Os iiiiiii de Machado da Graça
Tadeu Phiri
Na sua última talhe de foice Machado da (des)Graça não me surpreendeu. Voltou a dar machadadas nas suas próprias costas. Se Machado (o da Graça) vive há trinta e cinco anos com a obsessão de pertencer a uma alegada esquerda (para a qual só são associados alguns eleitos com os quais leu os mesmos livros, viu os mesmos filmes e debateu nos mesmos cine-clubes), não podemos censurá-lo por nos presentear, de tempos em tempos, com discursos sublimes que ele acredita piamente serem discursos de esquerda. Da sua esquerda.
Bom, deixemos de detalhes e partamos para o essencial. O primeiro ponto essencial refere-se à minha existência. Porque (pensa que) nunca me viu ele toma-me por inexistente! Para Machado da Graça, só existe quem ele conhece. Tenta imitar a dúvida metódica ou cartesiana, de forma errada, como quem diz: “não conheço Tadeu Phiri, logo ele não existe”. Será isto um resquício dos tempos em que muitos moçambicanos eram considerados nada? Prefiro não acreditar.
De 1975 a esta parte o país viu nascerem 40 instituições de ensino superior. Mais de 40.000 jovens ingressam todos os anos ao ensino superior. Milhares de Phiris são formados todos os anos, sem contar com outros milhares de graduados no ensino médio. É evidente que Machado da Graça não conhece a todos eles. Será que, porque os não conhece, eles não existem?
O tempo em que todos os que escreviam bem se conheciam passou para a história. Machado da Graça não me conhece mas eu lhe conheço. Eu penso, logo, existo – cogito ergo sum. Isto para dizer que não faz o mínimo de sentido que o senhor Machado da Graça diga que eu, Tadeu Phiri, filho de Tiago Phiri e de Fátima Thembo, não existo!
O segundo ponto essencial refere-se à adaptação da FRELIMO ao contexto global. No seu último texto, Machado da Graça demonstra que a FRELIMO sempre procurou ajustar a sua linha de orientação às circunstâncias concretas do terreno, tanto dentro como fora do país. A tal FRELIMO ortodoxa de 1977, que preconizava o absoluto controlo da economia foi sofrendo ajustamentos a partir dos princípios da década de 80. A privatização das pequenas empresas, as negociações com o Fundo Monetário Internacional e a abertura ao Ocidente fazem parte destes ajustamentos à realidade concreta. Queria Machado da Graça que a FRELIMO ficasse parada no tempo? Já no tempo de Samora a FRELIMO havia se mostrado aberta às instituições de Bretton Woods e ao Ocidente! Esta FRELIMO de hoje é a FRELIMO de Samora Machel sim. Portanto, se está divorciado desta FRELIMO, caro Machado da Graça, então está divorciado da FRELIMO de Samora Machel.
Sobre as mudanças e adequações ao contexto, aconselho Machado da Graça a ler o livro de Sylvia Bragança, para ficar elucidado com o que esta Senhora refere na sua obra. Quem sabe possa aprender um pouco mais acerca das vantagens que a mutabilidade e a adaptabilidade trazem para o progresso dos povos.
Um comentário:
se Tadeu é Tadeu ou não, pouco importa.importa que seja alguém que pensa e que usa chamar-se Tadeu.estou de pleno acordo e no mesmo diapasão.importam as ideias e não a pessoa porque o que se está a debater são as ideias e não as identidades.estou a acompanhar o debate.acompanhei também o debate entre Machado e Kandyiane hà dois anos.foi titânico (e de baixa educação) mas não tanto quanto este.um debate intelectual e apelativo à leitura das entrelinhas...
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