trabalho por conta própria para abraçar um “emprego” com rendimento, não poucas vezes, abaixo do que, potencialmente, poderiam fazer por sua conta.

Porque será? Juro que não sei. Sou adepto do trabalho e, por isso, sou um grande adepto de pessoas que, sem complexos absolutamente nenhuns, se entregam abnegadamente ao trabalho. É verdade que muitos compatriotas preferem, em grande medida, o emprego. São capazes de abandonar uma actividade lucrativa para se verem “empregados” pela “segurança” que um emprego e o salário mensal “garantido” mesmo que mais baixo que o que se conseguia fazer trabalhando por conta própria.

Seja como for, é preciso emular atitudes como do Mahel e como a do Matsolo meu vizinho que vivem da sua arte, dão o melhor de si, matam-se a trabalhar sem complexos de qualquer natureza.

Porque não encontramos muitos artistas como Mahel? Porque serralheiros, carpinteiros e muitos outros preferem a “segurança” de um emprego ao trablaho naquilo que sabem? Porque será esta tendência generalizada do emprego em detrimento do trabalho?

Seja como for, parabéns Mahel. Parabéns Matsolo pela vossa abnegação, que outros vos sigam o exemplo na opção pelo aproveitamento do que sabem fazer e pela luta insensante de fazer com que isso resulte.

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